Melhores destinos para investir no exterior: as ações e setores para quem quer lucrar em dólar, euro e até yuan
Se expor ao dólar, comprar BDRs de uma big tech, apostar em uma gigante europeia ou em um ETF do Japão? Confira nosso “guia de viagem” sobre os mercados gringos

EUA, Europa, Ásia — qualquer um desses lugares pode ser o destino das suas férias — afinal, julho ainda não acabou e dezembro está logo ali. E essas também podem ser as rotas dos investimentos de quem quer aproveitar oportunidades no segundo semestre de 2023 e ter alguma exposição ao mercado gringo.
Se para escolher o destino das próximas férias é necessário pesquisa — de preços, hospedagens e passeios —, decidir em qual mercado investir no exterior não é muito diferente: é preciso medir a temperatura das economias lá fora para entender qual nível de risco você está disposto a assumir.
Nos EUA, por exemplo, o clima segue quente. Depois de um primeiro semestre marcado pelo forte ciclo de aperto monetário e pela crise dos bancos regionais, as bolsas por lá ensaiaram uma retomada e entraram no segundo semestre com o S&P 500 em bull market — muito ajudado pela pausa no aumento dos juros ocorrida em junho.
Na Europa, a tempestade da inflação fora de controle ainda não passou. O Reino Unido já sinalizou que deve continuar subindo a taxa referencial — com o JP Morgan visualizando um pouso forçado da economia que pode levar os juros dos atuais 5% para 7%, um patamar não visto em décadas.
Já a Ásia lida com os ventos contrários que sopram na China. A segunda maior economia do mundo segue crescendo acima da média global, mas o desempenho está longe do esperado, com tropeços em vários setores, incluindo o industrial, afetando o apetite por commodities. Enquanto isso, a economia japonesa está longe do cume dos anos pré-pandemia.
Ainda assim, é possível encontrar boas oportunidades lá fora. O Seu Dinheiro conversou com especialistas sobre os pontos positivos e negativos de cada mercado para ajudar você a escolher o melhor destino internacional para os seus investimentos no segundo semestre de 2023. Aperte o cinto e boa viagem!
Leia Também
Esta matéria faz parte de uma série especial do Seu Dinheiro sobre onde investir no segundo semestre de 2023. Eis a lista completa:
- Cenário macro
- Bolsa
- Renda fixa
- Fundos imobiliários
- Bitcoin e criptomoedas
- Investimentos no exterior (você está aqui)
EUA, o principal destino de turistas e investimentos
Geralmente quando se fala em férias no exterior, a maioria das pessoas pensa logo nos EUA — seja para ir para Disney ou para Nova York. O mesmo acontece quando se trata de investimentos. Afinal, não dá para ignorar o peso das bolsas norte-americanas e muito menos das empresas listadas por lá.
E um desses pesos-pesados é a Nike (NIKE34), uma das apostas de João Piccioni, analista da Empiricus Research. Ele afirma que a gigante de artigos esportivos registrou um resultado financeiro positivo; deve se beneficiar da tendência de queda dos preços das matérias-primas; e está revendo o esquema de vendas por canais próprios, voltando a distribuir produtos em grandes redes norte-americanas.
“A Nike chegou a ser questionada por conta da China, que fechou seu mercado, mas com a reabertura, o impulso de vendas por lá foi retomado”, diz Piccioni.
Outras duas apostas do analista da Empiricus são a Booking (BKNG34) e o banco regional First Citizens. No primeiro caso, Piccioni explica que o verão na Europa e nos EUA deve apoiar o bom desempenho dos papéis da empresa de hospedagens.
“Os indicadores recentes, especialmente de emprego, mostraram que os norte-americanos estão deixando de comprar bens para adquirir serviços. Nessa, a Booking pode se dar bem”, afirma.
Já no caso do First Citizens, Piccioni conta que é um banco tradicional, com mais de 100 anos e controlado por uma mesma família. “São consolidadores. Na crise dos bancos regionais, eles compraram a parte boa do SVB e dobraram a operação com um funding muito barato. Esse cara hoje deveria estar valendo 70% ou 80% mais do que está na tela”, diz.
O analista da Empiricus reconhece que a ação do First Citizens não é barata, sendo negociada na casa dos US$ 1.290 (R$ 6.230). “É uma ação cara, mas acreditamos que é um bom player para se apostar nessa onda de consolidação dos bancos regionais”, acrescenta.
No caso da Nike e da Booking é possível adquirir os papéis via corretoras ou via Brazilian Deposit Receipts (BDRs) — os papéis de empresas listadas em bolsas de valores de outros países que são negociados na B3. Já o investimento no First Citizens precisa ser feito via corretoras que atuem no exterior ou algum fundo que contenha o banco na carteira.
Bolsa americana: destino caro demais?
Mas nem todo mundo está otimista com o mercado norte-americano. Para o estrategista global do research da XP, Paulo Gitz, a bolsa norte-americana ainda está cara. Ele também não acredita que a retomada vista em Wall Street no final do primeiro semestre e começo do segundo vá durar até o fim do ano.
“A economia dos EUA tem se mostrado resiliente, um sinal de que o Fed vai manter sua política de austeridade, com alta de juros e contração do balanço. Outra questão importante que afeta a liquidez é o Tesouro norte-americano, que voltou emitir títulos após o acerto sobre o teto da dívida. Mais título significa menos dinheiro circulando no mercado”, afirma.
Sob essa óptica, Gitz recomenda setores mais defensivos que, nas palavras dele, “não subiram muito esse ano, mas ajudam em caso de correção”. Na ordem de preferência, o estrategista da XP indica: saúde, utilities (utilidades públicas, que englobam empresas de água, luz e gás, por exemplo) e staple (bens de consumo).
A indicação de Gitz é o investimento via ETFs, os chamados fundos de índice. “É a forma mais simples e direta de fazer investimentos que poderiam ser muito complexos e podem ser encontrados na XP, por exemplo. É praticamente impossível para uma pessoa física comprar futuros do S&P 500 e rolar esses futuros ou replicar um índice que tem 500 ações”, afirma.
Os ETFs citados pelo estrategista da XP e que podem ser comprados via corretoras que operam lá fora são:
- Saúde: XLV
- Utilidades públicas: XLU
- Bens de consumo: XLP
Depois dos EUA, uma passadinha na Europa
Se os EUA são o destino que primeiro vem à cabeça de quem quer viajar para fora ou destinar seus recursos, a Europa já é um passo a mais para quem quer se aventurar na gringa — seja passeando ou investindo.
Piccioni, da Empiricus, tem o pé atrás com o Velho Continente. “A economia europeia está patinando, a indústria dá sinais de cansaço, em especial na Alemanha. Apesar de barata, temos o pé atrás com Europa”, diz.
Ainda assim, ele cita a BP (B1PP34) como uma opção interessante na Europa, que também tem BDRs negociadas na B3. “É um papel que já valeu bem mais do que está na tela [453,55 libras ou R$ 2.836] e pode voltar às máximas, ainda mais se a taxa extra pelo preço exagerado do petróleo não for cobrado, aí o papel vai deslanchar”, afirma.
Gitz, da XP, concorda que a Europa está barata, mas tem uma visão mais otimista sobre investimentos na região. “A Europa tem mais upside [potencial de alta] por negociar mais barato. Olhamos para lá do ponto de vista mais de bloco e, nesse sentido, gostamos da região como um todo”, afirma.
Ele explica que a composição dos índices europeus é bem diferente daquela dos EUA, com muito menos peso em tecnologia. “As ações de tecnologia estão caras. Existem setores na Europa muito mais dinâmicos, como o financeiro e o de bens de consumo, que têm empresas gigantes que dão mais peso para a região”, diz.
Embora não tenha recomendado um setor em específico, Gitz mantém a indicação de investimentos na Europa via ETF como a melhor forma de se expor aos papéis do Velho Continente.
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Ásia, do outro lado do mundo para turistas e investidores
Se tem uma coisa que todo mundo concorda é que a Ásia é longe para turistas e para investimentos — ainda mais quando se trata dos investidores pessoa física brasileiros.
Além do fuso horário e de uma dinâmica toda própria de funcionamento da sociedade e da economia, investir do outro lado do mundo não é tarefa fácil.
“Temos uma visão neutra para o Japão. É um mercado difícil, cujo componente da moeda é relevante e depende do banco central, que tem atuação forte na curva de juros. Além disso, tem poucos BDRs como opção para o investidor brasileiro”, diz Gitz, da XP.
No caso da China, apesar das dificuldades, o estrategista diz que é preciso olhar no detalhe já que se trata da segunda maior economia do mundo.
“Tínhamos uma visão positiva para a China, imaginando uma retomada semelhante a 2021, mas não está sendo esse o caso. Os estímulos vieram, mas não como o esperado, o banco central tem cortado as taxas de referência, mas em ritmo bastante lento — e isso decepcionou o mercado”, afirma.
Ele reconhece que, ainda assim, a China cresce mais que os EUA, a Europa ou a América Latina, mas lembra que as tensões geopolíticas impedem as ações chinesas de deslanchar.
Com tudo isso, Gitz chama atenção para o setor de tecnologia chinês, que pode ser acessado pelos investidores pessoa física via ETF, a exemplo do KWEB — que tem nomes como Tecent e Alibaba na sua composição.
Piccioni, da Empiricus, cita ainda um ETF de Japão, o DXJ, que pode ser acessado pelo investidor pessoa física na bolsa norte-americana, mas, para isso, é necessário uma corretora que atue no exterior.
“O Japão tem se destacado como uma economia que tem conseguido ter resultados positivos na indústria — muito por conta da dificuldade da China em reabrir a economia por completo. Não foi à toa que [Warren] Buffett aumentou a sua exposição por lá”, afirma.
VEJA TAMBÉM - DÓLAR ABAIXO DOS R$ 4,50? O QUE ESPERAR DO CÂMBIO E SELIC NA RETA FINAL DE 2023
Dólar, a moeda aceita em qualquer lugar
Quem está planejando uma viagem ao exterior dificilmente deixa de levar uns dólares na carteira — ainda que o destino não seja os EUA. Afinal, a moeda norte-americana é aceita e vale muito em qualquer lugar do mundo.
Esse status de moeda de reserva global ganha ainda mais importância quando o assunto é investimentos no exterior.
“Prefiro olhar para o câmbio do que investir nesta ou naquela ação. A queda do dólar frente ao real é uma oportunidade para a pessoa física começar a fazer aportes no exterior”, diz Rafael Panonko, da Liberta Investimentos.
“Ter alguma exposição ao dólar é indicado ainda mais com um ambiente econômico e político interno um tanto quanto instável”, acrescenta.
Mesmo assim, o economista recomenda a diversificação geográfica para quem quer investir no exterior e diz que os ETFs são o caminho mais simples. Ele cita o IVVB11, um fundo de índice que replica, em reais, a performance do S&P 500 e é negociado na B3, além do TFLO, do IWD e do EWW como opções para quem quer investir via ETF e ter alguma exposição em dólar.
“Os ETFs são um ótimo caminho, mas é importante lembrar que a pessoa física nunca deve olhar a taxa sem olhar o risco”, afirma Panonko, acrescentando que é possível, via bolsa dos EUA, ter exposição a ETFs de outros países como México ou Cingapura.
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