Retorno recorde nos títulos IPCA+ de um lado, spreads baixos e RJs do outro: o que é de fato risco e oportunidade na renda fixa privada hoje?
Em carta a investidores, gestora de renda fixa Sparta elenca os pontos positivos e negativos do mercado de crédito privado hoje

O mercado de renda fixa privada não é, atualmente, o mais abundante em oportunidades. A forte demanda dos investidores, que buscam aproveitar a taxa Selic elevada e ainda se mostram avessos ao risco de bolsa, derrubou os spreads dos títulos de crédito privado, isto é, o retorno extra desses ativos em relação aos títulos públicos equivalentes.
O movimento é visto especialmente entre os títulos high grade (aqueles de menor risco de crédito, emitidos por empresas consideradas boas pagadoras) e nos incentivados, os papéis isentos de imposto de renda, como as debêntures incentivadas de infraestrutura.
Os retornos mais comprimidos fazem com que haja menos espaço para uma valorização desses ativos, mas dados os juros altos, a rentabilidade do crédito privado permanece historicamente elevada, preservando o apetite dos investidores que pensam em ficar com os papéis até o vencimento.
- VEJA MAIS: Com Selic a 14,75% ao ano, ‘é provável que tenhamos alcançado o fim do ciclo de alta dos juros’, defende analista – a era das vacas gordas na renda fixa vai acabar?
Assim, a atratividade da renda fixa privada tem se sustentado mais pelo carrego — a remuneração gorda que o investidor recebe para carregar o título na carteira — do que por um potencial de redução adicional nas taxas, de modo a valorizar os títulos.
Os tais dos spreads comprimidos têm deixado gestoras como a Sparta mais cautelosas para ir às compras, preferindo manter uma posição elevada de caixa.
Em sua última carta mensal aos cotistas, referente a abril, a gestora especializada em renda fixa disse não ver novos gatilhos para aberturas nos spreads (o que acarretaria em uma desvalorização dos títulos de renda fixa privada), mas também não ver espaço para compressões adicionais relevantes.
Leia Também
"Neste contexto de equilíbrio, o retorno dos fundos tem vindo essencialmente do carrego das estratégias, e nossa postura permanece cautelosa, com mais caixa e prazos médios menores, aguardando eventuais
oportunidades futuras", diz a gestora.
IMA-B 5 com retorno recorde
Mas se de fato os spreads comprimidos têm sido um fator de incômodo para se fazer novos aportes em títulos de crédito privado de baixo risco, por outro lado, os investimentos indexados à inflação especificamente, em especial os de prazos mais curtos (até cinco anos), vêm mostrando uma boa relação risco-retorno, na opinião da Sparta.
A gestora destaca que o índice IMA-B 5, que reproduz o desempenho de uma cesta de títulos públicos indexados à inflação (Tesouro IPCA+) de até cinco anos, atingiu seu recorde de IPCA+8,4% em março deste ano, patamar superior ao de 2016, durante o impeachment da ex-presidente, Dilma Rousseff.
"Nossa avaliação é que atualmente esse índice tem uma assimetria muito favorável. Além de oferecer proteção contra a inflação, um aspecto especialmente relevante no cenário atual, o IMA-B 5 pode antecipar ganhos com uma eventual melhora do mercado", diz a carta de abril.
Vale lembrar que, recentemente, a visão do mercado para a taxa básica de juros no fim deste ano mudou bastante, agora com uma previsão de fechar 2025 em patamar inferior a 15%. Com isso, os juros futuros viram um alívio ao longo do último mês, o que tende a baixar a remuneração de títulos prefixados e indexados à inflação, que acabam se valorizando.
"Apenas para ilustrar: uma redução de 3,0 p.p. (um patamar ainda acima da média histórica), com uma duration de dois anos, geraria um ganho adicional de +6,0%, além do carrego. Neste ano, até abril o IMA-B 5 acumulava alta de +4,9%, frente a +4,1% do CDI", diz a Sparta.
Em outras palavras, fundos indexados ao IMA-B 5 e os títulos atrelados ao IPCA de prazos inferiores a cinco anos chegaram recentemente ao ápice da sua atratividade.
- VEJA MAIS: Faltam 18 dias para o fim do prazo da declaração; confira o passo a passo para acertar as contas com o Leão
No caso dos ativos isentos de imposto de renda então, como as debêntures incentivadas indexadas ao IPCA, a atratividade é maior ainda, justamente devido à isenção de IR.
Diante deste cenário, a Sparta reabriu para captação seu fundo Sparta Debêntures Incentivadas Inflação, que estava fechado há cerca de um ano. "Apesar dos spreads mais comprimidos que a média histórica, consideramos o momento muito favorável, e a janela de captação está limitada a R$ 500 milhões", observou a gestora na carta.
Entre os fundos listados em bolsa da Sparta, o JURO11 é o que tem perfil semelhante. Além disso, na última semana a casa começou a negociar o DIVS11, outro FI-Infra (fundo de debêntures incentivadas com cotas negociadas em bolsa), porém atrelado ao índice IDkA IPCA 5A, o qual reflete os movimentos dos juros futuros de cinco anos e acaba tendo uma duration maior que o IMA-B 5.
Risco de crédito aumentado? As recuperações judiciais
Em relação ao risco de crédito dos emissores de títulos de renda fixa privada, a Sparta observa, na carta, que a quantidade elevada de pedidos de recuperação judicial que vem sendo observada tem levado seus clientes a fazer questionamentos.
No entanto, diz a gestora, a inadimplência se concentra no segmento de micro, pequenas e médias empresas, que não são as emissoras dos títulos de crédito privado nos quais os fundos de renda fixa costumam investir, principalmente quando consideramos que os maiores volumes se concentram nos títulos classificados como high grade.
A Sparta nota que a inadimplência das micro, pequenas e médias empresas não só é estruturalmente mais elevada que a das grandes empresas como está aumentando desde 2021, assim como esteve durante a crise de 2015-16.
"De fato, o Brasil registrou, em 2024, um total de 2.273 pedidos de RJ — o maior número desde o início da série histórica em 2014, segundo dados da Serasa Experian. No entanto, é importante destacar que esse movimento é majoritariamente puxado por empresas de menor porte: micro e pequenas empresas responderam por 1.676 pedidos, médias por 416, enquanto as grandes empresas somaram apenas 181 ocorrências", diz a carta da gestora.
Já o nível de inadimplência das grandes empresas, principais emissores de títulos de renda fixa privada, continua em patamar "bastante confortável", nas palavras da gestora.
"Assim, embora o cenário macroeconômico demande atenção, seguimos com a leitura de que o mercado de crédito privado high grade segue favorável. Ainda assim, temos sido bastante cautelosos com alguns emissores e alguns setores onde entendemos que tenha uma assimetria de riscos desfavorável", conclui a Sparta.
- E MAIS: Calendário de resultados desta semana inclui Petrobras, JBS, Banco do Brasil e outras empresas; acompanhe a cobertura completa de balanços
De SNCI11 a URPR11: Calote de CRIs é problema e gestores de fundos imobiliários negociam alternativas
Os credores têm aceitado abrir negociações para buscar alternativas e ter chances maiores de receber o pagamento dos títulos
Renda fixa capta bilhões em dólar e em real e consolida ‘novo normal’ no primeiro semestre de 2025, diz Anbima
Debêntures incentivadas ganham cada vez mais destaque, e até mesmo uma “alternativa exótica” cresce como opção
Ficou mais barato investir em títulos do Tesouro dos EUA e renda fixa global: Avenue amplia variedade de bonds e diminui valor mínimo
São mais de 140 novos títulos emitidos por companhias de países como Canadá, França e Reino Unido
Perdeu a emissão primária de debêntures da Petrobras (PETR4)? Títulos já estão no mercado secundário e são oportunidade para o longo prazo
Renda fixa da Petrobras paga menos que os títulos públicos agora, mas analistas veem a possibilidade de retorno ou ganho de capital no futuro
Renda fixa vai ganhar canal digital de negociação no mercado secundário com aval da CVM; entenda como vai funcionar
O lançamento está previsto para acontecer neste mês, já com acesso a debêntures, CRIs, CRAs, CDBs, LCIs, LCAs e LIGs
Gestores não acreditam que tributação de títulos isentos vai passar, mas aumentam posição em debêntures incentivadas
Pesquisa exclusiva da Empiricus revela expectativa de grandes gestores de crédito sobre a aprovação da MP 1.303 e suas possíveis consequências
Isa Energia e CPFL são compra em julho. Confira as recomendações de debêntures, CRI e CRA, LCD e títulos públicos para o mês
BB Investimentos, BTG Pactual, Itaú BBA e XP recomendam travar boa rentabilidade na renda fixa agora, diante da perspectiva de taxas menores no futuro
CDB ou LCA: títulos mais rentáveis de junho diminuem taxas, mas valores máximos chegam a 105% do CDI com imposto e 13,2% ao ano isento de IR
Levantamento da Quantum Finance traz as emissões com taxas acima da média do mercado e mostra que os valores diminuíram em relação a maio
“Uma pena o Brasil ter entrado nessa indústria de isento”: por que Reinaldo Le Grazie, ex-BC, vê a taxação de títulos de renda fixa com bons olhos?
MP 1.303 reacende uma discussão positiva para a indústria, segundo o sócio da Panamby, que pode melhorar a alocação de capital no Brasil
Nem toda renda fixa, mas sempre a renda fixa: estas são as escolhas dos especialistas para investir no segundo semestre
Laís Costa, da Empiricus, Mariana Dreux, da Itaú Asset, e Reinaldo Le Grazie, da Panamby, indicam o caminho das pedras para garantir os maiores retornos na renda fixa em evento exclusivo do Seu Dinheiro
Crédito privado conquistou os investidores com promessas de alto retorno e menos volatilidade; saiba o que esperar daqui para frente
Ativos de crédito privado, como FIDCs e debêntures, passaram a ocupar lugar de destaque na carteira dos investidores; especialistas revelam oportunidades e previsões para o setor
Petrobras (PETR4) emite R$ 3 bilhões em debêntures, com taxas que pagam menos que os títulos públicos — mas são consideradas atrativas
A renda fixa da Petrobras, com isenção de imposto de renda, tem apelo significativo neste momento, segundo avaliação da Empiricus
Subiu mais um pouquinho: quanto rendem R$ 100 mil na poupança, em Tesouro Selic, CDB e LCI com a Selic em 15%
Copom aumentou a taxa básica em mais 0,25 ponto percentual nesta quarta (18), elevando ainda mais o retorno das aplicações pós-fixadas; ajuste deve ser o último do ciclo de alta
Acabou a isenção: como as mudanças propostas no imposto de renda dos investimentos podem mexer com os mercados
Investidores podem esperar mudanças nas taxas, nos prazos e nos retornos se propostas da MP 1.303/25, que estabelece imposto de 5% para isentos e alíquota única de 17,5% para demais investimentos, forem aprovadas
LCI, LCA, CRI, CRA e debêntures incentivadas devem perder isenção de IR e passar a ser tributadas; veja regras completas
Governo publicou texto da Medida Provisória com novas regras de tributação para investimentos que inclui tributação de 5% para títulos de renda fixa antes isentos
Estratégia dos gestores: títulos AAA e agro ficam em segundo plano; pitada de risco é bem-vinda para melhorar retornos
Enquanto investidores colocam cada vez mais fichas no crédito privado, gestores enfrentam cenário mais difícil para retornos acima da curva
O que esperar da renda fixa com o fim das altas na Selic e a possível tributação de isentos, como LCI e LCA?
No Touros e Ursos desta semana, Ulisses Nehmi, CEO da gestora de renda fixa Sparta, fala sobre estratégias e riscos diante de um juro tão alto e ameaças de tributação
Renda fixa em junho: Tesouro IPCA+ e debênture da Sabesp são destaques; indicações incluem títulos isentos como CRIs, LCAs e a nova LCD
Veja o que BB Investimentos, BTG Pactual, Itaú BBA e XP recomendam comprar na renda fixa em junho
Não são só as LCIs e LCAs! CRI, CRA e debêntures incentivadas também devem perder isenção; demais investimentos terão alíquota única
Pacote de medidas para substituir o aumento do IOF propõe tributação de 5% em todos os títulos de renda fixa hoje isentos, além de alíquota única de 17,5% nas demais aplicações
Ainda vale a pena investir em LCI e LCA com o imposto de 5% proposto por Haddad? Fizemos as contas
Taxação mexe com um dos investimentos preferidos do investidor pessoa física; LCI e LCA hoje são isentas de imposto de renda