Um mundo tomado pela inflação: entenda a que é preciso prestar atenção para saber se os preços vão finalmente parar de subir
O processo de normalização dos preços será fundamental para que consigamos ter maior previsibilidade quanto ao futuro dos ativos de risco

É provável que quando estas palavras forem lidas, o mercado já saiba do resultado da inflação oficial de julho, a ser divulgada nesta terça-feira (8), medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por meio do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em sendo o caso, muito provavelmente já teremos verificado se de fato tivemos deflação no mês passado.
Enquanto escrevo, a mediana das estimativas aponta para uma queda de 0,66% na comparação mensal (a maior deflação do Plano Real), em contraposição à alta de 0,67% verificada em junho.
Assim, a taxa de inflação acumulada nos últimos 12 meses poderá recuar de 11,89% para 10,09%. Sim, ainda estamos em dois dígitos, mas a forte desaceleração deverá continuar a ser observada ao longo dos próximos meses.
O motivo da queda da inflação?
Bem, não é segredo para ninguém que o mundo vive um choque inflacionário não verificado há muito tempo, em especial nas economias desenvolvidas, como comentarei mais abaixo.
Acontece que tal movimento já dá sinais de arrefecimento ao redor de todo o globo, desaceleração que também é já vista no Brasil, como os dados de julho devem nos mostrar.
No Brasil, mais do que em outros países, a desinflação, ou até mesmo deflação, também é resultado de três outros esforços:
Leia Também
- i) Estamos já no final do ciclo de aperto monetário: o Banco Central decidiu em seu último Comitê de Política Monetária (Copom) elevar em mais 50 pontos-base a Selic para 13,75% ao ano, podendo encerrar o ciclo neste patamar ou em 14%, uma vez que deixou a porta aberta para mais um ajuste marginal de 25 pontos em setembro, a depender de como os dados se comportarem até lá (mais sinais como o do IPCA de hoje podem servir para que o ciclo de aperto seja encerrado em 13,75% mesmo);
- ii) Os efeitos das desonerações nos preços dos combustíveis e energia: na última rodada de tratativas legislativas do semestre passado, o governo emplacou uma série de pacotes que visavam a combater o processo inflacionário que vivíamos, tanto aliviando impostos, como concedendo auxílios a várias categorias profissionais que estavam passando por aperto; e
- iii) O recente corte da gasolina pela Petrobras: temos observado que a Petrobras vem reduzindo o preço dos combustíveis nas refinarias, em resposta às novas políticas administrativas, mais sensíveis às demandas do governo, e à queda recente do petróleo em nível internacional.
O que devemos observar hoje
Os movimentos já devem encontrar certa maturação no dado de hoje, o que explica o número já convergindo para uma normalização do processo inflacionário até 2024, como vimos no gráfico apresentado anteriormente.
Falo 2024 porque o mercado, assim como provavelmente o BC, já entende a batalha contra a inflação em 2023 como perdida, em especial por conta da volta dos impostos cortados ao longo de 2022.
Eventuais choques de preços internacionais, derivados de questões geopolíticas, também podem acontecer, o que pressionaria novamente o terceiro item, mas tudo o mais constante, devemos ter uma convergência da inflação para a meta do BC até 2024, como uma pequena nova aceleração em 2023 (veja o gráfico anterior).
Outra coisa importante para observarmos nesta terça-feira será justamente sobre o primeiro ponto, uma vez que teremos a apresentação da ata do último Copom, como mencionado acima.
O documento deve dar detalhes sobre a visão da autoridade monetária, confirmando o final de ciclo, se não agora em 13,75% ao ano, em setembro aos 14% — com a inflação já caminhando para a normalidade, não há necessidade de ir muito além disso.
Aliás, muitos players do mercado ponderam o fato de mais um erro do BC, desta vez para cima, em contraposição à manutenção em demasia do patamar de 2% anteriormente (outro equívoco).
- ESTÁ GOSTANDO DESTE CONTEÚDO? Tenha acesso a ideias de investimento para sair do lugar comum, multiplicar e proteger o patrimônio.
A inflação nos Estados Unidos
Ao mesmo tempo, o tema também reserva os dados de inflação americana, que já está em seu patamar mais acelerado em 40 anos, tendo registrado 9,1% nos últimos 12 meses em junho.
Assim como no Brasil, o ideal é que a inflação americana começasse a convergir para baixo, com as expectativas apontando para uma desaceleração aos 8,7% no acumulado de 12 meses finalizados em julho.
No entanto, como o dado já tem mostrado há algum tempo (em sete das últimas 11 apresentações do dado de inflação oficial americana, tivemos um número maior do que o esperado), podemos ter uma surpresa negativa.
Se o dado de inflação ao consumidor americano será divulgado na quarta-feira (10), também será importante acompanharmos os dados de inflação ao produtor dos EUA, a serem apresentados na quinta-feira (11), podendo mostrar uma continuidade da desaceleração verificada desde abril (no núcleo do índice).
Segundo as estimativas do mercado, o núcleo produtor, que exclui os itens mais voláteis, deverá cair de 8,2% na comparação anual para 7,6%. A normalização dos preços pelo lado da oferta, pois indica que nos próximos meses teremos menos pressões das empresas sobre os consumidores, uma vez que a necessidade de repasse de preço cai gradualmente.
Em poucas palavras, a semana será muito importante para balizarmos nossas expectativas de inflação não só do Brasil, mas dos EUA também.
Vivemos um período muito atípico de preços mais elevados por diferentes razões. O processo de normalização dos preços, rumo à estabilidade, será fundamental para que consigamos formar maior previsibilidade quanto ao futuro dos ativos de risco.
Planos pré-feriado: Ibovespa se prepara para semana mais curta, mas cheia de indicadores e balanços
Dados sobre o mercado de trabalho no Brasil e nos EUA, balanços e 100 dias de Trump são os destaques da semana
Agenda econômica: Balanços, PIB, inflação e emprego estão no radar em semana cheia no Brasil e no exterior
Semana traz IGP-M, payroll, PIB norte-americano e Zona do Euro, além dos últimos balanços antes das decisões de juros no Brasil e nos Estados Unidos de maio
Agenda intensa: semana tem balanços de gigantes, indicadores quentes e feriado
Agenda da semana tem Gerdau, Santander e outras gigantes abrindo temporada de balanços e dados do IGP-M no Brasil e do PIB nos EUA
Vai dar zebra no Copom? Por que a aposta de uma alta menor da Selic entrou no radar do mercado
Uma virada no placar da Selic começou a se desenhar a pouco mais de duas semanas da próxima reunião do Copom, que acontece nos dias 6 e 7 de maio
Deixa a bolsa me levar: Ibovespa volta a flertar com máxima histórica em dia de IPCA-15 e repercussão de balanço da Vale
Apesar das incertezas da guerra comercial de Donald Trump, Ibovespa está a cerca de 2% de seu recorde nominal
Tudo tem um preço: Ibovespa tenta manter o bom momento, mas resposta da China aos EUA pode atrapalhar
China nega que esteja negociando tarifas com os Estados Unidos e mercados internacionais patinam
Agora 2025 começou: Ibovespa se prepara para seguir nos embalos da festa do estica e puxa de Trump — enquanto ele não muda de ideia
Bolsas internacionais amanheceram em alta nesta quarta-feira diante dos recuos de Trump em relação à guerra comercial e ao destino de Powell
Banco Central acionou juros para defender o real — Galípolo detalha estratégia monetária brasileira em meio à guerra comercial global
Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Gabriel Galípolo detalhou a estratégia monetária do Banco Central e sua visão sobre os rumos da guerra comercial
Trump x Powell: uma briga muito além do corte de juros
O presidente norte-americano seguiu na campanha de pressão sobre Jerome Powell e o Federal Reserve e voltou a derrubar os mercados norte-americanos nesta segunda-feira (21)
É recorde: preço do ouro ultrapassa US$ 3.400 e já acumula alta de 30% no ano
Os contratos futuros do ouro chegaram a atingir US$ 3.433,10 a onça na manhã desta segunda-feira (21), um novo recorde, enquanto o dólar ia às mínimas em três anos
A bolsa de Nova York sangra: Dow Jones cai quase 1 mil pontos e S&P 500 e Nasdaq recuam mais de 2%; saiba o que derrubou Wall Street
No mercado de câmbio, o dólar perde força com relação a outras moedas, atingindo o menor nível desde março de 2022
Agenda econômica: é dada a largada dos balanços do 1T25; CMN, IPCA-15, Livro Bege e FMI também agitam o mercado
Semana pós-feriadão traz agenda carregada, com direito a balanço da Vale (VALE3), prévia da inflação brasileira e reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN)
IPCA de março é o mais alto para o mês desde 2023, mas esse ativo pode render acima da inflação; conheça
Com o maior IPCA registrado para o mês de março desde 2023, essa estratégia livre de IR pode ser ainda mais rentável que a inflação, aponta EQI
Show de ofensas: a pressão total de Donald Trump sobre o Fed e Jerome Powell
“Terrível”, “devagar” e “muito político” foram algumas das críticas que o presidente norte-americano fez ao chefe do banco central, que ele mesmo escolheu, em defesa do corte de juros imediato
Por essa nem o Fed esperava: Powell diz pela primeira vez o que pode acontecer com os EUA após tarifas de Trump
O presidente do banco central norte-americano reconheceu que foi pego de surpresa com o tarifaço do republicano e admitiu que ninguém sabe lidar com uma guerra comercial desse calibre
Até tu, Nvidia? “Queridinha” do mercado tomba sob Trump; o que esperar do mercado nesta quarta
Bolsas continuam de olho nas tarifas dos EUA e avaliam dados do PIB da China; por aqui, investidores reagem a relatório da Vale
Temporada de balanços 1T25: Confira as datas e horários das divulgações e das teleconferências
De volta ao seu ritmo acelerado, a temporada de balanços do 1T25 começa em abril e revela como as empresas brasileiras têm desempenhado na nova era de Donald Trump
Bitcoin (BTC) sustenta recuperação acima de US$ 84 mil — mercado cripto resiste à pressão, mas token Mantra despenca 90% sob suspeita de ‘rug pull’
Trégua nas tarifas de Trump e isenção para eletrônicos aliviam tensões e trazem respiro ao mercado cripto no início da semana
Dia de ressaca na bolsa: Depois do rali com o recuo de Trump, Wall Street e Ibovespa se preparam para a inflação nos EUA
Passo atrás de Trump na guerra comercial animou os mercados na quarta-feira, mas investidores já começam a colocar os pés no chão
Países do Golfo Pérsico têm vantagens para lidar com o tarifaço de Trump — mas cotação do petróleo em queda pode ser uma pedra no caminho
As relações calorosas com Trump não protegeram os países da região de entrar na mira do tarifaço, mas, em conjunto com o petróleo, fortalecem possíveis negociações