Na minha adolescência, pelo menos uma vez por ano a rotina se repetia: depois de trabalhar alguns meses, eu ia para o shopping comprar umas roupas e um par de tênis para tentar ficar um pouco mais arrumado – fazer o quê, né? Quem não teve a sorte de nascer igual ao Brad Pitt tem que correr atrás.
O problema é que, como o dinheiro das compras era conquistado com o meu próprio suor, eu sentia uma pena danada de gastar aquela grana.
Tanto é que, na maioria das vezes, eu acabava levando uma roupa e um tênis bem mais baratos do que os que eu realmente gostaria de comprar.
Até aí tudo bem… na teoria, pelo menos sobrava alguma coisa para sair ou guardar na poupança – na época ainda não conhecia as maravilhas do mundo dos investimentos.
A qualidade faz a diferença
Mas na verdade não era isso o que acontecia: a roupa barata quase sempre estragava muito cedo e, no final das contas, eu me arrependia de não ter "investido" um pouco mais em peças de mais qualidade, que durariam pelo menos cinco vezes mais.
Você já deve ter passado por essa situação inúmeras vezes também. Na tentativa de economizar alguns trocados num carro, numa roupa, ou no que quer que fosse, comprou algo que, mesmo sendo mais barato, não se mostrou nada vantajoso.
O barato pode sair caro
Eu lembrei de todas essas minhas experiências na manhã de ontem, depois da divulgação de resultados da Via (VIIA3), antiga Via Varejo, ou "Vara", como é conhecida nos fóruns de mercado.
Os números foram fracos e isso já seria motivo suficiente para uma reação ruim.
Mas, além disso, a companhia ainda mostrou uma provisão bilionária para possíveis perdas com processos trabalhistas, equivalente a quase 10% do seu valor em bolsa – e condizente com a enorme queda das ações no pregão de ontem.
Mas não é sobre a tal provisão que eu gostaria de conversar: é sobre as eternas comparações entre companhias que nem sempre merecem ser comparadas.
Há anos eu ouço a seguinte frase: compre a Via (ou "Vara", como preferir) porque ela está muito barata na comparação com o Magazine Luiza e o Mercado Livre.
Mas a pergunta mais importante é: será que ela realmente não merece ser bem mais barata?
Comendo poeira
Antes de falar sobre comparações, é importante destacar que a Via tem, sim, passado por uma melhora nos últimos anos, especialmente depois que o Casino deixou o controle da companhia, em 2019.
O volume geral de mercadorias vendidas nas lojas e nos sites têm aumentado e ela segue investindo em sua transformação digital, em logística e em novos serviços financeiros disponibilizados em sua plataforma – aliás, copiando as mesmas estratégias do próprio Magazine Luiza e do Mercado Livre.
Olhando para esse crescimento e comparando os múltiplos da Via com o de suas rivais, realmente parece termos diante de nós um case bastante descontado, não é mesmo?
Companhia | Preço/Lucros 2022 | EV/Ebitda 2022 |
Via SA | 20x | 8x |
Magazine Luiza | 131x | 36x |
Mercado Livre | 221x | 92x |
Mas antes de tomar decisões precipitadas, vamos ver o que as outras varejistas nos oferecem.
Comparando o crescimento de vendas e do lucro bruto vemos o Magalu abrindo uma enorme vantagem, mostrando que está muito mais preparada para vencer a corrida pela dominação do ecommerce brasileiro do que a Via:
Será que aquela diferença de múltiplos é tão injusta assim?
Apesar de estarmos vendo alguma melhora na Via SA como mostramos, vários fatores nos impedem de recomendar as ações da companhia. Não apenas por causa da provisão bilionária que arrebentou os resultados do 3T21, mas porque esta não é a primeira vez que vemos esse tipo de impacto inesperado nos resultados e, também, porque ela segue muito atrás de suas principais concorrentes.
Outro fator importante está relacionado à capacidade de investimentos.
Para manter o crescimento é preciso investir. E para investir, é preciso ter dinheiro em caixa – seja via oferta de ações, empréstimos bancários ou geração operacional de caixa.
O problema é que os recursos de caixa da Via estão caindo de forma acelerada. E isso está acontecendo justo agora, em um ambiente de negócios mais desafiador e de juros elevados, o que significa também maiores dificuldades de captar dinheiro.
Nessas condições, ofertas de ações para receber mais dinheiro dos acionistas normalmente tendem a sair com grandes descontos para os preços de tela e empréstimos bancários tendem a ser concedidos mediante juros muito elevados. Nenhuma das alternativas é interessante para os acionistas.
Múltiplo baixo nem sempre significa bons retornos
Todas essas tabelas e gráficos são para mostrar para você que múltiplos sozinhos não nos dizem absolutamente nada.
O preço/lucros do Magazine Luiza é seis vezes maior, sim. Mas as vendas dele também cresceram seis vezes mais do que as da Via no período, com uma situação de caixa muito mais confortável e uma estratégia digital que tem se mostrado muito mais assertiva e que tem proporcionado retornos muito maiores para os acionistas.
Isso parece alguma injustiça para você? Para nós, não!
É por isso que a série Melhores Ações da Bolsa recomenda as ações MGLU3, especialmente depois da queda de mais de 40% em 2021.
Além desta, a série ainda conta com muitas outras companhias que ficaram descontadíssimas e que estão prontas para pegar em cheio qualquer melhora no ambiente de investimentos.
Se quiser conferir a lista completa, deixo aqui o convite.
Um grande abraço e até a próxima!
Ruy