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Ana Paula Ragazzi
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O CONTO DO RETORNO GARANTIDO

JJ Invest, a suposta ‘pirâmide financeira’ que estampou a camisa do Vasco e de Neymar e pegou até o Sergio Mallandro

Empresa prometia retorno certo a investidores, mas fundador não conseguiu pagar clientes em meio à onda de saques e sumiu.

Ana Paula Ragazzi
Ana Paula Ragazzi
6 de março de 2019
5:29 - atualizado às 11:51
Neymar JJ Invest
Imagem: Reprodução

Ano sim e outro também o mercado tem notícia de uma nova pirâmide financeira que pega investidores incautos - ou que têm os olhos grandes e querem “retornos garantidos” de dois dígitos. A bola da vez é um caso de suposta pirâmide financeira, orquestrado por Jonas Jaimovick, da JJ Invest, no Rio de Janeiro, empresa que chegou a ser patrocinadora do Vasco.

Jaimovick trabalhava em uma corretora de valores no Rio até que, em 2017, decidiu sair e montar a Spritzer, que deu origem ao Grupo J.J.

Ele prometia aquilo que o cliente sonha em ouvir do seu consultor financeiro, mas que não é factível em qualquer economia com juros civilizados: investimento sem risco, com retorno certo e em cifras estratosféricas, algo como 10% a 15% ao mês, segundo relatam alguns investidores lesados no esquema.

Com essa falácia, Jaimovick conseguiu montar sua carteira de clientes. Boa parte deles conquistou na comunidade judaica no Rio, mas também avançou para outros estados e chegou ao mundo do futebol.

Patrocinou o Vasco da Gama e outros clubes menores do Rio, além de eventos esportivos. Até Neymar vestiu camisa com o nome da JJ em uma partida beneficente patrocinada pela empresa.

Desses contatos conseguiu fazer com que ídolos do futebol, como Zico e Júnior, não apenas “investissem” com a empresa, mas também recomendassem a JJ para amigos. E a chancela dos famosos e dos patrocínios esportivos ajudavam a JJ a captar novos clientes.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) autuou três vezes a JJ desde 2017, mas não conseguiu coibir que o esquema de espalhasse. Só em janeiro deste ano a JJ sofreu um grande revés, capaz de brecar seus negócios. Naquele mês, um investidor do Maranhão conseguiu na Justiça bloquear R$ 1 milhão das contas da J.J. depois de ter tentado, sem sucesso resgatar seus investimentos. O juiz do caso viu “risco concreto” de a JJ não possuir recursos para fazer o pagamento.

Foi também em janeiro que o Vasco da Gama rompeu o contrato de patrocínio que recebia da JJ, por falta de pagamento. Aparentemente, as notícias sobre as dificuldades da JJ em honrar compromisso com investidores se espalhou e começou uma corrida de investidores para resgatar suas aplicações.

A empresa teve de vender na bolsa perto de R$ 4 milhões em ações da IdeiasNet, o que derrubou o papel. Com a onda de saques, a suposta pirâmide financeira armada por Jaimovick começou a ruir. Obviamente, ele não tem dinheiro para pagar todo mundo.

Jaimovick está sumido do mapa e mais de 3 mil investidores, muito provavelmente, perderão milhões de reais. O site da JJ está fora do ar e não há um canal de contato para os investidores. A reportagem não conseguiu localizar Jaimovick para ouvir sua versão da história.

O conto do Eldorado

Esse tipo de esquema depende de uma captação de recursos infinita para ficar em pé. Tudo começa com um primeiro grupo, que chega encantado com o retorno prometido e fomenta o crescimento da pirâmide com a captação de novos membros. Nos esquemas de pirâmide, os primeiros a entrar, em geral, recebem dinheiro e se tornam “marqueteiros” naturais do projeto. O grande problema é que ele não é sustentável.

O golpe não é novo, mas as pessoas continuam caindo. E, como explica Vera Rita de Mello Ferreira, consultora de Psicologia Econômica, Educação Financeira e Arquitetura de Escolha, a vítima entra no esquema porque acha que vai se dar bem.

“As pessoas continuam caindo porque de forma inconsciente elas veem ali uma oportunidade de ganhar dinheiro grande, fácil e rápido. Às vezes é por desespero, a pessoa está endividada, acha que que aquela é a solução para todos problemas dela. E tem também o efeito manada, se uma roda de conhecidos está participando, ela vai entrar também”, diz.

“Resumidamente, as pessoas não sabem avaliar riscos. E se estiverem precisando de dinheiro, vão enxergar nisso uma solução rápida. E aí a confusão está armada.”

E ainda tem aqueles que entendem que o sistema não é sustentável, mas acham que vão lucrar mesmo assim. “Eles dizem entender que estão entrando numa pirâmide financeira, mas acham-se espertos e afirmam que irão entrar e sair muito rápido e vão ‘se dar bem’.”

Combustível no Whatsapp

JJ Invest foi patrocinadora do Vasco até janeiro de 2019 - Imagem: Divulgação/Vasco

Apesar da idade do golpe, a novidade dos últimos tempos é que as mensagens do WhatsApp contribuem para espalhar o ridículo, ou o desespero, da situação. Circulam por aí áudios de Jaimovick supostamente chorando, dizendo que está fazendo de tudo para resolver a situação.

Ele também diz que sumiu porque “foi coagido por dois investidores que se disseram policiais” e o levaram ao banco para que ele devolvesse o dinheiro. Ele também chegou a dizer que estava atrasado com os resgates porque o pen drive onde salvou os arquivos com as solicitações ficaram avariados “depois das chuvas no Rio”.

As mensagens (verdadeiras ou não) que se espalham pelo Whatsapp incluem também áudios de funcionários da J.J dizendo-se enojados com a atitude do chefe e surpresos com o fato de “não haver dinheiro” para pagar os clientes.
A situação envolve ainda conflitos passionais. A ex-mulher de Jaimovick compartilhou nas redes sociais um boletim de ocorrência que fez contra o ex-marido depois ter sido proibida de embarcar do Rio para Israel com o filho do casal. Michele alega que desconhecia as fraudes supostamente praticadas por ele e que deram prejuízo também a seus familiares e se diz em processo de separação. Num dos grupos de WhatsApp, a especulação, antes mesmo do episódio com Michele, era de que Jaimovick estaria em Israel.

E há quem defenda o suposto golpista. Em um dos áudios, um cliente diz para os investidores ficarem tranquilos, porque o dinheiro está garantido. Ele afirma que conversou pessoalmente com Jonas, que lhe explicou que tinha um “método, uma técnica, revolucionária, que faz ele nunca perder o dinheiro”: “Talvez vocês nunca tenham ouvido falar, mas é o stop gain, stop loss. Quando você está perdendo, ele para. Quando está ganhando muito, também para. É automático, ele fez um curso no exterior sobre isso, em Harvard, foi o que ele me falou. Então, assim, nunca ele vai perder. Quem tá preocupado aí, o dinheiro está garantido. Ele está gerenciando bem. É que vocês pedem [o dinheiro] num dia e já querem para o dia seguinte. Tem que esperar um pouco, pô. Não é assim que a coisa funciona.”

Stop loss e stop gain são, de fato, técnicas de investimento utilizadas por investidores que têm na cabeça quanto querem ganhar com uma aplicação ou até onde podem perder com ela. Mas isso não significa que eles “nunca vão perder”, como sugere o áudio.

A CVM chega a essas fraudes por meio de atuações irregulares no mercado por meio de fiscalização própria ou através de denúncias ou reclamações que recebe dos investidores. Uma vez constatada a infração, emite os alertas para que investidores estejam cientes de que aquelas pessoas não estão aptas a captar dinheiro alheio para qualquer modalidade de investimento.

A partir daí ela determina e espera que as pessoas regularizem a sua situação ou deixem o mercado, sob pena de multas diárias. Mas nem sempre é ouvida _ nem pelos infratores nem pelos investidores-vítima.

Segundo informou a autarquia, os casos mais comuns desse tipo de atuação envolvem exercício sem o devido e prévio registro na autarquia de atividades diversas, como a administração de carteiras ou oferta pública irregular de valores mobiliários (por exemplo, envolvendo moedas, como forex ou criptoativos qualificados como valores mobiliários). EM 2017, quando aa criptomoedas começavam a atenção no mercado brasileiro, a CVM fez 22 alertas ao mercado sobre atuações irregulares, ante 9 em 2016.

A CVM lança mão de uma medida como esta após identificar riscos de prejuízos iminentes para o mercado e os investidores, mas muitas vezes não consegue quantificar isso em valores. Se identifica as fraudes ou golpes, a comunica o Ministério Público ou a Polícia Federal para um trabalho em conjunto, como ocorreu no caso da JJ.

A verdade é que qualquer um que antes de entregar dinheiro para a JJ poderia ter saído da cegueira com uma simples pesquisa na internet _ o primeiro alerta da CVM sobre a atuação dele foi em meados de 2017.

Mas em vez de ouvir a autarquia, ou simplesmente a voz da razão, esses aplicadores preferiram escutar até mesmo o Sergio Mallandro. Essa subcelebridade gravou um vídeo em que, entre “glu glus e yeah yeahs”, deseja feliz ano novo à “família JJ Invest”: “ O meu dinheirinho eu sempre ponho lá. Dá sempre din din. Parece que cai do céu. Plift, plift...”

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