Taxa básica de juros (Selic) zero e uso vigoroso das reservas cambiais. Essas deveriam ser as armas do Banco Central para combater a perspectiva de recessão que será provocada pela pandemia do coronavírus, na visão da gestora de fundos Persevera.
Formada por ex-executivos do Bradesco e HSBC e com R$ 350 milhões sob gestão, a Persevera é conhecida no mercado pela defesa de cortes agressivos da Selic como estímulo à economia desde os anos de recessão.
“Como no caso de Ben Bernanke em 2008 e Mario Draghi em 2012, é preciso ‘Coragem de Agir’”, escreveu a gestora, em uma carta extraordinária aos investidores publicada hoje.
Mesmo antes do choque do coronavírus, a gestora já tinha uma projeção de desempenho fraco para a economia brasileira neste ano, com um PIB pouco acima de 1% e inflação abaixo de 3%, o que levaria o BC a reduzir para uma taxa ao redor de 3% ao ano.
Na avaliação da Persevera, o choque do coronavírus vai provocar o colapso em uma economia que já vinha em um ritmo de atividade “anêmico”. A crise deve jogar o PIB para o território “amplamente negativo e destruir repentinamente milhões de empregos”.
“Certamente baixar juros não vai impedir a contração abrupta da atividade, muito menos ajudar no combate direto à pandemia. Trata-se, porém de uma atitude necessária ainda que não suficiente para dar algum fôlego à economia.”
Para combater uma crise, não basta cortar os juros de forma lenta, cautelosa e sinalizando interrupções associadas a receios inflacionários futuros, segundo a gestora.
Junto com a redução da Selic para zero, a Persevera defende o uso das reservas cambiais, agora incrementadas pelo swap de US$ 60 bilhões realizado com o Fed (BC dos EUA). “Não faz sentido não utilizar o seguro no meio da calamidade.”
Para reduzir a pressão sobre o mercado de juros futuros que seria decorrente da queda abrupta da Selic, o BC também precisa sinalizar que a ausência de pressões inflacionárias levará à manutenção das taxas em patamares baixos por um longo período.
O objetivo é diminuir a pressão sobre os juros futuros, que passaram a subir desde o início da crise do coronavírus. “A ação do Tesouro Nacional de dar liquidez aos títulos de longo prazo é aqui também necessária e complementar, mas é a manutenção dos juros em patamares reduzidos que permitirá a reação fiscal necessária para combater o coronavírus.”