Tensão em Brasília leva o dólar a um novo recorde; Ibovespa fecha na mínima do dia
Notícias quanto ao conteúdo ‘bombástico’ da reunião ministerial do último da 22 aumentaram a aversão ao risco e levaram o dólar a R$ 5,86

Durante a primeira metade da sessão desta terça-feira (12), os mercados brasileiros exibiam um tom estranhamente calmo: o Ibovespa mantinha-se em alta e o dólar à vista recuava — ok, o clima lá fora era relativamente tranquilo, mas, aqui dentro, havia nervosismo de sobra.
Afinal, o coronavírus continuava avançando em ritmo preocupante no país, a atividade no setor de serviços teve a maior baixa mensal da série histórica e o cenário político seguia bastante tumultuado — um panorama que não combinava com o otimismo visto nos mercados domésticos.
A impressão que dava era a de que esse alívio não resistiria ao menor sinal de turbulência — e, no vídeo abaixo, eu disse que não seria surpreendente ver uma virada nos mercados antes do fechamento, considerando a fragilidade do cenário político.
Dito e feito: assim que começaram a circular as primeiras notícias referentes ao vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, tivemos uma reviravolta na bolsa e no câmbio.
O dólar à vista, que chegou a tocar os R$ 5,7430 mais cedo (-1,33%), passou a enfrentar pressão intensa, fechando a sessão em alta de 0,82%, a R$ 5,8686 — um novo recorde nominal de encerramento para a moeda americana. Desde o começo do ano, o salto da divisa já chega a 46,28%.
No mercado de ações, o Ibovespa perdeu força durante a tarde e fechou o pregão nas mínimas do dia: queda de 1,51%, aos 77.871,95 pontos — mais cedo, o índice bateu os 80.344,03 pontos (+1,62%).
Leia Também
Sem dúvidas, o exterior teve algum papel nessa virada do Ibovespa e do dólar: lá fora, o noticiário também foi intenso durante a tarde e aumentou a aversão ao risco por parte dos investidores. Tanto é que, nos EUA, o Dow Jones (-1,89%), o S&P 500 (-2,05%) e o Nasdaq (-2,06%) também fecharam em baixa, após iniciarem o dia no campo positivo.
Mas quem realmente dominou as mesas de operação nesta terça-feira foi o cenário político doméstico — e o tom é de cautela elevada entre os agentes financeiros locais.
Moro x Bolsonaro
Por volta de 14h30, começaram a surgir as primeiras notícias quanto ao conteúdo do vídeo da reunião — e os adjetivos iam todos na mesma linha: 'bombástico', 'devastador' e 'comprometedor' foram alguns dos mais usados.
Diversos veículos de imprensa relataram que, entre outros pontos, Bolsonaro teria pedido a Moro — então ministro da Justiça — a troca da superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro com o objetivo de blindar sua família.
Caso o desejo não fosse atendido, o presidente teria ameaçado demitir Moro e trocar o diretor-geral da PF — o que fica em linha com as justificativas dadas pelo ex-juiz federal para deixar o governo.
Os relatos a respeito do vídeo da reunião ministerial aumentaram a aversão ao risco no mercado: como a íntegra do conteúdo ainda não foi divulgada, restou aos investidores trabalhar com cenários hipotéticos — e tudo leva a crer que o panorama em Brasília ficará ainda mais deteriorado a partir de agora.
E, nesse cenário cheio de dúvidas, a reação natural foi a de assumir uma posição defensiva, aumentando a demanda por dólares e diminuindo as posições em bolsa.
Dúvidas no exterior
Lá fora, o dia começou mais ameno: a China anunciou que irá aumentar a lista de produtos dos EUA que estarão isentos de sobretaxações, colocando panos quentes nas recentes tensões comerciais entre os países.
Num primeiro momento, a medida se sobrepôs às ameças e declarações mais fortes do presidente dos EUA, Donald Trump, que tem culpado a China pela pandemia de coronavírus — e usado esse discurso para tentar descumprir os acordos comerciais firmados no ano passado.
Mas, durante a tarde, a cautela voltou a pesar sobre os investidores globais: um projeto de lei que dá a Trump o poder de impor sanções à China caso o país não coopere com as investigações a respeito da Covid-19 foi apresentado ao Congresso americano.
Além disso, voltaram a aumentar as preocupações quanto a uma reabertura apressada da economia dos EUA, ainda mais considerando a possível segunda onda de casos na China e na Ásia.
Assim, as bolsas americanas viraram para queda, o que contribuiu para pressionar ainda mais o Ibovespa e elevar a aversão ao risco entre os agentes financeiros domésticos.
Ajustes nos juros
No mercado de juros futuros, os investidores reagiram ao conteúdo da ata da última reunião do Copom: entre outros pontos, a autoridade monetária projeta uma queda forte do PIB no primeiro semestre e voltou a reforçar a possibilidade de um novo corte de 0,75 ponto na Selic na reunião de junho.
Dada a ausência de grandes novidades no documento, as curvas de juros passaram a repercutir o noticiário político mais turbulento — e, como resultado, os DIs fecharam em alta firme, tanto na ponta curta quanto na longa:
- Janeiro/2021: de 2,47% para 2,61%;
- Janeiro/2022: de 3,27% para 3,50%;
- Janeiro/2023: de 4,46% para 4,73%;
- Janeiro/2025: de 6,43% para 6,69%;
- Janeiro/2027: de 7,49% para 7,79%.
Top 5
Veja abaixo os cinco papéis de melhor desempenho do Ibovespa nesta terça-feira:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
BEEF3 | Minerva ON | 14,40 | +7,06% |
IRBR3 | IRB ON | 8,04 | +4,42% |
MRFG3 | Marfrig ON | 14,27 | +3,78% |
BRAP4 | Bradespar PN | 32,97 | +3,22% |
HAPV3 | Hapvida ON | 50,91 | +3,22% |
Confira também as maiores baixas do índice:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
BRKM5 | Braskem PNA | 20,47 | -7,29% |
NTCO3 | Natura ON | 32,05 | -6,15% |
ELET6 | Eletrobras PNB | 23,25 | -5,87% |
EMBR3 | Embraer ON | 6,78 | -5,70% |
SANB11 | Santander Brasil units | 23,24 | -5,18% |
Há razão para pânico com os bancos nos EUA? Saiba se o país está diante de uma crise de crédito e o que fazer com o seu dinheiro
Mesmo com alertas de bancos regionais dos EUA sobre o aumento do risco de inadimplência de suas carteiras de crédito, o risco não parece ser sistêmico, apontam especialistas
Citi vê mais instabilidade nos mercados com eleições de 2026 e tarifas e reduz risco em carteira de ações brasileiras
Futuro do Brasil está mais incerto e analistas do Citi decidiram reduzir o risco em sua carteira recomendada de ações MVP para o Brasil
Kafka em Wall Street: Por que você deveria se preocupar com uma potencial crise nos bancos dos EUA
O temor de uma infestação no setor financeiro e no mercado de crédito norte-americano faz pressão sobre as bolsas hoje
B3 se prepara para entrada de pequenas e médias empresas na Bolsa em 2026 — via ações ou renda fixa
Regime Fácil prevê simplificação de processos e diminuição de custos para que companhias de menor porte abram capital e melhorem governança
Carteira ESG: BTG passa a recomendar Copel (CPLE6) e Eletrobras (ELET3) por causa de alta no preço de energia; veja as outras escolhas do banco
Confira as dez escolhas do banco para outubro que atendem aos critérios ambientais, sociais e de governança corporativa
Bolsa em alta: oportunidade ou voo de galinha? O que você precisa saber sobre o Ibovespa e as ações brasileiras
André Lion, sócio e CIO da Ibiuna, fala sobre as perspectivas para a Bolsa, os riscos de 2026 e o impacto das eleições presidenciais no mercado
A estratégia deste novo fundo de previdência global é investir somente em ETFs — entenda como funciona o novo ativo da Investo
O produto combina gestão passiva, exposição internacional e benefícios tributários da previdência em uma carteira voltada para o longo prazo
De fundo imobiliário em crise a ‘Pacman dos FIIs’: CEO da Zagros revela estratégia do GGRC11 — e o que os investidores podem esperar daqui para frente
Prestes a se unir à lista de gigantes do mercado imobiliário, o GGRC11 aposta na compra de ativos com pagamento em cotas. Porém, o executivo alerta: a estratégia não é para qualquer um
Dólar fraco, ouro forte e bolsas em queda: combo China, EUA e Powell ditam o ritmo — Ibovespa cai junto com S&P 500 e Nasdaq
A expectativa por novos cortes de juros nos EUA e novos desdobramentos da tensão comercial entre as duas maiores economias do mundo mexeram com os negócios aqui e lá fora nesta terça-feira (14)
IPO reverso tem sido atalho das empresas para estrear na bolsa durante seca de IPOs; entenda do que se trata e quais os riscos para o investidor
Velocidade do processo é uma vantagem, mas o fato de a estreante não precisar passar pelo crivo da CVM levanta questões sobre a governança e a transparência de sua atuação
Ainda mais preciosos: ouro atinge novo recorde e prata dispara para máxima em décadas
Tensões fiscais e desconfiança em moedas fortes como o dólar levam investidores a buscar ouro e prata
Sparta mantém posição em debêntures da Braskem (BRKM5), mas fecha fundos isentos para não prejudicar retorno
Gestora de crédito privado encerra captação em fundos incentivados devido ao excesso de demanda
Bolsa ainda está barata, mas nem tanto — e gringos se animam sem pôr a ‘mão no fogo’: a visão dos gestores sobre o mercado brasileiro
Pesquisa da Empiricus mostra que o otimismo dos gestores com a bolsa brasileira segue firme, mas perdeu força — e o investidor estrangeiro ainda não vem em peso
Bitcoin (BTC) recupera os US$ 114 mil após ‘flash crash’ do mercado com Donald Trump. O que mexe com as criptomoedas hoje?
A maior criptomoeda do mundo voltou a subir nesta manhã, impulsionando a performance de outros ativos digitais; entenda a movimentação
Bolsa fecha terceira semana no vermelho, com perdas de 2,44%; veja os papéis que mais caíram e os que mais subiram
Para Bruna Sene, analista de renda variável na Rico, “a tão esperada correção do Ibovespa chegou” após uma sequência de recordes históricos
Dólar avança mais de 3% na semana e volta ao patamar de R$ 5,50, em meio a aversão ao risco
A preocupação com uma escalada populista do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez o real apresentar de longe o pior desempenho entre divisas emergentes e de países exportadores de commodities
Dólar destoa do movimento externo, sobe mais de 2% e fecha em R$ 5,50; entenda o que está por trás
Na máxima do dia, divisa chegou a encostar nos R$ 5,52, mas se desvalorizou ante outras moedas fortes
FII RBVA11 avança na diversificação e troca Santander por nova locatária; entenda a movimentação
O FII nasceu como um fundo imobiliário 100% de agências bancárias, mas vem focando na sua nova meta de diversificação
O mercado de ações dos EUA vive uma bolha especulativa? CEO do banco JP Morgan diz que sim
Jamie Dimon afirma que muitas pessoas perderão dinheiro investindo no setor de inteligência artificial
O que fez a Ambipar (AMBP3) saltar mais de 30% hoje — e por que você não deveria se animar tanto com isso
As ações AMBP3 protagonizam a lista de maiores altas da B3 desde o início do pregão, mas o motivo não é tão inspirador assim