O presidente russo, Vladimir Putin, está realmente disposto a fechar as torneiras do gás enviado para a Europa. Nesta segunda-feira (28), o Kremlin informou que está elaborando maneiras de aceitar pagamentos pelas exportações de gás natural em rublos, e que tomará decisões sobre os países que se recusarem a fazê-lo.
Esse é um capítulo da guerra da Ucrânia ainda deve render: de um lado, a Rússia diz que não fará caridade e nem fornecerá gás de graça aos europeus, enquanto, de outro, os países do G-7 (grupo formado por França, Alemanha, Itália, Japão, Estados Unidos, Reino Unido e Canadá) estão alinhados para rejeitar a demanda de Putin.
A primeira vez que o presidente russo falou oficialmente sobre o assunto foi na quarta-feira (23). Na ocasião, ele afirmou que a medida seria adotada dentro de uma semana.
Agora, ele deu um prazo até 31 de março para que o banco central, o governo e a Gazprom — a gigante do gás russo — apresentem propostas para que os países considerados hostis por Moscou paguem em rublos pelo gás.
O que Putin realmente quer com isso?
Desde que invadiu a Ucrânia, em 24 de fevereiro, Putin provocou uma reação em cadeia dos Estados Unidos e aliados em uma tentativa de frear o avanço das tropas russas sobre Kiev.
Embora rejeitem a ideia de pegar em armas e enfrentar Putin no campo de batalha, os países do Ocidente vêm anunciando sanções econômicas e financeiras para tentar estrangular a economia russa e acabar com os recursos que mantêm a invasão.
Para isso, já foram anunciadas sanções ao setor de óleo e gás — as joias da coroa russa —, ao setor industrial e de defesa, aos oligargas e até ao próprio Putin e ao chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov.
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Alguns efeitos das sanções foram imediatos: empresas internacionais deixaram o país, a bolsa de valores teve que ser fechada por semanas e o rublo se desvalorizou.
E é aí que o plano de cobrar na moeda russa pelo gás exportado se encaixa. Esse anúncio significa que os membros da União Europeia que impuseram sanções à Rússia terão que comprar rublos a taxas fixadas pelo banco central russo para pagar pelo gás. A medida reforçaria o rublo, aumentando a demanda por ele.
Abre-se uma porta, mas fecha-se outra
Diante da elevada dependência da Europa do gás russo, o plano de Putin parece um xeque-mate para os rivais do Ocidente. Mas nem tudo que parece, é.
Especialistas apontam que, para ser pago em rublos, a Rússia teria que renegociar seus contratos, abrindo a porta para os países europeus reduzirem a quantidade de gás que compram da Gazprom controlada a cada ano, bem como a duração do contrato.
Além disso, se a Rússia tentar forçar a situação, os países europeus podem levar o país a um tribunal de arbitragem, um processo que pode durar meses ou anos.
"Há muitos aspectos legais que precisam ser resolvidos antes que você possa realmente mudar uma cláusula do contrato. [A exigência de Putin é] praticamente impossível", disse Carlos Diaz, analista de gás e energia da Rystad Energy, com sede em Oslo, disse à RFE/RL.
Os países resistem a Putin
Em entrevista à emissora Welt na sexta-feira (25), o ministro das Finanças alemão, Christian Lindner, contou que aconselhou os fornecedores de energia alemães a não pagarem pelo gás russo em rublos.
Também na semana passada, um importante assessor econômico do governo da Itália disse que seu país continuará pagando à Rússia por energia em euros.
A PGNiG, da Polônia, que tem contrato com a Gazprom até o final do ano, também informou que não pode simplesmente passar a pagar em rublos.
A UE, por sua vez, já indicou que pretende reduzir sua dependência do gás russo em dois terços este ano e acabar com as importações russas de combustíveis fósseis até 2027.