Uma ressaca clássica inclui sintomas como fadiga, sede, dor de cabeça, náuseas, desidratação, tontura e sensibilidade à luz e a barulhos em geral. Costuma suceder o consumo em excesso de comidas, bebidas ou substâncias psicoativas, sejam elas lícitas ou ilícitas.
Nos mercados financeiros, ressacas costumam resultar em aversão a qualquer tipo de risco, com ou sem motivo, por parte dos investidores.
E foi uma sensação amarga de ressaca que prevaleceu nos mercados financeiros globais nesta quinta-feira, depois do consumo em excesso de comunicados de bancos centrais de todos os cantos do mundo num intervalo de poucas horas.
Uma verdadeira overdose de ações – ou falta de – de política monetária. Nem mesmo o reluzente ouro, considerado um porto seguro, escapou da aversão dos investidores.
As bolsas de valores asiáticas, europeias e norte-americanas fecharam em queda. Em Wall Street, onde o pregão transcorre simultaneamente ao do Ibovespa, o índice Dow Jones recuou 0,47%, o S&P-500 cedeu 0,84% e o Nasdaq caiu 1,27%.
Bluechips salvam o dia na B3
Tinha tudo para ser igual na B3, até pela ausência de notícias. O Ibovespa operava em queda desde o início do pregão desta quinta-feira repercutindo a ressaca com a overdose de decisões de bancos centrais observada entre ontem e hoje.
Desde cedo, porém, os efeitos da ressaca pareciam menos indigestos do que o que se via no exterior. Depois de um recuo inicial mais pronunciado, o Ibovespa estabeleceu-se acima dos 99 mil pontos, mas seguia no vermelho.
O que levou à virada na bolsa foram algumas bluechips do índice - Petrobras, Vale, Suzano e Ambev entre elas - que ontem recuaram em demasia e hoje se apresentaram como boas oportunidades de negócio, avaliam analistas. Foi o peso desses papéis sobre o Ibovespa que sustentou a alta do principal índice da B3 e o levou novamente para além da marca de 100 mil pontos.
No meio da tarde, em reação ao comunicado da Opep+, formada pelos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados, a bolsa reagiu e passou a testar leves altas com uma virada nos papéis da Petrobras.
O grupo reiterou a importância de compensar o volume de petróleo produzido em excesso por alguns integrantes do pacto para conter a oferta do produto. A declaração levou à apreciação dos contratos futuros de petróleo nos mercados internacionais, beneficiando a Petrobras.
Com isso, a bolsa brasileira fechou em alta de 0,42%, aos 100.097,83 pontos.
Decisões 'protocolares e pouco ousadas'
O Ibovespa, entretanto, mostrou-se um ponto fora da curva.
Depois de terem passado a quarta-feira em compasso de espera pelas decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos, os investidores reagiram hoje à sinalização emitida pelo Federal Reserve Bank (Fed, o banco central norte-americano) e ecoada nas horas seguintes pelos bancos centrais brasileiro, japonês e inglês.
A mensagem é a de que os bancos centrais fizeram tudo o que esteve ao alcance até o momento para enfrentar a pandemia do novo coronavírus, mas os instrumentos de política monetária, sozinhos, não serão suficientes para superar a crise.
A conclusão é que, apesar de uma onda sem precedentes de liquidez ter sido injetada nos mercados financeiros pelos bancos centrais nos últimos meses, os estímulos talvez sejam insuficientes para que a economia global retorne aos níveis pré-coronavírus diante de tantos riscos e incertezas.
"Decisões de juros protocolares e pouco ousadas", resumiu Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.
Sem a sinalização de novas medidas de estímulo pelo Fed e a visão de que alguns setores da economia norte-americana irão demorar para se recuperar, os investidores seguiram reagindo de forma negativa ao comunicado.
No que diz respeito à decisão do Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (BCB), a entidade encerrou o ciclo de nove cortes seguidos e confirmou a expectativa de manutenção da taxa Selic em 2% ao ano.
No comunicado da decisão, a autoridade monetária sinalizou que a taxa básica de juro deve permanecer em sua mínima histórica por um longo período, até quem sabe meados de 2022.
Preocupação recente entre os participantes do mercado, o Copom reconheceu que a inflação deve aumentar no curto prazo, com a alta 'temporária' nos preços dos alimentos, mas avaliou que os números permanecem abaixo dos níveis compatíveis com o cumprimento da meta para a inflação no horizonte relevante para a política monetária.
BRF, Magalu e Intermédica no noticiário
Além das bluechips, ações como Magazine Luiza, BRF e Notre Dame Intermédica chamaram a atenção dos participantes da B3 nesta quinta-feira.
O ministro das Comunicações, Fábio Faria, sinalizou que cinco empresas estão interessadas na aquisição dos Correios, entre elas Magazine Luiza e Amazon.
Já a BRF confirmou a emissão de US$ 500 milhões em títulos de 30 anos no exterior. A demanda superou em dez vezes a oferta.
Enquanto isso, a Notre Dame Intermédica aprovou o aumento de capital social de R$ 120,221 milhões para R$ 5,646 bilhões.
Confira a seguir as maiores altas e baixas do dia entre os componentes do Ibovespa.
MAIORES ALTAS
- Usiminas PN (USIM5) +5,15%
- Ambev ON (ABEV3) +4,78%
- Suzano ON (SUZB3) +3,03%
- CSN ON (CSNA3) +2,58%
- Braskem PN (BRKM5) +2,54%
MAIORES BAIXAS
- Hapvida ON (HAPV3) -3,29%
- Notre Dame Intermédica ON (GNDI3) -3,01%
- MRV ON (MRVE3) -2,69%
- Totvs ON (TOTS3) -2,68%
- Lojas Americanas PN (LAME4) -2,49%
Dólar e juro
O dólar operou em alta durante a maior parte do dia, reagindo ao mau humor externo alimentado pelo descontentamento dos investidores com a constatação dos limites da política monetária como solução para a crise.
No meio da tarde, entretanto, a moeda norte-americana passou a oscilar perto da estabilidade com o real acompanhando a melhora dos ativos de risco nos mercados locais.
No fim, logo depois de testar as mínimas da jornada, o dólar estabeleceu-se em queda de 0,13%, cotado a R$ 5,2314.
Já os contratos de juros futuros recuaram ao longo de toda a sessão em um ajuste às altas acentuadas que antecederam a reunião do Copom. Os contratos mais longos encerraram nas mínimas do dia.
Confira as taxas negociadas de alguns dos principais contratos negociados na B3:
- Janeiro/2022: de 2,890% para 2,820%;
- Janeiro/2023: de 4,250% para 4,140%;
- Janeiro/2025: de 6,120% para 6,020%;
- Janeiro/2027: de 7,120% para 7,010%.