Ações menos arriscadas do que renda fixa
Em certo sentido, diante de um eventual choque inflacionário súbito e inesperado, o melhor seria ter ativos reais. Contraintuitivamente, ações podem estar menos arriscadas do que a renda fixa agora
Quando questionado sobre o que teria feito diferente na gestão da crise de 2008, Ben Bernanke respondeu: “Eu teria feito mais e mais rápido”.
Talvez haja aí um certo autoelogio tácito, travestido de falsa modéstia. Algo como: “Tudo que eu fiz foi ótimo; uma pena que não pude ser ainda mais eu mesmo”. De fato, banqueiros centrais não costumam ser propriamente um exemplo de autocrítica. Alan Greenspan demorou anos para reconhecer ter mantido uma visão errada sobre o funcionamento dos mercados. Somente na famosa “Greenspan confession” ele veio a público para dizer: “Eu cometi um erro em assumir que organizações atuando em prol do interesse próprio, especialmente bancos e correlatos, seriam capazes de proteger seus acionistas e seu capital social na companhia”. O Primeiro Teorema do Bem-estar vale somente sob determinadas circunstâncias. Ter mantido os juros nos EUA tão baixos por tanto tempo e, simultaneamente, adotado uma regulação muito frouxa sobre o setor bancário norte-americano trouxe consequências graves.
Questões egoicas e falta de autocrítica à parte, essa parece mesmo ter sido a lição deixada pelo gerenciamento da crise de 2008: diante de uma hecatombe de intensidade similar àquela, os bancos centrais e os Tesouros nacionais devem fazer mais e mais rápido.
Infiro daí que, se, de fato, Bernanke está certo e os formuladores de política monetária fizeram menos do que deveriam em 2008, agora o risco é terem entendido isso e exagerarem na dose, fazendo mais do que o necessário.
Primeiro corolário: o mundo deve continuar recebendo seus esteroides. Hoje mesmo, tivemos dois exemplos disso. A China voltou a injetar liquidez no sistema e a Alemanha estendeu seu pacote fiscal adotado para a emergência da pandemia. Se até a Alemanha está frouxa com o caixa, meu caro, imagina o que vamos ver por aí…
Estamos experimentando na prática o que era apenas uma hipótese teórica sem qualquer validação empírica: a Moderna Teoria Monetária. Supostamente, poderíamos imprimir moeda de forma indiscriminada nos países desenvolvidos, sem graves consequências. Enquanto isso for válido, rodamos a impressão de dinheiro. Como qualquer outro bem da economia, o aumento da oferta de dinheiro tende a reduzir seu valor frente aos demais ativos — e o dinheiro caindo é a outra maneira de se interpretar as Bolsas, o ouro e o bitcoin subindo.
Leia Também
Há limite para essa dinâmica? Quais os riscos?
Existem duas ameaças claras: inflação e bolha de ativos. E cada um deles tem suas idiossincrasias.
A inflação me parece um risco particularmente importante porque ninguém está preparado para ela. Como, de maneira objetiva, hoje ainda não estão colocados sobre a mesa elementos de pressão inflacionária, supomos que eles também não aparecerão à frente. “What you see is all there is” (o que você vê é tudo que existe), como lembraria Daniel Kahneman, Ou, o que os olhos não veem as projeções para os índices de preço não capturam. Estimativas econométricas são tipicamente baseadas em séries temporais. Então, se você não observa algo na trajetória passada ou presente, com mais dificuldade vai adicionar ao seu modelo para uma expectativa sobre o futuro. Se o fizer, o risco de incorrer numa subjetividade grande do pesquisador é maior e, assim, deixa de ser ciência para virar opinião pessoal.
Não me iludo. A confusão entre ciência e cientificismo é um tanto típica do pós-iluminismo, sobretudo na Economia — “data is the new god”.
De maneira objetiva, porém, diante da ausência temporária da inflação, logo pulamos para a conclusão de que não haverá também inflação no futuro. O que, de fato, pode mesmo acontecer. Mas é um risco. Esse me parece um elemento novo dos formuladores de política econômica: eles têm sido tomadores de risco, quebrando uma tradição longeva de conservadorismo, sobretudo por parte dos bancos centrais.
Talvez a ociosidade da economia, a demografia e a tecnologia sejam forças estruturais muito poderosas, capazes de manter a inflação baixa ad infinitum , a despeito da enorme explosão da oferta de moeda. Contudo, isso é apenas uma suposição. A História não nos conta o que pode ser; apenas o que foi ou é. Há um problema importante aqui, muitas vezes negligenciados: as decisões de política econômica (e de investimentos também) são tomadas prospectivamente, mas só podem ter todas as suas consequências entendidas retrospectivamente. Em outras palavras, também pode acontecer o contrário: de a explosão sem precedentes da oferta de moeda sobrepujar as forças deflacionárias, sobretudo quando os impactos mais pronunciados da pandemia forem superados. Então, de forma súbita, observaríamos um repique inflacionário súbito.
Em ocorrendo, o fenômeno seria particularmente grave. A inflação é um risco grande justamente porque ninguém está preparado para ela. Ainda que tenha baixa probabilidade de ocorrência, sua materialização seria devastadora. Ela forçaria uma reversão grande das políticas de expansão fiscal e monetária, sem que o mundo esteja preparado para isso — todas as vezes em que os bancos centrais sinalizaram (nem precisaram ir às vias de fato) retirada dos estímulos, os efeitos foram trágicos.
Já bolhas de ativos são perniciosas porque costumam ser identificadas com precisão somente a posteriori, quando já estouraram. Ativos financeiros são precificados a partir de projeções de seus fluxos de caixa futuros. Desse modo, a depender da narrativa que você constrói sobre o futuro, podemos justificar quase qualquer coisa. O Ibovespa pode ser uma pechincha se você assumir retomada da austeridade fiscal, recuperação vigorosa da economia em 2021 e ausência de uma segunda onda do coronavírus. E pode ser absurdamente caro se partirmos de premissas contrárias.
O risco de bolha, contudo, sobretudo no mercado acionário brasileiro, embora possa vir a se constituir mais concretamente no futuro, hoje me parece controlado. Estamos muito defasados frente a qualquer outra Bolsa global no ano, em especial em dólares. Apesar de observarmos um aumento expressivo de investidores pessoas físicas em Bolsa, esse ainda é um mercado subpenetrado no Brasil — ações ainda representam pouco, em termos agregados, dos portfólios de grandes investidores institucionais e pessoas físicas por aqui. E bolhas tipicamente são associadas a momentos de forte expansão do crédito e grande alavancagem do sistema — não temos nenhum dos elementos à mesa neste momento, o que não significa, claro, que não possamos estar plantando agora as sementes de alguma exuberância irracional futura.
Ficamos mais concretamente, portanto, com a ameaça da inflação. Se ela vier mesmo a se materializar, teremos uma rápida reversão da política monetária brasileira. Os juros não vão sair de 2% para 2,5%, mas, sim, para 6%. O choque nos investimentos de renda fixa naquela parte intermediária da curva de juros, para prazos de 2022 a 2024, por exemplo, pode ser absolutamente brutal. A assimetria aqui está bastante não convidativa. Se algo der errado, a sangria pode ser brutal, para ganhos modestos no juro nominal a partir de agora.
Muita gente consegue perceber o risco do juro longo no Brasil. E a resposta pragmática a isso é a grande inclinação da curva para prazos mais distantes. Entretanto, poucos percebem que o problema da inflação pode se dar em espaço de tempo relativamente curto e forçar um novo (ou velho, sei lá) paradigma para a política monetária. Todos veem risco no prefixado 2029, mas negligenciam a ameaça que ronda o 2023.
Em certo sentido, diante de um eventual choque inflacionário súbito e inesperado, o melhor seria ter ativos reais. Contraintuitivamente, ações podem estar menos arriscadas do que a renda fixa agora.
Adeus ELET3 e ELET5: veja o que acontece com as ações da Axia Energia, antiga Eletrobras, na bolsa a partir de hoje
Troca de tickers nas bolsas de valores de São Paulo e Nova York coincide com mudança de nome e imagem, feita após 60 anos de empresa
A carteira de ações vencedora seja quem for o novo presidente do Brasil, segundo Felipe Miranda
O estrategista-chefe da Empiricus e sócio do BTG Pactual diz quais papéis conseguem suportar bem os efeitos colaterais que toda votação provoca na bolsa
Ibovespa desafia a gravidade e tem a melhor performance desde o início do Plano Real. O que esperar agora?
Em Wall Street, as bolsas de Nova York seguiram voando às cegas com relação à divulgação de indicadores econômicos por conta do maior shutdown da história dos EUA, enquanto os valuations esticados de empresas ligadas à IA seguiram como fonte de atenção
Dólar em R$ 5,30 é uma realidade que veio para ficar? Os 3 motivos para a moeda americana não subir tão cedo
A tendência de corte de juros nos EUA não é o único fato que ajuda o dólar a perder força com relação ao real; o UBS WM diz o que pode acontecer com o câmbio na reta final de 2025
Vamos (VAMO3) lidera os ganhos do Ibovespa e Minerva (BEEF3) fica na lanterna; confira o sobe e desce das ações
O principal índice da bolsa brasileira acumulou valorização de 3,02% nos últimos cinco pregões e encerrou a última sessão da semana no nível inédito dos 154 mil pontos
Maior queda do Ibovespa: por que as ações da Cogna (COGN3) desabaram mesmo depois de um “trimestre limpo”?
As ações passaram boa parte do dia na lanterna do Ibovespa depois do balanço do terceiro trimestre, mas analistas consideraram o resultado como positivo
Fred Trajano ‘banca’ decisão que desacelerou vendas: “Magalu nunca foi de crescer dando prejuízo, não tem quem nos salve se der errado”
A companhia divulgou os resultados do segundo trimestre ontem (6), com queda nas vendas puxada pela desaceleração intencional das vendas no marketplace; entenda a estratégia do CEO do Magazine Luiza
Fome no atacado: Fundo TRXF11 compra sete imóveis do Atacadão (CAFR31) por R$ 297 milhões e mantém apetite por crescimento
Com patrimônio de R$ 3,2 bilhões, o fundo imobiliário TRXF11 saltou de 56 para 74 imóveis em apenas dois meses, e agora abocanhou mais sete
A série mais longa em 28 anos: Ibovespa tem a 12ª alta seguida e o 9° recorde; dólar cai a R$ 5,3489
O principal índice da bolsa brasileira atingiu pela primeira vez nesta quinta-feira (6) o nível dos 154 mil pontos. Em mais uma máxima histórica, alcançou 154.352,25 pontos durante a manhã.
A bolsa nas eleições: as ações que devem subir com Lula 4 ou com a centro-direita na Presidência — e a carteira que ganha em qualquer cenário
Felipe Miranda, estrategista-chefe da Empiricus e sócio do BTG Pactual, fala sobre como se posicionar para as eleições de 2026 e indica uma carteira de ações capaz de trazer bons resultados em qualquer cenário
As ações para ‘evitar ser estúpido’ da gestora cujo fundo rende 8 vezes mais que o Ibovespa
Atmos Capital tem 40% da carteira de R$ 14 bilhões alocada em concessionárias de serviços públicos; veja as ações da gestora
Nasdaq bate à porta do Brasil: o que a bolsa dos ‘todo-poderosos’ dos EUA quer com as empresas daqui?
Em evento em São Paulo, representantes da bolsa norte-americana vieram tentar convencer as empresas de que abrir capital lá não é um sonho tão distante
Ibovespa volta a fazer história: sobe 1,72% e supera a marca de 153 mil pontos antes do Copom; dólar cai a R$ 5,3614
Quase toda a carteira teórica avançou nesta quarta-feira (5), com os papéis de primeira linha como carro-chefe
Itaú (ITUB4) continua o “relógio suíço” da bolsa: lucro cresce, ROE segue firme e o mercado pergunta: é hora de comprar?
Lucro em alta, rentabilidade de 23% e gestão previsível mantêm o Itaú no topo dos grandes bancos. Veja o que dizem os analistas sobre o balanço do 3T25
Depois de salto de 50% no lucro líquido no 3T25, CFO da Pague Menos (PGMN3) fala como a rede de farmácias pode mais
O Seu Dinheiro conversou com o CFO da Pague Menos, Luiz Novais, sobre os resultados do terceiro trimestre de 2025 e o que a empresa enxerga para o futuro
FII VGHF11 volta a reduzir dividendos e anuncia o menor pagamento em quase 5 anos; cotas apanham na bolsa
Desde a primeira distribuição, em abril de 2021, os dividendos anunciados neste mês estão entre os menores já pagos pelo FII
Itaú (ITUB4) perde a majestade e seis ações ganham destaque em novembro; confira o ranking das recomendações dos analistas
Após voltar ao topo do pódio da série Ação do Mês em outubro, os papéis do banco foram empurrados para o fundo do baú e, por pouco, não ficaram de fora da disputa
Petrobras (PETR4) perde o trono de empresa mais valiosa da B3. Quem é o banco que ‘roubou’ a liderança?
Pela primeira vez desde 2020, essa companhia listada na B3 assumiu a liderança do ranking de empresas com maior valor de mercado da bolsa brasileira; veja qual é
Fundo imobiliário GARE11 vende 10 imóveis, locados ao Grupo Mateus (GMAT3) e ao Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), por R$ 485 milhões
A venda envolve propriedades locadas ao Grupo Mateus (GMAT3) e ao Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), que pertenciam ao FII Artemis 2022
Ibovespa atinge marca inédita ao fechar acima dos 150 mil pontos; dólar cai a R$ 5,3574
Na expectativa pela decisão do Copom, o principal índice de ações da B3 segue avançando, com potencial de chegar aos 170 mil pontos, segundo a XP