A frente fria que voltou a tomar conta de São Paulo disputou espaço com o tempo fechado dos mercados globais nesta segunda-feira (19).
O que prometia ser uma garoa fina armou o que pode acabar gerando uma grande tempestade com aversão ao risco em alta, derretimento das commodities e dólar em alta com a busca de proteção ao redor do mundo.
A nuvem mais carregada é a que carrega as notícias com relação ao avanço da variante delta do coronavírus pelo mundo. Diversos países europeus, região que conta com uma campanha de vacinação adiantada, registram aumento expressivo no número de infectados pela nova e mais transmissível variante da covid-19.
Ainda que o número de óbitos e hospitalizações se mantenha estável, o futuro é incerto. Não se sabe qual o verdadeiro potencial das vacinas para conter o avanço da nova cepa e se os países precisarão adotar novas medidas de isolamento social e lockdowns, assim como nas primeiras ondas da pandemia.
As bolsas americanas puxaram a queda dos principais índices ao redor do globo. O S&P 500 caiu 1,58%, o Nasdaq recuou 0,9% e o Dow Jones fechou em queda de 2,09%. O VIX, considero o termômetro do medo em Nova York, disparou quase 22%. O resultado foi um dólar mais forte em escala global. Por aqui, o dólar à vista teve alta expressiva de 2,64%, a R$ 5,2506. No mês, o avanço da divisa é de 5,58%.
A preocupação com o que a variante delta pode causar não se resume apenas a uma pressão no câmbio e uma fuga dos ativos de risco. Mesmo com a demanda incerta, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) chegou a um acordo para aumentar a produção da commodity em 400 mil barris por dia, a 3,5 milhões, já no mês que vem, finalizando um impasse que se arrastava por mais de uma semana.
Mas o momento talvez não tenha sido dos melhores. Com novos temores sobre o futuro da economia global, tanto o petróleo WTI quanto o Brent recuaram cerca de 7%. Com grande peso no Ibovespa, a queda de 3% da Petrobras - que desacelerou para fechar o dia com um recuo de 1% - contribuiu negativamente para o índice.
Acompanhando o mercado asiático, europeu e americano, o principal índice da bolsa brasileira chegou a cair mais de 2%, mesmo que a variante ainda não seja um problema tão grande por aqui. A bolsa brasileira reduziu o ritmo na reta final, fechando em queda de 1,24%, a 124.394 pontos.
Entre nuvens
Para Rafael Passos, sócio e analista da Ajax Capital, o temor do mercado com a variante delta esconde outras preocupações e acabou servindo de pretexto para que as bolsas globais realizassem parte do lucro após as recentes altas e renovação de topo histórico - principalmente nas bolsas americanas. Uma realização que, de certa forma, é natural, mas que camufla um temor maior.
O céu encoberto esconde as desconfianças de que a economia global se recupera em ritmo satisfatório e uma variante desconhecida pode levar por água abaixo a frágil recuperação desenhada nos últimos meses.
Nesse momento, os olhos se voltam para os bancos centrais em todo mundo. Enquanto nos Estados Unidos a inflação pressiona o Federal Reserve a iniciar as discussões para a retirada de estímulos, a China acabou indo na contramão. Recentemente, o país asiático reduziu os compulsórios, alimentando o temor de que estímulos no longo prazo ainda são necessários e que o ritmo de crescimento atual pode não ser sustentável.
Dado o nível de valuation atual das bolsas, Passos acredita que podemos ver mais movimentos de realização pela frente “ Hoje mercado fica atento a qualquer sinal de desaceleração que a gente possa ter, e qualquer sinal de mudança no direcionamento monetário. Aqui, os ativos começam a ficar em ponto mais interessante para voltar a alocação mais forte se tiver quedas adicionais”.
Despressurização
Enquanto bolsa e câmbio sangravam, o mercado de juros futuros foi na direção contrária.
Os riscos inflacionários nos Estados Unidos, Europa e Brasil seguem sendo monitorados e um alívio nas commodities acaba tirando parte do peso dos últimos meses. Mas, para Passos, o movimento de hoje segue a tendência observada nas últimas semanas de desinclinação.
Além disso, por aqui podemos esperar algum sossego vindo de Brasília.O Congresso está em recesso parlamentar, o que deixa os negócios locais mais suscetíveis a seguir os seus pares internacionais, afastando momentaneamente riscos como a CPI da covid-19 e a reforma tributária. Confira as taxas do dia:
- Janeiro/22: de 5,79% para 5,77%
- Janeiro/23: de 7,25% para 7,19%
- Janeiro/25: de 8,20% para 8,17%
- Janeiro/27: estável em 8,60%
Sobe e desce
Poucas empresas operaram em alta na sessão desta segunda-feira. O principal destaque ficou com as ações da Rumo, que destoaram da aversão ao risco generalizada. A companhia anunciou na tarde de hoje que tem interesse em participar do edital do governo do Mato Grosso para a construção de duas ferrovias, com um valor estimado em R$ 12 bilhões. Confira as maiores altas do dia:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VAR |
RAIL3 | Rumo ON | R$ 20,87 | 2,00% |
LWSA3 | Locaweb ON | R$ 26,36 | 1,38% |
ENBR3 | Energias do Brasil ON | R$ 17,88 | 0,39% |
TIMS3 | Tim ON | R$ 11,89 | 0,34% |
JBSS3 | JBS ON | R$ 28,69 | 0,24% |
Na ponta contrária, a Lojas Americanas e a recém criada holding Americanas S.A dominaram os maiores recuos do dia, em um movimento de ajuste após a fusão da B2W e alguns ativos de LAME3/4. Na sequência, a PetroRio acompanhou o recuo expressivo do petróleo. Confira:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VAR |
LAME4 | Lojas Americanas PN | R$ 7,99 | -7,74% |
AMER3 | Americanas S.A | R$ 63,16 | -7,12% |
LAME3 | Lojas Americanas ON | R$ 7,77 | -6,61% |
PRIO3 | PetroRio ON | R$ 18,02 | -4,40% |
VVAR3 | Via Varejo ON | R$ 14,05 | -3,77% |