Passadas as eleições legislativas, concluídas na noite de ontem, o mercado brasileiro deixa um pouco de lado as incertezas que guiaram as últimas semanas e começam a olhar com mais otimismo para o futuro.
Embora o cenário internacional siga influenciando positivamente os negócios, o Ibovespa segue a trajetória de recuperação iniciada ontem, apoiada nas notícias locais.
No entanto, um dia que parecia ser de predominância positiva foi afetado por uma volatilidade maior do que o esperado, com o efeito positivo se esvaiando ao longo da tarde. Depois de abrir o dia em forte alta e subir 1,95%, o Ibovespa perdeu parte da força, conforme algumas declarações do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, foram sendo digeridas e colocando em dúvida o otimismo inicial.
Por volta das 16h, o principal índice da bolsa brasileira avançava 0,69%, aos 118.277 pontos. Ainda que o Ibovespa tenha reduzido o ímpeto, o dólar segue mais uma vez a sua trajetória global de desvalorização e recua 1,69%, aos R$ 5,3578.
Com as eleições o Credit Default Swap (CDS) de 5 anos do Brasil, e que medem o risco-país, caiu ao menor nível desde o dia 13 de janeiro. De acordo com as cotações da IHS Markit, o CDS era negociado em 158,50 pontos, contra os 167,27 da tarde de ontem.
Empolgou...
Na noite de ontem, Rodrigo Pacheco (DEM) e Arthur Lira (Progressistas), foram eleitos respectivamente como chefes do Senado e da Câmara dos Deputados. Apoiados pelo governo Bolsonaro, a vitória confortável dos candidos deve significar uma virada de página para o Executivo.
Depois de dois anos e pouco avanço com relação às reformas o governo parece finalmente ter "caminho livre" para encaminhar a sua agenda, como é esperado pelo mercado desde o começo do mandato de Jair Bolsonaro.
Para Helena Veronese, economista-chefe da plataforma de investimentos Consuleza, embora a vitória do governo nas duas casas já viesse sendo precificada, a reação à concretização das expectativas deve ser positiva já que o caminho agora se encontra aberto para que a agenda reformista e liberado do ministro Paulo Guedes ganhe espaço neste ano.
Nos próximos dias, a expectativa é que tenhamos novidades com relação a votação do Orçamento para 2021 e um possível retorno da discussão sobre o auxílio emergencial. Agora, o mercado espera pelos próximos passos de Paulo Guedes, que deve sinalizar quais são as pautas prioritárias da equipe econômica para 2021. Segundo informações do Estadão, o ministro prepara uma lista de propostas em tramitação no Congresso que devem ser fundamentais para a retomada econômica.
Na visão de analistas, um Congresso mais alinhado ao governo também deve atenuar os ruídos políticos que vira e mexe chegam de Brasília. Nos últimos dois anos, desalinhamento entre Bolsonaro, Guedes e Rodrigo Maia travou pautas importantes e colocou estresse extra sobre o mercado, mantendo vivo o flerte com o rompimento do teto de gastos e até mesmo a apreciação de um processo de impeachment contra o presidente.
Com um horizonte mais positivo e precificando um risco fiscal menor, o mercado de juros também reage de forma positiva à nova configuração em Brasília, com a curva reduzindo a inclinação, de forma mais intensa na ponta mais longa. Confira as taxas do dia:
- Janeiro/2022: estável em 3,33%
- Janeiro/2023: de 4,86% para 4,82%
- Janeiro/2025: de 6,30% para 6,25%
- Janeiro/2027: de 6,97% para 6,91%
... mas não por muito tempo
No entanto, algumas declarações do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, minou parte da força que os mercados apresentaram na primeira parte do dia. Segundo o analista Marcio Loréga, da Ativa Investimentos, as falas do deputado agora pela manhã voltaram a deixar o mercado mais receoso quanto ao andamento das reformas e do teto de gastos.
O deputado afirmou que sem aprovar os gatilhos, como a autonomia do BC e o pacto federativo, não será possível cumprir o teto de gastos. Além disso, Barros voltou a falar sobre as possibilidades de se ampliar o Bolsa Família e no estudo do auxílio emergencial.
Matheus Jaconeli, economista da Nova Futura Investimentos, acredita que para o otimismo do mercado com relação à eleição se manter, é preciso ver sinais efetivos de avanço na aprovação de reformas em até três meses.
Outra notícia que deve ser repercutida pelo mercado é a produção industrial de dezembro, divulgada agora pela manhã pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice apresentou crescimento pelo 8º mês consecutivo, superando o teto das estimativas dos analistas consultados pelo Projeções Broadcast ao subir 0,9% em dezembro. Ainda assim, a queda em 2020 foi de 4,5%.
Negociações acirradas
Nos Estados Unidos, os investidores seguem buscando se recuperar do baque sentido na semana passada, quando a movimentação de pequenos investidores levou grande volatilidade aos negócios, no que ficou conhecido como “efeito GameStop”.
Por lá, o foco principal está voltado para Washington, onde as negociações em torno do pacote fiscal de US$ 1,9 trilhão seguem. O presidente Joe Biden (e a economia americana) tem pressa, mas os republicanos estão dispostos a aprovar um pacote mais modesto, de apenas "US$ 600 bilhões". No entanto, a reunião de Biden com representantes da oposição em busca de apoio foi categorizada como “excelente”, o que ajuda o mercado em sua trajetória de recuperação.
A temporada de balanços também movimenta os negócios em Wall Street. Agora pela manhã a gigante farmacêutica Pfizer e a petroleira ExxonMobil divulgaram os seus números do quarto trimestre. Depois do fechamento será a vez da Amazon e da Alphabet.
Os números divulgados até agora influenciam positivamente o mercado. Com 37% das empresas do S&P 500 já tendo divulgado os seus números, cerca de 82% dos resultados vieram acima da expectativa dos analistas, segundo a FactSet.
Impulsionadas pelo resultado positivo visto ontem em Nova York, as bolsas asiáticas fecharam em alta. Agora pela manhã, o mercado europeu repercute números melhores do que o esperado do Produto Interno Bruto do continente - na zona do euro, o PIB teve um recuo de 5,1% na comparação anual, ante uma previsão de 5,7%. Na Itália, o indicador também recuou menos do que o esperado. Nos EUA, as bolsas operam em alta firme.
Sobe e desce
As mineradoras e siderúrgicas, ligadas ao minério de ferro, recuam em bloco nesta manhã, após a queda de mais de 5% no valor da commodity na China. Existe também uma apreensão com relação à demanda no país asiático com a proximidade do feriado do Ano Novo Lunar, que interromperá a negociação do minério.
As ações do Banco Itaú também figuram entre os destaques negativos após a companhia anunciar uma queda de 34,6% no lucro em 2020. Segundo Loréga, da Ativa Investimentos, a reação negativa ao balanço e a queda do setor de commodities também pesam para o desempenho mais limitado no Ibovespa.
CÓDIGO | NOME | VALOR | VARIAÇÃO |
BRAP4 | Bradespar PN | R$ 62,61 | -3,32% |
VALE3 | Vale ON | R$ 88,45 | -3,09% |
CSNA3 | CSN ON | R$ 30,97 | -2,27% |
SUZB3 | Suzano ON | R$ 62,73 | -2,34% |
ITUB4 | Itaú Unibanco PN | R$ 28,62 | -1,58% |
Na ponta positiva, a Totvs se destaca após o Credit Suisse divulgar um relatório com recomendação de compra para as ações da companhia. A Braskem também aparece entre os principais destaques, após anunciar a retoma de parte de suas operações em Maceió, depois de dois anos dos problemas com o afundamento do terreno da cidade.
CÓDIGO | NOME | VALOR | VARIAÇÃO |
TOTS3 | Totvs ON | R$ 30,43 | 7,30% |
PRIO3 | PetroRio ON | R$ 78,16 | 6,38% |
BRKM5 | Braskem PNA | R$ 26,95 | 5,44% |
ENEV3 | Eneva ON | R$ 74,78 | 5,24% |
BTOW3 | B2W ON | R$ 87,64 | 4,88% |
Fora do Top 5, mas ainda em alta expressiva e de relevância para o bom desempenho do Ibovespa, temos as ações da Petrobras, impulsionada pelas eleições legislativas. A expectativa do mercado é que a nova configuração destrave a agenda liberal do ministro Paulo Guedes, o que deve favorecer o andamento também de desinvestimentos e privatizações.
Também existe uma expectativa para a divulgação do relatório de produção e vendas de 2020 da Petrobras, após o fechamento do mercado. Além disso, as ações da companhia também são favorecidas pela alta de quase 2% do petróleo no mercado internacional. Confira as maiores altas do dia: