Desde o início da semana, os investidores vinham traçando um cenário ideal para a decisão de política monetária do Fed, realizada nesta quarta-feira (29). E, considerando a nova rodada de alívio vista no Ibovespa, nas bolsas globais e no dólar à vista, as expectativas foram cumpridas à risca.
O índice brasileiro passou toda a sessão no campo positivo, mas chegou até a ganhar intensidade após às 15h, quando o Fed divulgou a manutenção da taxa de juros dos EUA na faixa de 0% a 0,25% ao ano. Ao fim do dia, o Ibovespa marcava 83.170,80 pontos, em alta de 2,29% — o terceiro pregão consecutivo no azul.
O dólar à vista não ficou para trás: a moeda americana terminou a sessão em forte baixa de 2,90%, a R$ 5,3552, e já acumula perdas de 5,41% apenas nesta semana.
- Eu gravei um vídeo para explicar a dinâmica dos mercados nesta quarta-feira. Veja abaixo:
No exterior, o tom foi igualmente positivo: as bolsas americanas, que já operavam em alta desde a abertura, ampliaram ainda mais os ganhos a partir das sinalizações do Fed. Com isso, o Dow Jones (+2,21%), o S&P 500 (+2,66%) e o Nasdaq (+3,57%) tiveram avanços firmes ao fim da sessão.
É claro que a menor aversão ao risco do mercado em relação às turbulências políticas no Brasil também ajuda a criar um ambiente mais favorável aos ativos domésticos — especialmente o câmbio, que esteve particularmente pressionado nos últimos dias.
Mas, nesta quarta-feira, o exterior voltou a aparecer como principal fator e influência para o Ibovespa e o dólar, contribuindo para prolongar a sequência de alívio vista desde o começo da semana.
Fed cumpre o script
A manutenção dos juros nos EUA no patamar de 0% a 0,25% ao ano era amplamente esperada pelos investidores — as autoridades do Fed já haviam sinalizado no passado que não viam taxas negativas como adequadas para o país.
Assim, toda a expectativa dos investidores estava no tom a ser adotado no comunicado da decisão monetária e nas eventuais sinalizações a serem emitidas pelo presidente da instituição, Jerome Powell, na coletiva de imprensa que seria feita nesta tarde.
E, em ambos os casos, a postura do Fed agradou os investidores: a autoridade deu diretrizes claras quanto aos próximos passos e indicou a possibilidade de novos pacotes de estímulo serem adotados em breve, de modo a conter os impactos econômicos do surto de coronavírus
No comunicado, o BC americano disse estar comprometido a usar todos os instrumentos para apoiar a atividade no país, embora tenha ressaltado que o cenário é desafiador, com inúmeros riscos no curto prazo. O Fed ainda disse ver a manutenção dos juros nos níveis atuais até que se inicie uma retomada econômica.
E, na coletiva de imprensa, Powell disse as palavras mágicas: segundo o presidente da instituição, a economia americana pode precisar de mais suporte para que a recuperação seja robusta. Em outras palavras: a porta está aberta para mais pacotes de auxílio financeiro.
O gráfico acima mostra que a reação dos investidores foi positivo às sinalizações do Fed. O índice passou o dia em alta, mas foi às máximas pouco depois das 15h — horário que coincide com a decisão de política monetária nos EUA e com o início da fala de Powell.
Essa esticada vista na etapa final do pregão foi suficiente, inclusive, para que o Ibovespa rompesse a faixa dos 83 mil pontos — um nível que não era atingido desde 11 de março.
Cautela e alívio
No Brasil, o noticiário referente ao cenário político continuou em primeiro plano para os investidores — e a notícia de que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, suspendeu a nomeação de Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal, conforme desejado pelo presidente Jair Bolsonaro, trouxe algumas instabilidades às negociações.
Apesar disso, o clima foi de relativa tranquilidade nos mercados brasileiros, tendo em vista a permanência de Paulo Guedes à frente do ministério da Economia. Desde segunda-feira (27), quando Bolsonaro deu declarações públicas de apoio a ele, os agentes financeiros têm assumido uma postura mais aliviada em relação às instabilidades políticas.
Esse cenário ajuda a explicar o forte alívio visto no dólar à vista nesta semana — alguns operadores também citam a proximidade do fechamento da taxa Ptax de abril e a consequente pressão para reduzir a cotação da moeda americana como um fator de influência para a queda da divisa.
No mercado de juros, o dia foi de ajustes positivos nas curvas mais curtas após a forte baixa vista ontem. Mas, em linhas gerais, os investidores seguem apostando firme em mais cortes na Selic, de modo a estimular a atividade doméstica — o BC se reúne na próxima semana para decidir o futuro da taxa:
- Janeiro/2021: de 2,82% para 2,83%;
- Janeiro/2023: de 4,85% para 4,77%;
- Janeiro/2025: de 6,62% para 6,44%;
- Janeiro/2027: de 7,60% para 7,36%.
Balanços e mais balanços
No front corporativo, destaque para os diversos balanços que foram divulgados desde a noite de ontem. Em primeiro plano apareceu a Vale: a mineradora fechou o período entre janeiro e março deste ano com um lucro de US$ 239 milhões, revertendo parte das perdas contabilizadas há um ano.
Nesse contexto, os papéis ON da mineradora (VALE3) fecharam em alta de 4,75% nesta quarta-feira, e apareceram entre os destaques positivos do Ibovespa.
Outras integrantes do índice também reportaram seus números trimestrais, como Raia Drogasil, Cielo, Smiles e Weg — veja aqui o resumo dos resultados dessas companhias.
Top 5
Confira abaixo as cinco ações de melhor desempenho do Ibovespa nesta quarta-feira:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
CSNA3 | CSN ON | 9,03 | +15,62% |
IRBR3 | IRB ON | 10,25 | +13,89% |
COGN3 | Cogna ON | 5,59 | +12,25% |
GOLL4 | Gol PN | 13,34 | +9,43% |
USIM5 | Usiminas PNA | 5,06 | +8,43% |
E as cinco maiores perdas do índice:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
MGLU3 | Magazine Luiza ON | 50,62 | -2,28% |
RAIL3 | Rumo ON | 19,76 | -2,18% |
KLBN11 | Klabin units | 17,55 | -2,58% |
TAEE11 | Taesa units | 27,70 | -1,44% |
RADL3 | Raia Drogasil ON | 108,58 | -1,24% |