Um touro de ouro novinho em folha passou a morar do lado de fora da sede da B3, mas a figura carismática está longe de refletir o humor do mercado financeiro. O Ibovespa está bem longe dos seus dias dourados acima dos 130 mil pontos e se aproxima cada vez mais da marca dos 100 mil, com uma desvalorização de mais de 11% no ano.
Já se sabia que a PEC dos precatórios não teria vida fácil no Senado, mas a falta de um acordo político e conversas sobre mudanças no texto tornam tudo ainda mais complicado. O presidente Jair Bolsonaro também mostrou interesse em incluir um reajuste para servidores públicos no ano que vem, sobrecarregando ainda mais as contas públicas.
As expectativas para a economia brasileira seguem se deteriorando. Considerado a prévia do PIB do Banco Central, o IBC-Br divulgado pela manhã mostrou uma queda de 0,27%, em linha com o recuo de 0,30% esperado pelos analistas. Os resultados dos últimos meses também foram revisados para baixo e os investidores começam a projetar que a recessão esperada para 2022 pode bater na nossa porta alguns meses mais cedo.
O Boletim Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central, mostrou que os economistas seguem rebaixando a projeção para o PIB brasileiro. Quem não para de subir é a expectativa para inflação em 2021, 2022 e 2023, o que cobra do BC uma postura mais agressiva para ancorar as expectativas longe do teto da meta.
Não foram só os fatores domésticos que castigaram o tourinho logo em sua estreia. A economia americana mostrou sinais de estar mais forte do que o esperado, pressionando ainda mais a situação dos países emergentes e valorizando o dólar à vista, que subiu 0,78%, a R$ 5,4997.
A expectativa era de que uma elevação dos juros americanos ficasse para para o fim de 2022, mas nos corredores do mercado já se fala em até três ajustes já no ano que vem.
O cenário, no geral, não é favorável para os países emergentes, que são mais afetados pelo aperto monetário americano, mas nossas questões domésticas são um peso extra. Sem nenhum brilho dourado, o Ibovespa encerrou a terça-feira em queda de 1,82%, aos 104.403 pontos. A inclinação da curva de juros castigou principalmente as varejistas e as empresas de tecnologia.
Sem âncora fiscal à vista
A PEC dos precatórios segue em tramitação, agora no Senado. O texto deve ser votado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado até quinta-feira. Depois disso, ainda será preciso aprovar a pauta em dois turnos e o governo ainda tenta mobilizar os votos necessários para que a mudança siga de pé.
Pela manhã, os comentários de alguns senadores mostraram que o cenário pode ser ainda mais difícil do que o inicialmente se achava. Orivisto Guimarães, do Podemos, disse que o partido deve ser oposição ao texto caso ele permaneça como está. O presidente Jair Bolsonaro e o relator da PEC no Senado, Fernando Bezerra, falam também em reajuste aos servidores caso a PEC seja aprovada.
Para Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, o país já se encontra sem âncora fiscal, mas um possível reajuste para o funcionalismo público pode ter um impacto ainda maior. “Para quem acreditava que essa expansão fiscal tinha um viés temporário, essa questão do reajuste deixa as coisas mais permanentes”.
Confira o fechamento das principais contratos de DI:
- Janeiro de 2022: de 8,476% para 8,52%
- Janeiro de 2023: de 11,955% para 12,05%
- Janeiro de 2025: de 11,68% para 11,85%
- Janeiro de 2027: de 11,60% para 11,75%
E agora, Fed?
Após a divulgação dos dados de vendas do varejo nos Estados Unidos, o dólar voltou a se fortalecer e as apostas para uma elevação de juros já no ano que vem passaram a ganhar mais força, ainda que o Fed siga com o discurso de que só fará isso em 2023.
Em Nova York, as bolsas americanas fecharam em alta. As vendas no varejo subiram 1,7% em outubro, acima da previsão. O setor de construção americano também mostrou reação. Além dos dados de atividade, os investidores também repercutem a conversa entre os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e Xi Jinping, da China.
Apesar de nenhuma decisão concreta ter sido tomada pelos chefes das maiores economias do mundo, os dois prometeram estreitar os laços entre as duas potências.
Sobe e desce do Ibovespa
Em dia de queda quase generalizada, a Suzano teve o melhor desempenho do dia, acompanhando a valorização do câmbio.Confira as maiores altas do dia:
CÓDIGO | NOME | ULT | VAR |
SUZB3 | Suzano ON | R$ 53,10 | 3,37% |
PCAR3 | GPA ON | R$ 23,96 | 2,04% |
PETR3 | Petrobras ON | R$ 28,22 | 1,44% |
PETR4 | Petrobras PN | R$ 27,29 | 1,11% |
RADL3 | Raia Drogasil ON | R$ 22,96 | 0,79% |
Com a inflação mais alta e projeção de Selic em dois dígitos já nos próximos meses, as empresas de tecnologia e varejo comandaram os piores desempenhos da sessão. Os balanços ruins entregues por Locaweb, Via e Magazine Luiza na semana passada também ajudaram no resultado. Confira também as maiores quedas:
CÓDIGO | NOME | ULT | VAR |
LWSA3 | Locaweb ON | R$ 17,15 | -10,21% |
MGLU3 | Magazine Luiza ON | R$ 10,13 | -9,15% |
AMER3 | Americanas S.A | R$ 34,44 | -7,91% |
BPAN4 | Banco Pan PN | R$ 11,97 | -7,85% |
VIIA3 | Via ON | R$ 5,74 | -7,57% |