Na Totvs (TOTS3), a união com o Itaú (ITUB4) junta a fome com a vontade de comer. Mas a que preço?
A Totvs (TOTS3) ganhará a força do Itaú (ITUB4) para oferecer crédito, produtos e serviços financeiros aos seus clientes, especialmente as pequenas e médias empresas. Mas o valor da operação levantou algumas dúvidas no mercado

A Totvs (TOTS3) nunca escondeu de ninguém o seu desejo de crescer e atuar em diversas fronteiras do setor de tecnologia; o Itaú (ITUB4) sempre foi vocal em seu plano de ampliar a presença junto às pequenas e médias empresas. Uma união entre as duas gigantes de seus setores, portanto, parece um plano perfeito: juntas, elas ganham escala e têm potencial para dominar o mercado de serviços financeiros para as PMEs.
E, de fato, o racional da joint-venture anunciada na noite de terça-feira (12) é bastante direto — a Totvs Techfin terá 50% de participação de cada uma das parceiras e emerge como uma potência inegável entre as fintechs. De um lado, a expertise operacional da Totvs em sistemas de gestão integrados; do outro, o canhão financeiro do Itaú, viabilizando produtos e transações a taxas atrativas.
À primeira vista, o mercado gostou desse aperto de mãos. Por volta de 11h40, as ações ON da Totvs (TOTS3) avançavam quase 6%, superando a barreira dos R$ 37,50 e se aproximando das máximas históricas — e, de quebra, liderando a ponta positiva do Ibovespa. O Itaú (ITUB4) mostra um desempenho mais contido, em leve baixa de 0,4%.
Mas se a união de forças entre as duas empresas mostra bastante potencial, os valores envolvidos na transação levantam algumas dúvidas. Ao todo, o Itaú vai colocar R$ 200 milhões no caixa da joint-venture, pagando outros R$ 410 milhões à vista pelos 50% da Totvs Techfin; outros R$ 450 milhões podem ser desembolsados após cinco anos, a depender do desempenho da empresa.
Ou seja: no melhor dos cenários, estamos falando de uma cifra de pouco mais de R$ 1 bilhão — e se esse valor não é exatamente uma pechincha, ele também não chega a saltar aos olhos, dado o potencial visto pela Faria Lima e pelo Leblon na Totvs Techfin.
É uma equação complexa, que envolve variáveis e potenciais de sinergia a serem conquistados a partir da junção das forças entre Totvs e Itaú. E, sendo assim, convém voltar alguns passos nessa história para explicar melhor os interesses de cada um dos players — e as dúvidas quanto aos valores acertados.
Leia Também

O que é a Totvs Techfin?
Antes de tudo, vale lembrar que a Totvs Techfin já existia: era uma divisão da gigante de tecnologia com foco no oferecimento de serviços financeiros personalizados para empresas. Através do uso de tecnologia e dados, a Totvs (TOTS3) disponibilizava produtos mais competitivos, ágeis e baratos aos seus clientes, mordendo um pedaço da torta dos bancos tradicionais.
É o conceito clássico das fintechs — desburocratizar as finanças corporativas por meio do uso de tecnologia. E uma fintech com o pedigree da Totvs já tem uma vantagem natural em relação às demais, considerando a expertise operacional da companhia no processamento de dados e na criação de sistemas de gestão integrada.
Essa divisão deu um primeiro salto de relevância em 2019, quando a Totvs anunciou a compra da Supplier, uma fintech de crédito B2B (business-to-business, ou comércio entre empresas). A empresa, que já contava com uma enorme gama de clientes, agora poderia oferecer soluções financeiras junto a seus outros serviços.
Em 2021, a divisão Techfin teve receita de R$ 281,5 milhões, mais que o dobro do resultado reportado em 2020. No entanto, os custos de financiamento das atividades da divisão cresceu num ritmo ainda mais elevado: um salto de 189% em um ano, para R$ 90,1 milhões. Sendo assim, a receita líquida de financiamento teve uma expansão menos intensa, de 95%, a R$ 191,4 milhões.
E eis o calcanhar de Aquiles da Techfin: os custos de financiamento. Para oferecer serviços de crédito aos clientes, é preciso ter alguma fonte de financiamento, e a Totvs recorria a um Fundo de Direitos Creditórios (FIDC). Não era a solução mais barata e tampouco a mais farta, mas era a solução do momento.
É aí que entra o Itaú.

Itaú (ITUB4): a solução para o quebra-cabeças
Bem, se há alguém que pode oferecer financiamento neste mundo, esse alguém é um banco do porte do Itaú (ITUB4): ao estabelecer a parceria com a Totvs (TOTS3), a instituição elimina as dúvidas quanto à sustentabilidade dos fundos para a Techfin oferecer seus serviços financeiros aos clientes.
E o que o Itaú ganha com isso? Bem, ele poderá explorar a imensa base de usuários dos sistemas Totvs, especialmente as pequenas e médias empresas. É uma espécie de ganha-ganha:
- Para a Totvs, a união com o Itaú representa financiamento extra e fôlego financeiro, além do oferecimento de mais produtos e serviços financeiros personalizados;
- Para o Itaú, a junção com a Totvs abre as portas para uma gama enorme de clientes em potencial, abrindo uma nova avenida de crescimento e, de quebra, escanteando as fintechs que atuam junto às PMEs.
Com a parceria, a Techfin deixa de ser uma simples divisão da Totvs e passa a ser uma empresa separada. A imagem de junção de forças é bastante efetiva: a joint-venture conta com a expertise operacional e a base de clientes da Totvs, e também com o poder financeiro do Itaú, que pode oferecer crédito a taxas mais atrativas e criar produtos financeiros customizados às PMEs.
Portanto, do lado do racional da operação, tudo parece bastante azeitado. Mas se há fome e há vontade de comer, também há um preço a ser pago pelo banquete — e aqui começam as dúvidas.
Totvs (TOTS3): vendeu barato ou criou valor?
No mercado, é unânime a percepção de que a joint-venture entre Itaú (ITUB4) e Totvs (TOTS3) será positiva para ambas as empresas. No entanto, há um foco de preocupação no que diz respeito aos valores da transação — uma sombra que recai especialmente sobre a companhia de tecnologia.
Vamos fazer algumas contas simples: contando com os R$ 450 milhões que o Itaú poderá desembolsar caso a Totvs Techfin cumpra as metas operacionais, o banco estará pagando R$ 1,06 bilhão por 50% da joint-venture. Portanto, 100% da nova companhia valeria R$ 2,12 bilhões (R$ 1,9 bilhão, descontada a injeção de R$ 200 milhões no caixa).
Essa é uma avaliação justa? Para vários analistas, não — a Totvs Techfin deveria valer mais. O JP Morgan, por exemplo, atribuía um valor de mercado de R$ 3,7 bilhões à divisão; o Credit Suisse estimava uma cifra de pouco mais de R$ 2,2 bilhões.
Isso quer dizer que a Totvs fez um mal negócio? A resposta não é tão simples assim. Primeiro, porque o potencial de ganho futuro a partir da união com o Itaú pode destravar valor de maneira bastante rápida à Techfin, com ganhos de escala e participação de mercado junto às pequenas e médias empresas.
E, em segundo lugar, porque é preciso colocar algumas informações em perspectiva. Voltemos à aquisição da Supplier, em 2019: na ocasião, a Totvs pagou pouco menos de R$ 500 milhões pela empresa, que tornou-se quase 100% da receita da Techfin. Portanto, em cerca de dois anos, o valor de mercado da divisão chegou a R$ 2 bilhões — uma geração e tanto de valor.
Dito isso, o copo meio cheio ou o copo meio vazio dependem agora da execução estratégica dos parceiros recém-formados. Se, de fato, a Techfin passar a oferecer produtos variados e competitivos às empresas que fazem parte da base de clientes da Totvs, dominando o mercado de serviços financeiros às PMEs, a joint-venture pode atingir valores de mercado ainda mais altos em pouco tempo, fazendo jus à visão otimista do Credit Suisse e do JP Morgan.
Mas, caso a integração operacional mostre-se mais lenta que o esperado, Itaú e Totvs podem ser penalizadas, com o otimismo dando lugar à frustração. E, a julgar pela reação dos mercados hoje, o benefício da dúvida está sendo concedido à gigante de tecnologia.
TOTS3: perto da máxima, com espaço para ir além
Com a valorização de hoje, as ações ON da Totvs (TOTS3) já acumulam ganhos de mais de 30% desde o começo de 2022. E, por mais que estejam muito próximas da faixa dos R$ 40,00 — os papéis nunca chegaram a romper esse patamar de preço —, os analistas mostram-se confiantes quanto à continuidade da valorização dos ativos.
Veja abaixo um resumo da visão dos analistas em relação aos papéis TOTS3:
Banco | Recomendação | Preço-alvo | Potencial de alta* |
Morgan Stanley | Compra | 39,00 | +8,9% |
XP | Compra | 48,00 | +34,1% |
Santander | Compra | 40,00 | +11,7% |
Safra | Compra | 37,00 | +3,4% |
JP Morgan | Compra | 43,50 | +21,5% |
Bradesco | Compra | 40,00 | +11,7% |
Bank of America | Compra | 45,00 | +25,7% |
Credit Suisse | Compra | 38,00 | +6,1% |
Em termos de valuation, as ações TOTS3 são negociadas com um múltiplo preço/lucro projetado para o fim de 2022 de 60x, de acordo com dados do TradeMap. O EV/Ebitda ao término do ano é de cerca de 30x.
Dividendos e JCP: saiba quanto a Multiplan (MULT3) vai pagar dessa vez aos acionistas e quem pode receber
A administradora de shopping center vai pagar proventos aos acionistas na forma de juros sobre capital próprio; confira os detalhes
Compra do Banco Master: BRB entrega documentação ao BC e exclui R$ 33 bi em ativos para diminuir risco da operação
O Banco Central tem um prazo de 360 dias para analisar a proposta e deliberar pela aprovação ou recusa
Prio (PRIO3): Santander eleva o preço-alvo e vê potencial de valorização de quase 30%, mas recomendação não é tão otimista assim
Analistas incorporaram às ações da petroleira a compra da totalidade do campo Peregrino, mas problemas em outro campo de perfuração acende alerta
Estreia na Nyse pode transformar a JBS (JBSS32) de peso-pesado brasileiro a líder mundial
Os papéis começaram a ser negociados nesta sexta-feira (13); Citi avalia catalisadores para os ativos e diz se é hora de comprar ou de esperar
Minerva (BEEF3) entra como terceira interessada na incorporação da BRF (BRFS3) pela Marfrig (MRFG3); saiba quais são os argumentos contrários
Empresa conseguiu autorização do Cade para contribuir com dados e pareceres técnicos
“Com Trump de volta, o greenwashing perde força”, diz o gestor Fabio Alperowitch sobre nova era climática
Para o gestor da fama re.capital, retorno do republicano à Casa Branca acelera reação dos ativistas legítimos e expõe as empresas oportunistas
Dividendos e JCP: Telefônica (VIVT3), Copasa (CSMG3) e Neoenergia (NEOE3) pagam R$ 1 bilhão em proventos; veja quem tem direito a receber
A maior fatia é da B3, a operadora da bolsa brasileira, que anunciou na noite desta quinta-feira (11) R$ 378,5 milhões em juros sobre capital próprio
Radar ligado: Embraer (EMBR3) prevê demanda global de 10,5 mil aviões em 20 anos; saiba qual região é a líder
A fabricante brasileira de aviões projeta o valor de mercado de todas as novas aeronaves em US$ 680 bilhões, avanço de 6,25% em relação ao ano anterior
Até o Nubank (ROXO34) vai pagar a conta: as empresas financeiras mais afetadas pelas mudanças tributárias do governo
Segundo analistas, os players não bancários, como Nubank, XP e B3, devem ser os principais afetados pelos novos impostos; entenda os efeitos para os balanços dos gigantes do setor
Dividendo de R$ 1,5 bilhão da Rumo (RAIL3) é motivo para ficar com o pé atrás? Os bancos respondem
O provento representa 70% do lucro líquido do último ano e é bem maior do que os R$ 350 milhões distribuídos na última década. Mas como fica a alavancagem?
O sinal de Brasília que faz as ações da Petrobras (PETR4) operarem na contramão do petróleo e subirem mais de 1%
A Prio e a PetroReconcavo operam em queda nesta quinta-feira (12), acompanhando os preços mais baixos do Brent no mercado internacional
Dia dos Namorados: por que nem a solteirice salva apps de relacionamento como Tinder e Bumble da crise de engajamento
Após a pandemia, dating apps tiveram uma queda grande no número de “pretendentes”, que voltaram antigo método de conhecer pessoas no mundo real
Bradesco (BBDC4) surpreende, mas o pior ficou para trás na Cidade de Deus? Mercado aumenta apostas nas ações e diretor revela o que esperar
Ações disparam após balanço e, dentro da recuperação “step by step”, banco mira retomar níveis de rentabilidade (ROE) acima do custo de capital
Despedida da Wilson Sons (PORT3) da bolsa: controladora registra OPA; veja valor por ação
Os acionistas que detém pelo menos 10% das ações em circulação têm 15 dias para requerer a realização de nova avaliação sobre o preço da OPA
A Vamos (VAMO3) está barata demais? Por que Itaú BBA ignora o pessimismo do mercado e prevê 50% de valorização nas ações
Após um evento com os executivos, os analistas do banco reviram suas premissas e projetam crescimento de lucro para 2025 e 2026
A notícia que derruba a Braskem (BRKM5) hoje e coloca as ações da petroquímica entre as maiores baixas do Ibovespa
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, e o empresário Nelson Tanure falaram sobre o futuro da companhia e preocuparam os investidores
T4F (SHOW3) propõe pagar R$ 1,5 milhão para encerrar processo sobre trabalho análogo à escravidão no Lollapalooza, mas CVM rejeita
Em 2023, uma fiscalização identificou que cinco funcionários da Yellow Stripe, contratada da T4F para o festival, estavam dormindo no local em colchonetes de papelão
Em meio ao ânimo com o Minha Casa Minha Vida, CEO da Direcional (DIRR3) fala o que falta para apostar mais pesado na Faixa 4
O Seu Dinheiro conversou com o CEO Ricardo Gontijo sobre a Faixa 4 do Minha Casa Minha Vida, expectativas para a empresa, a Riva, os principais desafios para a companhia e o cenário macro
Petrobras (PETR4) respira: ações resistem à queda do petróleo e seguem entre as maiores altas do Ibovespa hoje
No dia anterior, a estatal foi rebaixada por grandes bancos, que estão de olho das perspectivas para os preços das commodity
AgroGalaxy (AGXY3) reduz prejuízo no 1T25, mas receita despenca 80% em meio à recuperação judicial
Tombo no faturamento decorre do cancelamento da carteira de pedidos da safrinha de milho, tradicionalmente o principal negócio do período para distribuidoras de insumos agrícolas