O mercado financeiro brasileiro foi do céu ao inferno nesta semana. Após o Ibovespa superar a barreira histórica dos 100 mil pontos e o dólar cair abaixo da faixa de R$ 3,75, durante a sessão nos últimos dias, os negócios locais chegam nesta sexta-feira sob um forte estresse, sem saber qual rumo seguir, deixando os ativos mais vulneráveis.
A questão é que a prisão do ex-presidente Michel Temer no âmbito da Operação Lava Jato elevou o nervosismo entre os investidores, que já estavam decepcionados com a reforma da Previdência dos militares e desconfortáveis com os ruídos políticos envolvendo o governo e o Congresso - especificamente o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Nenhum desses fatores ajuda na imagem do país ao exterior, o que tende a manter o capital estrangeiro distante daqui - exceto os recursos especulativos. Além disso, a prisão de Temer e do ex-ministro Moreira Franco, sogro de Maia, eleva a tensão entre a classe política e as forças da Lava Jato, podendo dificultar a tramitação da agenda de reformas.
Nos bastidores do Congresso, parlamentares estão alarmados e desviam o foco da pauta econômica, sob o risco de outros políticos também estarem envolvidos - principalmente aqueles historicamente ligados aos ex-presidente. Esse xadrez entre Legislativo e Judiciário evidencia maior incerteza em Brasília, em um momento em que o governo não mostra capacidade de articulação e tem queda de popularidade.
Tanto que, em meio à decepção com as regras de aposentadoria dos não civis e na esteira da prisão do ex-presidente, a indicação do relator da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) foi adiada. Com isso, a análise da proposta sofreu mais um atraso e só será retomada após explicações do ministro Paulo Guedes (Economia).
Ou seja, o caso envolvendo Temer atrapalha a tramitação da reforma da Previdência, diante do ambiente político mais hostil. Isso não tende a influenciar a proposta, mas prolonga o prazo de apreciação. Daí, então, os reflexos fortes no mercado financeiro doméstico. E o não há expectativa de melhora do humor dos investidores, que tendem a manter a cautela.
Política pesa também no exterior
Lá fora, os investidores têm ignorado o drama político que acompanha a Casa Branca, mas Wall Street pode em breve ter de lidar com o caso. A investigação do ex-assessor especial do presidente Donald Trump, Robert Mueller, está perto de comprovar laços entre a campanha de Trump e a interferência da Rússia na eleição de 2016.
O documento de Mueller foi divulgado publicamente na quarta-feira e pode incriminar Trump de maneira direta. O presidente norte-americano afirma que se tratam de especulações e nega repetidamente as acusações. Os desdobramentos do caso pode elevar a volatilidade nos ativos de risco e ameaçar a reeleição do republicano em 2020.
Nesta manhã, os índices futuros das bolsas de Nova York estão em leve baixa, após uma sessão fraca na Ásia, onde as bolsas chinesas e Tóquio tiveram ligeiros ganhos. Na Europa, as praças repercutem a decisão da União Europeia (UE) de adiar a saída do Reino Unido do bloco comum para 22 de maio.
Para tanto, o acordo proposto pela primeira-ministra britânica, Theresa May, precisa ser aprovado pelo Parlamento. Se não passar, o prazo é antecipado para 12 de abril. A notícia impulsionou a libra esterlina, mas o dólar mede forças em relação às rivais, ao passo que o rendimento (yield) do título norte-americano de 10 anos (T-note) cai à mínima em um ano.
O mercado de bônus vem sinalizando preocupações com a dinâmica do crescimento econômico e da inflação. A ausência de pressão nos preços e a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo põe em xeque o otimismo com um prolongamento de um mercado de alta (bull market), sustentado pelo tom suave (dovish) do Federal Reserve.
Olho na agenda
A agenda econômica doméstica segue fraca nesta sexta-feira, sem nenhuma divulgação relevante. No exterior, merecem atenção dados preliminares de março sobre a atividade nos setores industrial e de serviços na zona do euro e nos Estados Unidos, pela manhã.
Outro ponto de relevo é a reunião do Conselho Europeu, em Bruxelas, onde devem ter continuidade as discussões sobre a saída do Reino Unido da União Europeia (UE). O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, também estará presente no encontro.