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Eduardo Campos
Eduardo Campos
Jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo e Master In Business Economics (Ceabe) pela FGV. Cobre mercado financeiro desde 2003, com passagens pelo InvestNews/Gazeta Mercantil e Valor Econômico cobrindo mercados de juros, câmbio e bolsa de valores. Há 6 anos em Brasília, cobre Banco Central e Ministério da Fazenda.
Tudo indica que vai ter Disney

Dólar sustentou a linha dos R$ 4, mas isso pode durar pouco tempo

Dólar teve uma das maiores quedas semanais do ano ao recuar 2,7%. Vetores locais e externos colocam moeda americana sob ataque

Eduardo Campos
Eduardo Campos
25 de outubro de 2019
18:12
dólares nota
Imagem: Shutterstock

Os vendedores bem que tentaram, mas os comprados também defenderam sua posição. Assim, o dólar comercial encerrou a semana com firme queda de 2,7%, maior desde o fim de janeiro, mas sustentou a mítica linha dos R$ 4. No entanto, alguns vetores sugerem que essa “muralha”, que é respeitada desde 16 de agosto, está para cair.

Note que não fiz (e nem farei) uma afirmação de que o dólar vai para baixo dos R$ 4 na semana que vem. O câmbio é conhecido por humilhar os melhores economistas e operadores, imagina o estrago que faria em um mero escriba.

No âmbito local, o que se ouve nas mesas e nas conversas com os traders é que o mercado teria adquirido nova dinâmica, com a aprovação final da reforma da Previdência e expectativa de firme entrada de dólares com os leilões do excedente do pré-sal, previsto para 6 de setembro.

No lado do fluxo de verdade, no entanto, não temos e nem devemos ter noticias de entradas de dólar tão cedo. Por enquanto, o quadro é de saída líquida de US$ 6,8 bilhões em outubro até o dia 22, o que eleva a fuga de dólar em 12 meses para cima dos US$ 40 bilhões, algo inédito desde 1999.

Podemos ver a formação de preço como fluxo mais expectativa. Então, uma forma de avaliar como essa mudança de expectativas vira “skin in the game”, ou “pele em jogo”, é olharmos as posições futuras na B3.

Ao longo da semana, os fundos locais foram grandes vendedores de dólar futuro e cupom cambial (juro em dólar). Até ontem, último dado disponível, o estoque vendido, que pode ser visto como aposta de queda do dólar, tinha subido a US$ 5,147 bilhões, de US$ 4 bilhões no dia 18. O gringo continua carregando cerca de US$ 31 bilhões em posição comprada e os bancos estão vendidos em outros US$ 26,5 bilhões.

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A grande "briga" entre comprados e vendidos será na quinta-feira, dia 31, que marca a formação da Ptax, taxa referencial calculada pelo BC, que liquida os contratos futuros.

Dólar sob fogo

Além desse ventos locais, temos outros vetores globais que não podem ser desprezados e que, por vezes, podem se mostrar ainda mais relevantes para a formação de preço.

Para ajudar nessa avaliação global da moeda, uso aqui um relatório da consultoria GaveKal, que nos conta que o “valorizado dólar está finalmente começando a parecer vulnerável”.

Segundo a consultoria, nos últimos 11 dias úteis, o DXY, que mede o desempenho do dólar ante uma cesta de moedas, acumula queda de 1,5%. “Uma série de fatores está pesando e se isso persistir, o dólar pode assistir a uma pronunciada queda nos próximos meses.”

Vamos aos fatores: 

  • O Federal Reserve (Fed), banco central americano, está “imprimindo” mais dinheiro que seus pares. Há três meses, o BC americano vinha reduzindo o tamanho do seu balanço, mas agora volta a comprar títulos, seja pelo “QE que não é QE”, que é a compra de US$ 60 bilhões por mês em títulos, seja pelas massivas operações no mercado de “repo”, necessárias para manter a liquidez no mercado interbancário e a taxa de juros dentro da meta. Para dar uma base, o Banco Central Europeu (BCE), que chama seu programa de compra de ativos de “QE” sem medo, vai comprar cerca de US$ 22 bilhões por mês. Além disso, a expectativa majoritária é de nova redução do juro básico na reunião do Fed da semana que vem.
  • O risco de um Brexit sem acordo diminuiu, o que dá suporte à libra esterlina e ao ao preço do euro.
  • O presidente americano, Donald Trump, fez um recuo tático na guerra comercial. Vale lembrar que a incerteza com relação a esse tema tem dado suporte ao dólar pelos últimos dois anos.
  • Elizabeth Warren aumentou as chances de ser candidata pelo partido Democrata, algo que é negativo para o dólar. A política desenhada por ela resultaria em aumento de custos no mercado americano (mais impostos, regulação bancária mais estrita, etc) e redução custos de importação, já que ela tenderia a rever tarifas. É o exato oposto da política de Trump, que resultou em um fortalecimento secular do dólar.

Tanto a Gavekal quanto eu fazemos a seguinte ressalva: todos esses vetores podem se reverter. O Fed pode mudar sua política, Trump pode voltar a atacar os chineses e o Brexit, bom esse é o mais imprevisível deles.

O fato é que nas últimas semanas, mais precisamente desde a reunião de líderes e grandes formadores de opinião de mercado no Fundo Monetário Internacional (FMI), a narrativa mudou. Deixamos de ouvir e ler sobre os temores de uma recessão global e passamos a ver mais artigos e ouvir mais opiniões sobre uma desaceleração suave da economia americana.

Os EUA vinham crescendo com mais vigor que os outros pares, atraindo capital global, algo que fortalece o dólar. Agora, com os EUA perdendo ímpeto, mas sem gerar pânico de recessão, o dólar perde um pouco de atratividade, de força relativa. Esse ciclo, se confirmado, abre espaço para os mercados emergentes, Brasil entre eles, voltarem a atrair capital.

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