Caça ao tesouro: as joias descobertas em minha longa carreira no mercado financeiro
Ivan Sant’Anna lembra das grandes tacadas que deu em sua carreira como broker e fala sobre o processo de descobrimento dos tesouros enterrados no mercado

Segunda-feira, 31 de dezembro de 1991. Dezenove e quinze, marca o relógio. Portanto menos de cinco horas para a passagem de ano.
Com exceção de minha presença e de um segurança, o escritório do banco Graphus, na esquina de Presidente Vargas com Rio Branco, no Centro do Rio, está deserto.
Eu não era funcionário da instituição mas usava sua trading desk quando estava no Rio. Meus outros dois pontos de trabalho eram em Chicago e Nova York (Four World Trade Center, 5th floor).
Trabalhava como trader e broker. Gostava muito de operar os mercados de moeda: marco alemão, franco suíço e iene japonês, principalmente.
Pois bem, naquele lusco-fusco de início de noite do horário de verão carioca, o dólar estava fazendo um low de todos os tempos contra essas três moedas. Me senti irresistivelmente compelido a “shorteá-las”.
Foi o que fiz, MOC (Market on Close), nos últimos segundos de pregão.
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Na quarta-feira, dois de janeiro, o dólar, após forte intervenção do Bundesbank e do Bank of Japan, já abriu forte. Melhor: abriu com gap, deixando as moedas numa ilha de reversão (grafista sabe do que estou falando).
Foi uma operação genial, fruto de estudos e pesquisas? Negativo. Foi uma temeridade que cometi, apesar da nota preta que pus no bolso.
Sempre há algum mercado oferecendo enorme oportunidade, embora aquele trade tenha sido fruto de pura sorte, pois não tenho nenhum conchavo com os bancos centrais, muito menos sou insider de suas decisões.
De qualquer modo, é melhor ganhar burramente do que perder com inteligência. Mas, repito, aquele episódio foi nada mais do que uma exceção.
As chances antes ocultas estão surgindo à flor da terra o tempo todo. Pode ser uma empresa negociada na B3, que tenha uma ótima possibilidade de lucro num futuro próximo, lucro esse que ainda não foi percebido por traders e analistas.
Pode ser, como estou acreditando neste momento, a iminência de alta de algumas commodities como o açúcar, o café, o cacau e as carnes. O melhor é que há empresas que acumulam as duas coisas: estão esquecidas, largadas, vaiadas. Mas a qualquer momento darão um salto para a frente justamente porque produzem uma dessas commodities que ainda se encontram nos prolegômenos de um grande bull market.
Na página 317 de meu livro Os mercadores da noite, edição da Inversa, o personagem principal, Julius Clarence, está em busca de um desses tesouros:
“Finalmente Julius retornou a Nova York. Vinha, aos poucos, interessando-se novamente pelo mercado. Trabalhava agora principalmente com ações, não as blue chips, conhecidas de todos. Gostava de descobrir empresas novas, que estivessem desenvolvendo um produto promissor. Era fascinante vê-las subindo cada degrau da escada do mercado. Descobri-las era uma espécie de caça ao tesouro (o negrito não está no original), à qual Clarence se entregava com cada vez mais entusiasmo e dedicação.”
Nos quase 40 anos em que trabalhei como trader, já tive a oportunidade de encontrar vários desses tesouros. Mas também, como o Bino de Carga Pesada (série de TV da qual fui roteirista) já caí em algumas ciladas.
E não houve ninguém para dizer:“É uma cilada, Ivan!”
Joias escondidas
Felizmente, as festanças foram maiores do que as tragédias.
Em 1967, quando retornei de meu curso de mercado de capitais da New York University, encontrei as ações do Banco do Brasil com PL 1. Mesmo sem alavancar, multipliquei por 20 minha aplicação. Foi a primeira grande porrada que dei na vida.
Uma década mais tarde, em 1977, descobri que as ações da CRI (Companhia Real de Investimentos) pagavam um dividendo igual à cotação em Bolsa. Junto com um amigo já falecido (Antônio Gomes, do Banco Multiplic), “raspamos a pedra”, expressão que era usada (não sei se ainda é) quando alguém comprava todos os lotes disponíveis.
Para garantirmos os dividendos, que eram estatutários, o Gomes e eu comparecíamos às assembleias da CRI em São Paulo.
Buscando o ouro
Outro tesouro que descobri, este quase à flor da terra, foi o fracasso do Plano Cruzado, em 1986.
Ao ver que todos os restaurantes tinham fila na porta, que as gôndolas dos supermercados estavam vazias e que não havia pneus à venda nas lojas especializadas, percebi que o Cruzado tinha feito água.
Isso foi num domingo. No dia seguinte, encontrei o ouro “futurão” (vencimento um ano à frente) em limite de baixa. Raspei os pools de vendedores. Com tanta confiança que fui almoçar fora (naquela ocasião ainda não havia telefones celulares).
Ao regressar à mesa de operações, já encontrei meus contratos nos limites de alta, limites esses que se sucederam: dezembro, Natal, Réveillon, férias, Carnaval… Só fui pular fora por volta de março. O lucro da operação deu para comprar a carta patente de uma distribuidora de valores.
Estudando os mapas
Martin Marietta era uma empresa de alta tecnologia negociada na Bolsa de Nova York. Estudando balanços e relatórios por acaso (a tal caça ao tesouro), descobri o enorme potencial da companhia, uma das maiores fornecedoras de equipamento militar para o Pentágono.
Quando a Marietta se fundiu com a Lockheed, se transformando na Lockheed Martin, a cotação disparou. Pudera. A LM é a maior fabricante de aeronaves de guerra para as Forças Armadas dos Estados Unidos.
Oportunidades
No segundo trimestre de 1988, fui convidado pelo presidente da então estatal Cia. Vale do Rio Doce, Wilson Nélio Brumer, para estudar a possibilidade de banqueiros britânicos concederem à Vale um gold loan.
O negócio seria bom para as duas partes envolvidas. Infelizmente, havia o risco do Brasil entrar em moratória. Por isso não consegui fazer a operação.
Como minha passagem aérea era Rio/Londres/Chicago/Rio, da capital inglesa voei para os Estados Unidos.
Jon Davis, meteorologista da Shearson Lehman, brokerage house da qual eu era foreign broker, me convenceu que haveria um El Niño aquele ano e que o aquecimento das águas do Pacífico seria maior do que o habitual. Isso, segundo ele, provocaria uma seca no Meio-Oeste americano que traria a reboque um bull market nos grãos.
Como estava sem dinheiro na época (na montanha-russa de minha vida o trenzinho se encontrava num daqueles mergulhos), comprei soja Novembro apenas para meus clientes, estimando 90 mil dólares em margens de garantia para cada um.
Por mais incrível que possa parecer, a soja só estava me esperando para subir. Bastou eu comprar e Novembro colou no limite de alta.
Essa operação deu infinito por cento de lucro. Sim, infinito. Porque o ajuste positivo do primeiro dia foi maior do que o valor das margens. Cada um deles ganhou mais de um milhão de dólares em menos de três meses.
Só de gratificação (não prevista em contrato, por sinal), pus no bolso 100 mil dólares de cada um. Tudo porque cacei meu Tesouro debruçado sobre uma tabela meteorológica.
Riqueza gelada
Bom mesmo foi em 1994, quando ganhei para os clientes e para mim. Durante um fim de semana de julho, houve uma geada tão grande que queimou não só os frutos (o que quebraria a safra daquele ano) mas também matou os pés de café, liquidando as safras seguintes.
Na segunda-feira, comprei café muito acima dos preços de fechamento da sexta, uma vez que o mercado abriu com gap. Adquiri para os clientes e para mim também.
Não deu nem pra sofrer. Foram meses e meses de limite de alta. Foi isso que me permitiu largar a profissão e ficar sem renda durante dois anos enquanto escrevia Os mercadores da noite.
Julius Clarence e seu antagonista Clive Maugh são frutos de uma geada.
Tesouros afastados
Procurar tesouro é sempre fascinante. Certa vez, em 1971, junto com um amigo de Belo Horizonte, descobrimos que as ações da Cia. Siderúrgica Belgo Mineira eram negociadas na Luxembourg Stock Exchange por preços muito menores do que no Brasil.
Fizemos algumas viagens para lá, compramos as ações e trouxemos as cautelas, que vendemos aqui no Rio.
Armadilhas
Claro que como meu personagem Bino, magnificamente interpretado pelo ator Stênio Garcia, caí em diversas ciladas.
A maior dela foi armada por ninguém menos do que Saddam Hussein quando, em 2 de agosto de 1990, o ditador iraquiano invadiu o Kuwait.
Naquela ocasião, estudando a produção dos diversos países membros da OPEP, verifiquei que três deles (Emirados Árabes Unidos, Kuwait e o próprio Iraque) estavam trapaceando em seus limites de cotas de produção.
Como o mercado subiu de US$ 18,00 para US$ 20,00 o barril, eu “shorteei” diversos contratos de crude oil WTI na Nymex, em Nova York. Não segui os dogmas do jogo, principalmente aquele que diz:
“Mercado que reage bem a uma notícia ruim (trapaça nas cotas), é mercado de alta.”
Claro que saí no primeiro prejuízo. Só que este foi colossal. Ainda bem, porque o barril de petróleo foi até US$ 40,00, antes de despencar por causa do sucesso da coalizão liderada pelos Estados Unidos na operação Tempestade no Deserto.
Houve outras ciladas. Numa delas, aconselhado por um analista da Merrill Lynch, fiz um spread de café na Bolsa de Mercadorias de São Paulo. Ainda bem que foram apenas dois contratos: um comprado (mês curto), outro vendido (futurão).
A partir daí, diariamente, e durante meses, o mês no qual eu estava comprado dava limite de baixa. Aquele que eu vendera, de alta. Sem que eu pudesse liquidar a operação por causa da falta de vendedores (no curto) e de compradores (no longo).
Não opero desde 1995. Mas estou seriamente pensando em comprar açúcar futuro na C. S. C. E., em Nova York, e ir rolando os contratos à medida em que vencerem. As perspectivas de alta são enormes.
Gostaria de encerrar minha vida de trader encontrando mais um tesouro, o maior deles.
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