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Julia Wiltgen
Julia Wiltgen
Jornalista formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com pós-graduação em Finanças Corporativas e Investment Banking pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Trabalhou com produção de reportagem na TV Globo e foi editora de finanças pessoais de Exame.com, na Editora Abril.
Especial do SD

Onde investir 2024: No Tesouro Direto, é a vez dos papéis ‘que ficaram para trás’; veja quais títulos públicos comprar neste ano

Onda de valorização dos prefixados, grandes campeões de 2023, já passou; agora é hora de apostar nos cavalos retardatários

Julia Wiltgen
Julia Wiltgen
4 de janeiro de 2024
6:10 - atualizado às 10:59
Imagem: Montagem Andrei Morais, Envato

As grandes emoções do mercado em 2023 resultaram em um ano de formidáveis valorizações no Tesouro Direto, pois é na volatilidade que os títulos públicos mais arrojados costumam brilhar.

A maioria dos títulos prefixados oferecidos no programa do Tesouro Nacional auferiu rentabilidades entre 20% e 30% no ano, ficando entre os melhores investimentos do período.

Mas essa onda dos prés provavelmente já passou, na visão dos especialistas ouvidos para esta reportagem. E se 2023 foi o ano dos prefixados, em 2024 a balança tende a pender mais para o lado dos papéis que “ficaram para trás” na onda de valorização que se seguiu à descompressão dos juros no Brasil e nos Estados Unidos. Em outras palavras, os títulos indexados à inflação, especialmente os de prazo mais longo.

Já entre os títulos mais conservadores, aqueles atrelados à taxa Selic, o resultado de 2023 ainda foi bom, uma vez que até metade do ano a taxa básica ainda estava no elevado nível de 13,75% ao ano. Em 2024, no entanto, com a continuidade dos cortes nos juros pelo Banco Central, a expectativa é de retornos mais modestos para esses pós-fixados.

Os especialistas ouvidos para esta matéria não concordaram totalmente nas indicações para o Tesouro Direto, mas de forma geral, as orientações para a carteira de títulos públicos em 2024 são reduzir a parcela em Tesouro Selic e Tesouro Prefixado, mas ainda mantendo exposição a ambos; e aumentar a exposição a Tesouro IPCA+, especialmente os de prazo mais longo, para aqueles investidores que aguentarem mais volatilidade.

A seguir, vamos ver as razões para essas recomendações, bem como os vencimentos considerados mais promissores para o ano, lembrando que estamos tratando da parcela da carteira para além da reserva de emergência. Esta deve ser sempre investida em aplicações conservadoras e de liquidez diária, como o Tesouro Selic, independentemente das projeções econômicas e financeiras.

Esta matéria faz parte de uma série especial do Seu Dinheiro sobre onde investir em 2024. Eis a lista completa:

Para esta reportagem, eu conversei com Wilson Barcellos, CEO da Azimut Brasil Wealth Management; Marcos De Marchi, economista-chefe da consultoria de Private Banking e Family Office Oriz Partners; Lais Costa, analista de renda fixa da Empiricus; e Andre Fialho, analista de renda fixa e fundos da Genial Investimentos.

Um breve resumo de 2023 e uma perspectiva para 2024

No ano passado, os juros futuros – apostas dos investidores para as taxas de juros – viveram uma verdadeira montanha-russa no Brasil, mas o saldo final foi uma forte descompressão nas taxas, o que beneficiou os títulos públicos que se valorizam quando os juros futuros caem: os prefixados e os indexados à inflação.

Entre os fatores locais que reduziram as taxas estão a aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária, o controle da inflação, o início do ciclo de cortes na taxa Selic e uma redução do risco político, uma vez que o mercado estava bastante cauteloso em relação a um novo governo Lula no início do ano.

O cenário internacional quase azedou a coisa toda quando os juros dos Treasurys, os títulos do Tesouro americano, dispararam no segundo semestre, em razão de um discurso mais duro do Federal Reserve, o banco central americano, em relação aos juros básicos, que ainda se encontravam em ciclo de alta.

Mas no fim do ano, com uma melhoria dos dados de inflação nos EUA, o Fed encerrou o ciclo de aperto monetário e passou a sinalizar três cortes para 2024, o que animou muito o mercado e contribuiu para aliviar os juros futuros por aqui. Boa parte dos investidores globais passou a prever uma redução nos juros americanos já em março deste ano.

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Assim, o ano terminou brilhante sobretudo para os títulos públicos prefixados, beneficiados não só pela queda dos juros futuros acima do esperado como também pelo alívio inflacionário. Você pode ver o desempenho de cada título público no ano passado nesta outra matéria.

Para 2024, no entanto, os prés já não são mais a principal aposta, uma vez que o grosso dessa valorização parece já ter passado e os títulos se encontram mais bem precificados, diante das expectativas de corte da Selic até a casa dos 9,00% ao ano (com inflação controlada e dentro do intervalo de tolerância da meta) e dos três cortes nos juros americanos. Veja aqui as expectativas dos economistas do mercado para Selic, inflação, câmbio e PIB neste ano.

Veja a seguir o que comprar no Tesouro Direto em 2024:

Onde investir no Tesouro Direto em 2024

Tesouro IPCA+ ainda pode se valorizar e atuar como um seguro

O títulos Tesouro IPCA+, indexados à inflação, oferecem uma relação risco-retorno melhor que os prefixados para 2024, pois de certa forma, ficaram “para trás” na onda de valorização.

“Os prefixados andaram bastante em 2023, mas os IPCA+ nem tanto. Agora estamos recomendando [para os nossos assinantes] essa mudança de indexador, pois existe uma assimetria maior para os indexados à inflação que para os prés”, diz Lais Costa, da Empiricus, que indicou investimento em Tesouro Prefixado 2026 durante boa parte do ano passado.

Para Costa, o IPCA em 2024 poderia até ficar abaixo do centro da meta de 3,00%, mas para os anos seguintes, a pressão inflacionária é para cima, dada a tendência de expansão fiscal do governo atual e eventos potencialmente inflacionários, como a reforma tributária e as eleições municipais. O Tesouro IPCA+ atuaria assim como forma de proteção neste cenário.

Marcos De Marchi, da Oriz, tem visão semelhante. “A gente tem um governo mais propenso a gastar, o que normalmente é associado a uma inflação mais elevada. O governo está tentando arrecadar mais, mas apesar dos esforços, não deve conseguir zerar o déficit no ano que vem. O Tesouro IPCA+ é um seguro, nesse sentido”, diz.

Outro risco inflacionário que está um pouco fora do radar, mas não pode ser descartado, é uma possível recessão nos EUA que leve o dólar a subir novamente ante o real, diz o economista da Oriz.

Seja como for, De Marchi vê os títulos indexados à inflação como excelentes formas de alocar patrimônio e perpetuar valor ao longo do tempo. Segundo um estudo da Oriz citado por ele, desde 2006, um investidor que aplicasse em títulos Tesouro IPCA+ com prazo de cinco anos e os carregasse sempre ao vencimento teria obtido cerca de 140% do CDI no período, uma rentabilidade muito atrativa.

As sugestões dele são, para os investidores mais conservadores e avessos à alta volatilidade que esses títulos podem ter, a compra justamente de Tesouro IPCA+ com prazos em torno de cinco anos. No Tesouro Direto, há um com vencimento em 2029, pagando 5,17% ao ano mais IPCA.

Para quem tem mais estômago, os preferidos são os títulos Tesouro IPCA+ com vencimentos em 2035 ou 2045, que hoje pagam, respectivamente, 5,32% e 5,54% ao ano acima da inflação. Em todos os casos, a preferência seria por mantê-los até o vencimento, a princípio.

“Vivemos tempos mais incertos e com juros e inflação mais altos do que antes da pandemia. É difícil imaginar que o Brasil vai ficar imune a isso. Diante disso, investimentos que pagam juros reais [acima da inflação], são atrativos”, conclui.

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Já Lais Costa prefere os títulos realmente longos, como o Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2055, pois os considera mais eficientes. Hoje, o papel paga 5,44% mais IPCA. “É uma forma de alavancar seu investimento. Você pode investir no título 2055 metade do que colocaria num IPCA+ mais curto, com o mesmo efeito na sua carteira”, explica.

Mas a analista da Empiricus admite que nem todo mundo tolera o sobe e desce nos preços de um título tão longo. Para quem prefere um papel que oscile menos, a sugestão dela é o Tesouro IPCA+ 2035.

Quem também aposta mais no Tesouro IPCA+ do que nos prefixados em 2024 é Andre Fialho, da Genial, que sugere uma estratégia Barbell, isto é, a compra de ativos mais curtos e mais longos, já que a curva de juros dos títulos atrelados à inflação está mais “achatada”, sem grande inclinação. “Dessa forma, o peso nos títulos mais longos, que são mais voláteis, não precisa ser tão grande”, explica.

Os títulos preferidos da Genial são o Tesouro IPCA+ 2026, hoje disponível apenas no mercado secundário (via mesa de operações da corretora), e o Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2055.

Lembrando que as altas e baixas nos preços dos títulos indexados à inflação (e também dos prefixados) são visualizadas pelo investidor quando ele acompanha a sua carteira, mas ele só de fato realiza os ganhos ou perdas se vender o título antes do vencimento. Ao levá-lo até o fim do prazo, ele recebe exatamente a rentabilidade contratada na compra.

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Prefixados ainda têm espaço na carteira

Fialho acredita, no entanto, que para os investidores mais arrojados, os prefixados mais longos fazem sentido ainda, especialmente para serem levados até o vencimento, pois as taxas continuam gordas. Os prés 2029 e 2033, por exemplo, ainda pagam mais de 10% ao ano.

A visão de Wilson Barcellos, CEO da Azimut Brasil, é um pouco diferente das demais, com uma cabeça mais conservadora. Apesar de elogiar muito o trabalho do Banco Central e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ele admite que o risco fiscal ainda é substancial, mantendo um otimismo cauteloso com o país.

Nesse sentido, ele ainda gosta dos prefixados mais curtos (com prazos de até dois anos), que considera que ainda têm uma boa taxa risco-retorno. Hoje, o Tesouro Prefixado 2026, disponível no Tesouro Direto, paga 9,66% ao ano.

“Não dá para apostar tudo no ‘kit Brasil’ e comprar pré longo, ainda. A trajetória é para lá, mas o ímpeto não pode ser tão grande. O Brasil é o mais bem posicionado para receber investimentos de fora. Hoje eu estou menos conservador, mas não tão otimista de achar que o jogo está ganho”, observa, acrescentando que o cenário externo também traz muitas incertezas.

Ainda dá para ganhar dinheiro com o Tesouro Selic

Barcellos, no entanto, admite que a grande onda dos prefixados já passou. Sua preferência, na verdade, ainda são os ativos indexados à Selic e ao CDI, taxa de juros que caminha próxima da taxa básica. No Tesouro Direto, o Tesouro Selic. Com a Selic ainda em 11,75% ao ano, o retorno desses papéis realmente ainda não é de se jogar fora.

Ele diz que, para os próximos seis meses, ainda está mais atrelado aos juros que à inflação. “Eu não zeraria renda fixa para ir para bolsa, mas estou migrando lentamente para os ativos de risco. Só que CDI ainda tem uma taxa fantástica”, ressalta.

Quanto alocar em cada título do Tesouro Direto?

Com base nas recomendações acima, quanto da carteira, afinal, investir em cada título público?

Em seu último relatório de recomendações para o Tesouro Direto de 2023, o Itaú sugere que 30% da carteira de títulos públicos se mantenha em Tesouro Selic (uma redução de alocação frente à recomendação anterior), mantendo 40% em Tesouro Prefixado 2026, para o caso, considerado pelo banco pouco provável, de o Banco Central acelerar os cortes da Selic neste ano, mas ainda assim com uma boa taxa para quem o levar ao vencimento.

Já para o longo prazo, o Itaú reduziu para 10% da carteira de títulos públicos a alocação em Tesouro Prefixado 2029 e incluiu uma recomendação de compra de um título indexado à inflação longo, o Tesouro IPCA+ 2045, com 20% da carteira. Hoje, este papel paga 5,54% ao ano acima do IPCA.

Para as suas recomendações, Andre Fialho, da Genial, indica para os mais arrojados de 30% a 35% da carteira de renda fixa em Tesouro IPCA+ 2026 e de 15% a 20% em Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2055.

“Um investidor mais conservador, no entanto, não deve alocar mais de 10% da carteira no título mais longo. A volatilidade desse papel é similar à do Ibovespa”, alerta.

Finalmente, Lais Costa, da Empiricus, recomenda que o investidor moderado ou arrojado diminua à metade sua exposição a Tesouro Selic (para além da reserva de emergência) e aumente, na mesma proporção, a parcela alocada em Tesouro IPCA+ e prefixados.

O investidor mais moderado e avesso à volatilidade pode colocar 20% do valor retirado do Tesouro Selic em prefixados e o restante em Tesouro IPCA+ 2035; já os mais arrojados, menos avessos à volatilidade, podem colocar metade do valor remanejado em prés e a outra metade em Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2055.

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