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Raspas e restos me interessam

Às vésperas da eleição, ainda há raspas e restos para colher com o rali sistêmico dos ativos de risco? Ou não haveria mais nada para nos estimular?

24 de outubro de 2018
13:16 - atualizado às 15:45

Se você tem algum amigo que cheira cocaína ou se você mesmo carrega o hábito, sabe o exato significado do título desta coluna. Esse pessoal realmente valoriza raspas e restos.

Há um código de honra entre os farinheiros: quem separa as carreiras de pó é sempre o último a cheirar. Ele está sob claro conflito de interesse, entende?

Se for o primeiro a cheirar, o bicudo vai logo na fileira mais longa e gorda. Então, quem divide e estica não escolhe, e pula para o final da fila. Como brinde, leva o direito à lambida no cartão para amortecer a língua e a um restinho na gengiva.

Claro que há sempre aquele tamanduá que ignora a regra e emenda uma narigada em L – cheira a própria carreira e a beiradinha da próxima, tentando não fazer perceber-se. No geral, porém, a regra funciona. A Faria Lima e o Leblon têm muito a aprender com o Baixo Augusta.

Raspas e restos

Às vésperas da eleição, ainda há raspas e restos para colher com o rali sistêmico dos ativos de risco? Ou não haveria mais nada para nos estimular?

As perguntas ganham pertinência um dia depois de a pesquisa Ibope apontar redução da diferença nas intenções de voto entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad e aumento da rejeição do candidato do PSL. Há também estampada nos jornais hoje uma série de notícias ligadas ao potencial novo governo, com eventual anúncio de equipe já na semana que vem para mostrar compromisso com agenda liberal e discussões sobre votação da reforma da Previdência ainda neste ano.

Então vamos lá…

Às vezes, eu sonho. Às vezes, apenas durmo. Na maior parte do tempo, porém, nenhum dos dois. Como ouvi uma vez de um dos maiores gestores de ações brasileiros, “alguém que se preocupa com recursos de terceiros não pode dormir bem. Ele precisa ficar sem dormir, para que seus clientes possam dormir tranquilos. É um código de honra”.

A despeito das consequências

Como diria Taleb – sim, sempre ele –, não pode haver outra definição de sucesso a não ser levar uma vida honrada. É desonroso deixar que outros morram (no caso, tenham prejuízos) no seu lugar, sem nenhuma contrapartida. A honra implica que há certas atitudes que você jamais faria, independentemente das compensações financeiras. Também significa que há coisas que você faria incondicionalmente, a despeito das consequências.

Ontem, porém, sonhei. Não cheguei ainda àquele nível de loucura em que as pessoas identificam caráter premonitório na atividade onírica. Vejo o sonho como uma manifestação altamente intuitiva e espontânea do meu próprio estado de espírito, o despertar de meus instintos mais primitivos, nas palavras de Roberto Jefferson. Ou, na boca de Jung, “o sonho é o meio de comunicação do inconsciente com o consciente”.

Ou, ainda: “O sonho é uma porta estreita, dissimulada no que tem a alma de mais obscuro e de mais íntimo; abre-se sobre a noite original e cósmica que pré-formava a alma muito antes da existência da consciência do eu e que a perpetuará muito além do que possa alcançar a consciência individual”.

Trazendo um pouco mais para a realidade prática, vejo meus sonhos como a dor nas costas de Soros. Uma espécie de somatização que ajuda a estruturar conhecimentos tácitos e pensamentos não formalizáveis.

E o que estava lá nessa narrativa? Era justamente a resposta à pergunta original. Não leve muito a sério. É só uma hipótese, uma historinha bem contada. Não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem. Muitos cisnes negros vão aparecer no meio do caminho e jamais poderemos penetrar o futuro. É tudo ridículo, mas faz sentido.

As etapas

Vejo a história das próximas semanas e meses narrada em algumas etapas, mais ou menos assim:

1. Daqui até a próxima segunda-feira, passaremos por aquilo que a Teoria Prospectiva de Daniel Kahneman e Amos Tversky chama de “efeito certeza” – de forma desproporcional, investidores levam aos preços um maior impacto da mudança de um cenário extremamente provável para outro certo, de fato. Ao passarmos de 95 para 100 de probabilidade, na média, acontece uma reação desproporcional dos preços.

2. A partir daí, vamos reagir às notícias sobre nomeação de cargos e conversas sobre reformas. Isso vai ser no curtíssimo prazo, para aproveitar a espécie de lua de mel das eleições. Também neste momento vai cair muito da retórica eleitoral, deixando mais clara a orientação liberal – ao menos na Economia – do novo governo. Mentiras sinceras também me interessam.

3. Passados por 1 e 2, vai começar a entrar fluxo gringo de longo prazo – esse cara podia esperar a real definição das eleições. Mesmo que perdesse o upside inicial, ele poderia entrar num segundo momento, porque a diferença de preço num ciclo longo entre Bolsonaro e Haddad era brutal. Vale mais a pena perder a pernada inicial e entrar depois com muito menos risco. Lembre-se de que o mercado é um teatro grande com uma porta pequena.

Quando chegar o fluxo grande mesmo, prepara, amigo. Nossas cabeças lineares sempre subestimam o tamanho do movimento a priori. Aliás, está aí outra vantagem dos sonhos: eles não obedecem à necessidade de se linearizar nada para atender à nossa maior emoção, chamada equivocadamente de razão, que nada mais é do que o desejo de controle. O Iluminismo matou parte da nossa complexidade.

4. Concomitantemente a 3, veremos uma rodada importante de revisão de lucros e preços-alvo dos analistas de bancos e corretoras sobre as ações. Com a alta recente dos mercados, as cotações de tela estão bem próximas aos target prices do consenso da Bloomberg. Então, o camaradinha vai aproveitar a necessidade protocolar de rolar seus preços-alvo para 2019 e reduzir o custo do equity no modelo, chegando novamente aos famigerados upsides de 25/30 por cento.

5. Então, entraremos no ciclo da economia real. Há uma enormidade de projetos no gatilho esperando justamente o resultado da eleição. Também aqui é um dinheiro de longo prazo e não fazia o menor sentido engendrar-se nisso antes das eleições. A incerteza cai absurdamente e o empresário pode voltar a investir. Da mesma forma, o consumidor pode tomar decisões de longo prazo porque sabe que continuará empregado, como comprar um imóvel por exemplo. “Baby, compra o jornal, vem ver o Sol. Ele continua a brilhar, apesar de tanta barbaridade.”

6. Daí vem o crescimento econômico propriamente dito, que vai se traduzir em aumento dos lucros corporativos e, talvez ainda mais importante, queda da relação dívida/PIB. No momento em que se perceber a trajetória convergente da dívida pública brasileira lá na frente, a maior preocupação do mercado terá sido sanada. Aí, sai de baixo!

Mercados

Cansado de tanta babaquice, de tanta caretice, desta eterna falta do que falar, posso dizer que essas raspas e restos até que deram um barato.

Mercados brasileiros abrem a quarta-feira ponderando exterior pesado, onde clima de aversão ao risco volta a afetar Bolsas, e notícias positivas ligadas ao potencial novo governo, com nomeações de cargos e conversas sobre reforma da Previdência supostamente já na próxima semana. Pesquisa Ibope não muda nada, sejamos verdadeiramente sinceros.

Lá fora, clima é ruim, com quinta queda seguida para Bolsas dos EUA, segundo apontam os índices futuros. Desconforto com resultados corporativos, com a guerra comercial com a China e com medo de recessão, afeta mercados.

Por aqui, temporada de balanços também esquenta, com bons números de Fibria. Vale solta à noite e atrai atenções. Agenda econômica traz dados de arrecadação e fluxo cambial mensal. Nos EUA, Livro Bege do Fed é principal referência do dia.

Ibovespa Futuro abre em baixa de 0,25 por cento, dólar e juros futuros têm ligeira alta.

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