Queda do petróleo e nova alta dos Treasuries mina efeito positivo pós-Copom e Ibovespa recua aos 114 mil pontos
O mau humor no exterior impediu o Ibovespa de passar por um ajuste positivo pós-Copom, mas a decisão se refletiu no dólar e na curva de juros

A decisão do Comitê de Política Monetária de elevar a Selic a 2,75% estava cotada para ser o centro das atenções desta quinta-feira (18), mas um exterior negativo acabou tirando o “brilho” da repercussão do Copom.
Além de uma reação mais contida ao exibido ontem com o discurso de Jerome Powell, o que levou a uma nova alta dos Treasuries, o mercado financeiro também foi surpreendido por um tombo expressivo do petróleo. A queda da commodity fez o índice de volatilidade VIX, espécie de termômetro do medo do mercado, disparar e azedou o humor dos investidores globalmente.
O Ibovespa futuro e o desempenho do EWZ, ETF de ações brasileiras transacionado lá fora, indicavam que o ajuste pós-Copom seria positivo. No começo das negociações e no meio da tarde o Ibovespa até ensaiou uma virada para o azul, mas o movimento não encontrou suporte e cedeu com o exterior pesado. O principal índice da bolsa brasileira fechou o dia em queda de 1,47%, aos 114.835 pontos.
O dólar à vista, que chegou a recuar 1,94% no melhor momento do dia, também acabou perdendo o ímpeto com a deterioração do cenário no exterior, mas ainda assim fechou em queda de 0,30%, a R$ 5,5695, bem longe das mínimas.
Em reação à decisão e ao comunicado do Copom divulgado ontem, que já sinalizou que a Selic deve subir mais 75 pontos-base na próxima reunião, o mercado esperava um movimento de achatamento da curva de juros, que de fato se concretizou, ainda que a influência da alta dos Treasuries tenha influenciado. Na ponta mais curta, o mercado se ajustou a um início de ciclo de elevação dos juros mais forte do que o anteriormente precificado. As taxas chegaram a subir com mais força na parte da manhã, mas perderam um pouco de força ao longo do dia. Confira:
- Janeiro/2022: de 4,25% para 4,57%
- Janeiro/2023: de 5,95% para 6,16%
- Janeiro/2025: de 7,35% para 7,41%
- Janeiro/2027: de 7,91% para 7,86%
Sem vida fácil
Se ontem o mercado reagiu de forma eufórica à decisão do Federal Reserve de manter os juros inalterados e às sinalizações do presidente da instituição, Jerome Powell, que afirmou que a inflação americana segue sob controle e que os juros devem se manter baixos até pelo menos 2023, hoje o discurso não colou tão bem.
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Na visão de Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, o mercado sabe que o governo Biden deve seguir pressionando com uma política fiscal bem ativa, o que pode provocar uma pressão na demanda e levar o Federal Reserve a rever a sua postura.
A melhora das projeções para a economia americana, divulgadas ontem, aumentaram o temor de uma pressão inflacionária - a estimativa para o PIB passou de 4,2% para 6% em 2021 -, o que levou as taxas dos Treasuries a seguirem renovando máximas e pressionando as bolsas globais.
O juro das T-Note de 2 anos e 10 anos e do T-Bond de 30 anos operaram em alta. Além disso, o país teve um aumento nos pedidos de auxílio-desemprego acima do esperado, o que deixou os índices americanos boa parte do dia sem uma direção definida.
O golpe de misericórdia para a queda expressiva dos negócios hoje foi o desempenho do petróleo no mercado internacional. Os contratos futuros da commodity chegaram a recuar mais de 8%, pesando sobre as ações de petroleiras e contaminando todo o mercado.
O petróleo WTI para maio fechou em queda de 7,07%, a US$ 60,06 o barril, refletindo a preocupação com o avanço dos casos do coronavírus na Europa, onde em muitos locais a vacinação está paralisada, e o avanço do dólar perante as moedas mais fortes.
Neste cenário pessimista, o Dow Jones fechou em queda de 0,46%, o S&P 500 recuou 1,48% e o Nasdaq despencou 3,02%.
Indo além
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de aumentar a taxa Selic em 75 pontos-base pegou o mercado de surpresa, mas não de uma forma negativa. Uma alta já era esperada, mas a maioria dos economistas e agentes financeiros esperava uma alta mais modesta, de 50 pontos-base. No entanto, o movimento acabou dividindo o centro das atenções com o exterior negativo.
No comunicado, o Banco Central abordou a preocupação com a pressão inflacionária (vista como um fator temporário) e também com o risco fiscal, herdado das iniciativas para conter os efeitos econômicos da pandemia e da demora em se aprovar as reformas estruturantes no Congresso.
Para Alexandre Almeida, economista da CM Capital, mais do que o aumento anunciado nesta reunião, o mercado foi pego de surpresa pela sinalização de que a próxima reunião deve trazer um ajuste de igual tamanho e pela mudança de tom com relação ao comunicado do encontro de janeiro.
O BC também surpreendeu ao afirmar que a atividade econômica está melhor do que o projetado pelo mercado, ainda que o crescimento no número de casos da covid-19 vá ter o seu efeito, o que mostra um cenário que não apoia mais o uso de instrumentos "extraordinários" de política monetária.
Descontrole
A pandemia do coronavírus, que sobrecarrega o sistema de saúde por todo o país, vai ganhando contornos cada vez mais preocupantes e também fica no foco dos investidores. O Brasil tem renovado diariamente o recorde de casos e novos óbitos. Só nas últimas 24 horas o país superou a casa dos três mil mortos, registrando uma média móvel superior a dois mil óbitos diários pela primeira vez durante toda a pandemia.
Por isso, o olhar dos investidores também se volta para Brasília. No Congresso, o mercado aguarda a liberação da nova rodada do auxílio emergencial. O presidente Jair Bolsonaro havia se comprometido a entregar a Medida Provisória pessoalmente, mas mudou de ideia, e o texto foi encaminhado pelas vias administrativas normais. O valor do novo auxílio deve ser de R$ 150.
Já no Ministério da Saúde, os agentes financeiros buscam pistas sobre uma mudança de tom do governo Bolsonaro com relação ao caos que tomou conta do país. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, utilizou o Twitter nesta quinta-feira (18) para cobrar uma nova abordagem do governo no combate à pandemia.
Em São Paulo, novas medidas foram anunciadas para tentar conter a doença e achatar a curva. O prefeito da cidade de São Paulo anunciou que irá antecipar feriados durante a Semana Santa para tentar reverter o quadro contágio na capital. Além disso, Bruno Covas também anunciou novos horários para o rodízio de veículos em uma tentativa de conter a movimentação e incentivar o isolamento social.
Sobe e desce
A decisão do Copom mexe com alguns setores específicos do Ibovespa. Na ponta positiva, temos uma reação das empresas do setor financeiro após a elevação da taxa de juros. Confira as principais altas desta quinta-feira (18):
CÓDIGO | NOME | VALOR | VARIAÇÃO |
SANB11 | Santander Brasil units | R$ 40,88 | 2,77% |
BBDC3 | Bradesco ON | R$ 23,15 | 1,85% |
BBDC4 | Bradesco PN | R$ 26,47 | 1,85% |
SBSP3 | Sabesp ON | R$ 42,20 | 1,61% |
SULA11 | SulAmérica units | R$ 36,38 | 1,54% |
No começo do dia, os papéis da Yduqs e da Gol lideram as quedas do índice, após as companhias divulgarem os seus resultados do quarto trimestre de 2020. Ao longo do dia, no entanto, o foco negativo se voltou para as empresas dos setores de consumo e imobiliário, que devem ser mais impactadas pela alta da Selic.
Mas, no fim, o pior desempenho ficou com as ações da PetroRio, que acompanharam o recuo do petróleo.
CÓDIGO | NOME | VALOR | VARIAÇÃO |
PRIO3 | PetroRio ON | R$ 88,20 | -8,60% |
GOLL4 | Gol PN | R$ 21,36 | -7,53% |
MGLU3 | Magazine Luiza ON | R$ 22,28 | -6,93% |
BTOW3 | B2W ON | R$ 61,25 | -5,11% |
YDUQ3 | Yduqs ON | R$ 27,23 | -4,99% |
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