Os investidores já sabiam que esta semana não seria fácil para o Ibovespa. Com a liquidez reduzida por mais um feriado e o ambiente externo desafiador, a sexta-feira (22) não era favorável a ganhos elevados.
O que eles não imaginavam, porém, é que a volta do feriado traria uma deterioração ainda maior para o cenário global e marcaria o retorno triunfal de um velho conhecido dos brasileiros: o risco político.
Falas de importantes autoridades monetárias, incluindo os presidentes dos bancos centrais dos Estados Unidos e Europa, voltaram a acender o alerta para os riscos da inflação. Com isso, as bolsas norte-americanas encerraram o dia em quedas de 2,5% a 2,8%.
Por aqui, o presidente Jair Bolsonaro deu mais combustível para a aversão ao risco do mercado ao voltar a elevar a temperatura de sua interminável queda de braço com o Supremo Tribunal Federal (STF).
O resultado da combinação entre os temores globais e locais foi uma queda de 2,86% do Ibovespa. O principal índice acionário da B3 por pouco não encerrou a sessão abaixo da linha dos 111 mil, terminando o dia em 111.077 pontos, menor nível desde 16 de março. O tombo chega a 4,39% na semana.
Já o dólar, que se alimenta do ambiente caótico, deu um salto que só não foi maior graças ao freio do Banco Central. A instituição vendeu US$ 571 milhões em um leilão para conter a alta. Ainda assim, a moeda norte-americana subiu 4%, cotada em R$ 4,8051.
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Sobe e desce
Com a queda brusca do índice, apenas uma ação registrou alta hoje. A sobrevivente foi a Copel (CPL6), que subiu 1,22%, aos R$ 7,44.
Já na ponta negativa do Ibovespa a competição foi grande, mas os destaques foram as empresas ligadas a commodities e tecnologia. Veja abaixo:
CÓDIGO | NOME | PREÇO | VARIAÇÃO |
CSNA3 | SID NACIONAL ON | R$ 22,03 | −7.59% |
LWSA3 | LOCAWEB ON | R$ 7,91 | −6.17% |
VALE3 | VALE ON | R$ 80,15 | −6.15% |
IGTI11 | IGUATEMI UNT | R$ 20,17 | −5.57% |
COGN3 | COGNA ON | R$ 2,52 | −5.26% |
Previsões sombrias
A tempestade econômica que levou ao tombo do Ibovespa e disparada do dólar hoje começou a se formar ontem, durante o feriado de Tiradentes no Brasil. E os primeiros raios surgiram logo após o discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell.
O líder do Fed afirmou que o conflito entre Rússia e Ucrânia seguirá pressionando a inflação. Para Powell, nesse cenário é apropriado que o Fed aja em ritmo "um pouco mais rápido".
Em outras palavras, o presidente do BC americano reconheceu que o aumento de juros de 50 pontos-base é uma opção na reunião de política monetária do BC americano em maio.
Calma, tem como piorar
Como se não bastasse a cautela gerada pelas falas de Powell, duas autoridades monetárias de peso nos EUA e na Europa engrossaram hoje o coro da inflação e alertaram para a alta dos preços global.
Em entrevista conjunta à CNBC, a secretária do Tesouro norte-americano, Janet Yellen, e a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, falaram sobre as preocupações com o cenário mundial.
Com a guerra entre Rússia e Ucrânia ameaçando a recuperação da zona do Euro, Lagarde admitiu que há uma “chance forte” de que o bloco econômico eleve os juros ainda neste ano.
Já Yellen reconheceu que as preocupações com a inflação não sairão de cena tão cedo nos EUA. A secretária do Tesouro norte-americano declarou que a alta dos preços “seguirá conosco por mais um tempo”.
O perdão que custou caro ao Ibovespa
Por aqui, o risco político, um velho conhecido do mercado, voltou a dar as caras graças a um novo ato polêmico do presidente Jair Bolsonaro.
Tudo começou na quarta-feira (20), quando o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou o deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) a oito anos e nove meses de prisão por incitar agressões a ministro da corte e por atacar a ordem democrática.
Mas Silveira, que ainda nem começou a cumprir a sentença, foi “perdoado” por Bolsonaro apenas um dia após a condenação. O presidente concedeu indulto presidencial ao deputado, elevando a temperatura de sua interminável queda de braço com o STF.
Juristas consultados pelo jornal O Estado de S. Paulo consideram o indulto ilegal. Além disso, o ato presidencial viola a separação entre os poderes e as prerrogativas constitucionais do Judiciário.
E, como já era previsto pelos analistas políticos e de mercado, o perdão não demorou a tornar-se alvo de contestações judiciais. O partido Rede Sustentabilidade e o senador Renan Calheiros (MDB-AL) protocolaram na manhã de hoje um pedido para que a Corte anule o indulto.