Num passado não tão distante, o setor de educação era um dos queridinhos da bolsa brasileira. O futuro parecia promissor: os incentivos governamentais ao ensino superior e a demanda cada vez maior por cursos universitários colocavam empresas como Estácio, Kroton e Ser Educacional entre as joias da coroa do mercado acionário.
Mas esse cenário desbotou de uns tempos para cá. Os cortes no Fies funcionaram como um balde de água fria, já que o programa de financiamento estudantil era peça fundamental na engrenagem dessas companhias. E, com a máquina emperrada, o mercado colocou o setor de escanteio.
Restou às empresas educacionais apostarem em outros modelos de negócio, com destaque para o ensino a distância (EAD). Essa modalidade tem crescido de maneira exponencial e trazido ânimo novo ao setor — e uma empresa parece estar bem posicionada para captar a demanda por cursos dessa natureza: a Estácio.
Ao menos, é o que pondera o Itaú BBA. Em relatório, os analistas Susana Salaru e Vitor Tomita mostram-se bastante otimistas quanto ao potencial de crescimento do EAD da Estácio. E, como resultado, elevaram a recomendação para as ações da empresa, passando de "neutro" para "outperform" (acima da média do mercado).
A nova modelagem do Itaú BBA ainda passa por uma elevação do preço-alvo para os papéis da empresa. Agora, o banco prevê que as ações da Estácio encerrarão o ano na faixa de R$ 40,00.
Como resultado, os ativos ON da companhia (ESTC3) operaram em forte alta nesta sexta-feira e lideraram a ponta positiva do Ibovespa, fechando o pregão com valorização de 7,44%, a R$ 29,45. Ou seja: mesmo com os ganhos de hoje, o Itaú ainda vê espaço para uma valorização adicional de 35,8% até o fim do ano.
Estácio a distância
É preciso destacar, antes de tudo, as características do mercado brasileiro de educação. O acesso ao ensino superior ainda é baixo, mas os preços cobrados por um curso universitário presencial são impeditivos para uma grande parte da população — criando um gargalo de resolução complicada.
Nesse cenário, o Itaú BBA pondera que os programas de ensino a distância se tornaram um fator importante para as companhias do setor de educação, já que conseguem atender parte da demanda por ensino a preços acessíveis.
E é nesse ponto que os analistas elogiam a Estácio e a estratégia adotada pela companhia. "Para participar de maneira completa no mercado de educação superior, a Estácio está expandindo rapidamente sua unidade de EAD", ressalta o Itaú BBA. "Esse crescimento no segmento de ensino a distância está encaminhado para se tornar um fator-chave para as receitas da empresa".
O banco ainda ressalta que a flexibilidade financeira da Estácio permite que a empresa desenvolva um portfólio cada vez mais diverso de cursos de EAD. Essa característica, somada à escala da companhia, faz com que o Itaú BBA classifique a empresa como uma das vencedoras no processo de expansão do mercado de ensino a distância — e sem perder a rentabilidade.
Foco no EAD
Os resultados da Estácio no primeiro trimestre vão em linha com as ponderações feitas pelo Itaú BBA. Entre janeiro e abril deste ano, a captação total da empresa chegou a 187,1 mil alunos, um crescimento de 12,8% ante o mesmo período do ano passado.
Desse montante, 98 mil estudantes foram matriculados no segmento EAD — um avanço de 28,6% na mesma base de comparação —, enquanto os outros 89,1 mil alunos foram captados em cursos de graduação presencial — uma queda de 0,5%.
A Estácio encerrou o primeiro trimestre deste ano com 561,3 mil alunos em sua base, uma alta de 2,8% na comparação anual. Novamente, o EAD sustentou esse crescimento: no ensino a distância, a base aumentou 19,9%, para 239,2 mil estudantes; na modalidade presencial, houve queda de 7%, para 322,1 mil alunos.
O ticket médio mensal do ensino presencial no primeiro trimestre foi de R$ 819,9, valor 3,8% maior que o registrado nos primeiros três meses de 2018. No EAD, esse valor é bem mais baixo: R$ 278, cifra 4% superior à registrada no primeiro trimestre do ano passado.
Em termos de indicadores financeiros, a Estácio terminou o período entre janeiro e março deste ano com lucro líquido de R$ 246,7 milhões, um crescimento de 25% ante o mesmo intervalo de 2018. O Ebitda — isto é, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização — caiu 0,2%, para R$ 329,6 milhões, e a receita líquida caiu 0,3%, para R$ 932,6 milhões.