O governo brasileiro confirmou hoje os dois primeiros casos de uma recombinação do novo coronavírus identificada como deltacron.
De acordo com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, os primeiros casos envolvendo uma fusão de características das variantes ômicron e delta foram diagnosticados na região norte do país.
Dias antes de chegar ao Brasil, a recombinação foi identificada em pelo menos 30 pacientes nos Estados Unidos e na Europa, segundo pesquisadores.
Ainda é cedo
Como houve poucos casos confirmados até agora, ainda é cedo para mensurar o impacto da deltacron, disse à agência Reuters o doutor Philippe Colson, da IHU Mediterranee Infection em Marselha, na França.
Não é possível saber, por exemplo, se a recombinação terá alta taxa de transmissibilidade ou se causará quadros graves de covid-19, prosseguiu o principal autor de uma pesquisa publicada na semana passada na plataforma medRxiv antes do processo de revisão por pares. Também não há dados suficientes sobre a eficácia das vacinas.
Deltacron não é a primeira recombinação…
Em janeiro, um pesquisador cipriota anunciou ter descoberto uma cepa do novo coronavírus combinando as variantes delta e ômicron. Leondios Kostrikis, professor de ciências biológicas da Universidade de Chipre, batizou a cepa de deltacron.
Nos dias que se seguiram à descoberta, porém, pesquisadores afirmaram que não era um caso de recombinação, mas de contaminação de amostra.
Sabe-se que as recombinações genéticas de coronavírus acontecem quando duas variantes infectam uma mesma célula hospedeira.
… nem será a última
Nos casos mais recentes, parece haver uma recombinação clara da estrutura da delta com as conexões proteicas da ômicron.
Especialistas apressaram-se em enfatizar que as variantes recombinantes não são incomuns e que o deltacron não é o primeiro e não será o último a ocorrer para o covid-19.
"Durante a pandemia de SARS-CoV-2, duas ou mais variantes co-circularam durante os mesmos períodos de tempo e nas mesmas áreas geográficas. Isso criou oportunidades de recombinação entre essas duas variantes", disse Colson.
“Isso acontece sempre que estamos no período de transição de uma variante dominante para outra e geralmente é uma curiosidade científica, mas não muito mais do que isso”, disse Jeffrey Barrett, que vem pesquisando a genética do novo coronavírus, citado pelo jornal britânico The Guardian.
Balanço da pandemia
Enquanto os potenciais impactos da deltacron não ficam mais claros, a ameaça do coronavírus segue à espreita.
Desde o início da pandemia, há pouco mais de dois anos, autoridades sanitárias de todo o mundo diagnosticaram pelo menos 460 milhões de casos de covid-19, com mais de 6 milhões de óbitos.
O Brasil concentra quase 11% das mortes no mundo. O Ministério da Saúde confirma 29,4 milhões de casos da doença, com mais de 655 mil mortos.