Lula e Moraes na mira: governo Trump acusa Brasil de censura e deterioração dos direitos humanos
Documento do Departamento de Estado dos EUA critica atuação do STF, menciona o presidente brasileiro e amplia pressão sobre Brasília em meio a mudanças na política externa norte-americana

Está claro que um novo momento nas relações diplomáticas entre Brasília e Washington já havia chegado antes deste dia. Mas, depois de fortes atritos no campo econômico e político, nesta quarta-feira (12) a Casa Branca levou o embate ao terreno dos direitos humanos, denunciando o que chamou de censura e violência presentes no Estado brasileiro, com foco especial na atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) e na figura de Alexandre de Moraes.
“A situação dos direitos humanos no Brasil se deteriorou durante o ano. Os tribunais tomaram medidas amplas e desproporcionais para minar a liberdade de expressão e a liberdade na internet, bloqueando o acesso de milhões de usuários a informações em uma importante plataforma de mídia social em resposta a um caso de assédio”, afirma o relatório logo no primeiro parágrafo.
Dessa vez, a investida não veio de um post do presidente Donald Trump nem de um decreto assinado por ele, mas de um documento oficial do Departamento de Estado dos EUA, órgão equivalente ao Itamaraty no Brasil.
- SAIBA MAIS: O CIO da Empiricus, Felipe Miranda, liberou gratuitamente a série Palavra do Estrategista, que reúne suas melhores ideias; acesse
O relatório integra uma série de documentos divulgados anualmente que avaliam os 196 países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) e é considerado referência mundial, utilizado inclusive em tribunais dos EUA e internacionais.
A publicação desta quarta-feira (12), referente ao ano de 2024, era esperada entre março e abril, mas teve a data adiada pelo governo Trump.
Além das denúncias sobre a situação dos direitos humanos no Brasil, o relatório também critica outros países e aponta que, na Europa, também há “abusos significativos de direitos humanos”.
Leia Também
Já em El Salvador, para onde o governo Trump enviou vários imigrantes deportados e onde governa um aliado do republicano, Nayib Bukele, foi aprovada recentemente a reeleição ilimitada no país.
Lula, Moraes e os direitos humanos, segundo a Casa Branca
Entre as denúncias que citam falhas na segurança, direitos trabalhistas, liberdade de imprensa e violência cometida pelo Estado, o relatório menciona diretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
No caso de Moraes, as críticas miram sua atuação na suposta censura de perfis nas redes sociais. O documento relata ordens tomadas pessoalmente pelo ministro para suspender mais de 100 contas de usuários na plataforma X (antigo Twitter).
A decisão, segundo o relatório, acabou “reprimindo desproporcionalmente a fala de defensores do ex-presidente Bolsonaro em vez de adotar medidas mais restritas para penalizar conteúdos que incitassem ações ilegais iminentes ou assédio”.
Lula é citado em um subtópico dedicado ao antissemitismo, no qual se destaca o aumento de ataques à população judaica no Brasil após os atentados terroristas do Hamas no território israelense em outubro de 2023.
O documento lembra que, em 2024, Lula declarou que “o que está acontecendo na Faixa de Gaza... é um genocídio”. Em seu discurso, ele comparou o ocorrido na Palestina ao “quando Hitler decidiu matar os judeus”.
- LEIA TAMBÉM: Mantenha-se atualizado sobre os balanços das empresas neste 2T25 e acesse gratuitamente análises e recomendações de investimento com o Seu Dinheiro
Justiça, liberdade e violência
A atuação da Justiça brasileira é destacada em diversos trechos do documento.
“A Constituição proíbe prisões e detenções arbitrárias e garante o direito de as pessoas contestarem a legalidade de sua prisão ou detenção na justiça. O governo geralmente cumpriu esses requisitos; no entanto, figuras políticas e grupos de direitos alegaram que o governo manteve centenas de pessoas detidas por vários meses sem apresentar acusações, acusadas de participação nos protestos que levaram à invasão de prédios governamentais em 8 de janeiro de 2023, e que esses manifestantes tiveram negado acesso a advogados.”
Quanto à liberdade de expressão e de imprensa, a atuação do STF também recebeu atenção.
“O governo também suprimiu discursos politicamente desfavorecidos com base na justificativa de que constituíam ‘discurso de ódio’, um termo vago e desvinculado do direito internacional dos direitos humanos."
Quando os tópicos tratam de problemas não diretamente ligados ao governo brasileiro, a postura também é de cobrança.
“As questões significativas de direitos humanos incluíram relatos críveis de: execuções arbitrárias ou ilegais; tortura ou tratamento cruel, desumano ou degradante; prisão ou detenção arbitrária; e graves restrições à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa, incluindo violência ou ameaças de violência contra jornalistas.”
Uma nova leitura do Departamento de Estado dos EUA
O novo relatório anual de direitos humanos dos Estados Unidos sofreu mudanças profundas na gestão de Trump. O documento, tradicionalmente usado como referência internacional para avaliar a situação de liberdades civis e garantias individuais, teve trechos críticos a aliados estratégicos do governo republicano fortemente reduzidos.
No caso de El Salvador, por exemplo, a nova versão afirma que não há “relatos críveis de abusos significativos de direitos humanos” — uma mudança radical em relação ao texto de 2023, que listava execuções ilegais, tortura e condições carcerárias severas.
A seção dedicada a Israel também foi encurtada, deixando de mencionar a crise humanitária e o número de mortos em Gaza, estimado em cerca de 61 mil pelo Ministério da Saúde local.
Ao mesmo tempo, o relatório ampliou as críticas a países com os quais Washington tem se desentendido em diversas frentes. Para países como Brasil e África do Sul, a linguagem ficou mais dura, destacando a deterioração de direitos e problemas institucionais.
No caso sul-africano, o documento fala em “passo preocupante em direção à expropriação de terras” e abusos contra minorias raciais, em sintonia com a narrativa usada por Trump para justificar uma ordem executiva que previa o reassentamento de afrikaners nos EUA.
A Europa também entrou no foco, com alertas sobre suposta supressão de líderes de direita e restrições à liberdade de expressão em países como Romênia, Alemanha e França.
Segundo funcionários do próprio Departamento de Estado, que falaram sob anonimato, o texto foi atrasado por meses para passar por uma reformulação alinhada à agenda America First.
Categorias inéditas como “Vida”, “Liberdade” e “Segurança da Pessoa” foram incluídas, enquanto relatos sobre temas como direitos LGBTQI foram, em grande parte, omitidos.
A porta-voz Tammy Bruce justificou as alterações afirmando que a intenção foi tornar o material mais legível e menos “politicamente tendencioso”, mas evitou responder sobre exclusões específicas.
Críticos, como o ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA, Josh Paul, afirmam que o resultado se aproxima mais de “propaganda” do que de um relatório democrático e isento.
As mudanças acontecem em meio à reestruturação do próprio Departamento de Estado, que incluiu a demissão de centenas de profissionais do Bureau de Democracia, Direitos Humanos e Trabalho, setor historicamente responsável pela elaboração do relatório.
Para figuras influentes do governo, como o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, a prioridade agora é reorientar o documento para refletir os chamados “valores ocidentais”.
*Com informações da Reuters
Banheiro de US$ 1 milhão em Los Angeles provoca polêmica nos EUA
Moradores acusam a prefeitura de gastar demais em uma obra simples, enquanto a cidade corta orçamento de bombeiros e ainda depende de banheiros químicos em parques
O caminho ao Canadá: vistos, cidadania, desafios e estratégias para brasileiros
Especialistas detalham o caminho, os custos e as estratégias para brasileiros que planejam imigrar para o Canadá em meio a novas regras e um cenário mais competitivo
“Você está demitido”: Trump volta a colocar Powell sob a sua mira
Recentemente, uma decisão da Suprema Corte indicou que o presidente dos EUA não tem autoridade para destituir autoridades do Fed à vontade
Copa do Mundo 2026: anfitriões fogem do costume e anunciam três mascotes — mas não é a primeira vez que isso acontece
Copa do Mundo 2026 surpreende com três mascotes oficiais, representando Canadá, Estados Unidos e México. Mas, embora seja raro, essa não é a primeira vez que o torneio tem mais de um personagem símbolo
Argentina recua no desmonte do ‘cepo cambial’ e volta a impor restrição à compra de dólar
O controle argentino é um conjunto de controles às negociações do dólar que historicamente manteve a moeda americana em nível artificial
Trump assina ordem executiva que autoriza permanência do TikTok nos EUA
O republicano afirma que, entre os investidores envolvidos na operação, estão Michael Dell e Rupert Murdoch, com a Oracle tendo “grande envolvimento” no negócio.
Investidores sentem breve alívio com apoio dos EUA à Argentina, mas crise está longe do fim; quais os próximos passos de Milei?
Linha de swap cambial anunciada pelos EUA pode ajudar Milei e seus aliados, que correm contra o tempo para ocupar mais cadeiras no Congresso argentino
Ig Nobel 2025 premia pesquisas sobre vacas listradas, morcegos embriagados e um molho cacio e pepe elevado ao nível da perfeição
Na 35ª edição do Ig Nobel, a premiação mais inusitada da ciência mostra mais uma vez como perguntas estranhas podem render prestígio — e boas risadas
Trump ao resgate de Milei: EUA discutem linha de swap de US$ 20 bilhões com a Argentina, diz secretário do Tesouro
Após a sinalização de que Trump poderia ajudar o projeto liberal de Milei, os ativos financeiros argentinos passaram a se recuperar
O que a China deixou para trás ao abrir mão de privilégios na OMC
Pequim não abandonou o status de país em desenvolvimento, mas renunciou ao SDT — tratamento especial e diferenciado — para reforçar seu papel como potência global
Na ONU, Lula defende a soberania do Brasil e critica tarifas dos EUA, enquanto Trump adota tom amistoso e cita “química” com o presidente brasileiro
Em sua fala, o chefe do Executivo brasileiro afirmou que o mundo assiste à consolidação de uma “desordem internacional” e que a autoridade da ONU está “em xeque”
Bola de Ouro 2025: O trio de (mais de) R$ 2 bilhões — quanto valem os jogadores mais votados no prêmio de melhor do mundo vencido por Dembélé
Ousmane Dembélé leva a Bola de Ouro 2025 e forma, ao lado de Lamine Yamal e Vitinha, um pódio que ultrapassa a marca dos R$ 2 bilhões em valor de mercado
Por que Lula discursa antes de Donald Trump na ONU?
Tradição iniciada nos primeiros anos da ONU garante ao Brasil a abertura da Assembleia Geral, posição que neste ano coloca Lula antes de Donald Trump
Reino Unido, Austrália e Canadá reconhecem Estado Palestino em anúncio histórico antes da Assembleia da ONU
Decisão coordenada aprofunda o isolamento diplomático de Netanyahu; Estados Unidos seguem contrários à medida
Acordo do Mercosul com EFTA abre portas para países ricos, mas não resolve impacto do tarifaço dos EUA
Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein ampliam oportunidades comerciais para o Brasil, mas especialistas veem efeito limitado diante das barreiras impostas por Washington
Quanto você pagaria para assistir à Copa do Mundo de 2026? Supercomputador projeta ingressos mais caros de todos os tempos
Projeções indicam que ingressos para a Copa de 2026 podem custar quase 300% mais que em 2022, com a final chegando a R$ 34,2 mil
Trump engorda fortuna em US$ 500 milhões no segundo mandato — e já é o presidente dos EUA que mais lucrou no cargo, segundo a Forbes
Enquanto em seu primeiro governo Trump perdeu dinheiro com a pandemia, agora aproveita o boom dos criptoativos para engordar sua fortuna
Trump afirma que acordo sobre o futuro do TikTok nos EUA progrediu após ligação com Xi Jinping
Detalhes finais devem ser acertados na reunião entre os líderes das maiores potências mundiais, prevista para acontecer em seis semanas, na Coreia do Sul
Trump não dá o braço a torcer e pede à Suprema Corte ordem de emergência para remover Lisa Cook do Fed
Advogados da diretora do banco central dos Estados Unidos dizem que o pedido de demissão é ilegal e ameaça a economia do país
Senadores dos EUA se organizam para anular tarifas a produtos brasileiros, que levam preços do café e da carne bovina às alturas
Parlamentares democratas e um republicano dizem que tarifas são “impostos corruptos” e “abuso ilegal” do poder presidencial