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Questionamento sobre balanço da XP tem pouco fundamento. Mas leva ação a menor valor desde IPO

Guilherme Benchimol, fundador da XP Investimentos

Guilherme Benchimol, fundador da XP Investimentos, durante o evento de lançamento das ações na Nasdaq

Três meses depois do badalado IPO (sigla em inglês para oferta pública inicial de ações) na bolsa norte-americana Nasdaq, a XP Investimentos provou o outro lado da moeda ao decidir abrir o capital nos Estados Unidos.

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As ações da corretora fecharam em forte queda de 13,34% na sexta-feira depois que um investidor com posição vendida nos papéis levantou dúvidas sobre dados do balanço.

Imediatamente, dois escritórios de advocacia começaram a recolher manifestações para a abertura de uma ação coletiva (class action) contra a companhia.

Com a queda de sexta-feira, a cotação dos papéis caiu para US$ 30,99, a menor desde os US$ 27,00 do IPO.

A história parece remeter ao episódio em que a gestora carioca Squadra questionou os números da empresa de resseguros IRB Brasil e derrubou o valor da companhia na bolsa em mais de 50%.

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Mas não se engane: no caso da empresa de investimentos The Winkler Group os argumentos são bem mais fracos.

O que diz o investidor

A menos que surjam fatos novos, o que se encontra no relatório de 36 páginas são alguns questionamentos complementados por ilações que fazem pouco ou nenhum sentido.

A Winkler se debruçou sobre os balanços e também levantou processos antigos e encerrados na CVM e na bolsa contra executivos e sócios da XP para tentar justificar sua tese vendida nos papéis.

Talvez o único mérito da análise seja levantar um ponto que passou batido e foi reconhecido pela própria XP no prospecto do IPO: problemas nos controles internos dos balanços da companhia.

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“Se não corrigirmos essas deficiências (e quaisquer outras) e não mantivermos controles internos eficazes sobre os relatórios financeiros, podemos não conseguir relatar com precisão nossos resultados operacionais”, informou a XP, na sessão de fatores de risco.

A corretora sustenta no prospecto, contudo, que essas deficiências não resultaram em distorção dos resultados consolidados.

A partir desse ponto, a Winkler apontou supostas inconsistências nos números, todas relacionadas a balanços publicados até 2018.

Mesmo que sejam verdadeiras, essas inconsistências não me pareceram relevantes o suficiente para afetar de forma substancial os resultados da XP.

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Essa análise dos balanços passados vem acompanhada de uma série de deduções. A Winkler conclui, por exemplo, que a corretora demitiu a KPMG como auditor porque a empresa teria descoberto as supostas inconsistências no balanço. Mas os balanços que foram auditados pela empresa aparecem sem ressalvas.

De todo modo, ainda é cedo para saber se o caso terá maiores repercussões e mesmo se haverá de fato ações coletivas contra a corretora – algo bastante comum no mercado norte-americano.

Os escritórios de advocacia que anunciaram a abertura das “class actions” são especialistas nesse tipo de processo. O site da The Rosen Law Firm, por exemplo, mostra dezenas de ações do tipo, contra empresas do porte da Netflix.

O que deveria fazer a ação da XP cair

Os argumentos de supostas irregularidades contábeis não deveriam sustentar a queda das ações da XP. Mas o fato é que a piora recente nos mercados justifica alguma correção nos preços dos papéis.

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A corretora é sem dúvida a grande vencedora do processo de queda da taxa básica de juros (Selic) e da migração dos recursos dos investidores brasileiros para fora dos grandes bancos e segue com grandes perspectivas.

Mas como eu disse na matéria sobre o IPO da XP, se a onda do mercado de capitais arrefecer, a empresa terá mais dificuldades para sustentar o crescimento que está embutido na cotação das ações.

Com o agravamento da epidemia de coronavírus, essa é justamente a preocupação de parte dos investidores.

Outro fator que merece atenção é a instabilidade frequente pela qual passa a plataforma da XP, em particular nesses últimos dias de forte movimentação na bolsa.

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Por outro lado, para quem não conseguiu entrar na oferta, a queda pode representar uma oportunidade única de comprar as ações (quase) com desconto. Para isso, é preciso ter conta em uma corretora lá fora ou aplicar nos fundos criados pela Vitreo ou pela própria XP que investem nos papéis.

O que diz a XP

Eu pedi uma posição da XP a respeito dos questionamentos do Winkler Group e da abertura das ações coletivas e recebi o seguinte comunicado:

“Tivemos acesso ao press release de dois escritórios de advocacia que atuam no mercado de ações coletivas (class action) e afirmam investigar a XP Inc. com base em um relatório produzido por uma empresa de investimentos. Infelizmente, no mercado norte-americano, press releases desta natureza envolvendo companhias abertas são extremamente comuns.

Observamos que tal empresa de investimentos não é uma empresa de análise (equity research) e, como se não bastasse, trata-se de investidor que afirma estar com uma posição vendida em ações da XP Inc. O relatório contém diversos erros e possui pontos que são imateriais ou irrelevantes. Não temos conhecimento de qualquer investigação ou processo contra a XP Inc., seja no Brasil ou no exterior, com base nas alegações contidas em referido press release.

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Durante o processo recente de IPO, a XP Inc. passou pelo escrutínio de quatro escritórios de advocacia reconhecidos mundialmente e duas das maiores firmas de auditoria do mercado. Além disso, diversos investidores institucionais de classe mundial auditaram a Companhia de todas as formas possíveis, inclusive por meio de processo próprio de diligência legal e/ou contábil.

A XP Inc. reforça seu total compromisso de transparência com seus clientes e investidores.”

No domingo, a empresa mandou um documento para a SEC, a CVM norte-americana, na qual procura rebater os argumentos do relatório da Winkler e você pode acessar aqui.

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