A quinta-feira (6) começou relativamente tranquila para os mercados brasileiros, mas uma ação específica do Ibovespa abriu o pregão com a corda toda: Via Varejo ON (VVAR3). Os papéis dispararam mais de 8% nos primeiros minutos da sessão, batendo a cotação de R$ 5,03 na máxima.
Esse comportamento tem relação direta com um anúncio feito ontem pela dona das Casas Bahia e do Ponto Frio: o lançamento do banQi, um banco digital voltado às classes C, D e E. Mas essa iniciativa, embora considerada positiva, ainda possui diversos pontos de incerteza — e, nesse cenário, o mercado preferiu ir com menos sede ao pote.
As ações ON da companhia fecharam em alta de 6,45%, a R$ 4,95, e ainda lideraram a ponta positiva do Ibovespa no pregão de hoje. mas estão distantes da faixa de R$ 5,00. Mas o desempenho de hoje serviu apenas para apagar as perdas das últimas duas sessões.
Os R$ 4,95 do encerramento desta quinta-feira ainda ficaram abaixo da cotação do início da semana — na segunda-feira (3), os papéis da empresa valiam R$ 4,96. Em termos intradiários, os ativos da dona das Casas Bahia chegaram a bater os R$ 5,22 na terça-feira (4).
Nos últimos dias, as ações da Via Varejo têm sido fortemente influenciadas pelas perspectivas de conclusão da venda da fatia detida pelo Grupo Pão de Açúcar (GPA) na companhia — e a ansiedade do mercado quanto ao fechamento de uma operação, após anos sem avanço nesse front, é grande.
Sem que o noticiário corporativo mostre maiores novidades em relação à venda da Via Varejo, as ações da empresa sofreram com uma onda de correção na terça e quarta-feira (5). Hoje, contudo, os papéis conseguiram respirar, com o mercado analisando os potenciais benefícios que o banQi poderá trazer à companhia.
Mas a quantidade de informações disponíveis para análise a respeito da nova empreitada ainda é baixa — e isso impôs um teto para os ganhos das ações — no caso, o patamar dos R$ 5,00: os papéis da Via Varejo não conseguem fechar um pregão acima deste nível desde 20 de fevereiro.

Dúvidas
Um dos fatores que limitou a animação dos agentes financeiros foi a relativa demora da Via Varejo para entrar no mundo dos serviços financeiros e plataformas de pagamento. Afinal, suas principais concorrentes já haviam lançado iniciativas semelhantes no passado.
A B2W, por exemplo, possui a Ame Digital, enquanto o Mercado Livre trabalha com o sistema Mercado Pago desde 2004. Assim, apesar de bem-vindo, o banQi chegou com certo atraso — e essa percepção deu um gosto agridoce à novidade.
É claro que a iniciativa da Via Varejo tem seus trunfos. O fato de o banco digital ser voltado à fata da população com menor acesso aos serviços financeiros tradicionais pode ser um filão interessante e inexplorado — e a alta capilaridade das Casas Bahia tende a ajudar a empresa a ter sucesso nesse mundo.
Em relatório, os analistas Luiz Guanais e Gabriel Savi, do BTG Pactual, destacam que a ampla base de clientes da Via Varejo pode dar uma vantagem competitiva ao banQi e impulsionar suas atividades nesta fase inicial.
Mas, por outro lado, eles ressaltam que o novo banco digital ainda está em seu estágio inicial, e a visibilidade restrita em relação à monetização de seus serviços implica em "baixo potencial de valorização [das ações] no curto prazo". Para os analistas do BTG, o noticiário referente ao processo de venda da Via Varejo deve ser o principal fator de influência para os papéis.
O Itaú BBA assume posição semelhante. Para a equipe liderada pelo analista Thiago Macruz, o foco do mercado irá permanecer na busca de um comprador para a fatia detida pelo Grupo Pão de Açúcar (GPA) na Via Varejo — o banQi, apesar de interessante, tende a ser visto no momento como uma fonte extra de resultado.
"Acreditamos que, tendo em vista os desafios operacionais recentes enfrentados pela Via Varejo, o mercado provavelmente irá esperar por evidências empíricas do sucesso do banQi antes de atribuir qualquer valor a essa oportunidade", diz o Itaú BBA, também em relatório.
Com o desempenho desta quinta-feira, as ações da Via Varejo acumulam ganhos de mais de 5% na semana — desde o início do ano, os papéis têm alta de mais de 12%.