A morte do Centro e da candidatura de Alckmin
Centrão e mercados já acenam desembarque da candidatura tucana

A aliança que o tucano Geraldo Alckmin fechou com o famigerado Centrão, garantindo tempo de TV e ampla base de divulgação nos Estados e municípios garantiu boa parte do oba-oba dos mercados, com alta de quase 9% do Ibovespa em julho. Naquele momento, acompanhando as negociações sobre quem seria ungido pelo Centrão e a reação do mercado e seus participantes lembrei de um assunto com o qual venho esbarrando em leituras pela internet e fora dela. E que nas últimas semanas parece que ganhou algum relevo.
A teoria da morte do que se tem como “centro” no contexto político. Esse mesmo tema pode ser inserido dentro de uma discussão mais ampla sobre o que estudiosos chamam de uma crise da democracia representativa. Fenômeno global apoiado na percepção generalizada de que nada funciona, ninguém presta, de que o sistema pode ser corrompido, que os eleitores fazem más escolhas. Um cansaço ou mesmo esgotamento com relação à política como a conhecemos. Mas que no fim pode ser visto apenas com um “efeito colateral” do sucesso do próprio modelo.
O assunto pode parecer um pouco etéreo em termos do dia-a-dia dos investimentos e formação de patrimônio, mas modificações da cena política têm implicações relevantes na construção da agenda econômica. E creio ser possível identificar alguns componentes desse debate no nosso quadro político atual.
A pesquisa Ibope divulgada ontem reforça essa tese de polarização entre Bolsonaro e Haddad e trouxe renovada preocupação nos mercados ao mostrar que Bolsonaro perderia em todos os cenários do segundo turno. No mercado, há mais incerteza com um eventual retorno do PT do que preocupação com um governo Bolsonaro. O mais temido seria Ciro Gomes, visto como de postura mais radical.
Observando diferentes públicos em seus debates, a percepção é de que a saída pelo centro e pelo consenso parece cada vez mais coisa de gente ingênua. Ninguém aguenta mais e a solução seria radicalizar (Bolsonaro, Haddad e Ciro?). Fernando Henrique Cardoso (FHC) chegou a fazer uma carta pedindo união do centro, mas parece um movimento sem sucesso, ou como disse Ciro Gomes: "É mais fácil boi voar de costas."
Sinais desse esgotamento, morte do centro ou crise democrática seriam a eleição de Trump nos EUA, o Brexit, o crescimento dos partidos de “direita” ou "extrema direita" na Europa e, por aqui, o surgimento de movimentos de “direita” e/ou “conservadores”.
Leia Também
Suspeitando irregularidades, TSE pede a WhatsApp dados sobre disparos nas eleições de 2018
Bolsonaro fala pela primeira vez em disputar a reeleição em 2022
Os donos do poder
Para alguns observadores da cena política, o que se tem como “centro” político de fato nunca existiu. Foi e apenas é uma nova forma do "establishment", do "status quo", dos “donos do Poder” de ganhar uma nova roupagem e se manter onde sempre estiveram, no centro do poder.
Recentemente me deparei com algumas considerações sobre o tema nos EUA e com um diagrama que guarda semelhanças com o quadro político local. De um lado temos as empresas cada vez mais poderosas e do outro um governo também bastante poderoso. O ponto de intersecção entre os dois é composto pelo lobby das grandes empresas em troca de leis e regulações favoráveis (ex. regimes tributários diferenciados, acesso a crédito direcionado, reservas de mercado).
A contrapartida é o financiamento eleitoral para que os grupos políticos continuem onde estão, mantendo essa engrenagem funcionando. Lembrou do escândalo do Petrolão? Eu também. Lembrou que diferentes categorias do funcionalismo público formam a maior bancada do Congresso e que conseguem barrar reformas? Eu também.
Com uma difusão dessa percepção de conluio entre poderosos dos setores público e privado e políticos, a resposta a essa composição vem ganhando uma qualificação de populismo para os dois extremos políticos. Que apesar de extremos, por vezes se tocam.
Do lado que vamos convencionar chamar de “esquerda”, o populismo quer bater no imenso poder das empresas (Ocupe Wall-Street, nacionalize os bancos, o petróleo, controle as várias faces da mídia). No outro lado, a “direita” bate no imenso poder do governo (imposto é roubo, mais Brasil e menos Brasília e também desacredita a grande mídia). Ambos se oferecem ao público como uma resposta “contra tudo isso que está aí”. Na verdade, é um longo embate de posturas políticas que se contrapõem entre os conceitos de “liberdade” e “igualdade”.
O modelo local
Por aqui, a expressão máxima do que seria esse centro foi e é encarnada pelo MDB, que foi fiador da tal governabilidade desde a redemocratização. Aqui em Brasília há uma boa “piada” sobre isso: Não importa quem for eleito, a única certeza é que o senador Romero Jucá (MDB-RR) será líder do governo. E, de fato, ele foi líder.
O modelo MDB de ficar de fora do pleito majoritário, mas ser grande o suficiente para ter controle da máquina, fez escola. Há outro punhado de partidos e parlamentares que souberam desenvolver a imprescindível capacidade de barganha para poder formar “consensos” entre empresas e corporações poderosas e um governo igualmente poderoso.
Sinal claro dessa força do centro foi essa briga que assistimos pelo apoio do Centrão ou Blocão. E reflexo de como ainda se acredita (ou se acreditava) na força do centro foi a reação do mercado e analistas políticos de como esse apoio poderia representar um “passe” para um eventual segundo turno. Mas até agora tudo indica que não. E já vemos notas de jornais falando que o Centrão vai abandonar o tucano e que o mercado também o deixou. Nada é mais forte do que instinto de sobrevivência, especialmente na política.
Como não existe almoço grátis, o escolhido pelo centro tem de estar disposto a ceder cargos e espaço em nome da governabilidade. Não há um Norte ideológico ou de programa governamental, mas sim o pragmatismo político para prevalecer a lógica de Lampedusa – muda-se tudo, para tudo permanecer exatamente como sempre foi (Tomasi di Lampedusa fez a observação no livro O Leopardo, sobre a revolução que levou à unificação Italiana nos idos de 1860).
Os tons de cinza
E essa teoria da morte ou ao menos enfraquecimento do centro é que torna a eleição um tanto incerta e de difícil explicação. Pode ser que estejamos vendo um processo novo, com lentes ainda antigas. Subestimando o grau de insatisfação, cansaço, desilusão, ressentimento, revolta e mesmo um desejo de vingança em boa parte do eleitorado.
Não por acaso sempre se buscam paralelos como as eleições de 1989. Gostamos de paralelos pois isso facilita o processo de cognição e o cérebro está sempre disposto a economizar energia e, principalmente, evitar decepções. Assim se obtém resposta e convicção sobre uma questão, por paradoxal que seja, onde os tons de cinza são mais relevantes que a certeza binária do branco e preto ou vermelho e azul.
Por estar mais preocupado com esses tons de cinza, vi com certo ceticismo aquela alegria ou alívio com o apoio do centro ao Alckmin. E ao comentar com amigos e colegas fui prontamente rechaçado. É certo que a estrutura política fragmentada e regionalista favorece quem te apoio do centro, mas isso está se mostrando insuficiente.
Com ou sem o centro, e quem quer que esteja no comando nos próximos quatro anos, o grande desafio será enfrentar essa crescente pressão de maiorias ou minorias organizadas que se mesclam nos extremos e nos diversos tons que os separam. Elas também se manifestam dentro do Judiciário, que vem tomando o espaço perdido pelo Executivo e Legislativo, embaralhando a clássica separação dos Poderes e seus freios e contrapesos.
A eleição é só uma prévia do que o próximo governo vai enfrentar em termos de dificuldades para tentar achar pontos mínimos razoáveis e exequíveis dentro da agenda de reformas fiscais e tributárias para manter inflação e juros baixos. Dois dos principais vetores da previsibilidade necessária ao desenvolvimento econômico e bem-estar, mas que sempre esbarram nos distintos grupos que controlam o Governo de olho nos seus direitos adquiridos e naqueles que faltam adquirir.
O Centro sabe que tem de fazer alguma coisa, mas sempre faz o mínimo necessário para evitar a ruptura e continuar onde sempre esteve. A frieza do cálculo político, entenda-se aqui a chance de reeleição, também ajuda nessa movimentação do centro, que já fala em ir com Bolsonaro em uma roupagem de centro-direita. Com Haddad eventual costura é mais fácil, pois o centro já esteve lá e o candidato vem amansando o discurso. Mas a gravidade da situação fiscal parece não acomodar mais “reformas mínimas”, à moda Lampedusa. A conferir.
Em entrevista, Eduardo Bolsonaro diz sentir que não haverá reforma da previdência em 2018
Bolsonaro disse que há preocupação com a eleição de um presidente da Câmara alinhado com os interesses do futuro governo, que não necessariamente o nome sairá do PSL
Bolsonaro ainda não bateu o martelo sobre fusão de Agricultura e Meio Ambiente, diz Onyx
Anúncio da fusão causou protestos na Frente Parlamentar da Agricultura, a chamada bancada ruralista, que vê a ideia com desconfiança
Ministério de governo Bolsonaro terá até 16 pastas
Futuro governo vai criar superministério da Economia, juntando as pastas da Fazenda, Planejamento e Indústria além de Comércio Exterior e Serviços
Empresários esperam confirmação de agenda liberal no governo de Bolsonaro
Aprovação das reformas é vista como prioridade para colocar o país na rota do crescimento, embora candidato eleito tenha de convencer o Congresso a votar a favor de medidas impopulares
Trump reforça possibilidade de acordo comercial com futuro governo Bolsonaro
Presidente norte-americano reforçou que teve “uma ótima” conversa com Bolsonaro mas criticou o atual comportamento do país na área comercial
Bolsonaro vai tentar aprovar reforma da Previdência de Temer
Em entrevistas, presidente eleito disse que virá a Brasília e tentará aprovar reforma proposta pelo atual governo ao todo ou em partes
Política externa de Bolsonaro deve mirar EUA e Israel
Na via contrária à aproximação com os países ditos “bolivarianos” e ao projeto sul-sul, Bolsonaro já deixou clara sua admiração pelos americanos e israelenses
O dia em que a música morreu
Existe um risco material de o mercado entrar no estado de euforia. Quando isso acontecer, você não pode deixar seduzir-se
Entusiasmo ou alívio?
Seja lá o que for que Bolsonaro fale até a posse, não diminuirá meu alívio por ter votado 17. O que estou interessado em saber é se ele vai transformar esse alívio em entusiasmo
Trump parabeniza Bolsonaro no Twitter e sinaliza ‘cooperação próxima’ no futuro
Presidente americano sinalizou relação próxima em “comércio e defesa” com futuro governo Bolsonaro
Com vitória de Bolsonaro, mercado entra em festa. E você pode participar
Assim que o resultado foi confirmado, bancos e corretoras correram para soltar relatórios a seus clientes, um mais otimista que o outro. Projeções colocam Ibovespa em até 125 mil pontos, enquanto o dólar pode cair para a casa de R$ 3,50
Nova governabilidade é desafio para Bolsonaro
Prometendo não entregar cargos em troca de apoio, eleito terá de inaugurar nova forma de relação com o Congresso
O que interessa é a formação de governo, diz economista do ABC Brasil
Para Luis Leal, confirmada a vitória é possível que o mercado “ande mais um pouco” e dólar busque a linha de R$ 3,60. Autonomia do BC é medida que pode surpreender
Bolsonaro defende emprego, renda e ajuste fiscal em discurso
Presidente eleito destacou defesa da constituição, da democracia e da liberdade
Sob Temer, MDB elege menos governadores
Partido terá 3 governadores no próximo mandato, contra 7 no anterior
Campanha vitoriosa rompe paradigmas de marketing eleitoral
Bolsonaro superou o pouco tempo de TV no primeiro turno (apenas oito segundos), a união com um só partido (PRTB, do vice, general Hamilton Mourão) e uma campanha com poucos recursos financeiros.
Bolsa pode atingir “patamar Alckmin” se Bolsonaro indicar boa equipe econômica
Avaliação é de Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor da Novus Capital. Na prática, isso significa que o Ibovespa pode chegar aos 100 mil pontos e o dólar pode testar o patamar de R$ 3,50 a R$ 3,55
Boca de urna: 56% Bolsonaro X 44% Haddad
Boca de urna: 56% Bolsonaro X 44% Haddad Apuração (88,44% das urnas apuradas) Bolsonaro 55,7% contra 44,30% Atualização em instantes
Conheça os governadores eleitos em 13 estados e no DF
Ibaneis Rocha (MDB), do Distrito Federal, é o 1º governador eleito no segundo turno. Acompanhe
Vereadora do PSL é presa por suspeita de compra de voto para Haddad
Josefa Eliana da Silva Bezerra, do partido de Bolsonaro, estava com um veículo repleto de adesivos do candidato petista