O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, patrocinou a arrancada das bolsas em Nova York nesta quarta-feira (30). O chefão do maior banco central do mundo agradou os investidores ao sinalizar o compromisso com um ritmo mais brando de aumento de juro.
“Faz sentido moderar o ritmo de aumento da taxa à medida que nos aproximamos do nível de restrição que será suficiente para a inflação desacelerar”, disse Powell em um discurso na Brookings Institution.
Mais que isso: o presidente do Fed afirmou que esse momento de moderação no aperto monetário pode vir já em dezembro, quando o comitê tem encontro marcado para os dias 13 e 14.
A reação de Wall Street foi imediata. O Nasdaq subiu para a casa dos 3%, e o S&P 500 passou a avançar mais de 2%, enquanto o Dow Jones ganhou 300 pontos.
Fed: coloca água no chope, tira água do chope
Dá para entender as razões de Nova York ter ganhado tração com a sinalização de Powell — que também tirou o Ibovespa por vermelho por aqui.
Além de o mercado não gostar de juro alto, nos últimos dias as apostas de que o Fed elevaria pela quinta vez seguida a taxa básica em 0,75 ponto percentual (pp) haviam voltado à mesa.
Tudo porque James Bullard, presidente do Fed de Saint Louis, disse no início da semana que o mercado financeiro estava subestimando as chances de o banco central norte-americano se manter agressivo no aperto monetário para controlar a inflação.
Na ocasião, Bullard chegou inclusive a dizer que preferia que o Fed agisse mais rapidamente agora no aumento do juro para que as pressões sobre os preços diminuam ao longo de 2023.
Foi a água no chope do mercado. Se, até então, a maioria dos investidores acreditava em uma alta de 0,50 pp em dezembro, as declarações de Bullard fizeram ressurgir a crença de que outra elevação de 0,75 pp continuava viva para a última reunião do Fed do ano.
Para Beto Saadia, economista e sócio da BRA BS, subir juros muito rápido é como cozinhar em fogo alto: pode queimar o alimento por fora e ainda deixá-lo cru por dentro.
"Toda alta de juro tem uma defasagem temporal, geralmente acima de um ano. É o tempo que leva para uma decisão de juros impactar a economia", lembra Saadia.
Powell coloca a bola no chão
Se fosse na Copa do Mundo, certamente algum narrador diria que o que Powell fez hoje foi colocar a bola no chão e pedir calma para o time.
No discurso, o capitão do Fed reconheceu que o aumento do juro ajuda a equilibrar os riscos de gerenciamento, mas que a desaceleração no ritmo é uma boa maneira de se alcançar esse objetivo.
Nesse sentido, Powell afirmou que continua acreditando em um caminho para uma aterrissagem “suave” — mesmo que o caminho tenha se estreitado no ano passado.
“Gostaria de continuar acreditando que existe um caminho para uma aterrissagem branda ou suave. Nosso trabalho é tentar conseguir isso, e acho que ainda é possível”, disse.