O dragão da inflação pode voltar?
A inflação pode ter se despertado no mundo, mas ela não tem mais a força de outro momento; é possível que a recente alta tenha efeitos práticos sobre o Copom

Entre fevereiro e março de 1986, durante o governo do Presidente José Sarney, foi lançada uma mirabolante estratégia com o intuito de debelar a galopante inflação da época: o Plano Cruzado. Composto por um conjunto de medidas, acabou ficando conhecido principalmente pelo congelamento de preços dos alimentos, produtos de limpeza, combustíveis, serviços e etc.
Curiosamente, no curto prazo, o plano deu um resultado muito positivo no controle inflacionário — claro que deu; afinal, congelaram os preços. Entretanto, aqueles que viveram os meses subsequentes ou conhecem a histórica sabem que as propostas ali apresentadas não eram sustentáveis e tiveram como consequência não só o agravamento da inflação, mas também o desabastecimento da população.
À época, ficaram famosos os “Fiscais do Sarney”. Este título foi instituído nacionalmente, com inclusive menção na mídia, para designar aqueles cidadãos voluntariamente responsáveis por denunciar ao governo os pontos de venda no comércio varejista que aumentassem os preços de seus produtos.
A histórica foi implicitamente relembrada na última semana pelo atual Presidente Bolsonaro, que havia sido acusado de cogitar tabelamento de preço para conter a recente inflação dos alimentos. Acontece que depois de um longo período em que o aumento de preços esteve fora da pauta, principalmente depois do episódio de 2015/16, voltamos a discutir mais intensamente o risco de um processo inflacionário no Brasil.
Vamos aos fatos: Na semana passada, o IPC-Fipe e o IGP-M trouxeram em suas prévias mensais uma alta superior ao topo das estimativas, sendo o segundo entregue duas vezes acima do esperado pela mediana das expectativas. O movimento foi sentido de maneira mais latente devido o impacto sobre os alimentos, notadamente o arroz, que virou matéria em diversos jornais.
Outro problema foi o descasamento entre quem está sendo mais impactado pela recente elevação dos preços. A tabela abaixo, confeccionada pelo brilhantismo do pessoal da Inversa Publicações, mostra como os preços caíram menos e subiram mais, nos últimos meses, principalmente nas camadas de renda mais baixa.
Leia Também

Os fatores que levaram a isso são alguns:
- depreciação do câmbio, beneficiando exportações em detrimento de importações (produtores exportam mais e comercializadores importam menos);
- intempéries climáticas, impossibilitando parte da disponibilidade de produtos usualmente ofertados (menos produtos chegando aos mercados);
- renda mínima (pessoal que está desempregado há algum tempo e que utiliza recursos para comprar alimentos).
Enquanto o primeiro e o segundo ponto contribuem para um choque de oferta, o terceiro propicia, por mais que marginalmente, uma pressão de demanda. A combinação foi notável nos indicadores divulgados.
Já foi possível ler em algumas manchetes que o dragão da inflação havia despertado. Será mesmo? Difícil dizer. Como muito bem colocou Felipe Miranda, estrategista-chefe da Empiricus, em seu artigo ontem enviado para mais de 2 milhões de pessoas: “[…] existe algo curioso sobre o ritual clássico em torno da inflação. Ela existe em si mesmo […] com um componente de profecia autorrealizável. Todos acham que os preços podem e devem subir. Então, correm para as compras antes que os preços de fato subam. […] Cria-se a sensação de que a inflação existe e, portanto, todos estão autorizados a remarcar preços […]”.
Como consequência, é provável que a notícia tenha efeitos práticos na tomada de decisão do Copom na quarta-feira. No próximo dia 16, o Banco Central brasileiro se reúne para decidir a taxa básica de juros de curto prazo da economia nacional. Mesmo que tenham deixado em aberto a possibilidade de reduzir ainda mais a Selic (redução marginal com gradualismo adicional), os fatos recentes não permitem muita clareza sobre qual será o caminho para a política econômica e para os mercados da dinâmica inflacionária, a qual permanecia aparentemente adormecida.
Paralelamente, o mundo inteiro está passando por uma situação muito semelhante. Por mais que existam razões estruturais para que a inflação esteja baixa, como os fatores demográficos, tecnológicos e de globalização, forçando a taxa de juros para baixo, existe também um receio recente de a inflação estaria se aquecendo no mundo como um todo.
O fenômeno é interessante uma vez que, até o final do ano passado, conversávamos sobre “japonização” mundial.
Hoje, temos os fatores estruturais deflacionários e os fatores conjunturais inflacionários: de um lado os supracitados pilares e, do outro, a expansão monetária sem precedente e a distorção entre oferta e demanda em um contexto inédito de descompasso produtivo (tiramos o mundo da tomada por alguns meses e, agora, estamos religando-o).
Se tivesse que apostar minhas fichas, diria que o primeiro tende a prevalecer em horizontes mais dilatados de tempo, mas a simples discussão sobre o segundo gera ruído sobre os mercados.
Haverá um equilíbrio nunca antes visto entre a inflação, a taxa de desemprego, a utilização da capacidade, o crescimento econômico e a estabilidade financeira.
Um mundo de novos paradigmas.
A inflação pode ter se despertado no mundo, mas ela não tem mais a força que outrora possuiu, como durante a década de 60 e 70 (Golden Age of Capitalism). Quem manda são as taxas de juro zeradas ou até mesmo negativas como sendo algo estrutural.
A ambivalência entre o estruturalismo das taxas e o ruídos de curto prazo tem efeito nefasto sobre valuation, aumentando a taxa de desconto dos ativos e gerando volatilidade. Isso é uma realidade para o Brasil, para os demais mercados emergente e para os mercados desenvolvidos.

Para saber como investir em um mundo novo de mais volatilidade e maior sensibilidade dos agentes, o melhor a se fazer é estar bem acompanhado. Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco, e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas.
É isso que fazemos quinzenalmente para mais de 100 mil pessoas na série Palavra do Estrategista. Nela, o estrategista Felipe Miranda conta tudo o que sabe sobre quais são os melhores produtos para os diferentes tipos de perfil.
Projeto aprovado na Câmara permite divórcio após a morte de um dos cônjuges, com mudança na divisão da herança
Processos iniciados antes do falecimento poderão ter prosseguimento a pedido dos herdeiros, deixando cônjuge sobrevivente de fora da herança
A solidez de um tiozão de Olympikus: a estratégia vencedora da Vulcabras (VULC3) e o que mexe com os mercados hoje
Conversamos com o CFO da Vulcabras, dona das marcas Olympikus e Mizuno, que se tornou uma queridinha entre analistas e gestores e paga dividendos mensais
Rodolfo Amstalden: O que o Nobel nos ensina sobre decisões de capex?
Bebendo do alicerce teórico de Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt se destacaram por estudar o papel das inovações tecnológicas nas economias modernas
A fome de aquisições de um FII que superou a crise da Americanas e tudo que mexe com o seu bolso nesta quarta (15)
A história e a estratégia de expansão do GGRC11, prestes a se tornar um dos cinco maiores FIIs da bolsa, são os destaques do dia; nos mercados, atenção para a guerra comercial, o Livro Bege e balanços nos EUA
Um atalho para a bolsa: os riscos dos IPOs reversos, da imprevisibilidade de Trump e do que mexe com o seu bolso hoje
Reportagem especial explora o caminho encontrado por algumas empresas para chegarem à bolsa com a janela de IPOs fechada; colunista Matheus Spiess explora o que está em jogo com a nova tarifa à China anunciada por Trump
100% de tarifa, 0% de previsibilidade: Trump reacende risco global com novo round da guerra comercial com a China
O republicano voltou a impor tarifas de 100% aos produtos chineses. A decisão foi uma resposta direta ao endurecimento da postura de Pequim
Felipe Miranda: Perdidos no espaço-tempo
Toda a Ordem Mundial dos últimos anos dá lugar a uma nova orientação, ao menos, por enquanto, marcada pela Desordem
Abuse, use e invista: C&A queridinha dos analistas e Trump de volta ao morde-assopra com a China; o que mexe com o mercado hoje?
Reportagem especial do Seu Dinheiro aborda disparada da varejista na bolsa. Confira ainda a agenda da semana e a mais nova guerra tarifária do presidente norte-americano
ThIAgo e eu: uma conversa sobre IA, autenticidade e o futuro do trabalho
Uma colab entre mim e a inteligência artificial para refletir sobre três temas quentes de carreira — coffee badging, micro-shifting e as demissões por falta de produtividade no home office
A pequena notável que nos conecta, e o que mexe com os mercados nesta sexta-feira (10)
No Brasil, investidores avaliam embate após a queda da MP 1.303 e anúncio de novos recursos para a construção civil; nos EUA, todos de olho nos índices de inflação
Esta ação subiu mais de 50% em menos de um mês – e tem espaço para ir bem mais longe
Por que a aquisição da Desktop (DESK3) pela Claro faz sentido para a compradora e até onde pode ir a Microcap
Menos leão no IR e mais peru no Natal, e o que mexe com os mercados nesta quinta-feira (9)
No cenário local, investidores aguardam inflação de setembro e repercutem derrota do governo no Congresso; nos EUA, foco no discurso de Powell
Rodolfo Amstalden: No news is bad news
Apuração da Bloomberg diz que os financistas globais têm reclamado de outubro principalmente por sua ausência de notícias
Pão de queijo, doce de leite e… privatização, e o que mexe com os mercados nesta quarta-feira (8)
No Brasil, investidores de olho na votação da MP do IOF na Câmara e no Senado; no exterior, ata do Fomc e shutdown nos EUA
O declínio do império americano — e do dólar — vem aí? Saiba também o que mexe com os mercados hoje
No cenário nacional, investidores repercutem ligação entre Lula e Trump; no exterior, mudanças políticas na França e no Japão, além de discursos de dirigentes do Fed
O dólar já não reina sozinho: Trump abala o status da moeda como porto seguro global — e o Brasil pode ganhar com isso
Trump sempre deixou clara sua preferência por um dólar mais fraco. Porém, na prática, o atual enfraquecimento não decorre de uma estratégia deliberada, mas sim de efeitos colaterais das decisões que abalaram a confiança global na moeda
Felipe Miranda: Lições de uma semana em Harvard
O foco do curso foi a revolução provocada pela IA generativa. E não se engane: isso é mesmo uma revolução
Tudo para ontem — ou melhor, amanhã, no caso do e-commerce — e o que mexe com os mercados nesta segunda-feira (6)
No cenário local, investidores aguardam a balança comercial de setembro; no exterior, mudanças de premiê na França e no Japão agitam as bolsas
Shopping centers: é melhor investir via fundos imobiliários ou ações?
Na última semana, foi divulgada alteração na MP que trata da tributação de investimentos antes isentos. Com o tema mais sensível retirado da pauta, os FIIs voltam ao radar dos investidores
A volta do campeão na ação do mês, o esperado caso da Ambipar e o que move os mercados nesta sexta-feira (3)
Por aqui, investidores ainda avaliam aprovação da isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil; no exterior, todos de olho no shutdown nos EUA, que suspendeu a divulgação de dados econômicos