O mercado financeiro aguarda ansiosamente pelo discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, a partir das 11 horas, durante simpósio na cidade de Jackson Hole (Wyoming, EUA). Os investidores estarão em busca de pistas sobre quantos cortes cabem na taxa de juros norte-americana durante o processo de “ajuste de meio de ciclo”, depois que a ata da reunião de julho falhou em sinalizar quedas adicionais ao corte de 0,25 ponto.
Mas o documento do Fed não captou a escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China no início deste mês nem a inversão da curva de juros norte-americana, com os rendimentos (yields) dos títulos de longo prazo atingindo mínimas históricas. Portanto, será importante saber o que Powell tem a dizer sobre esse cenário mais recente e os mercados seguem à procura de alguma orientação (guidance) em relação aos próximos passos.
O problema é que se Powell simplesmente deixar a porta aberta, condicionando novos cortes a uma eventual piora da disputa sino-americana, tudo o que o presidente dos EUA, Donald Trump, precisa fazer é aumentar as tarifas contra produtos chineses ou tomar qualquer outra medida protecionista para que o Fed reduza mais os juros. Ainda mais diante da pressão vinda da Casa Branca e das críticas constantes de Trump.
Consequentemente, o mercado financeiro precifica agora a possibilidade de dois ou até três cortes adicionais na taxa dos Fed Funds antes do fim do ano. Porém, Powell irá ler um discurso preparado, sem sessão de perguntas e respostas, o que significa que a mensagem a ser transmitida por ele pode ser vaga, sem sinalizar o caminho apropriado para os juros norte-americanos.
Afinal, a única coisa que a ata do mês passado deixou clara é que não parece haver um consenso dentro do próprio Fed sobre o que fazer, em termos de política monetária. Aliás, a ampla divergência entre os membros votantes indica que encontrar um caminho será um grande desafio. Portanto, assim como o documento sobre o encontro em julho, o risco de o discurso de Powell prometer muito e não entregar nada é grande.
Stand-by
Mas a fala do chairman do Fed é o grande evento do dia e os investidores esperam que, ao menos, Powell seja capaz de definir uma reação coerente para os próximos meses, indicando a abordagem durante a gestão dos riscos. De fato, não parece pedir demais. Na dúvida, porém, o mercado se protege e redobra a cautela.
Por ora, o sinal positivo prevalece entre as bolsas, vindo desde a Ásia, passando pela Europa até chegar em Nova York. Mas quem pode definir o rumo para o dia é Jay Powell. Os ganhos modestos exibidos nos mercados asiáticos já refletiam a espera pelo discurso, ao mesmo tempo em que monitoram o aumento da tensão entre Japão e Coreia do Sul.
Ainda na região, destaque para o yuan chinês (renminbi), que foi negociado a 7,0909, no nível mais fraco desde 2008. O iene japonês ganha terreno em relação ao dólar, ao passo que o euro e a libra esterlina recuam. Já o dólar neozelandês (kiwi) avança, após o Banco Central local (RBNZ) afirmar que vai esperar para adicionar estímulo à economia.
Esse movimento da moeda norte-americana favorece o petróleo, que caminha para o primeiro ganho semana desde junho. O minério de ferro também sobe. Com isso, o mercado doméstico pode tirar proveito do ambiente externo favorável ao risco, após o Ibovespa encerrar a sessão de ontem na mínima do dia, mas ainda nos 100 mil pontos, e o dólar acumular cinco pregões seguido acima de R$ 4,00, mesmo com os leilões conjugados do BC.
Mais política na agenda
Também por aqui, os investidores esperam que o parecer preliminar da reforma da Previdência seja apresentado hoje na CCJ do Senado pelo relator, Tasso Jereissati. Já a leitura do documento está prevista somente para quarta-feira da semana que vem. Até lá, o relator pode ou não aderir às emendas que forem apresentadas por senadores da comissão.
Ainda assim, a previsão é de que qualquer alteração ao texto seja tramitada na chamada PEC paralela da Previdência, que deve incluir estados e municípios na reforma. Assim, o conteúdo da proposta de novas regras para aposentadoria aprovada na Câmara está blindado e não deve ser modificado.
Porém, o calendário de votação no Senado pode sofrer interferências, caso o presidente Jair Bolsonaro insista em temas polêmicos, como a escolha de um dos filhos, Eduardo, à embaixada dos EUA e a indicação de um nome controverso para comandar a Procuradoria-Geral da República (PGR).
Segundo o relator na CCJ e a presidente da comissão, Simone Tebet, esses temas chegam em um mau momento na Casa e podem atrapalhar o andamento da reforma da Previdência, “esgarçando sentimentos” e “contaminando” a pauta. A indicação do deputado, que já circula pelos corredores do Senado, deve ser oficializada pelo pai no mês que vem.
Também é importante monitorar o gabinete de crise convocado por Bolsonaro para tratar das queimadas na Amazônia. Ontem, o presidente da França, Emmanuel Macron, convocou membros do G7, que se reúnem neste fim de semana, para discutir a situação e falou em “crise internacional”. Para Bolsonaro, tal ideia evoca uma “mentalidade colonialista”.
Estudo mostra que as cidades com maior desmatamento têm mais focos de incêndios florestais em 2019. E esse aumento do desmatamento e do número de queimadas na Amazônia impulsionou a convocação de protestos em ao menos 40 cidades brasileiras e cinco capitais europeias para hoje e o fim de semana.
Entre os indicadores econômicos do dia, por aqui, sai a confiança do comércio (8h), enquanto lá fora serão conhecidas as vendas de imóveis residenciais novos nos EUA em julho (11h).