Trump esbraveja, mas Fed segue com juros inalterados à espera do pior
A decisão de não mexer nos juros — que continuam na faixa entre 4,25% e 4,50% ao ano — era amplamente esperada pelo mercado; entenda o que está por trás dessa manutenção

O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) está entre a cruz e a espada: de um lado, as tarifas de Donald Trump não pressionaram os preços como o esperado, abrindo caminho para um corte de juros. De outro, a aceleração da inflação ainda pode estar por vir, afinal, as taxas recíprocas foram anunciadas há apenas dois meses.
Em meio a esse dilema, as autoridades do Fed decidiram nesta quarta-feira (18) manter o botão de pausa pressionado: os juros seguem na faixa entre 4,25% e 4,50% ao ano, como era amplamente esperado pelo mercado.
No comunicado, o comitê de política monetária (Fomc, na sigla em inglês) diz que "a incerteza quanto às perspectivas econômicas diminuiu, mas permanece elevada".
- VEJA TAMBÉM: Quer ter acesso em primeira mão às informações mais quentes do mercado? Entre para o clube de investidores do Seu Dinheiro sem mexer no seu bolso
"Embora as oscilações nas exportações líquidas tenham afetado os dados, indicadores recentes sugerem que a atividade econômica continuou a se expandir a um ritmo sólido. A taxa de desemprego permanece baixa e as condições do mercado de trabalho seguem sólidas. A inflação continua relativamente elevada. O comitê está atento aos riscos para ambos os lados de seu duplo mandato", afirma o documento.
- Para comparar: O comunicado anterior dizia que a taxa de desemprego havia se estabilizado em nível baixo, que a incerteza econômica havia aumentado e que o comitê julgava que os riscos para a aceleração da inflação e aumento do desemprego eram maiores.
A decisão de hoje mira no futuro. No início deste ano, as empresas norte-americanas correram para acumular estoques em antecipação às tarifas de Trump, mas esse suprimento extra vai se esgotar em algum momento.
Só que essa não é uma decisão sem riscos: dados econômicos mais recentes sugerem que rachaduras podem estar se formando no mercado de trabalho dos EUA.
Leia Também
Ainda assim, a reação inicial do mercado é morna. Wall Street seguiu operando em alta assim que a decisão saiu, com o Dow Jones avançando 0,24%, enquanto o S&P 500 e o Nasdaq tinham altas de 0,25% e 0,33%, respectivamente.
Já os títulos do Tesouro norte-americano de dois anos, mais sensíveis à política monetária, aceleraram a queda e atingiram a mínima do dia, a 3,886%.
Por aqui, o Ibovespa manteve os ganhos, com avanço de 0,10%, aos 138.981,98 pontos, enquanto o dólar à vista chegou a inverter o sinal e operar em queda para depois subir 0,01%, a R$ 5,4975.
Como ficam os juros e a economia daqui para frente
Uma boa medida dos riscos que envolvem a política monetária norte-americana veio das previsões dos membros do Fomc, atualizadas a cada três meses e que foram divulgadas hoje.
No centro dessas projeções está o dot plot. O famoso gráfico de pontos do Fed mostra que o banco central norte-americano se mantém no caminho de cortar os juros duas vezes este ano — a mesma previsão feita em março, mês da última atualização feita pelos membros do comitê.
O Fomc, no entanto, passou a prever uma aceleração da inflação em 2025: a estimativa anterior era de 2,7% e agora é de 3,0% — um sinal de que os membros do comitê acreditam que a pressão de preços via tarifas de Trump ainda vai acontecer.
Confira as principais atualizações das projetos do Fomc apresentadas hoje:
Juros
- 2025: mantido em 3,9%
- 2026: 3,6% de 3,4% previstos em março
- 2027: 3,4% de 3,1% previstos em março
- Longo prazo: mantido em 3,0%
PIB dos EUA
- 2025: 1,4% de 1,7% previstos em março
- 2026: 1,6% de 1,8% previstos em março
- 2027: mantido em 1,8%
- Longo prazo: mantido em 1,8%
Inflação medida pelo PCE
- 2025: 3,0% de 2,7% previstos em março
- 2026: 2,4% de 2,2% previstos em março
- 2027: 2,1% de 2,0% previstos em março
- Longo prazo: mantido em 2,0%
Taxa de desemprego
- 2025: 4,5% de 4,4% previstos em março
- 2026: 4,5% de 4,3% previstos em março
- 2027: 4,4% de 4,3% previstos em março
- Longo prazo: mantida em 4,2%
Com as projeções dos membros do Fomc em mãos, o mercado consolidou expectativas de que o Fed retomará cortes de juros a partir de setembro.
De acordo com a ferramenta de monitoramento do CME Group, o comitê reduzirá a taxa referencial em 0,50 ponto percentual (pp) neste ano.
Por que a Selic está tão alta e qual a tendência para os próximos anos?
A pressão política no caminho dos juros
Além da incerteza sobre como as tarifas podem impactar a economia norte-americana, outro obstáculo que o Fed deve enfrentar é a pressão política.
Trump renovou ataques ao banco central nas últimas semanas, dizendo que seu comandante, Jerome Powell, sempre chega "tarde demais" para ajustar os custos dos empréstimos e que "talvez precise forçar algo".
Depois que a criação de empregos em maio superou as expectativas, Trump passou a exigir que o Fed reduzisse os juros em 2,5 pp.
O vice-presidente J.D. Vance se juntou ao coro após o relatório moderado do índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês) de maio, descrevendo a manutenção dos juros altos como "negligência monetária".
Para adicionar mais pressão ainda, Trump disse a repórteres no início deste mês que anunciará sua escolha para substituir Powell "muito em breve" — o mandato do chefe do Fed vence em maio de 2026.
Por isso, o que Powell disse hoje é o que, de fato, interessa ao mercado.
- LEIA MAIS: Quer saber como ter acesso a uma carteira de crédito privado com retornos acima do Tesouro IPCA+? O Seu Dinheiro disponibilizou gratuitamente; veja aqui
Com a palavra, Jerome Powell
O chefe do Fed abriu o discurso reconhecendo que a inflação desacelerou significativamente, mas lembrou que a taxa ainda segue acima da meta de 2% do banco central. O dado oficial mais recente mostra o PCE em 2,1%.
"A moderação da inflação se deve, em parte, aos esfriamento do mercado imobiliário", afirmou Powell.
Ele também voltou a dizer que o mercado de trabalho norte-americano não é uma fonte de pressão inflacionária nos EUA, reforçando a mensagem de que a “política monetária está bem posicionada para responder aos dados”.
"O desemprego tem se mantido em uma faixa estreita e baixa, e um amplo conjunto de indicadores é consistente com o pleno emprego", disse.
Sobre a política comercial, Powell também não teve papas na língua: “O sentimento piorou, refletindo preocupações com a política comercial”.
"As expectativas de inflação de curto prazo subiram. As tarifas são um fator relevante", afirmou Powell. "Os efeitos das tarifas vão depender do nível, mas aumentos neste ano provavelmente pesarão sobre atividade econômica e empurrarão a inflação para cima", disse ele, acrescentando que as projeções dos membros do Fomc estão sujeitas a incertezas — "e elas estão elevadas neste momento".
Ele também explicou que é difícil prever o momento do repasse das tarifas aos preços, mas acredita que esses efeitos poderão ser conhecidos em alguma medida no verão, que no hemisfério norte acontece entre junho e setembro.
O presidente do Fed alertou ainda que esses efeitos podem ser mais persistentes, e que a obrigação do banco central norte-americano é evitar que "um aumento pontual de preços se transforme em um problema inflacionário contínuo".
Para isso, segundo ele, é essencial preservar a confiança nos rumos da política monetária. "Evitar uma inflação persistente depende, em última instância, de manter bem ancoradas as expectativas de inflação de longo prazo".
Vale lembrar que as expectativas de inflação subiram recentemente nos EUA, como reconheceu o próprio Powell durante as declarações na coletiva de hoje.
Líderes e autoridades mundiais se posicionam sobre o conflito entre Irã e Israel; veja as declarações
Aliados e rivais de ambos os países expressam preocupação com a escalada de tensões e pedem moderação para resolver o embate
Irã “vai queimar”, afirma Israel; veja as últimas atualizações do conflito e quais os impactos para a economia global
A ofensiva israelense matou líderes militares iranianos e cientistas nucleares de alto escalão e mercado acompanham conflito com apreensão
O visto de US$ 5 milhões: EUA abrem inscrição para quem quer ter um Trump card
Se você não tem essa quantia, calma — o governo norte-americano tem outra opção, mas as exigências são elevadas
Vão voltar às boas? A nova declaração de Elon Musk que pode mudar os rumos da briga pública com Donald Trump
Há quem diga que um deles pode retomar a amizade depois de declarar arrependimento das declarações recentes
Trump anuncia conclusão de acordo entre EUA e China: ‘O relacionamento está excelente!’
Tarifas, no entanto, permanecem; veja o que disse o presidente americano na sua rede social, Truth Social
Sem prazo para acabar, mas com estratégia sem precedentes: os bastidores das negociações entre EUA e China em Londres
As negociações entre os representantes dos dois países acontecem depois que Trump manteve uma longa conversa por telefone com o presidente chinês, Xi Jinping
Elon Musk que se cuide! No hall da fama da WWE: a saga de Donald Trump nos ringues
O bilionário sul-africano talvez não saiba, mas a briga que ele está puxando é com uma verdadeira lenda certificada dos ringues
Bastidores revelados: o que Trump e Xi conversaram por mais de uma hora em meio à guerra de tarifas
Após meses sem contato direto, presidentes da China e dos EUA conversam por telefone sobre comércio entre as duas potências — mas não foi só isso
Presidente dos EUA quebra o silêncio e Musk dispara: “Sem mim, Trump teria perdido a eleição”
Briga entre Elon Musk e Donald Trump esquenta nesta quinta-feira (5); acusações envolvem subsídios para veículos elétricos, comando da Nasa e suposta “ingratidão” presidencial
A nova tacada de Milei para os argentinos tirarem o dólar debaixo do colchão
A grana guardada não é pouca: o Instituto Nacional de Estatística e Censo estima que US$ 246 bilhões estão fora do sistema bancário do país
Em clima de guerra: Elon Musk se junta à oposição e intensifica ataques ao plano econômico de Donald Trump
Após deixar o governo, Musk amplia críticas ao pacote orçamentário de Trump; bilionário fala em “escravidão por dívidas” e confronta presidente dos Estados Unidos
‘Abominação repugnante’ — Elon Musk e Donald Trump, do ‘match’ político à lavação pública de roupa suja
Elon Musk detona projeto de Donald Trump menos de uma semana após deixar governo dos Estados Unidos
Instabilidade no verão europeu: é seguro viajar para Itália, Turquia e Grécia após erupção do vulcão Etna e terremoto?
Fenômenos naturais atingiram alguns dos destinos mais populares para as férias de julho
Por que o mercado erra ao apostar que Trump vai “amarelar”, segundo a Gavekal
Economista-chefe da consultoria avalia se o excepcionalismo norte-americano chegou ao fim e dá um conselho para os investidores neste momento
Rússia lança maior ataque com drones contra a Ucrânia desde o início da guerra — e tensão no Leste Europeu volta a subir
Segundo a Força Aérea Ucraniana, Moscou lançou 472 drones contra o território ucraniano
Trump dobra tarifas sobre aço e irrita aliados — UE ameaça retaliação, Canadá e Austrália reagem
A decisão norte-americana entra em vigor no dia 4 de junho e reacende as tensões com parceiros comerciais. Veja as reações
Trump encerra a semana com mais um anúncio polêmico: aumento das taxas sobre importações de aço de 25% para 50%
A afirmação foi feita durante um comício para trabalhadores da siderúrgica U.S. Steel em Pittsburgh, na Pensilvânia.
Casa Branca leva a melhor: justiça dos EUA suspende decisão que barrava tarifas de Trump; governo ganha tempo para reverter sentença
Corte de Apelações suspende liminar que derrubava tarifas impostas por Trump; ações são unificadas e prazo para novas manifestações jurídicas vai até 9 de junho
Bolsas se animam com decisão de tribunal americano que barrou tarifas de Trump; governo já recorreu
Tribunal de Comércio Internacional suspendeu tarifas fixa de 10%, taxas elevadas e recíprocas e as relacionadas ao fentanil. Tarifas relacionadas a alumínio, aço e automóveis foram mantidas
Na dúvida, fica como está: ata do Fed indica preocupação com as possíveis consequências das tarifas de Trump
A decisão pela manutenção das taxas de juros passou pelo dilema entre derrubar a atividade econômica e o risco de aumento de inflação pelas tarifas