Onde investir no 2º semestre: o dólar tem tudo para se manter abaixo de R$ 5,00
O segundo episódio da série especial do Seu Dinheiro dá destaque para o câmbio: para analistas, os fundamentos indicam mais alívio no dólar
Prever a cotação do dólar é sempre uma tarefa ingrata: o mercado de câmbio sofre influência de um sem-número de variáveis, tanto domésticas quanto externas — talvez seja a classe de ativos mais exposta ao imponderável.
Cenário eleitoral, dinâmica de juros no mundo, recuperação da economia global, trajetória fiscal do país, comportamento das commodities, turbulências geopolíticas... Tudo isso e muito mais pode afetar os preços das moedas, a qualquer momento.
Mas, ora essas, você não abriu esse texto para que eu fique em cima do muro, certo? Pois bem: com os dados que estão disponíveis hoje para análise, é possível dizer que o dólar tem tudo para continuar caindo no segundo semestre.
Ou seja, estamos falando da possibilidade de estabilização do câmbio abaixo da marca de R$ 5,00. Um cenário que era impensável no começo do ano, quando parecia questão de tempo até que o dólar batesse os R$ 6,00.
E o que explica essa virada? Em primeiro plano, aparece a política de juros no Brasil: o Copom assumiu uma postura de "faremos o que for preciso" para controlar a inflação em 2022 — já há quem fale numa Selic perto de 7% ao fim desse ano.
A política monetária, no entanto, não é o único fator favorável ao Real daqui para frente. Eu conversei com diversos analistas e economistas nos últimos dias, e a percepção de continuidade do alívio no câmbio é unânime. Só que todos também ressaltam: essa queda do dólar não vai ser linear; a volatilidade continuará afetando o mercado.
Leia Também
Os FIIs mais lucrativos do ano: shoppings e agro lideram altas que chegam a 144%
Gestora aposta em ações 'esquecidas' do Ibovespa — e faz o mesmo com empresas da Argentina
Este texto faz parte de uma série especial do Seu Dinheiro sobre onde investir no segundo semestre de 2021. Eis a lista completa:
- Bolsa
- Dólar e ouro (você está aqui)
- Renda fixa (publicação em 5/7)
- FIIs e imóveis (6/7)
- Bitcoin e criptomoedas (7/7)
- BDRs e ações estrangeiras (8/7)
Para esta matéria contribuíram Ronaldo Patah, estrategista-chefe do UBS; Carlos Calabresi, CIO da Garde Asset; Roberto Motta, responsável pela mesa de futuros da Genial Investimentos; e Gustavo Arruda, chefe de pesquisa para América Latina do BNP Paribas.
Ondas de alívio
É muito comum definir o mercado de câmbio como um "termômetro do medo": se a incerteza paira no ar ou se a aversão ao risco vai às alturas, a demanda por dólares aumenta. A moeda americana, afinal, é um ativo clássico para proteção dos investimentos.
E se o câmbio é o termômetro do medo, pode-se dizer que o mercado brasileiro estava com uma febre alta no começo de 2021: o dólar à vista chegou às máximas históricas em termos nominais, rondando os R$ 5,80.
A pandemia chegou ao nível mais crítico no país — a segunda onda da Covid-19 ganhou força entre fevereiro e março —, a vacinação estava atrasada, o Orçamento para o ano ainda era uma incógnita, as reformas não andavam, os juros estavam nas mínimas. Uma combinação explosiva para a dinâmica das moedas.
Só que os planetas começaram a se alinhar a favor do Real a partir de abril, trazendo ondas de alívio ao mercado de câmbio. E, mais importante: elas continuarão atuando ao longo do segundo semestre.
A primeira onda relevante diz respeito ao mercado de commodities: tanto os produtos agrícolas quanto os metálicos passaram por forte valorização ao longo do semestre, dada a demanda aquecida vista lá fora. E o Brasil é uma potência nessa área, exportando para vários países e em quantias elevadas.

Conforme as economias globais vão reabrindo, é natural que a necessidade por commodities se intensifique. A China passa por esse fenômeno: o consumo de minério de ferro pelas indústrias é alto; a demanda por produtos agrícolas aumenta, dada a necessidade de restabelecimento do rebanho do país após o surto de gripe suína.
"A gente tem exportado volumes cada vez maiores", diz Ronaldo Patah, estrategista-chefe do UBS, destacando que, ao mesmo tempo, as importações do Brasil e os gastos do brasileiro no exterior diminuíram bastante com a pandemia. "Então, tem toda essa sobra de dólares".
E o cenário de commodities em patamares elevados e demanda aquecida deve continuar nos próximos meses, por mais que a China se esforce para conter o avanço dos preços.
Os Estados Unidos, por exemplo, têm um megaprojeto de infraestrutura no horizonte e certamente precisarão de minério de ferro e aço; a Europa e outras regiões da Ásia e do Oriente Médio seguem consumindo produtos agrícolas brasileiros.
O diferencial
Mas além das questões comerciais, há também aspectos técnicos do mercado de câmbio que ajudam a explicar a queda do dólar. O principal deles diz respeito à condução da política monetária.
Com a pandemia, houve um movimento coordenado dos BCs do mundo para baixar os juros e injetar recursos no sistema financeiro; a ideia era impedir uma paralisia da economia, dando todo o estímulo possível para o consumo e a produção.
E, como todos sabem, o Copom baixou a Selic às mínimas históricas, chegando a 2% ao ano em agosto de 2020 e permanecendo nesse patamar até janeiro — o que foi um erro, de acordo com Carlos Calabresi, CIO da Garde Asset.
"O BC demorou demais com os juros; depois, criou o forward guidance e se amarrou nele. A vida foi se normalizando, a inflação também, e a gente ficou com juro real negativo num país com dívida grande", diz ele.
Atrasado ou não, fato é que o Copom começou a subir a Selic de forma agressiva a partir de maio, dando três aumentos consecutivos de 0,75 ponto. Agora, com os juros a 4,25% ao ano, o BC segue pisando fundo no aperto monetário, deixando aberta a possibilidade de um aumento de 1 ponto na próxima reunião, em agosto.
Mas o que importa de verdade para o mercado de câmbio não é a motivação, mas sim, o fato: juros mais altos costumam atrair investimentos externos.
Coloque-se na pele de um investidor gringo. Os títulos do governo americano de 10 anos estão girando ao redor de 1,5%. Ora essas, se os juros reais no Brasil estão rendendo menos, a escolha é óbvia: os Treasuries remuneram mais e têm menos risco.
Mas, conforme os juros brasileiros vão subindo, o jogo muda de cena. Investir no país passa a ser mais atraente, já que a remuneração vai ficando mais polpuda. E, mais importante: os juros americanos ainda vão ficar perto de 0% por um bom período.
"O mundo ainda não começou a subir juro, os BCs estão anunciando que vão fazer com calma, enquanto o nosso já começou e começou com uma velocidade boa", diz Calabresi. "Fez certíssimo, está tentando reancorar as expectativas de inflação".

Veja o gráfico acima. A área azul representa o diferencial de juros entre Brasil e EUA — e, quanto maior a distância entre os dois pontos, mais atrativo é o investimento no nosso país.
Enquanto o Federal Reserve sinaliza que manterá os juros inalterados na faixa de 0% a 0,25% ao ano até, pelos menos, 2023 (há quem ache que a elevação vai começar antes), o Copom já está subindo a Selic — portanto, o diferencial vai ficar cada vez maior ao longo do ano.
Confiança redobrada
Esses dois fatores ainda vieram acompanhados de uma melhora no cenário político-econômico do Brasil: o PIB cresceu 1,2% no primeiro trimestre, surpreendendo o mercado — e desencadeando uma avalanche de revisões positivas do crescimento da economia em 2021.
Em paralelo, a dinâmica fiscal do país também melhorou: a arrecadação de impostos e contribuições chegou a R$ 142 bilhões em maio, um aumento de quase 70% na base anual. No acumulado de 2021, a arrecadação já soma R$ 744 bilhões, crescimento de 21% em relação ao mesmo período de 2020.
A relação dívida/PIB do governo federal caiu para 85,6% em maio, o menor nível em 11 meses — o que aumenta a tranquilidade dos investidores externos.
"Boa parte da melhora [do câmbio] é fruto dessa combinação. Expectativa de crescimento melhor, números fiscais melhores, taxas de juros muito mais compatíveis", diz Roberto Motta, responsável pela mesa de futuros da Genial Investimentos. "O estrangeiro quer expectativa de crescimento".
E agora, para onde vamos?
Dito tudo isso, fica claro que os vetores atuais seguem direcionando o dólar para baixo. Mas qual é o limite?
Uma taxa de câmbio ao redor de R$ 4,80 é quase unanimidade: Patah, do UBS, e Motta, da Genial, acreditam que o dólar pode chegar a esse nível; Calabresi, da Garde, é mais cauteloso: para ele, níveis entre R$ 4,80 e R$ 4,90 são plausíveis no curto prazo.
O BNP Paribas vai um pouco além: em coletiva de imprensa feita no começo da semana, o chefe de pesquisa da instituição para América Latina, Gustavo Arruda, diz que o dólar deve fechar o ano em R$ 4,75, destacando o processo de alta nos juros que está em andamento no Brasil.
Isso quer dizer que o dólar não é mais um ativo de proteção? Não é uma boa ideia comprar a moeda americana?
Bem, vamos por partes: a compra e venda de dólares em espécie, via casas de câmbio, não é exatamente uma modalidade de investimento. Quando falamos em câmbio como proteção de carteira, nos referimos à exposição a ativos que sejam precificados na moeda americana.
"O investidor brasileiro não tem a tradição de manter uma parte dos investimentos atrelada à moeda forte", destaca Motta, da Genial. "A principal mensagem é: até que ponto os investidores que não têm alocação em moeda forte devem aproveitar esse momento e diversificar?".
Atualmente, o pequeno investidor já pode comprar BDRs (recibos de ações estrangeiras negociadas na B3). Há também inúmeros fundos e ETFs ligados aos mercados externos, entre outras possibilidades.
Qualquer perfil balanceado e arrojado tem que ter uma porcentagem em ativos globais
Ronaldo Patah, estrategista-chefe do UBS

Riscos, sempre eles
Por mais que os indícios atuais apontem para a valorização do Real ante o dólar, é preciso ficar atento. Há também vários riscos no horizonte, especialmente no último trimestre.
Os especialistas lembram que, a partir de outubro, a corrida eleitoral para a Presidência deve começar a pressionar os mercados de forma generalizada — e, novamente: o dólar é o termômetro do medo.
Uma eventual piora da pandemia, no Brasil e no mundo, também não pode ser completamente descartada: a variante delta da Covid-19 tem gerado preocupação no exterior, apesar da vacinação já estar avançada nos países mais ricos.
Por fim, o ambiente sempre conturbado em Brasília também tende a aumentar as oscilações do dólar. É bom lembrar que a CPI da Covid-19 tem pressionado cada vez mais o governo, o que pode mexer com os rumos do mercado, apesar dos fundamentos positivos.
"Perto do fim do ano é preciso ter mais cuidado", ressalta Calabresi, da Garde. "Estaremos perto do momento em que o BC americano estará se preparando para normalizar a política monetária, com a redução de estímulos".
Arruda, do PNB Paribas, também vai na mesma linha: apesar de o banco projetar um câmbio mais baixo, o economista destaca que é de se esperar volatilidade no mercado de moedas, especialmente com a proximidade das eleições.
Nem tudo que reluz é ouro
E o ouro, o tradicional refúgio de segurança dos investidores para tempos de incerteza? Continua com o brilho em dia? A resposta de todos os analistas é a mesma: o ouro não deve se valorizar nos próximos meses.
Em linhas gerais, o ouro serve como abrigo em tempos de inflação alta e crise econômica: se as moedas estão perdendo o poder de compra e há grande incerteza no mundo, nada melhor que estar posicionado na commodity. E, de fato, a inflação tem subido no mundo.
Ao mesmo tempo, os BCs dizem tolerar níveis inflacionários mais altos no curto prazo, mantendo os estímulos por enquanto. A leitura é a de que as autoridades monetárias estão com o dedo no gatilho, prontas para retirarem os estímulos e mexer nos juros assim que julgarem apropriado.
Ou seja: há a sensação de que a inflação crescente está sob controle num horizonte mais curto. "Existe um consenso de que os BCs sabem o que estão fazendo, sabem trazer inflação para baixo quando necessário", disse Arruda, na coletiva do BNP Paribas.
Novamente, é tudo uma questão de posicionamento. Se você busca valorização do ouro nesse semestre, esse cenário parece improvável — as economias estão reabrindo e tudo parece caminhar bem.
Mas se você aposta num processo inflacionário mais forte no mundo por causa da liquidez excessiva, escapando ao controle dos BCs, pode ser uma boa aumentar a posição na commodity.
Cogna (COGN3), C&A (CEAB3), Cury (CURY3): Veja as 20 empresas que mais se valorizaram no Ibovespa neste ano
Companhias de setores como educação, construção civil e bancos fazem parte da lista de ações que mais se valorizaram desde o começo do ano
Com rentabilidade de 100% no ano, Logos reforça time de ações com ex-Itaú e Garde; veja as 3 principais apostas da gestora na bolsa
Gestora independente fez movimentações no alto escalão e destaca teses de empresas que “ficaram para trás” na B3
A Log (LOGG3) se empolgou demais? Possível corte de payout de dividendos acende alerta, mas analistas não são tão pessimistas
Abrir mão de dividendos hoje para acelerar projetos amanhã faz sentido ou pode custar caro à desenvolvedora de galpões logísticos?
A bolha da IA pode estourar onde ninguém está olhando, alerta Daniel Goldberg: o verdadeiro perigo não está nas ações
Em participação no Fórum de Investimentos da Bradesco Asset, o CIO da Lumina chamou atenção para segmento que está muito exposto aos riscos da IA… mas parece que ninguém está percebendo
A bolsa ainda está barata depois da disparada de 30%? Pesquisa revela o que pensam os “tubarões” do mercado
Empiricus ouviu 29 gestoras de fundos de ações sobre as perspectivas para a bolsa e uma possível bolha em inteligência artificial
De longe, a maior queda do Ibovespa: o que foi tão terrível no balanço da Hapvida (HAPV3) para ações desabarem mais de 40%?
Os papéis HAPV3 acabaram fechando o dia com queda de 42,21%, cotados a R$ 18,89 — a menor cotação e o menor valor de mercado (R$ 9,5 bilhões) desde a entrada da companhia na B3, em 2018
A tormenta do Banco do Brasil (BBAS3): ações caem com balanço fraco, e analistas ainda não veem calmaria no horizonte
O lucro do BB despencou no 3T25 e a rentabilidade caiu ao pior nível em décadas; analistas revelam quando o banco pode começar a sair da tempestade
Seca dos IPOs na bolsa vai continuar mesmo com Regime Fácil da B3; veja riscos e vantagens do novo regulamento
Com Regime Fácil, companhias de menor porte poderão acessar a bolsa, por meio de IPOs ou emissão dívida
Na onda do Minha Casa Minha Vida, Direcional (DIRR3) tem lucro 25% maior no 3T25; confira os destaques
A rentabilidade (ROE) anualizada chegou a 35% no entre julho e setembro, mais um recorde para o indicador, de acordo com a incorporadora
O possível ‘adeus’ do Patria à Smart Fit (SMFT3) anima o JP Morgan: “boa oportunidade de compra”
Conforme publicado com exclusividade pelo Seu Dinheiro na manhã desta quarta-feira (12), o Patria está se preparando para se desfazer da posição na rede de academias, e o banco norte-americano não se surpreende, enxergando uma janela para comprar os papéis
Forte queda no Ibovespa: Cosan (CSAN3) desaba na bolsa depois de companhia captar R$ 1,4 bi para reforçar caixa
A capitalização visa fortalecer a estrutura de capital e melhorar liquidez, mas diluição acionária preocupa investidores
Fundo Verde diminui exposição a ações no Brasil, apesar de recordes na bolsa de valores; é sinal de atenção?
Fundo Verde reduz exposição a ações brasileiras, apesar de recordes na bolsa, e adota cautela diante de incertezas globais e volatilidade em ativos de risco
Exclusivo: Pátria prepara saída da Smart Fit (SMFT3); leilão pode movimentar R$ 2 bilhões, dizem fontes
Venda pode pressionar ações após alta de 53% no ano; Pátria foi investidor histórico e deve zerar participação na rede de academias.
Ibovespa atinge marca histórica ao superar 158 mil pontos após ata do Copom e IPCA; dólar recua a R$ 5,26 na mínima
Em Wall Street, as bolsas andaram de lado com o S&P 500 e o Nasdaq pressionados pela queda das big techs que, na sessão anterior, registraram fortes ganhos
Ação da Isa Energia (ISAE4) está cara, e dividendos não saltam aos olhos, mas endividamento não preocupa, dizem analistas
Mercado reconhece os fundamentos sólidos da empresa, mas resiste em pagar caro por uma ação que entrega mais prudência do que empolgação; veja as projeções
Esfarelando na bolsa: por que a M. Dias Branco (MDIA3) cai mais de 10% depois do lucro 73% maior no 3T25?
O lucro de R$ 216 milhões entre julho e setembro não foi capaz de ofuscar outra linha do balanço, que é para onde os investidores estão olhando: a da rentabilidade
Não há mais saída para a Oi (OIBR3): em “estado falimentar irreversível”, ações desabam 35% na bolsa
Segundo a 7ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, a Oi está em “estado falimentar” e não possui mais condições de cumprir o plano de recuperação ou honrar compromissos com credores e fornecedores
Ibovespa bate mais um recorde: bolsa ultrapassa os 155 mil pontos com fim do shutdown dos EUA no radar; dólar cai a R$ 5,3073
O mercado local também deu uma mãozinha ao principal índice da B3, que ganhou fôlego com a temporada de balanços
Adeus ELET3 e ELET5: veja o que acontece com as ações da Axia Energia, antiga Eletrobras, na bolsa a partir de hoje
Troca de tickers nas bolsas de valores de São Paulo e Nova York coincide com mudança de nome e imagem, feita após 60 anos de empresa
A carteira de ações vencedora seja quem for o novo presidente do Brasil, segundo Felipe Miranda
O estrategista-chefe da Empiricus e sócio do BTG Pactual diz quais papéis conseguem suportar bem os efeitos colaterais que toda votação provoca na bolsa
