As compras no supermercado, o transporte para ir e voltar do trabalho ou até mesmo o cineminha do sábado a noite. Muitas vezes pode não parecer, mas esses hábitos do dia-a-dia mexem com a economia brasileira e com um de seus principais indicadores: a inflação.
Acontece que o jeito de consumir do brasileiro está mudando rápido - e isso demanda respostas rápidas também. Foi justamente por conta desse tema que, a partir de janeiro de 2020, a conta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vai ser um pouco diferente.
Na lista de itens avaliados pelo instituto, saem aqueles cujo peso dentro do orçamento familiar ficou menor, como os finados aparelhos de DVD e as máquinas fotográficas. Por outro lado, itens como transporte por aplicativos e serviços de streaming, que ganharam grande importância nos últimos anos, passaram a fazer parte do cálculo.
Na nova composição, erão 377 produtos e serviços, seis a menos do que o modelo atual de pesquisa. No total, o IPCA terá 56 novos subitens. Ou seja, 62 itens foram substituídos ou retirados da lista.
A nova lista de componentes do IPCA surgiu a partir dos dados coletados na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018. Depois de dez anos sem levantamentos, a POF revelou uma profunda mudança nos hábitos dos brasileiros, que deixaram, por exemplo, de fazer ligações pelos orelhões e passaram a utilizar as chamadas de voz e vídeo do WhatsApp.
Confira o entra e sai do IPCA:
Precisamos falar sobre pesos
Se hoje em dia o brasileiro quando pensa em inflação olha para as prateleiras dos supermercados, em 2020 olhará para os pontos de ônibus e aplicativos de mobilidade. Isso porque o peso do setor de transportes no IPCA passará a ser o maior entre os demais, superando a histórica contribuição majoritária do segmento de Alimentação e Bebidas.
Em termos numéricos, o peso do grupo Transportes vai passar dos atuais 21,9527% para 20,8377%. Já a contribuição do grupo Alimentação e Bebidas para o índice geral caiu de 22,0828% para 18,9880%.
Na sequência dos líderes está o grupo Habitação (peso de 15,1593%), Vestuário (4,8010%), Artigos de Residência (4,0215%) e Saúde e cuidados pessoais (13,4575%).
As mudanças no consumo das famílias nos últimos anos alteraram também o ranking de itens mais pesados no orçamento. A tarifa de ônibus urbano e a conta de telefone fixo deixaram o top 10 de itens com mais peso na inflação oficial do Brasil, enquanto o gasto com emplacamento e licença e com condomínio passaram a figurar entre as despesas mais pesadas.
O peso do ônibus urbano no IPCA passou de 2,5773% para 1,3020% na nova ponderação. A tarifa de telefone fixo, que pesava 1,7423% e era o décimo gasto mais importante no IPCA, agora virou plano de telefonia fixa, com contribuição de apenas 0,2852%.
O custo do emplacamento e licença estreia no ranking de dez maiores contribuição para a inflação com participação de 2,3287%, enquanto o condomínio aumenta sua importância para 2,2747%.
A gasolina assumiu a liderança como maior despesa, saindo de 4,2988% para 5,0794%. Em segundo lugar ficou a energia elétrica, que subiu de 3,5580% para 3,9594%. O terceiro subitem de maior peso é o aluguel residencial, que aumentou sua contribuição de 3,3734% para 3,8532% na nova ponderação.
Já o peso da refeição fora de casa passa de 4,1638% para 3,7647%, enquanto o plano de saúde sai de 2,8978% para 3,6279%. O empregado doméstico aumenta de 3,0331% para 3,1019%. O automóvel novo sai de 4,4020% para 3,1019%, e automóvel usado passa de 2,2965% para 2,1124%.
O peso do subgrupo veículo próprio no IPCA passa de 12,0323% para 11,6634% na nova ponderação. Ao mesmo tempo, o subgrupo transporte público no IPCA reduz de 4,50% para 3,16%.
São Paulo ganha peso; Rio lidera perda
Os gastos das famílias que residem na Região Metropolitana de São Paulo, que já tinham o maior peso no IPCA, ganharam ainda mais relevância no cálculo da inflação oficial. A região avançou de uma participação de 30,67% para 32,32%, enquanto Brasília cresceu de 2,80% para 4,09%.
Entre as 16 áreas que compõem o IPCA, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro foi a que mais perdeu participação na nova estrutura, passando de 12,06% para 9,41%. Belo Horizonte ultrapassou a contribuição do Rio de Janeiro, embora tenha perdido relevância, saindo de 10,86% para 9,84% na nova ponderação. O peso de Rio Branco passou de 0,42% para 0,51%, ainda no último lugar no ranking de participação.
*Com informações do IBGE e Estadão Conteúdo.