Acabou a crise? 5 razões para a disparada da bolsa e a queda do dólar
O dólar à vista acumula queda de mais de 11% nas últimas 15 sessões, afastando-se de vez da faixa dos R$ 6,00 — na bolsa, o Ibovespa também teve alívio forte no período, retomando os 90 mil pontos
No meio da crise de saúde, econômica e agora social enfrentada pelo mundo surgiu uma manada de touros – como são conhecidos os investidores que apostam na alta dos ativos financeiros.
Enquanto a economia global caminha para ter um dos piores anos da história e as ruas e as redes sociais são tomadas por protestos políticos e sociais, a bolsa e o dólar vivem uma dinâmica própria, aparentemente desconectada da realidade.
O Ibovespa, principal índice de ações da bolsa brasileira, teve mais uma alta expressiva e voltou a ficar acima dos 90 mil pontos – o que não acontecia desde o dia 10 de março. O dólar toma o rumo oposto depois de ameaçar romper a barreira dos R$ 6,00 no mês passado, fechando a sessão desta terça-feira (2) cotado a R$ 5,2086.

Mas afinal, a crise acabou e esqueceram de avisar o resto do mundo? Não, caro leitor — definitivamente, não. Mas isso também não significa que a melhora recente nos mercados seja sem propósito.
Confira a seguir cinco razões para a disparada recente da bolsa e da queda do dólar e também o que esperar daqui para frente:
1 - Coronavírus "controlado"
O Brasil hoje é considerado um dos epicentros dos casos de coronavírus. Mas, no resto do mundo, a pandemia dá cada vez mais sinais de controle depois do período de quarentena imposto pelas autoridades.
Leia Também
Os FIIs mais lucrativos do ano: shoppings e agro lideram altas que chegam a 144%
Gestora aposta em ações 'esquecidas' do Ibovespa — e faz o mesmo com empresas da Argentina
A China, país de origem do vírus, foi a primeira a reabrir a economia, no fim de março, e até o momento não teve registros de uma segunda onda de casos que levasse a um novo isolamento, um dos maiores temores do mercado.
A expectativa é que o exemplo chinês se repita nas demais economias afetadas pelo coronavírus e que começaram recentemente a retomar as atividades. É o caso da Europa e de parte dos EUA, áreas em que a doença teve um pico em março e abril.
A avaliação de que os governos – com exceção, talvez, do brasileiro – aprenderam a lidar com o vírus se soma à expectativa do anúncio de uma vacina ou tratamento eficaz contra a doença.
2 - Injeção sem precedentes de dinheiro
A atividade econômica global vai inevitavelmente passar por uma forte recessão em consequência da paralisação dos últimos meses.
Mas se no campo da saúde ainda não existe uma cura para o coronavírus, os governos encontraram um tratamento eficaz para conter os efeitos no mercado (pelo menos por enquanto): a impressão de dinheiro.
Os estímulos econômicos promovidos pelos governos incluíram ainda a redução de juros para os menores níveis históricos. Nos EUA, estão no patamar entre 0% e 0,25% ao ano, mas, em alguns países, as taxas estão em terreno negativo.
A combinação dos dois fatores provocou uma inundação de liquidez no mercado, e esse dinheiro começa agora a chegar por aqui. Esse fluxo reduz a pressão sobre o dólar e, ao mesmo tempo, estimula a aposta em ativos de maior risco, como a bolsa.
3 - Preço das commodities
Para o resto do mundo, o Brasil é uma economia de commodities. Afinal, produtos como o minério de ferro e soja estão entre os líderes na nossa pauta de exportações.
É normal, portanto, que o dólar suba em relação ao real quando as cotações das commodities caiam, e vice-versa. Foi o que aconteceu no auge do choque do coronavírus, que derrubou os preços do petróleo e outras matérias-primas.
Mas a recuperação nas últimas semanas em meio aos dados mais animadores da economia chinesa acabou servindo de combustível (sem trocadilho) para a retomada das apostas nos mercados emergentes, como o Brasil.
Ao longo de maio, o minério de ferro negociado no porto chinês de Qingdao — cotação que serve de referência para o mercado — acumulou ganhos de 24%. E grande parte desse salto se deve ao Brasil: temendo que o avanço da Covid-19 afete as operações da Vale, o mercado tem jogado o preço da commodity para o alto.
Seja como for, fato é que a valorização do minério deu força às ações de empresas como CSN, Usiminas e Gerdau, além da própria Vale: todas subiram forte ao longo de maio, dando impulso ao Ibovespa. O petróleo, com ganhos de cerca de 10% no mês passado, também deu suporte às ações da Petrobras, outro ativo de peso na composição do índice.
4 - Tirando o atraso
Entre os emergentes, o Brasil aparece na lanterna durante a crise do coronavírus. Mesmo com a recuperação recente, o real ainda tem o pior desempenho numa cesta com 24 ativos desse tipo:

Então podemos dizer que, com a queda recente do dólar, o real apenas tira o atraso em relação a seus pares. E, pelo menos com base no gráfico acima, ainda teria espaço para melhorar mais.
A disparada do dólar para perto dos R$ 6,00 nas máximas históricas foi um claro "overshooting" (exagero), segundo um experiente gestor de fundos. A melhora no saldo da conta corrente do país seria um sinal de que o câmbio já está ajustado à piora das condições econômicas.
A desvalorização do câmbio também tornou a bolsa brasileira extremamente barata para os estrangeiros. Em dólares, o Ibovespa chegou a registrar uma queda de 56,9% na mínima de 2020.
“Com tanto dinheiro queimando na mão e preços tão atrativos, a bolsa brasileira acaba entrando no rali dos mercados internacionais”, disse outro gestor.
5 - Fator Paulo Guedes
Além da crise de saúde e econômica provocada pelo coronavírus, o Brasil ainda foi capaz de fabricar uma crise política, com o aumento das tensões entre os poderes em Brasília.
No meio da turbulência, os investidores chegaram a temer pelo fim da pauta econômica liberal dentro do governo Bolsonaro e a saída do ministro Paulo Guedes.
Os sinais recentes de que o ministro vai seguir no comando da economia e que o governo segue comprometido com o controle fiscal também ajudaram a melhor o clima no mercado, ainda que o clima político em geral siga bastante inflamado.
Acabou a crise?
Os mesmos riscos que levaram a bolsa a beirar os 60 mil pontos no auge do choque provocado pela pandemia do coronavírus permanecem no radar. Então não se pode falar em fim da crise, apesar da euforia dos investidores no mercado financeiro.
Basta, por exemplo, o surgimento de um novo foco de coronavírus ou algum sinal de enfraquecimento da equipe econômica ou ruído político para a tendência se reverter.
Por isso, a palavra de ordem continua a ser "cautela" entre os gestores e analistas com os quais conversamos. De todo modo, a visão é que esses riscos hoje são menores do que há duas semanas, o que justifica o rali recente dos mercados.
"Não dá para dizer que a crise acabou, o ambiente ainda é muito incerto", diz Flavio Serrano, economista-sênior do Haitong. "Mas acho que, gradualmente, vamos caminhando para um cenário melhor".
Então a bolsa pode subir e o dólar cair ainda mais? Ninguém se arrisca a fazer previsões muito firmes neste momento. No caso do dólar, os níveis atuais entre R$ 5,00 e R$ 5,50 refletem melhor os fundamentos do país, na opinião de um gestor.
O cenário para a bolsa permanece mais nebuloso depois da correção das últimas semanas e dependerá principalmente das perspectivas para a economia na retomada após a quarentena.
O único consenso parece ser o de que a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 3% ao ano, vai cair ainda mais e permanecer em níveis baixos por um bom tempo.
Serrano, inclusive, acredita que, a depender do comportamento dos indicadores econômicos, é possível que o ciclo de alívio monetário se estenda para além da reunião de junho. "Os mercados estão sujeitos a volatilidade ainda. De repente, poderemos ter uma segunda onda [do coronavírus], é preciso tomar cuidado."
Ou seja, o investidor que estiver em busca de mais retorno vai precisar tomar risco. Mas não espere vida fácil.
Cogna (COGN3), C&A (CEAB3), Cury (CURY3): Veja as 20 empresas que mais se valorizaram no Ibovespa neste ano
Companhias de setores como educação, construção civil e bancos fazem parte da lista de ações que mais se valorizaram desde o começo do ano
Com rentabilidade de 100% no ano, Logos reforça time de ações com ex-Itaú e Garde; veja as 3 principais apostas da gestora na bolsa
Gestora independente fez movimentações no alto escalão e destaca teses de empresas que “ficaram para trás” na B3
A Log (LOGG3) se empolgou demais? Possível corte de payout de dividendos acende alerta, mas analistas não são tão pessimistas
Abrir mão de dividendos hoje para acelerar projetos amanhã faz sentido ou pode custar caro à desenvolvedora de galpões logísticos?
A bolha da IA pode estourar onde ninguém está olhando, alerta Daniel Goldberg: o verdadeiro perigo não está nas ações
Em participação no Fórum de Investimentos da Bradesco Asset, o CIO da Lumina chamou atenção para segmento que está muito exposto aos riscos da IA… mas parece que ninguém está percebendo
A bolsa ainda está barata depois da disparada de 30%? Pesquisa revela o que pensam os “tubarões” do mercado
Empiricus ouviu 29 gestoras de fundos de ações sobre as perspectivas para a bolsa e uma possível bolha em inteligência artificial
De longe, a maior queda do Ibovespa: o que foi tão terrível no balanço da Hapvida (HAPV3) para ações desabarem mais de 40%?
Os papéis HAPV3 acabaram fechando o dia com queda de 42,21%, cotados a R$ 18,89 — a menor cotação e o menor valor de mercado (R$ 9,5 bilhões) desde a entrada da companhia na B3, em 2018
A tormenta do Banco do Brasil (BBAS3): ações caem com balanço fraco, e analistas ainda não veem calmaria no horizonte
O lucro do BB despencou no 3T25 e a rentabilidade caiu ao pior nível em décadas; analistas revelam quando o banco pode começar a sair da tempestade
Seca dos IPOs na bolsa vai continuar mesmo com Regime Fácil da B3; veja riscos e vantagens do novo regulamento
Com Regime Fácil, companhias de menor porte poderão acessar a bolsa, por meio de IPOs ou emissão dívida
Na onda do Minha Casa Minha Vida, Direcional (DIRR3) tem lucro 25% maior no 3T25; confira os destaques
A rentabilidade (ROE) anualizada chegou a 35% no entre julho e setembro, mais um recorde para o indicador, de acordo com a incorporadora
O possível ‘adeus’ do Patria à Smart Fit (SMFT3) anima o JP Morgan: “boa oportunidade de compra”
Conforme publicado com exclusividade pelo Seu Dinheiro na manhã desta quarta-feira (12), o Patria está se preparando para se desfazer da posição na rede de academias, e o banco norte-americano não se surpreende, enxergando uma janela para comprar os papéis
Forte queda no Ibovespa: Cosan (CSAN3) desaba na bolsa depois de companhia captar R$ 1,4 bi para reforçar caixa
A capitalização visa fortalecer a estrutura de capital e melhorar liquidez, mas diluição acionária preocupa investidores
Fundo Verde diminui exposição a ações de risco no Brasil, apesar de recordes na bolsa de valores; é sinal de atenção?
Fundo Verde reduz exposição a ações brasileiras, apesar de recordes na bolsa, e adota cautela diante de incertezas globais e volatilidade em ativos de risco
Exclusivo: Pátria prepara saída da Smart Fit (SMFT3); leilão pode movimentar R$ 2 bilhões, dizem fontes
Venda pode pressionar ações após alta de 53% no ano; Pátria foi investidor histórico e deve zerar participação na rede de academias.
Ibovespa atinge marca histórica ao superar 158 mil pontos após ata do Copom e IPCA; dólar recua a R$ 5,26 na mínima
Em Wall Street, as bolsas andaram de lado com o S&P 500 e o Nasdaq pressionados pela queda das big techs que, na sessão anterior, registraram fortes ganhos
Ação da Isa Energia (ISAE4) está cara, e dividendos não saltam aos olhos, mas endividamento não preocupa, dizem analistas
Mercado reconhece os fundamentos sólidos da empresa, mas resiste em pagar caro por uma ação que entrega mais prudência do que empolgação; veja as projeções
Esfarelando na bolsa: por que a M. Dias Branco (MDIA3) cai mais de 10% depois do lucro 73% maior no 3T25?
O lucro de R$ 216 milhões entre julho e setembro não foi capaz de ofuscar outra linha do balanço, que é para onde os investidores estão olhando: a da rentabilidade
Não há mais saída para a Oi (OIBR3): em “estado falimentar irreversível”, ações desabam 35% na bolsa
Segundo a 7ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, a Oi está em “estado falimentar” e não possui mais condições de cumprir o plano de recuperação ou honrar compromissos com credores e fornecedores
Ibovespa bate mais um recorde: bolsa ultrapassa os 155 mil pontos com fim do shutdown dos EUA no radar; dólar cai a R$ 5,3073
O mercado local também deu uma mãozinha ao principal índice da B3, que ganhou fôlego com a temporada de balanços
Adeus ELET3 e ELET5: veja o que acontece com as ações da Axia Energia, antiga Eletrobras, na bolsa a partir de hoje
Troca de tickers nas bolsas de valores de São Paulo e Nova York coincide com mudança de nome e imagem, feita após 60 anos de empresa
A carteira de ações vencedora seja quem for o novo presidente do Brasil, segundo Felipe Miranda
O estrategista-chefe da Empiricus e sócio do BTG Pactual diz quais papéis conseguem suportar bem os efeitos colaterais que toda votação provoca na bolsa

