Na avaliação do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o atual governo não tem mais força política para fazer uma votação como a da reforma da Previdência e o governo eleito, naturalmente, gasta suas energias na formação do novo governo.
Em evento do BTG Pactual, Maia explicou que a votação da Previdência seria um “corpo” que precisa de uma “cabeça” para orientar o seu caminho. A cabeça seria Jair Bolsonaro, que “ainda não terminou a sua transição e não trata desse tema”. Assim, disse ele, a reforma certamente ficará para a próxima legislatura.
Enquanto isso, disse Maia, a Câmara pretende avançar nas medidas microeconômicas, como distrato imobiliário, securitização de dívida dos Estados e o projeto das agências reguladoras.
Ainda sofre o tema, Maia disse que se o projeto não for bem organizado, o lobby de governadores, prefeitos e do próprio presidente, com relação a categorias como professores, policiais e militares, a reforma pode ser “um monstrengo para a sociedade brasileira”.
Maia disse, ainda, que há um melhor entendimento da população sobre a necessidade da reforma. Citando pesquisas que diz conduzir junto a população, o presidente da Câmara falou que a sociedade já compreendeu que quem paga a conta é o pobre. Segundo ele 70%, da população acha que os regimes têm de ser iguais para todos e que 40% entende o que é a reforma.
Maia também chamou atenção para a capacidade de comunicação do presidente eleito e que isso pode ser utilizado para mostra que a reforma é para beneficiar os mais pobres. Esse fator deixa Maia otimista com relação ao tema.
"Tem muitas condições de aprovar a reforma da Previdência", afirmou.
Segundo Maia, a reforma dá maior segurança jurídica para o setor privado, mostrando que o país não quebra nos próximos 20 anos.
Governabilidade
Maia foi questionado sobre o modelo de composição de governo de Bolsonaro, que não está negociando com partidos e sim nomeando os ministros que ele acha que deve nomear.
Para o presidente da Câmara, Bolsonaro está no caminho certo, montando o Executivo com os quadros que ele acha melhor.
“Se os ministros irem bem, os políticos tendem a aderir a governos bem avaliados. Não vejo nenhum problema não ter relação direta com os partidos”, disse.
Mas Maia lembrou que o governo também é composto pelo Legislativo e pelo Judiciário e que chegando no Congresso ele terá de dialogar. “Não precisa dar ministério, mas precisa dizer: ‘faço essas reformas e mudo o Brasil e vocês mudam o Brasil comigo”, exemplificou Maia, afirmando que o governo atual será mais respeitado ao fim de quatro anos do que agora.
Ele disse que o futuro ministro da Casa Civil, o também deputado Onyz Lorenzoni (DEM-RS), já começou um trabalho de diálogo com o Legislativo.
Segundo Maia, são pouquíssimos os deputados que se elegeram defendendo as reformas. O deputado foi eleito por sua base e é legítimo que ele trabalhe por seus eleitores. Assim, é importante que o governo compreenda a importância de cada deputado e quando os investimentos acontecerem, saber que o deputado que ajudou "está junto".
Maia disse que seu pai fez um governo assim na prefeitura do Rio de Janeiro em 1992 e que os vereadores aderiram ao ver seus distritos sendo beneficiados pelo programa de governo que espalhou obras por toda a cidade.
Estamos ao vivo ne?
Questionado se a estratégia de dialogar com bancadas temáticas, como agronegócio e outras funciona, Maia deu a seguinte resposta: “me disseram que está ao vivo, ne?”, arrancando risadas da plateia.
Na sequência explicou que as bancadas temáticas têm duas agendas. Uma de construção do futuro do setor e outra de viés corporativo.
“Tem que tomar cuidado para que não prevaleça as bancadas corporativas”, disse, complementando que é melhor deixar essas agendas corporativas para quando o Brasil tiver em condição melhor de atendê-las.
O papel do DEM
Segundo Maia, o seu partido, o DEM, não tem ministério no governo e não faz parte da base de governo de Jair Bolsonaro. O partido já tem três ministros, mas segundo Maia, foram escolhas pessoais do presidente eleito.
“O DEM tem dialogo até porque temos muita convergência com a pauta econômica de Paulo Guedes. O DEM não é um partido que faça parte da base do governo Jair Bolsonaro”, disse.
Sobre a presidência da Câmara, Maia disse que gostaria de continuar, mas que essa é uma construção difícil e, agora, ainda mais complexa em função da nova formação partidária da Câmara. São precisos de 10 a 12 partidos e isso não se constrói da noite para o dia.
“Tenho bastante espaço para isso, mas acredito que todos estão conversando e dialogando. Se construir esse grande bloco, me colocarei como candidato na hora certa”, disse.