A Bula da Semana: O “B” e o “C” dos Brics
Presidente chinês, Xi Jinping, desembarca em Brasília para cúpula dos Brics, e Brasil deve aproveitar oportunidade de interação com a segunda maior economia do mundo

A semana encurtada por um feriado nacional na sexta-feira será marcada pela visita do presidente chinês, Xi Jinping, para encontro de cúpula dos países que formam os Brics. O fato de o Brasil ser o “B” do acrônimo criado pelo economista Jim O’Neil, do Goldman Sachs, no início dos anos 2000, dá ao país a oportunidade de uma interação mais intensa com a segunda maior economia do mundo - o “C” e a última letra da sigla, originalmente.
E o presidente Jair Bolsonaro deveria tirar proveito disso. A visita oficial dele à China, em outubro, alcançou um resultado positivo, com o chefe de Estado brasileiro se esquivando do posicionamento ideológico demonstrado durante a campanha e visando estreitar os laços comerciais, principalmente agrícola. À época, faltou na pauta a definição de um bom acordo bilateral Brasil-China, permitindo que haja investimentos produtivos chineses no país.
Agora, a 11ª Cúpula dos Brics, que acontece em Brasília nos dias 13 e 14 de novembro, será a nova chance para o governo brasileiro estimular o ingresso do capital chinês e abrir novas oportunidades de comércio entre ambos, agregando valor aos produtos Made in Brazil - inclusive agrícolas. Também poderiam surgir mais joint ventures sino-brasileiras, resultando em sinergias na área de tecnologia, principalmente.
As oportunidades são imensas, considerando-se os objetivos de médio e longo prazos da China, de dominar a indústria 4.0 até 2025 e superar a armadilha da renda média, elevando os ganhos por habitante (per capita) até 2049, quando o país comemora os 100 anos da Revolução Comunista. Aliás, a principal mensagem deixada pelos chineses, na ocasião dos 70 anos da República Popular, é que, sem estratégia, não se vai a lugar nenhum.
Por isso, um progresso nas negociações entre Brasil e China vai depender muito dos princípios a serem adotados pelo lado brasileiro. “Se o Brasil tiver claro quais são suas prioridades, reconhecidas em um planejamento pragmático, as oportunidades poderão multiplicar-se infinitamente”, afirma o professor visitante na Universidade de Relações Internacionais da China (CFAU), em Pequim, Marcus Vinícius de Freitas.
Ainda mais diante do projeto autoritário e moralista da equipe econômica de Paulo Guedes para modernizar o Estado. A ver se, desta vez, o encontro entre Xi e Bolsonaro será mais proveitoso, com menos turismo e maior intensidade na agenda, para não condenar o país a um crescimento econômico nos moldes de um “voo da galinha”, sem evoluir rumo à solidez fiscal e ao fim da pobreza, deixando a economia presa entre a alta e a baixa renda.
Leia Também
Aliás, dados de atividade no Brasil e no exterior são o destaque da agenda econômica nesta semana. Por aqui, saem números do setor de serviços e das vendas no varejo, enquanto Estados Unidos e China informam também o desempenho da indústria em outubro. Além disso, saem dados preliminares do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre deste ano na zona do euro e no Brasil.
Lula livre
Ainda no front político, o mercado doméstico viu como algo negativo a decisão da Suprema Corte de retomar o entendimento na Constituição, de que um réu só pode cumprir pena depois de esgotados todos os recursos, derrubando a condenação em segunda instância. Menos de 24 horas após a decisão do STF, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi solto e já discursou por duas vezes, em meio à comoção de militantes.
A soltura do principal líder da esquerda brasileira deve renovar a estratégia da oposição, mudando a postura do PT e exacerbando o clima político no país, que pode voltar a ficar polarizado - e se radicalizar. E essa nova conjuntura política pode prejudicar o governo Bolsonaro, atrapalhando o andamento da agenda de reformas no Congresso.
Além de ter de enfrentar uma oposição mais organizada, em um momento de fragilidade política dentro do próprio partido, o PSL, o presidente Jair Bolsonaro deve despender mais energia para mobilizar apoiadores. Com isso, pode se perder o foco para a aprovação do conjunto de medidas de ajuste fiscal elaborado pela equipe econômica do ministro Paulo Guedes.
Além disso, os parlamentares podem reavaliar a postura pró-reformas, ao farejar no ar uma mudança dos rumos da política nacional, em um momento de turbulência social em vários países da América Latina, por questões político-econômicas. As eleições municipais do ano que vem serão um bom termômetro disso, lançando luz para 2022.
No âmbito do mercado financeiro, a leitura é de que o “Lula livre” emitiu um péssimo sinal, principalmente aos investidores estrangeiros, criando a sensação de insegurança jurídica e institucional, o que tende a afugentar o ingresso de capital externo no país, que já está escasso. Isso tende a elevar a percepção de risco no Brasil, mantendo o dólar pressionado para além de R$ 4,10 e recompondo prêmios nos juros futuros.
Já a Bolsa brasileira pode ter fôlego encurtado para esticar o rali, que vinha pegando carona no otimismo externo. Na última sexta-feira, o Ibovespa caiu quase 2%, apagando os ganhos acumulados na semana, ao passo que o dólar fechou acima de R$ 4,15, após encerrar a semana anterior abaixo de R$ 4,00 pela primeira vez desde agosto. A valorização da moeda norte-americana içou os contratos DIs intermediários e longos.
Negócio da China
Lá fora, o mercado financeiro aguarda novidades sobre o progresso nas negociações comerciais, após a postura firme de Pequim nas tratativas sobre o acordo de primeira fase com os Estados Unidos. Ao defender a remoção das tarifas existentes, a China mostra que, apesar de o presidente norte-americano, Donald Trump, jogar duro, é ela quem está ditando as regras. E essa posição faz jus à velha máxima que diz que “chinês é bom de negócio”.
A atitude do lado chinês é clara: os dois lados devem remover, simultaneamente e proporcionalmente, as tarifas adicionais em vigor para alcançar a fase 1 de negociação, quiçá ainda neste mês. Para a China, essa postura é uma maneira realista de reduzir a guerra comercial, esfriando a tensão entre os dois países e a preocupação com o crescimento econômico global no horizonte à frente.
Resta saber se essa atitude irá encontrar anuência do lado americano. Por ora, o mercado financeiro está incomodado com silêncio ensurdecedor de Trump sobre o assunto, que enfrenta “feroz oposição” dentro da Casa Branca. Ao que tudo indica, porém, Trump terá de ceder se quiser mesmo assinar algum acordo parcial. E esse entendimento dá o tom das próximas fases de negociação, quando entram na pauta áreas dominadas pelos EUA.
Por isso, “certamente haverá mais incidentes durante o percurso”, avalia o professor da CFAU, citado acima. “A China atualmente apresenta uma superioridade produtiva industrial e também se encontra em um processo de ascensão como potência global, o que a forçará a buscar prevalecer em vários setores - inclusive o tecnológico”, observa Marcus Vinícius de Freitas.
Para ele, o confronto na tecnologia, inicialmente no 5G, é o prenúncio de uma China que tem logrado retirar dos EUA a primazia na questão da inovação. “As novas tecnologias oferecem à China a possibilidade de alcançar as metas de 2025 e 2049. E o governo chinês sabe que é importante manter resultados econômicos positivos no sentido de assegurar a legitimidade necessária para governança e manutenção no poder”, conclui.
Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:
Segunda-feira: A semana começa com as tradicionais publicações do dia no Brasil, a saber, a Pesquisa Focus (8h25) e os dados semanais da balança comercial (15h). Também será conhecida a primeira prévia deste mês do IGP-M (8h). No exterior, o feriado nos EUA pelo Dia dos Veteranos esvazia a agenda econômica norte-americana do dia e enxuga a liquidez em Wall Street, que abre normalmente hoje.
Terça-feira: O desempenho do setor de serviços no último mês do trimestre passado é o destaque da agenda do dia.
Quarta-feira: O IBGE divulga, no mesmo dia, o resultado das vendas no varejo em setembro e uma nova estimativa para a safra agrícola neste ano, bem como as primeiras projeções para a colheita em 2020. Nos EUA, destaque para o índice de preços ao consumidor (CPI) em outubro e para o testemunho do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, no Congresso, sobre as perspectivas econômicas. No eixo Europa-Ásia, saem o desempenho da indústria na zona do euro e na China, além das vendas no varejo chinês.
Quinta-feira: A agenda doméstica encerra a semana trazendo o primeiro IGP do mês, o IGP-10. Espera-se também a divulgação do índice de atividade econômica do Banco Central, o IBC-Br, em setembro, tido como uma prévia do PIB no trimestre passado. Já no exterior, Powell volta a discursar no Congresso norte-americano, desta vez, na Câmara, enquanto a zona do euro informa os dados preliminares do PIB no trimestre passado.
Sexta-feira: O feriado nacional pela Proclamação da República encurta a semana, mantendo os mercados domésticos fechados até domingo. Lá fora, os mercados funcionam normalmente, sendo que a agenda econômica nos EUA traz dados de outubro sobre as vendas no varejo e a produção industrial.
Entenda por que Bolsonaro pode se beneficiar se ação penal de Ramagem for suspensa no caso da tentativa de golpe de Estado
Câmara analisa pedido de sustação da ação contra o deputado Alexandre Ramagem; PL, partido de Bolsonaro, querem anulação de todo o processo
Diretor do Inter (INBR32) aposta no consignado privado para conquistar novos patamares de ROE e avançar no ambicioso plano 60-30-30
Em entrevista ao Seu Dinheiro, Flavio Queijo, diretor de crédito consignado e imobiliário do Inter, revelou os planos do banco digital para ganhar mercado com a nova modalidade de empréstimo
Ninguém vai poder ficar em cima do muro na guerra comercial de Trump — e isso inclui o Brasil; entenda por quê
Condições impostas por Trump praticamente inviabilizam a busca por um meio-termo entre EUA e China
Rodolfo Amstalden: Falta pouco agora
Depois de lambermos a lona no início de janeiro, a realidade acabou se mostrando um pouco mais piedosa com o Kit Brasil
Gafisa (GFSA3) recebe luz verde para grupamento de 20 por 1 e ação dispara mais de 10% na bolsa
Na ocasião em que apresentou a proposta, a construtora informou que a operação tinha o intuito de evitar maior volatilidade e se antecipar a eventuais cenários de desenquadramento na B3
Fundos imobiliários: ALZR11 anuncia desdobramento de cotas e RBVA11 faz leilão de sobras; veja as regras de cada evento
Alianza Trust Renda Imobiliária (ALZR11) desdobrará cotas na proporção de 1 para 10; leilão de sobras do Rio Bravo Renda Educacional (RBVA11) ocorre nesta quarta (30)
Alguém está errado: Ibovespa chega embalado ao último pregão de abril, mas hoje briga com agenda cheia em véspera de feriado
Investidores repercutem Petrobras, Santander, Weg, IBGE, Caged, PIB preliminar dos EUA e inflação de gastos com consumo dos norte-americanos
Nova Ordem Mundial à vista? Os possíveis desfechos da guerra comercial de Trump, do caos total à supremacia da China
Michael Every, estrategista global do Rabobank, falou ao Seu Dinheiro sobre as perspectivas em torno da guerra comercial de Donald Trump
Donald Trump: um breve balanço do caos
Donald Trump acaba de completar 100 dias desde seu retorno à Casa Branca, mas a impressão é de que foi bem mais que isso
Trump: “Em 100 dias, minha presidência foi a que mais gerou consequências”
O Diário dos 100 dias chega ao fim nesta terça-feira (29) no melhor estilo Trump: com farpas, críticas, tarifas, elogios e um convite aos leitores do Seu Dinheiro
Bolsa de Metais de Londres estuda ter preços mais altos para diferenciar commodities sustentáveis
Proposta de criar prêmios de preço para metais verdes como alumínio, cobre, níquel e zinco visa incentivar práticas responsáveis e preparar o mercado para novas demandas ambientais
Quando o plano é não ter plano: Ibovespa parte dos 135 mil pontos pela primeira vez em 2025 em dia de novos dados sobre mercado de trabalho dos EUA
Investidores também se preparam para o relatório de produção e vendas da Petrobras e monitoram entrevista coletiva de Galípolo
Salão de Xangai 2025: BYD, elétricos e a onda chinesa que pode transformar o mercado brasileiro
O mundo observa o que as marcas chinesas trazem de novidades, enquanto o Brasil espera novas marcas
Trump quer brincar de heterodoxia com Powell — e o Fed que se cuide
Criticar o Fed não vai trazer parceiros à mesa de negociação nem restaurar a credibilidade que Trump, peça por peça, vem corroendo. Se há um plano em andamento, até agora, a execução tem sido tudo, menos coordenada.
Tony Volpon: EUA, novo mercado emergente
Não tenham dúvidas: chegamos todos na beira do abismo neste mês de abril. Por pouco não caímos.
Acabou para a China? A previsão que coloca a segunda maior economia do mundo em alerta
Xi Jinping resolveu adotar uma postura de esperar para ver os efeitos das trocas de tarifas lideradas pelos EUA, mas o risco dessa abordagem é real, segundo Gavekal Dragonomics
Desaprovação a Lula cai para 50,1%, mas é o suficiente para vencer Bolsonaro ou Tarcísio? Atlas Intel responde
Os dados de abril são os primeiros da série temporal que mostra uma reversão na tendência de alta na desaprovação e queda na aprovação que vinha sendo registrada desde abril de 2024
Bitcoin (BTC) rompe os US$ 95 mil e fundos de criptomoedas têm a melhor semana do ano — mas a tempestade pode não ter passado
Dados da CoinShares mostram que produtos de investimento em criptoativos registraram entradas de US$ 3,4 bilhões na última semana, mas o mercado chega à esta segunda-feira (28) pressionado pela volatilidade e à espera de novos dados econômicos
Huawei planeja lançar novo processador de inteligência artificial para bater de frente com Nvidia (NVDC34)
Segundo o Wall Street Journal, a Huawei vai começar os testes do seu processador de inteligência artificial mais potente, o Ascend 910D, para substituir produtos de ponta da Nvidia no mercado chinês
Planos pré-feriado: Ibovespa se prepara para semana mais curta, mas cheia de indicadores e balanços
Dados sobre o mercado de trabalho no Brasil e nos EUA, balanços e 100 dias de Trump são os destaques da semana