Lula e o risco de cauda: O caminho da servidão
Entre os grandes problemas das últimas semanas está o fato de que o cenário de cauda, ainda que com probabilidade baixa, entrou na conta. Muitos que anteviam apenas mediocridade no governo agora temem o real desastre.

“Afirma-se que o homem é um ser racional, porém, a racionalidade é uma questão de opção — e as alternativas que a sua natureza oferece são estas: um ser racional ou um animal suicida. O homem tem que ser homem — por escolha, ele tem que ter sua vida como um valor; por escolha, tem que aprender a preservá-la; por escolha, tem que descobrir os valores que ela requer e praticar suas virtudes.”
O objetivismo de Ayn Rand, com toda sua defesa da racionalidade, parte de uma premissa aparentemente óbvia: a existência existe. Não há como se escapar das restrições e contingências objetivas. A realidade é real e, mais uma vez apelando a Rand, “você pode ignorar a realidade, mas não pode ignorar as consequências de ignorar a realidade.”
Lembrei-me da essência da filosofia de Rand ao me deparar com as palavras do presidente Lula em evento dos catadores: “a gente não cuida do pobre se ficar vendo estatística, se ficar olhando para a política fiscal do governo, sempre haverá uma prioridade acima dos pobres.”
A seguir por esse caminho, Lula ignora a realidade. Talvez o leitor mais crítico pudesse apontar que o presidente eleito fala para a plateia de ouvintes. Pode até ser, nunca saberemos o que está na cabeça dele. Mas, com notícias em tempo real e grupos de Zap altamente engajados, a plateia é sempre o mundo inteiro.
Lula e a lei das consequências indesejadas
É justamente o contrário. Só se cuida do pobre pensando em estatística. Aqueles que criticaram o uso da cloroquina no combate à covid-19 por falta de evidência empírica e apoio na comunidade científica agora querem fazer política econômica também desafiando a ciência.
Por mais bem intencionadas que possam ser as palavras, ”cuidar do pobre" sem espaço no orçamento aumenta o risco fiscal, o que se traduz em mais taxas de juro, e eleva as expectativas de inflação, porque o governo sempre poderá, num ato inflacionário, emitir mais moeda para cumprir seus compromissos financeiros.
Leia Também
17 X 0 na bolsa brasileira e o que esperar dos mercados hoje, com disputa entre Israel e Irã no radar
Sexta-feira, 13: Israel ataca Irã e, no Brasil, mercado digere o pacote do governo federal
Mais juros implicam menos investimentos, menos crescimento e mais desemprego. Mais inflação aleija justamente as classes mais pobres, desprovidas de alternativas para blindar seu patrimônio. Os rentistas estão lá protegidos no paraíso dos juros altos e nos altos juros reais da NTN-B. Uma opção pela maior concentração de renda, em tese o oposto do desejo original da esquerda. Lei das consequências indesejadas.
Um tiro no pé
Em entrevista que virou meme, Gabriel Galípolo descarta qualquer risco de a inflação subir no pós-pandemia, para ser desmentido pela imposição material da carestia poucos meses depois. Não deveria incomodar tanto o erro da previsão. “Predição é muito difícil, especialmente se for sobre o futuro.”
Tentar antecipar o impermeável futuro é comprar um jazigo no cemitério das reputações. Pra mim, o problema maior da entrevista é sua tentativa de refutar o típico paralelo entre economia doméstica e macroeconomia.
Era algo mais ou menos assim: “você não pode comparar uma família a um país, porque uma família nunca conseguirá dinheiro se estiver muito quebrada. Um país sempre poderá emitir moeda.” Sim, é verdade. O “pequeno" problema é a consequência da emissão de moeda. A senhoriagem, uma prerrogativa do Estado, resulta em inflação, uma espécie de imposto regressivo, cobrado com mais força das classes mais baixas.
A opção até aqui eleva os prêmios de risco, turva o horizonte para investimentos empresariais, estimula saída de capitais do país, faz o dólar subir, embute uma expectativa de alta dos juros em 2023. Com a Selic em 15% e o dólar a R$ 6, não haverá como cuidar do pobre. O governo Lula se inviabiliza em seus anseios mais centrais. É atirar no próprio pé. Fere de morte o princípio da própria racionalidade. "O homem tem que ser homem – por escolha, ele tem que ter sua vida como um valor”.
Começam a circular relatórios de bancos, corretoras e researches independentes com estratégias de investimento para 2023. Em quase todos eles há um consenso sobre o quanto a Bolsa brasileira está barata. O Ibovespa negocia próximo a 6,5x lucros, nível mais baixo desde 2005 e dois desvios-padrão distante da média histórica. O Equity Risk Premium (retorno esperado da Bolsa sobre a renda fixa) do índice também se encontra nas máximas históricas.
Sabemos que, no curto prazo, valuation é um driver menor; acaba sobrepujado pelo fluxo de notícias. O barato fica ainda mais barato se a informação marginal for negativa. O tamanho da atratividade dos preços, porém, chama atenção.
- ESTÁ GOSTANDO DESTE CONTEÚDO? Tenha acesso a ideias de investimento para sair do lugar comum, multiplicar e proteger o patrimônio
Por que estamos tão baratos?
Uma possível explicação está no artigo de Robert Barro, de título “Rare Events and the Equity Premium”, que, em grande medida, se trata de uma atualização mais bem fundamentada (e escrita por um autor mais famoso e respeitado na academia) de Rietz sobre o mesmo tema. A ideia é que os prêmios de risco se alargam quando enxergamos mais probabilidade de eventos raros, os cisnes pretos ou cinzas de Nassim Taleb.
Entre os grandes problemas das últimas semanas está o fato de que o cenário de cauda, ainda que com probabilidade baixa, entrou na conta. Muitos que anteviam apenas mediocridade no governo Lula agora temem o real desastre.
Se falta dinheiro, o governo emite moeda ou aumenta muito os impostos. A inflação dispara. A população vai para rua.
O governo quer atender aos desejos imediatistas. Emite mais moeda para conceder auxílios, pensões, bolsas e afins. A inflação fica mais intensa. Começam os papos de tabelamento, congelamento, confisco, expropriação, ferimento dos direitos de propriedade — esses dois últimos elementos representam a essência do capitalismo e, inclusive, do Parlamento, que nasceu na Inglaterra para proteger direitos econômicos (de propriedade) da burguesia emergente contra os abusos da nobreza.
É o caminho da servidão. Hayek já tinha desenhado a maior das responsabilidades sociais. Uma economia equilibrada. Direito à propriedade privada, respeito aos contratos, obediência às sinalizações do sistema de preços e um Estado que fomente, por meio de bom arcabouço institucional, os três elementos anteriores.
Estamos nos afastando de cada um desses pontos. A racionalidade precisa ser resgatada com urgência. Na direção atual, o governo parece um esquadrão suicida. Se houver alguma acomodação, a recuperação pode ser bem intensa. Por ora, é um grande “se".
Rodolfo Amstalden: Mais uma anomalia para chamar de sua
Eu sou um stock picker por natureza, mas nem precisaremos mergulhar tanto assim no intrínseco da Bolsa para encontrar oportunidade; basta apenas escapar de tudo o que é irritantemente óbvio
Construtoras avançam com nova faixa do Minha Casa, e guerra comercial entre China e EUA esfria
Seu Dinheiro entrevistou o CEO da Direcional (DIRR3), que falou sobre os planos da empresa; e mercados globais aguardam detalhes do acordo entre as duas maiores potências
Pesou o clima: medidas que substituem alta do IOF serão apresentadas a Lula nesta terça (10); mercados repercutem IPCA e negociação EUA-China
Entre as propostas do governo figuram o fim da isenção de IR dos investimentos incentivados, a unificação das alíquotas de tributação de aplicações financeiras e a elevação do imposto sobre JCP
Felipe Miranda: Para quem não sabe para onde ir, qualquer caminho serve
O anúncio do pacote alternativo ao IOF é mais um reforço à máxima de que somos o país que não perde uma oportunidade de perder uma oportunidade. Insistimos num ajuste fiscal centrado na receita, sem anúncios de corte de gastos.
Celebrando a colheita do milho nas festas juninas e na SLC Agrícola, e o que esperar dos mercados hoje
No cenário global, investidores aguardam as negociações entre EUA e China; por aqui, estão de olho no pacote alternativo ao aumento do IOF
Azul (AZUL4) no vermelho: por que o negócio da aérea não deu samba?
A Azul executou seu plano com excelência. Alcançou 150 destinos no Brasil e opera sozinha em 80% das rotas. Conseguiu entrar em Congonhas. Chegou até a cair nas graças da Faria Lima por um tempo. Mesmo assim, não escapou da crise financeira.
A seleção com Ancelotti, e uma empresa em baixa para ficar de olho na bolsa; veja também o que esperar para os mercados hoje
Assim como a seleção brasileira, a Gerdau não passa pela sua melhor fase, mas sua ação pode trazer um bom retorno, destaca o colunista Ruy Hungria
A ação que disparou e deixa claro que mesmo empresas em mau momento podem ser ótimos investimentos
Às vezes o valuation fica tão barato que vale a pena comprar a ação mesmo que a empresa não esteja em seus melhores dias — mas é preciso critério
Apesar da Selic, Tenda celebra MCMV, e FII do mês é de tijolo. E mais: mercado aguarda juros na Europa e comentários do Fed nos EUA
Nas reportagens desta quinta, mostramos que, apesar dos juros nas alturas, construtoras disparam na bolsa, e tem fundo imobiliário de galpões como sugestão para junho
Rodolfo Amstalden: Aprofundando os casos de anomalia polimórfica
Na janela de cinco anos podemos dizer que existe uma proporcionalidade razoável entre o IFIX e o Ibovespa. Para todas as outras, o retorno ajustado ao risco oferecido pelo IFIX se mostra vantajoso
Vanessa Rangel e Frank Sinatra embalam a ação do mês; veja também o que embala os mercados hoje
Guerra comercial de Trump, dados dos EUA e expectativa em relação ao IOF no Brasil estão na mira dos investidores nesta quarta-feira
O Brasil precisa seguir as ‘recomendações médicas’: o diagnóstico da Moody’s e o que esperar dos mercados hoje
Tarifas de Trump seguem no radar internacional; no cenário local, mercado aguarda negociações de Haddad com líderes do Congresso sobre alternativas ao IOF
Crônica de uma ruína anunciada: a Moody’s apenas confirmou o que já era evidente
Três reformas estruturais se impõem como inevitáveis — e cada dia de atraso só agrava o diagnóstico
Tony Volpon: O “Taco Trade” salva o mercado
A percepção, de que a reação de Trump a qualquer mexida no mercado o leva a recuar, é uma das principais razões pelas quais estamos basicamente no zero a zero no S&P 500 neste ano, com uma pequena alta no Nasdaq
O copo meio… cheio: a visão da Bradesco Asset para a bolsa brasileira e o que esperar dos mercados hoje
Com feriado na China e fala de Powell nos EUA, mercados reagem a tarifas de Trump (de novo!) e ofensiva russa contra Ucrânia
Você já ouviu falar em boreout? Quando o trabalho é pouco demais: o outro lado do burnout
O boreout pode ser traiçoeiro justamente por não parecer um problema “grave”, mas há uma armadilha emocional em estar confortável demais
De hoje não passa: Ibovespa tenta recuperação em dia de PIB no Brasil e índice favorito do Fed nos EUA
Resultado do PIB brasileiro no primeiro trimestre será conhecido hoje; Wall Street reage ao PCE (inflação de gastos com consumo)
A Petrobras (PETR4) está bem mais próxima de perfurar a Margem Equatorial. Mas o que isso significa?
Estimativas apontam para uma reserva de 30 bilhões de barris, o que é comparável ao campo de Búzios, o maior do mundo em águas ultraprofundas — não à toa a região é chamada de o “novo pré-sal”
Prevenir é melhor que remediar: Ibovespa repercute decisão judicial contra tarifaço, PIB dos EUA e desemprego no Brasil
Um tribunal norte-americano suspendeu o tarifaço de Donald Trump contra o resto do mundo; decisão anima as bolsas
Rodolfo Amstalden: A parábola dos talentos financeiros é uma anomalia de volatilidade
As anomalias de volatilidade não são necessariamente comuns e nem eternas, pois o mercado é (quase) eficiente; mas existem em janelas temporais relevantes, e podem fazer você ganhar uma boa grana