Por que um grupo ligado a Trump se mobiliza para ocupar um cargo obscuro nas próximas eleições nos EUA
Políticos ligados a Trump tentam ganhar os cargos de ‘secretário de Estado de Estado’, função burocrática, mas decisiva para a supervisão das eleições

Faz quase dois séculos que o governo francês incumbiu um aristocrata de viajar aos EUA para elaborar um estudo sobre o sistema prisional norte-americano. Alexis de Tocqueville voltou para a França com apontamentos suficientes para ir muito além do objetivo original da jornada. A viagem ao “Novo Mundo” no início da década de 1830 resultou em “A Democracia na América”, livro que com o passar dos anos foi elevado a clássico do pensamento político liberal.
Quando Tocqueville embarcou na viagem, a França vivia o interregno entre as primeira e segunda repúblicas, passando do rescaldo da Revolução Francesa às consequências do bonapartismo. Interessou-se particularmente pelos princípios que regiam a então jovem nação da América do Norte, cujo território na época estendia-se apenas até a margem leste do Rio Mississippi.
Enxergou na igualdade de condições um valor fundamental ao pleno desenvolvimento de uma democracia. Ainda na avaliação de Tocqueville, o respeito genuíno à ordem, à ponderação entre os poderes, à liberdade e ao direito são os pilares que diferenciam qualquer república de uma ditadura da maioria.
EUA: uma democracia na encruzilhada
Quase 200 anos depois, os princípios celebrados na obra de Tocqueville atravessam uma encruzilhada.
Pode-se dizer que, nas eleições de meio de mandato de 2022 nos EUA, há candidatos ativamente empenhados em sepultar “democraticamente” os princípios que alavancaram a sociedade norte-americana a modelo a ser seguido por admiradores fora de suas fronteiras.
Falamos dos candidatos ligados ao ex-presidente norte-americano, Donald Trump, a um cargo relativamente obscuro, o de secretário de Estado de Estado. Assim mesmo, repetido.
Leia Também
Se na política nacional norte-americana, o secretário de Estado é indicado pelo presidente e equivale à função de ministro de Relações Exteriores, na política local, a função é amplamente burocrática - e definida no voto popular.
Por que então candidatos ligados a Trump organizaram uma coalizão para tomar de assalto as secretarias de Estado nessas eleições?
Porque uma das funções do “secretário de Estado de Estado” é supervisionar o processo eleitoral. E a contestação ao sistema de votação é parte central do discurso - e da estratégia - de Donald Trump para voltar à Presidência dos Estados Unidos.
Nas eleições de meio de mandato (midterms) de 2022, a “America First SOS coalition” reúne-se em torno dos republicanos Mark Finchem, Kristina Karamo, Diego Morales, Jim Marchant e Audrey Trujillo. Eles são candidatos à secretaria de Estado dos Estados de Arizona, Michigan, Indiana, Nevada e Novo México, respectivamente.
O entendimento da relevância do cargo ficou mais claro no rescaldo das eleições de 2020, quando veio à tona uma gravação na qual Trump pressionava o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, a “encontrar” 11.780 votos para dar a ele a vitória no Estado.
A coalizão SOS, sigla em inglês para Secretaria de Estado, conta ainda com o apoio de Kari Lake, candidata ao governo do Arizona, e Doug Mastriano, que busca o governo da Pensilvânia.
- Leia também: Saiba como as eleições do Congresso nos EUA podem pavimentar o caminho para volta de Trump ou consolidar Biden
Todos os Estados citados são considerados chave para o desfecho das eleições nos EUA.
Já os políticos envolvidos com o movimento carregam outras características em comum.
Todos eles alegam que as eleições presidenciais de 2020 teriam sido fraudadas em desfavor de Donald Trump.
Também compartilham profundas conexões com a disseminação de elementos da QAnon, uma teoria conspiratória adotada pela extrema-direita norte-americana segundo a qual Trump seria uma espécie de salvador da pátria.
Caso eleitos, esses políticos se comprometem a “consertar” o país. Por consertar, leia-se redesenhar distritos e alterar o processo eleitoral com o objetivo de levar Trump de volta à Casa Branca em 2024.
É preciso abrir dois parênteses aqui:
- Ao contrário do que ocorre no Brasil, onde o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) centraliza as normas e a supervisão das votações, o sistema norte-americano é descentralizado. Cada Estado tem autonomia para definir as regras das eleições ocorridas dentro de suas fronteiras, mesmo nas votações para presidente.
- Nos Estados Unidos, a votação para presidente é indireta. O que vale é o placar do Colégio Eleitoral. Em 2016, por exemplo, Hillary Clinton teve quase 3 milhões de votos a mais do que Donald Trump nas urnas, mas o magnata ganhou por 304 a 227 no Colégio Eleitoral. Em 2020, Joe Biden precisou de 7 milhões de votos a mais para bater Trump por 306 a 232 no Colégio Eleitoral
Um novo Capitólio à vista nos EUA?
Na avaliação de Rachel Orey, integrante do Projeto de Eleições do Centro de Política Bipartidária, os candidatos da coalizão estão empenhados em abalar a confiança da população no processo eleitoral.
Ela teme a repetição, em 2024, de cenas como as de 6 de janeiro do ano passado, quando partidários de Trump indignados com a derrota do republicano atacaram o Capitólio, em Washington, na tentativa de impedir a declaração da vitória de Biden. Pelo menos cinco pessoas morreram na tentativa de golpe.
Ainda hoje, pesquisas indicam que dois em cada três eleitores do Partido Republicano têm dúvidas sobre a legitimidade do resultado das eleições de 2020.
Bret Schafer, integrante da Aliança Internacional pela Preservação da Democracia, acredita que os EUA sofrerão as consequências da participação desses políticos no processo eleitoral independentemente do resultado.
Se os candidatos da coalizão forem derrotados, seus apoiadores já estarão condicionados a acreditar que só pode ter ocorrido uma fraude. Se eleitos, estarão em uma posição de poder e terão capacidade de influenciar diretamente o resultado das eleições de 2024.
"Ganhem ou percam, isso vai levar mais gente a duvidar da integridade da democracia norte-americana", disse ele à BBC.
Brasil tem muito o que ensinar aos EUA, diz The Economist; para revista, julgamento de Jair Bolsonaro é “lição de democracia”
Reportagem de capa da publicação britânica traça paralelo entre os dois países e elogia a postura da Suprema Corte brasileira — também diz que julgamento do ex-presidente será exemplo para o mundo
A aliança global dos bancos contra o aquecimento global subiu no telhado; o que isso significa?
Entidade enfrentou debandada de grandes instituições financeiras, principalmente dos Estados Unidos
US Open 2025: Depois de ‘virar a chave’ na estreia, Bia Haddad Maia enfrenta Viktorija Golubic hoje; veja horário e onde assistir
Bia Haddad Maia busca embalar no US Open depois de quebrar sequência de derrotas em sua estreia no Grand Slam
Oneflip: o método que ‘hipnotiza’ a inteligência artificial — e é quase impossível de defender ou rastrear
A boa notícia é que o método de invasão analisado exige conhecimento técnico avançado e algum nível de acesso ao sistema onde opera o modelo de inteligência artificial
Natal em risco? Depois de café, suco de laranja e manga, tarifaço dos EUA também pode atingir panetone
Quem aponta este problema iminente é a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias, Pães e Bolos Industrializados (Abimapi)
Filho do bilionário George Soros entra na mira de Trump e pode cair na lei antimáfia — e o motivo tem a ver com o Brasil
O presidente norte-americano ameaçou nesta quarta-feira (27) acusar Alex Soros na lei de organizações corruptas e influenciadas por extorsão
Taylor Swift, Travis Kelce e um anel de noivado avaliado em quase R$ 3 milhões
Anel de noivado de Taylor Swift, com diamante raro de 8 quilates, transforma a joia em peça única e repercute até no mercado financeiro
US Open 2025: após vitória em estreia João Fonseca enfrenta campeão olímpico nesta quarta (27); veja onde assistir
João Fonseca, invicto em estreias de Grand Slam, enfrenta Tomas Machac, campeão olímpico, na segunda rodada do US Open 2025, nesta quarta-feira (27)
Os EUA vão virar a Turquia? O cenário traçado por Paul Krugman, bancos e corretoras após crise no Fed
Depois que o republicano demitiu a diretora Lisa Cook e ela decidiu se defender na justiça, especialistas passaram a questionar a independência do BC norte-americano e tentar saber até onde o chefe da Casa Branca pode ir nessa história
O que está em jogo para Trump com a demissão de Lisa Cook, diretora do Fed?
As tentativas de interferência do republicano no banco central norte-americano adiciona pressão sobre a autarquia, que vem sendo cobrada pelo início da queda de juros nos EUA
Bia Haddad Maia enfrenta ‘carrasca’ em estreia no US Open; veja quanto ela vai faturar caso consiga a revanche e onde assistir
Brasileira Bia Haddad estreia no US Open 2025 em busca do maior prêmio da história do tênis; só por entrar na quadra ela vai receber US$ 110 mil
Quem é a mulher que quer desafiar a ordem de demissão de Trump
Apesar de Trump afirmar que a decisão tem efeito imediato, a diretora do Federal Reserve diz que não pretende sair do cargo
João Fonseca estreia hoje no US Open; veja quanto ele vai faturar se vencer o melhor tenista sérvio depois de Djokovic
Brasileiro João Fonseca estreia no US Open 2025 em busca do maior prêmio da história do tênis; só por entrar na quadra ele vai receber US$ 110 mil
Mísseis hipersônicos: Como os EUA ficaram para trás no mais novo estágio da corrida armamentista com China e Rússia
A guerra entre Ucrânia e Rússia revela contrastes geopolíticos, com destaque para o uso de mísseis hipersônicos no conflito
Lançamento da Starship está previsto para este domingo (24); entenda por que este teste da SpaceX é tão decisivo e saiba como assistir
Após falhas explosivas, o colossal foguete de Elon Musk decola neste domingo em uma missão crucial para os planos do empresário de chegar à Lua e a Marte
Quem é Lisa Cook, a diretora do Fed acusada de fraude pelo governo Trump
Confirmada pelo Senado em 2023 para um mandato que se estende até 2038, Cook se juntou ao banco central em 2022 vinda de uma carreira como pesquisadora acadêmica
Mais um marco na carreira: Roger Federer é o mais novo bilionário do pedaço — e foi graças a um tênis
Mesmo tendo se aposentado em 2022, o tenista continua faturando alto com os negócios fora da quadra
US Open 2025: onde assistir aos jogos de Bia Haddad Maia e João Fonseca na busca pelo título inédito
O US Open 2025 terá a maior premiação da história de uma competição de tênis
R$ 50 bilhões a mais na conta em poucas horas e sem fazer nada: Elon Musk dá a receita
Os mais ricos do mundo ficaram ainda mais ricos nesta sexta-feira após o discurso de Jerome Powell, do Fed; veja quanto eles ganharam
China tenta “furar barreira” dos navios dos EUA na Venezuela com um investimento bilionário
A China Concord Resources Corp (CCRC) iniciou o desenvolvimento de dois importantes campos de petróleo na Venezuela. A ideia é obter 60 mil barris de petróleo bruto por dia até o final de 2026.