O fluxo estrangeiro parece estar sustentando o Ibovespa acima dos 110 mil pontos, apesar do cenário difícil para as ações no mundo todo.
Tanto o Fed quanto o BCE devem continuar subindo o juro em ritmo forte, o que torna a situação especialmente complicada para as bolsas emergentes.
Entretanto, esse não parece ser o caso da B3: em agosto, o fluxo estrangeiro está positivo em R$ 18 bilhões até o momento.
O cenário no Brasil
O nosso avançado aperto de juro pode explicar parte desse movimento. Já estamos com a Selic em território contracionista há cerca de um ano, ao contrário das principais economias, tanto as desenvolvidas quanto as emergentes.
Ainda, novos dados macroeconômicos reforçam, aos poucos, que o fim da alta de juro se aproxima: dados do mercado de trabalho divulgados ontem mostram mais uma desaceleração na geração de vagas, sugerindo que a política monetária está, finalmente, surtindo efeito na economia real.
Infelizmente, é preciso alguma desaceleração econômica para trazer a inflação de volta ao rumo, o que parece estar acontecendo.
Nisso tudo, é possível enxergar um fim para o aperto monetário aqui no Brasil, e isso não pode ser dito dos demais países emergentes.
O petróleo e o fluxo estrangeiro
A persistência do petróleo alto pode justificar outra parte da entrada de capital. Como tem sido comum no pós-pandemia, uma confluência de fatores sustenta o barril acima dos US$ 100.
Desta vez, é a perspectiva de a OPEP+ reduzir sua produção, além da temporada de furacões no Atlântico e do impasse no acordo nuclear entre Ocidente e Irã.
Não menos importante, ainda temos uma oferta estruturalmente apertada da commodity, diante dos baixos investimentos em capacidade nos últimos anos.
A Petrobras, que responde por 13% do Ibovespa, acaba se beneficiando disso: a estatal foi a maior pagadora de dividendos do mundo neste terceiro trimestre.
Ibovespa e o valuation descontado
O valuation depreciado do Ibovespa também não poderia deixar de ser mencionado como um fator.
Mesmo depois da alta recente, o índice continua negociando a um múltiplo agregado de 7x o lucro projetado para os próximos 12 meses, desconto maior que 30% frente a média histórica.
Preço de entrada importa; aliás, talvez essa seja a variável mais relevante, individualmente, para determinar o retorno futuro.
Assumindo que o país não vai quebrar, pode-se enxergar uma janela convidativa em termos de preço.
Já convenceu o grigo, mas e o investidor local?
Apesar de esses fatores estarem atraindo o gringo, o investidor local ainda não parece convencido.
Os fundos multimercado estão alocando menos de 5% dos seus portfólios em ações, versus média histórica de 13%.
Posicionar-se forte em bolsa brasileira não é, portanto, uma visão consensual. Afinal de contas, temos à frente uma eleição que pode mudar acentuadamente a condução da política econômica do país.
Há preocupações sobre a responsabilidade fiscal nos próximos anos: se o governo, seja ele qual for, passar a gastar estruturalmente mais, a queda dos juros fica, também estruturalmente, menos viável. Podemos conviver com os juros altos por muito tempo ainda.
Retornos acima da média
Entretanto, não podemos perder de vista que, não fossem esses riscos, o Ibovespa não estaria tão barato.
É preciso ir contra o consenso para gerar retornos acima da média, mesmo que isso signifique correr o risco de estar errado.
Passando as eleições, e assumindo que o próximo presidente fixará alguma âncora fiscal crível, os investidores profissionais se posicionarão com velocidade.
Talvez, o risco real para mim e para você, investidores comuns, seja dormir no ponto.
Um abraço,
Larissa Quaresma