Campanha do governo eleva tensão política no país
Peça estimula as pessoas a saírem de casa, na contramão de recomendações de organismos de saúde; parlamentares e prefeitos ameaçam ir à Justiça
O governo federal divulgou uma campanha publicitária chamada "O Brasil não pode parar" para estimular que pessoas deixem as suas casas em meio à pandemia de coronavírus e voltem a trabalhar. A orientação vai na contramão das recomendações de organismos de saúde mundo afora. Parlamentares e prefeitos ameaçam ir à Justiça contra a publicidade oficial.
A campanha também contraria restrições impostas - em maior ou menor escala - nos 27 Estados e ao menos 23 capitais do País, como fechamento de escolas, lojas e igrejas. Segundo reportagem da rede britânica BBC, cerca de 70 países no mundo decretaram algum tipo de medida de isolamento.
De acordo com a agência France Presse, as restrições atingem pelo menos 2,8 bilhões de pessoas, o que representa mais de 1/3 da população mundial. A Organização Mundial da Saúde (OMS) não tem um levantamento oficial.
A senha para que apoiadores de Bolsonaro difundisse a campanha foi dada ainda na quarta-feira, quando o governo divulgou uma postagem no Instagram com a hashtag #OBrasilNãoPodeParar".
Na noite de quinta, um vídeo com o mesmo mote e com a marca do governo federal foi divulgado pelo senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), filho do presidente, nas redes sociais. O vídeo de 1 minuto e 27 segundos mostra cenas de trabalhadores em atividades com um narrador ao fundo repetindo o tema da campanha.
A propaganda do governo federal se assemelha a uma campanha feita em fevereiro pela prefeitura de Milão, na Itália. O prefeito da cidade, Giuseppe Sala, reconheceu que errou ao ter divulgado o slogan "Milão não para". A cidade é uma das mais afetadas pela pandemia no país europeu, que ontem ultrapassou a marca dos 5 mil mortos pela doença.
Um grupo de parlamentares, que inclui o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e a deputada Tabata Amaral (PDT-SP), afirmou ontem que vai entrar com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a campanha.
O argumento é que a peça contraria especialistas e é um crime por prejudicar a saúde dos brasileiros. Em ofício encaminhado ao presidente, a Frente Nacional de Prefeitos também cobrou explicações e ameaça ir à Justiça.
A Secretaria de Comunicação da Presidência afirmou, em nota, que o vídeo tinha um "caráter experimental" e "que não houve qualquer gasto ou custo" na sua produção. A Secom informou ainda que o vídeo não tem relação com a contratação por R$ 4,9 milhões de uma agência de publicidade sem licitação.
*Com informações do jornal O Estado de S. Paulo e Estadão Conteúdo
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