Um Big Mac depois da academia: A ação da Petrobras (PETR4) continua subindo, mas é por causa do governo ou apesar dele?
Petrobras estabeleceu recentemente um novo recorde de valor de mercado, mas a razão para isso é diferente daquela que a direção da empresa acredita ser
Já tinha virado rotina, depois de correr 10 km na academia, Paulo saía da esteira e ia direto para o McDonald's.
Não tenho nada contra quem corre, muito menos contra quem come um Big Mac. Mas convenhamos que esse é um hábito um tanto quanto peculiar, especialmente para alguém que estava tão focado em emagrecer, como era o caso do meu amigo.
O mais curioso é que ele realmente estava emagrecendo, já tinha perdido uns 2 kg em dois meses, mesmo com essa média elevada de quase uma mordida por quilômetro.
Mas mais curioso do que esse hábito do meu amigo, foi a justificativa dele.
Por causa disso ou apesar disso?
Ruy: "Paulo, por que você come um Big Mac logo depois de correr. Você não quer emagrecer?"
Paulo: "Você não vai acreditar no que eu vou te dizer agora: o lanche me ajuda a emagrecer".
Leia Também
De Volta para o Futuro 2026: previsões, apostas e prováveis surpresas na economia, na bolsa e no dólar
Tony Volpon: Uma economia global de opostos
Ruy, depois de rolar no chão de tanto dar risada: "Como é que é?"
Paulo, já meio puto comigo: "Pode continuar dando risada, não estou nem aí… Mas a verdade é que já perdi 2 kg graças ao Big Mac".
Sentindo que eu estava prestes a perder uma amizade, segurei a risada, respirei fundo e continuei.
Ruy: "Tá bom, se você está dizendo… Mas por que você acha isso?"
Paulo: "É o seguinte, eu corri bastante logo no primeiro dia que vim para a academia, mas senti muita fome depois e não tive como não parar ali no 'Méqui'. Só que no dia seguinte fiz a mesma coisa, e depois também…
Ruy: "Aham…"
Paulo: "E quando fui me pesar no fim daquela semana, reparei que tinha perdido quase 300g. Você acredita nisso? Está claro que o Big Mac está me ajudando a emagrecer, já estou até pensando em começar a comer dois por dia".
Ruy, depois de rolar no chão pela segunda vez em menos de um minuto: "Cara, você não está perdendo peso por causa do Big Mac, você está perdendo peso apesar dele. O Big Mac não ajuda a emagrecer, nem um pouco, mas você está correndo tanto que mesmo com um lanche por dia você ainda está conseguindo perder peso."
Essa parece uma história absurda, e é mesmo. Mas essa confusão entre as expressões "por causa de" e "apesar de" é muito mais frequente do que você imagina.
Pior, tem gente que se aproveita dessa confusão para propagar algumas informações tão enganosas como a de que o "Big Mac emagrece".
Por causa do governo ou apesar do governo
Na semana passada eu me deparei com uma matéria sobre o novo recorde de valor de mercado da Petrobras (PETR4).
Mas o que realmente me chamou a atenção foram as justificativas que a companhia e seu CEO deram para que tal feito fosse alcançado. Aqui vão elas:
"Entre as medidas que permitiram alcançar tais resultados, a empresa destaca a nova estratégia comercial para gasolina e diesel; o aprimoramento da política de remuneração aos acionistas, que inclui o programa de recompra de ações". Em outra matéria do início do mês, Prates disse que "o recorde é consequência da retomada de investimentos que a nova gestão tem realizado no último ano."
Mas será que foi por isso mesmo?
Me engana que eu gosto
Com relação à mudança da política comercial, a nova estratégia tende a ser pior para os resultados do que a antiga, porque não obriga os preços a seguirem as cotações internacionais, e isso permite que a companhia abra mão de margem para não descontentar a população e o governo, caso o preço lá fora suba.
Essa mudança pode não ter atrapalhado muito os resultados da Petrobras até agora, mas também não ajudou e abre espaço para surpresas negativas no futuro. Ou seja, não foi por causa da estratégia comercial.
Sobre o "aprimoramento da política de remuneração", houve uma clara piora: em julho de 2023, a Petrobras reduziu a distribuição de dividendos de 60% para 45% do fluxo de caixa livre, um corte considerável, e que certamente não deixou nenhum acionista feliz. Ou seja, também não foi por causa da nova remuneração.
Fato Relevante de 28/7/23. Fonte: Petrobras.
Sobre a estratégia de investimentos, também tivemos uma piora. A companhia parou de vender ativos ruins e voltou a aportar dinheiro em negócios com retorno muito baixo, o que afeta a rentabilidade consolidada. Sinto muito, Prates, mas também não foi por causa disso.
Por que a Petrobras continua subindo então?
Por causa do Petróleo e do pré-sal, e apesar do governo.
A verdade é que com o petróleo nos patamares atuais (US$ 80/barril) e com os custos reduzidos por conta do pré-sal, a Petrobras gera um montante absurdo de caixa.
Petróleo tipo Brent. Fonte: Google.
Lembre-se que a Petrobras teve 7 presidentes diferentes nos últimos 6 anos, e mesmo nenhum deles sendo brilhante, os resultados seguiram muito sólidos durante todo esse período. Com o petróleo nos níveis atuais, basta que a gestão não atrapalhe muito para que ela continue gerando valor, mesmo que isso não seja assim tão simples em se tratando de uma estatal.
Fato é que, apesar das mudanças negativas em sua política comercial, de investimentos e de remuneração aos acionistas, o caixa extra gerado com o barril nos preços atuais mais do que compensou as alterações.
Para falar a verdade, a Petrobras poderia gerar resultados ainda melhores se não fossem essas mudanças, assim como meu amigo Paulo poderia emagrecer ainda mais rápido se não comesse um Big Mac por dia.
Mas enquanto as condições permanecerem favoráveis, não há muitos motivos para se preocupar com isso.
Leia também
- 500% de lucro com a queda das ações do Bradesco (BBDC4) — como ganhar dinheiro com empresas com problemas
- Vale a pena investir em empresas de crescimento? Só quando não é o Coringa que toma as decisões
E se a maré parar de ajudar?
O problema é que o preço do petróleo pode mudar bastante, e as alterações recentes na estratégia podem tornar a companhia menos preparada para enfrentar adversidades.
Por exemplo, não tem muito problema gastar mais com investimento em energia eólica, refinarias e tudo o que não for o que realmente gera valor para a companhia – o pré-sal –, mas se o preço do petróleo cair muito, vai começar a faltar dinheiro para essas novas aventuras.
Qual será a estratégia da companhia neste novo cenário, cortar ainda mais os dividendos, ou rever o investimento nesses outros ativos pouco rentáveis?
Se o petróleo começar a subir demais lá fora, a nova política de precificação de combustíveis pode abrir espaço para que a companhia segure os repasses para não desagradar o governo e comece a oferecer subsídios para o diesel e a gasolina, o que já aconteceu no passado e quase destruiu a empresa.
Ou seja, essas mudanças abrem espaço para consequências negativas, ainda que por enquanto não precisamos nos preocupar muito com elas.
Tem coisa mais interessante que a Petrobras na bolsa
Para falar a verdade, apesar de não estar entre as nossas recomendações na Empiricus, eu nem acho que a Petrobras seja um investimento tão ruim assim, desde que seja feito com muita parcimônia e que você entenda que para ser sócio do governo é preciso dormir com um olho aberto.
Mas o que realmente importa nessa história é o acionista entender o verdadeiro motivo da melhora de resultados da companhia, caso contrário correrá o risco de começar a torcer para mudanças que só atrapalham os resultados dela.
Mas existem outras formas de se aproveitar a apreciação do petróleo. Na série Palavra do Estrategista, há uma outra companhia do setor que pode se beneficiar dos preços elevados da commodity, sem que você precise se preocupar em ter o governo como sócio.
- A outra ação de petroleira, recomendada por Felipe Miranda, também faz parte da carteira 10 Ideias da Empiricus Research. Você pode conhecer essa e mais 9 ações recomendadas para compra agora acessando este relatório gratuito.
Um grande abraço e até a semana que vem.
Ruy
As vantagens da holding familiar para organizar a herança, a inflação nos EUA e o que mais afeta os mercados hoje
Pagar menos impostos e dividir os bens ainda em vida são algumas vantagens de organizar o patrimônio em uma holding. E não é só para os ricaços: veja os custos, as diferenças e se faz sentido para você
Rodolfo Amstalden: De Flávio Day a Flávio Daily…
Mesmo com a rejeição elevada, muito maior que a dos pares eventuais, a candidatura de Flávio Bolsonaro tem chance concreta de seguir em frente; nem todas as candidaturas são feitas para ganhar as eleições
Veja quanto o seu banco paga de imposto, que indicadores vão mexer com a bolsa e o que mais você precisa saber hoje
Assim como as pessoas físicas, os grandes bancos também têm mecanismos para diminuir a mordida do Leão. Confira na matéria
As lições do Chile para o Brasil, ata do Copom, dados dos EUA e o que mais movimenta a bolsa hoje
Chile, assim como a Argentina, vive mudanças políticas que podem servir de sinal para o que está por vir no Brasil. Mercado aguarda ata do Banco Central e dados de emprego nos EUA
Chile vira a página — o Brasil vai ler ou rasgar o livro?
Não por acaso, ganha força a leitura de que o Chile de 2025 antecipa, em diversos aspectos, o Brasil de 2026
Felipe Miranda: Uma visão de Brasil, por Daniel Goldberg
O fundador da Lumina Capital participou de um dos episódios de ‘Hello, Brasil!’ e faz um diagnóstico da realidade brasileira
Dividendos em 2026, empresas encrencadas e agenda da semana: veja tudo que mexe com seu bolso hoje
O Seu Dinheiro traz um levantamento do enorme volume de dividendos pagos pelas empresas neste ano e diz o que esperar para os proventos em 2026
Como enterrar um projeto: você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Talvez você ou sua empresa já tenham sua lista de metas para 2026. Mas você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Flávio Day: veja dicas para proteger seu patrimônio com contratos de opções e escolhas de boas ações
Veja como proteger seu patrimônio com contratos de opções e com escolhas de boas empresas
Flávio Day nos lembra a importância de ter proteção e investir em boas empresas
O evento mostra que ainda não chegou a hora de colocar qualquer ação na carteira. Por enquanto, vamos apenas com aquelas empresas boas, segundo a definição de André Esteves: que vão bem em qualquer cenário
A busca pelo rendimento alto sem risco, os juros no Brasil, e o que mais move os mercados hoje
A janela para buscar retornos de 1% ao mês na renda fixa está acabando; mercado vai reagir à manutenção da Selic e à falta de indicações do Copom sobre cortes futuros de juros
Rodolfo Amstalden: E olha que ele nem estava lá, imagina se estivesse…
Entre choques externos e incertezas eleitorais, o pregão de 5 de dezembro revelou que os preços já carregavam mais política do que os investidores admitiam — e que a Bolsa pode reagir tanto a fatores invisíveis quanto a surpresas ainda por vir
A mensagem do Copom para a Selic, juros nos EUA, eleições no Brasil e o que mexe com seu bolso hoje
Investidores e analistas vão avaliar cada vírgula do comunicado do Banco Central para buscar pistas sobre o caminho da taxa básica de juros no ano que vem
Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje
Veja por que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência derrubou os mercados; Magazine Luiza inaugura megaloja para turbinar suas receitas
O suposto balão de ensaio do clã Bolsonaro que furou o mercado: como fica o cenário eleitoral agora?
Ainda que o processo eleitoral esteja longe de qualquer definição, a reação ao anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro deixou claro que o caminho até 2026 tende a ser marcado por tensão e volatilidade
Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza
A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade
Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje
Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana
É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira
As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?
As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas
O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro
Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos
Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário