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Victor Aguiar
Victor Aguiar
Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e com MBA em Informações Econômico-Financeiras e Mercado de Capitais pelo Instituto Educacional BM&FBovespa. Trabalhou nas principais redações de economia do país, como Bloomberg, Agência Estado/Broadcast e Valor Econômico. Em 2020, foi eleito pela Jornalistas & Cia como um dos 10 profissionais de imprensa mais admirados no segmento de economia, negócios e finanças.
Renato Carvalho
TROCA NO COMANDO

Novo presidente, velhos desafios: a Cielo ainda tem uma tarefa hercúlea pela frente

Paulo Caffarelli deixou a presidência da Cielo. Um substituto já foi escolhido, mas a empresa tem um longo caminho para voltar ao jogo

Victor Aguiar
20 de maio de 2021
13:54 - atualizado às 14:03
Cielo BNDES
Imagem: Shutterstock

Uma notícia pegou o mercado de surpresa na noite de quarta-feira (19): Paulo Caffarelli, que ocupava a presidência da Cielo há pouco menos de três anos, renunciou ao cargo — os motivos para a saída não foram revelados. Uma movimentação que ocorre num momento delicado para a companhia, que enfrenta desafios operacionais e passa por apuros na bolsa.

Ontem, por exemplo, as ações ON da Cielo (CIEL3) fecharam a R$ 3,90, perto das mínimas históricas. Vale lembrar que, num passado não tão distante assim, a empresa era vista como uma das promessas do Ibovespa — há cinco anos, os papéis eram negociados acima dos R$ 20,00.

O que aconteceu de lá para cá?

É uma história longa e complexa, mas que pode ser resumida em três palavras: aumento da concorrência. No meio da década passada, a Cielo reinava soberana no segmento de maquininhas de cartão; mas, com a chegada de novos competidores — como Stone, GetNet, PagSeguro e muitos outros —, o jogo mudou.

Rapidamente, a empresa começou a perder participação de mercado. Enquanto os rivais ofereciam descontos e adotavam uma postura agressiva de preços para conquistar, a Cielo ficou parada no tempo e viu a adesão entre microempresas e empreendimentos de pequeno porte diminuir.

A abertura de capital da Stone e da PagSeguro na Nasdaq aumentou o poder de fogo das companhias, que ficaram ainda mais capitalizadas para a disputa do mercado. A Cielo se viu obrigada a entrar na guerra de preços, o que erodiu suas margens.

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E mesmo na área de serviços aos lojistas, a Cielo comeu poeira: os rivais também passaram a oferecer funções semelhantes — nem mesmo o apoio do Bradesco e do Banco do Brasil, seus dois acionistas, serviu para dar vantagem à companhia.

Cielo ON

O desafio da Cielo

Dado esse contexto, fica claro que Gustavo Henrique Santos de Sousa, nomeado como novo CEO da Cielo — ele atualmente é vice-presidente de finanças e diretor de relações com investidores — tem uma tarefa árdua pela frente.

Durante a gestão Caffarelli, a Cielo até conseguiu melhorar suas métricas operacionais e tomou iniciativas para acelerar sua transição digital. No entanto, a empresa ainda tem um longo caminho para fazer frente às concorrentes.

"A discussão hoje em Cielo não é especificamente ganhar participação de mercado. A empresa precisa se reposicionar no mercado para voltar a ganhar margem e competir no mercado", diz um gestor de fundo multimercado que prefere não se identificar.

E, de fato, as margens da Cielo passaram por uma piora expressiva ao longo dos últimos anos. Os descontos que precisaram ser implantados para fazer frente à concorrência, aliados a uma estrutura organizacional e administrativa relativamente grande, impactaram fortemente essas métricas.

Cielo financeiro

Veja abaixo um comparativo dos principais dados de Cielo, Stone e PagSeguro em 2020. Repare que, apesar de a Cielo ser maior em termos de volume de transações e receita líquida, seus resultados pioraram em relação ao ano anterior. Além disso, as margens de Stone e PagSeguro são bem maiores — indicando que suas operações estão bem mais saudáveis.

Resultados 2020CieloStonePagSeguro
Vol. de transações
(R$ mi)
643.955209.900161.500
Variação x 2019-5,7%62,6%40,7%
Receita líquida
(R$ mi)
11.1863.3202.089
Variação x 2019-1,5%28,9%32,6%
Lucro Líquido
(R$ mi)
631,5837,4375,6
Variação x 2019-64,0%4,1%-4,2%
Margem líquida5,6%25,2%18,0%

E mesmo alguns detalhes operacionais mostram a fraqueza da Cielo. A GetNet, do Santander, teve 63% das transações com cartão de crédito — mais rentáveis que as de débito. Na Cielo, 55% das operações foram em crédito.

Base acionária e estrutura

Outro ponto apontado como desafio para o crescimento diz respeito à estrutura acionária: a Cielo tem dois controladores, Bradesco e Banco do Brasil, e é listada em bolsa — o que dificulta um alinhamento entre todas as partes.

PagSeguro e Stone são listados em Nova York, mas livres e independentes em termos de conflitos de acionistas; GetNet e Rede são integradas a grandes instituições financeiras.

"O mercado sabe que a Cielo está trabalhando nesse ponto também, de alinhar os interesses entre todos os acionistas, já faz algum tempo", diz o gestor. Ainda assim, eventuais conflitos quanto ao rumo a ser tomado pela companhia são comuns e geram ainda mais ruído ao comportamento das ações.

Parte do mercado especula que a saída de Caffarelli — que, antes de ser CEO da Cielo, ocupou a presidência do Banco do Brasil — pode ser um sinal de que o Bradesco pode começar a assumir as rédeas do negócio.

Ainda assim, é improvável que qualquer um dos controladores tente se desfazer de sua participação acionária na Cielo, considerando o baixo valor das ações da companhia.

Cielo participação

Em suma: Gustavo Henrique Santos de Sousa tem o desafio de alinhar os interesses dos acionistas, acelerar a transformação digital, aumentar a oferta de serviços, recuperar as margens e recuperar a confiança do mercado e dos analistas — mesmo com as ações perto das mínimas, poucos se arriscam a recomendar a compra dos papéis da Cielo.

Veja abaixo um resumo das recomendações e preços-alvos das principais casas de análise:

  • Bank of America: manutenção, preço-alvo de R$ 5,80
  • Bradesco BBI: manutenção, preço-alvo de R$ 3,90
  • BTG Pactual: manutenção, preço-alvo de R$ 5,00
  • Credit Suisse: manutenção, preço-alvo de R$ 4,80
  • Goldman Sachs: venda, preço-alvo de R$ 3,40
  • Itaú BBA: manutenção, preço-alvo de R$ 5,20
  • Morgan Stanley: manutenção, preço-alvo de R$ 4,50
  • Santander: venda, preço-alvo de R$ 3,00
  • UBS: manutenção, preço-alvo de R$ 4,30
  • XP: manutenção, preço-alvo de R$ 5,00

A nova gestão tem muito trabalho pela frente — e tudo isso enfrentando competidores que estão capitalizados e que crescem a olhos vistos.

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