Siga o dinheiro: BlackRock vê bolsa em alta sustentada por fluxo de fundos de pensão e estrangeiros
Carlos Takahashi, responsável pelo escritório brasileiro da maior gestora de fundos do planeta, diz que a bolsa nos 100 mil pontos ainda está barata em dólar e que BlackRock não espera recessão nos EUA

Carlos Takahashi é uma daquelas pessoas capazes de se lembrar os detalhes da última conversa que teve com você. Quando fui visitá-lo na sede da gestora de recursos BlackRock, ele se recordou inclusive de algumas mensagens que havíamos trocado anos atrás pelo WhatsApp.
Takahashi – ou Cacá, como é mais conhecido – fez carreira no Banco do Brasil, nos últimos anos no comando da BB DTVM. Depois de deixar a maior gestora de fundos do país, ele assumiu o escritório brasileiro da maior gestora de recursos do planeta, mas que ainda possui uma presença tímida por aqui.
A empresa americana possui apenas R$ 7 bilhões captados de investidores brasileiros. Um grão de areia se comparado aos US$ 6,5 trilhões (quase R$ 25 trilhões) que a gestora americana possui globalmente.
Cacá acompanha o fluxo do dinheiro com a mesma atenção das conversas que mantém com os diferentes interlocutores. E aposta na tendência - inevitável, para ele - de o investidor brasileiro aplicar parte de suas economias no exterior como um dos trunfos da BlackRock.
Ele também aponta o fluxo que recursos que ainda não vieram como catalisador para novas altas da bolsa brasileira. “Se você olhar em dólar, a bolsa ainda não está cara. Não é um absurdo estar em 100 mil pontos”, disse.
A aprovação da reforma da Previdência no plenário da Câmara, que aconteceu depois da conversa que eu tive com o executivo da BlackRock, foi apontada por ele como um dos gatilhos para a entrada dos recursos para a bolsa, principalmente de fora do país.
Leia Também
“O investidor estrangeiro não está cético. Ele é mais pragmático e menos emocional”, afirmou.
A maior parte dos recursos sob gestão da BlackRock no país está nos chamados fundos de índice (ETF, na sigla em inglês) negociados em bolsa, incluindo o BOVA11, o mais negociado entre os ETFs que seguem o Ibovespa.
Embora seja a forma mais barata de se investir em uma carteira diversificada na bolsa, a indústria de ETFs ainda é relativamente pequena no país. Mas o segmento ganhou uma chacoalhada recente com a criação de novos produtos, como o ETF de renda fixa lançado pelo Itaú Unibanco e a entrada do Bradesco no segmento.
Isso sem falar na decisão da própria BlackRock de reduzir a taxa de administração do BOVA11 para fazer frente à concorrência. Mas Cacá tem uma visão um tanto crítica de uma eventual “guerra de preços”. “Não basta ter um preço baixo. É bom que esse mercado cresça, mas é muito melhor que cresça em opções”, ele disse. Leia a seguir mais trechos da nossa conversa:
Perspectivas para a bolsa
Se você olhar em dólar, bolsa ainda não está cara. Não é um absurdo estar em 100 mil pontos. Em termos de fluxo, a alta até agora foi movimentada bastante por investidores locais. Mas alguns segmentos ainda não vieram dentro das expectativas que você poderia ter considerando a taxa de juros no patamar atual. Os investidores institucionais, como os fundos de pensão, por exemplo, precisam cumprir a meta atuarial. E com a taxa de juros a 6,5% ao ano o velho conforto da NTN-B [título público corrigido pelo IPCA] acabou. É preciso ter uma realocação que eles ainda não fizeram na renda variável. Então a bolsa tem espaço para subir, mas também deve ter volatilidade. A caminhada não é uma linha reta e constante.
Economia e reformas
O crescimento econômico e o desempenho dos atores, que são as empresas, estão relacionados, é claro. O ponto é que nós pegamos um ciclo longo de ajustes no país. O maior deles ainda está aí na pauta [reforma da Previdência]. Talvez todo esse processo tenha retardado a retomada do crescimento econômico. Se não houvesse esse atraso talvez a gente estivesse crescendo um pouco mais. Mas espero que esse atraso valha a pena. O que isso significa? Que a reforma saia num patamar que traga uma sustentabilidade em um prazo bastante razoável e crie as condições para você tomar as outras medidas necessárias.
Visão do investidor estrangeiro
O investidor estrangeiro não está cético. Ele é mais pragmático e menos emocional. Na perspectiva do estrangeiro, o Brasil sempre foi um país mais fechado. A diferença que ele enxerga agora, principalmente no mundo da economia, é de um país mais aberto para fazer negócios. Agora, ele precisa ter clareza de que o país é um pouco mais previsível do que já foi. Tivemos momentos de euforia e decepção em períodos muito curtos de tempo.
Juros e atuação do Banco Central
Sem falar em números, inegavelmente as condições macroeconômicas indicam que pode haver novos cortes de juros. O Banco Central está conservador demais? Ele tem que fazer esse papel. O Copom tem procurado manter o nível de credibilidade construído na gestão anterior e por isso tem sido cauteloso nas suas manifestações. Mas também tem deixado algumas dicas de que pode ter espaço para uma redução maior das taxas. A inflação, até como consequência do crescimento baixo, está sob controle.
Cenário internacional
A BlackRock não vê risco de recessão. O que a gente tem agora é um novo patamar de crescimento. Não vemos mais aqueles picos de crescimento, nem mesmo nos países emergentes. Estamos em em um mundo com patamar de crescimento diferente, inflação diferente e taxas de juros diferentes.
A outra questão a ser observada no cenário externo são os riscos geopolíticos e as guerras comerciais. Nesse caso eu acredito que o mercado deve passar por um processo de acomodação, já vimos isso acontecer em outros momentos. Mas esse é um risco importante e a gente acompanha de perto na BlackRock.
Inovação e bolsa americana
Alguns países nos dão lições interessantes. Na economia americana, a saída da crise não se deu apenas em função de políticas macroeconômicas, mas também pelo campo da eficiência. Coincidência ou não, boa parte do que é inovação disruptiva aconteceu nesse período de crise: Apple, Facebook, Uber, meios de pagamento… As coisas são reinventadas, não porque é bacana, mas para serem mais eficientes. Se você olhar o S&P500 [principal índice da bolsa de Nova York], empresas como GM e Ford, que no passado capitaneavam o índice, perderam espaço para outras como Apple e Amazon.
Investimento no exterior
Para nós é muito claro que a gente tem um outro mercado aqui no Brasil. Estamos ainda em uma fase primária da migração de recursos da poupança. E mesmo dentro da indústria de investimentos fora a poupança o Brasil ainda há uma concentração muito grande na renda fixa e um nível muito baixo de exposição ao mercado externo. Como a bolsa brasileira ainda é pequena se comparada com outros países, concentrada em poucos setores e empresas, o investidor vai precisar de uma diversificação maior. Uma aposta que a gente faz está em incorporar mais o investimento no exterior nos portfólios dos brasileiros.
Novos produtos
A BlackRock está trabalhando para trazer novos ETFs para o mercado brasileiro, assim como outros fundos que temos lá fora. Vamos avaliar estratégias que tenham baixa correlação com opções que já existam no mercado doméstico. Não faz sentido as pessoas correrem riscos semelhantes. Investir sempre tem risco, então que sejam riscos diferentes.
Concorrência nos ETFs
A BlackRock já está no país há mais de 10 anos e deu primeiro um passo importante quando comprou a operação do Barclays (iShares). Mas por razões diversas, como as taxas de juros altas, a indústria de ETFs não cresceu na mesma intensidade em relação a outros países.
Sobre a concorrência, o ETF é muito mais do que só preço. O preço é consequência de ser um instrumento eficiente. Para as pessoas físicas, um atributo essencial para o ETF é a liquidez. Não basta ter um preço baixo. É bom que esse mercado cresça, mas é muito melhor que cresça em opções. Se você tem uma quantidade muito grande de produtos com um único índice, pode acabar afetando a liquidez. No fim do dia, é preciso ter uma visão de performance, e o preço é só uma dessas variáveis.
Época de provas na bolsa: Ibovespa tenta renovar máximas em dia de Caged, ata do Fed e recuperação judicial da Azul
No noticiário corporativo, o BTG Pactual anunciou a compra de R$ 1,5 bilhão em ativos de Daniel Vorcaro; dinheiro será usado para capitalizar o Banco Master
Sem OPA na Braskem (BRKM5)? Por que a compra do controle por Nelson Tanure não acionaria o mecanismo de tag along
Especialistas consultados pelo Seu Dinheiro avaliam que não necessariamente há uma obrigatoriedade de oferta pública de Tanure pelas ações dos minoritários da Braskem; entenda
Ibovespa vai sustentar tendência mesmo com juros altos e risco fiscal? Sócio fundador da Polo Capital vê bom momento para a bolsa — mas há outros perigos no radar
No podcast Touros e Ursos desta semana, Cláudio Andrade, sócio fundador da gestora Polo Capital, fala sobre as perspectivas para a bolsa brasileira
Xô, penny stock: PDG Realty (PDGR3) recebe novo enquadro da B3 e terá que fazer mais um grupamento de ações
Após meses negociando as ações PDGR3 na casa dos centavos na bolsa brasileira, a incorporadora tentará outra vez aumentar as cotações dos papéis
Não dá mais para adiar: Ibovespa repercute IPCA-15 enquanto mudanças no IOF seguem causando tensão
Bolsas de Nova York voltam de feriado ainda reagindo ao mais recente recuo de Trump na guerra comercial
Subimos apesar do governo: quando a pior decisão é sempre a próxima
O Brasil parece ter desenvolvido uma habilidade peculiar — quase artística — de desperdiçar momentos estratégicos. Quando o mercado estende a mão em sinal de trégua, Brasília responde com um tropeço
Grupo Toky, antiga Mobly (MBLY3), adia estreia do novo ticker TOKY3 para suas ações na B3; veja nova data
Estreia do código TOKY3 era para ter ocorrido nesta segunda (26); empresa alega questões técnicas da B3
Bradesco (BBDC4) faz Banco do Brasil (BBAS3) comer poeira na disputa por valor de mercado após balanços do 1T25. O que fazer com as ações?
Após entregar um balanço mais forte que o esperado, o Bradesco ganhou fôlego e superou a avaliação do Banco do Brasil na bolsa brasileira
Por que o maior acionista da dona do Burger King no Brasil (ZAMP3) quer tirar de vez a Zamp da bolsa brasileira
Após quase três anos desde a última tentativa, a discussão sobre uma potencial OPA pelas ações da Zamp voltou à mesa do fundo árabe Mubadala
Tijolo por tijolo: Ibovespa busca caminho de volta a novos recordes em meio ao morde-assopra de Trump e feriado nos EUA
Depois de ameaçar com antecipação de tarifas mais altas à UE, agora Trump diz que vai negociar até 9 de julho
O ‘último almoço grátis’ dos fundos imobiliários: é melhor investir em FoFs ou Hedge Funds?
FoFs e Hedge Funds ganharam relevância no universo dos fundos imobiliários ao proporcionarem diversificação às carteiras
Novo IOF pode diminuir lucro de varejistas: JP Morgan avalia Magazine Luiza (MGLU3), Assaí (ASAI3) e Natura (NTCO3) como as mais afetadas
O maior impacto, segundo os analistas, é para os fornecedores das empresas, mas repasse pela cadeia é uma possibilidade que deságua em maiores preços para os clientes na ponta
Nelson Tanure quer abocanhar a Braskem (BRKM5)? Ações da petroquímica sobem forte na B3 com rumores de oferta
A performance da petroquímica hoje vem na esteira de notícias de que Nelson Tanure quer abocanhar um pedaço da empresa
Fazenda recua em aumento do IOF sobre investimentos no exterior após reação negativa do mercado às medidas
Pasta fez o anúncio às 23h30 em postagem no X (antigo Twitter). Aumento de IOF para operações de câmbio para 3,50% se mantém nos demais tipos de transações
Corrigindo a rota: Governo recua de elevação de IOF sobre remessas a fundos no exterior e tenta tirar pressão da bolsa e do câmbio
Depois de repercussão inicial negativa, governo desistiu de taxar remessas ao exterior para investimento em fundos
É hoje! JBS (JBSS3) chega ao dia da votação da dupla listagem com resultado indefinido
Votação parcial divulgada na véspera mostrava uma pequena diferença de 3,43 pontos percentuais pela rejeição da proposta
Nova moda: fundos imobiliários negociados fora da bolsa têm atraído investidores, mas valem a pena? Conheça os fundos cetipados
Os fundos cetipados proporcionam um maior conforto para o investidor em relação à volatilidade das cotas e vêm chamando a atenção do mercado com o ciclo de alta dos juros no Brasil; mas a liquidez é um forte ponto negativo
Mudanças no IOF contratam pregão difícil para o Ibovespa nesta sexta (23); ações brasileiras caem mais de 4% no after market
Imposto de diversas operações foi elevado; investidores temem o encarecimento das operações de câmbio, investimentos no exterior e custo do financiamento das empresas
Kraken lança ações tokenizadas de empresas dos EUA para clientes internacionais; Nvidia, Tesla e Apple estão na lista
Corretora anuncia lançamento de mais de 50 ações e ETFs tokenizados; papéis como Apple, Tesla e Nvidia poderão ser negociados como tokens por investidores fora dos EUA
“Pix dos Investimentos” vai ficar para 2026: CVM adia data de lançamento e muda regras de portabilidade das aplicações financeiras; veja como ficou
Resoluções entrarão em vigor somente em 2026 e possibilitam, por exemplo, transferir cotas de fundos de investimento de uma corretora para outra