Na Natura (NTCO3), o plano é dar um glow up nas operações após a venda da Aesop — e sem se desfazer de mais marcas
As ações da Natura (NTCO3) chegaram a subir 7% na abertura, em resposta à venda da Aesop. Conheça a estratégia da empresa a partir de agora
O tão aguardado "movimento transformacional" da Natura finalmente saiu: a empresa acertou a venda da Aesop para a L'Oréal, por US$ 2,52 bilhões — pouco mais de R$ 10 bilhões. Uma operação que, a princípio, agradou o mercado e faz as ações NTCO3 subirem quase 5% nesta manhã, aparecendo acima dos R$ 14,20. Mas... e agora?
É claro que ainda é cedo para falar em impactos materiais para a Natura, até porque o pagamento só será realizado quando a transação for concluída (e, no melhor dos cenários, isso deve acontecer só no terceiro trimestre deste ano). Mas a companhia não hesitou em vir a público para falar sobre os seus planos para o futuro.
"O foco, no momento, está na fusão das operações entre a Natura e a Avon na América Latina", disse Fábio Barbosa, CEO da Natura, em teleconferência com analistas e investidores — algumas sinergias já foram capturadas na região, com testes sendo realizados em países como Peru e Colômbia, mas o processo tende a ser acelerado a partir de agora.
A ideia é bastante direta: enxugar a estrutura operacional na região e reduzir os custos e despesas, de modo a melhorar as margens no continente. E, em linhas gerais, a teleconferência pós-venda da Aesop serviu para reforçar a ideia de mudança de planos por parte da Natura.
Sai a dominação global e a expansão desenfreada por novas geografias, entra a busca por eficiência nos mercados em que a gigante brasileira dos cosméticos já está inserida com alguma de suas marcas — Natura, Avon Internacional e The Body Shop. E a companhia fez questão de deixar uma mensagem bem clara aos participantes da teleconferência:
Não, não vamos mais vender nenhum ativo. A ideia é seguir a estratégia e fazer investimentos que entendemos ser necessários, com disciplina financeira
Guilherme Castellan, CFO e diretor de relações com investidores da NaturaLeia Também
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Natura (NTCO3) sem Aesop: dinheiro no bolso
Os R$ 10 bilhões que serão capturados a partir da venda da Aesop servirão para a Natura (NTCO3) dar um belo glow up em diversas frentes do negócio: além de simplificar as operações, a transação também terá um papel crucial na melhora do perfil de endividamento da companhia.
Ao fim de 2022, por exemplo, a Natura tinha R$ 13,4 bilhões de dívida bruta e pouco menos de R$ 6 bilhões em posição de caixa e equivalentes, o que representa um endividamento líquido de R$ 7,4 bilhões. O dinheiro a ser levantado com a Aesop, assim, trará um belo alívio nesse front.
A dinâmica da dívida da Natura era um dos pontos que vinha trazendo preocupação ao mercado nos últimos meses: as dificuldades operacionais vistas ao longo de 2022 derrubaram o Ebitda da companhia e, com isso, as métricas de alavancagem da empresa dispararam para níveis desconfortáveis.

"Um dos focos será a redução da dívida bruta após o fim da transação", disse Castellan, destacando ainda que uma das prioridades da Natura é o custo da dívida e a melhora do fluxo de caixa em relação aos períodos anteriores. "Prazo de vencimento e custo de dívida, do ponto de vista de fluxo, serão os pontos principais da estratégia".
O perfil da dívida em si não é particularmente problemático: dos R$ 13,4 bilhões de endividamento bruto da Natura ao fim de 2022, apenas R$ 331 milhões tinham vencimento no curto prazo — cerca de 2,5% do saldo total (a companhia, no entanto, não deixa claro o que é considerado como 'curto prazo').
Mas uma análise do resultado financeiro da empresa deixa claro que o endividamento faz um peso relevante sobre a estrutura de capital. Apenas no quarto trimestre, as despesas financeiras chegaram a R$ 1,7 bilhão; no acumulado de 2022, a linha totalizou R$ 7,3 bilhões.
Ou seja: reduzir o custo da dívida, seja pelo pagamento antecipado ou pela substituição por outras ferramentas mais baratas, é um jeito de amenizar o baque vindo do resultado financeiro — e, quem sabe, gerar uma dinâmica menos pressionada para a última linha do balanço.
Natura, Avon e The Body Shop: a estratégia
Bom, se a gigante dos cosméticos não pretende mais se desfazer de ativos, então o que esperar de Natura, Avon e The Body Shop, as três marcas que permanecerão em seu portfólio?
Um dos pontos principais da companhia no curto prazo, como ressaltado no início do texto, é a integração entre a Natura e a Avon na América Latina, de modo a capturar benefícios de sinergia cada vez maiores e aumentar a lucratividade na região — os trabalhos de fusão devem começar no Brasil entre setembro e outubro.
A questão é que a Avon tem uma atuação global (apenas as atividades nos EUA, que foram cindidas do restante do grupo, não pertencem à Natura). E, no que diz respeito aos demais mercados da marca, os planos são mais modestos.
"Há uma dezena de países em que a empresa está indo bem, com crescimento bom", disse Castellan, sem citar nominalmente quais seriam esses mercados. "Queremos nos consolidar neles, expandir a Avon ou a The Body Shop [para novas áreas] não está no nosso mapa de médio prazo ainda".
O foco, em linhas gerais, se dará em países com perfil emergente — os executivos deram a entender que, em determinados mercados em que as condições de crescimento estão mais duras, pode haver até algum tipo de reestruturação da estratégia, incluindo a eventual saída de geografias menos rentáveis.
Quanto à The Body Shop, a Natura já encerrou o braço 'at home' da marca nos EUA; o foco continua sendo a estabilização da linha de frente do negócio principal e a expansão das margens, de modo a apoiar a geração de caixa do grupo como um todo.
"Temos três marcas que estão passando por momentos diferentes, e trabalharemos de jeitos diferentes no curto e médio prazos", disse o CFO. "Ainda tem muita coisa a ser feita na América Latina, mas continuaremos a investir em outros países também, para dar apoio à Avon e a The Body Shop".
O que o mercado achou?
A venda da Aesop era amplamente aguardada, mas os termos acertados junto à L'Oréal agradaram os analistas de grandes bancos. E, nesse front, destaque para o JP Morgan: o banco americano, que já tinha recomendação de compra para as ações NTCO3, também passou a ver com bons olhos os títulos de dívida da companhia.
Em relatório, o JP Morgan lembra que a Aesop foi comprada por pouco mais de US$ 100 milhões em 2012 e, assim, o ganho de capital após a venda será da ordem de US$ 2,4 bilhões — descontados impostos, os recursos líquidos a entrarem no caixa podem chegar a US$ 2 bilhões.
"Destacamos que a venda não resolve os problemas estruturais da Natura, e ainda há riscos de execução relacionados à reestruturação do negócio", destacam os analistas do banco. "No entanto, a operação traz um necessário alívio à posição financeira da companhia, ao mesmo tempo que dá à Natura mais tempo para resolver seus problemas".
Linha semelhante é adotada pelo Goldman Sachs: a venda da Aesop é considerada positiva pela instituição, uma vez que aliviará a pressão sobre a estrutura de capital da Natura e permitirá que a empresa invista na reestruturação da Avon e da The Body Shop.
O Goldman, no entanto, também ressalta que as operações restantes do portfólio da Natura seguem enfraquecidas e podem representar riscos de baixa para as projeções financeiras; o banco ainda diz que os US$ 2,5 bilhões a serem pagos pela L'Oréal ficaram em linha com as expectativas do mercado.
O BTG Pactual fala em destravamento de valor; o Santander, em início de uma nova fase positiva para a Natura; a XP avalia que, com a venda da Aesop, as ações NTCO3 estão muito baratas para serem ignoradas; o Itaú BBA afirma que vai revisitar seu modelo para refletir os impactos positivos do anúncio, apesar dos riscos à tese de investimento.
O tom "cautelosamente otimista" é resumido por um gestor de uma asset em São Paulo que pede para não ser identificado: para ele, a venda da Aesop é um bom começo, aliviando o balanço e reduzindo a complexidade da empresa. "Mas ainda tem muito chão pela frente, muito ativo ruim e mal gerido espalhado pelo mundo..."
Veja abaixo um resumo das recomendações e preços-alvo de alguns dos principais bancos e casas de análise que acompanham a empresa:
| NTCO3 em 3/4: R$ 13,57 | Recomendação | Preço-alvo (R$) | Potencial de alta/baixa |
| JP Morgan | Compra | 24,00 | +76,9% |
| Goldman Sachs | Neutro | 14,00 | +3,2% |
| BTG Pactual | Neutro | 18,00 | +32,6% |
| Santander | Neutro | 12,20 | -10,1% |
| XP | Compra | 22,00 | +62,1% |
| Itaú BBA | Compra | 18,00 | +32,6% |
| UBS BB | Neutro | 17,00 | +25,3% |
| Bradesco BBI | Compra | 16,00 | +17,9% |
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