As ações de tecnologia estão caras ou baratas? Saiba como os analistas fazem as contas
Com o tempo, a análise dessas empresas migrou da abordagem de tradicional para um modelo de probabilidades e grandes números
Olá, seja muito bem vindo ao nosso papo de domingo que às vezes é sobre tecnologia, às vezes sobre investimentos, mas raramente sobre algo interessante.
Geralmente, minhas conversas com assinantes da Empiricus interessados em empresas de tecnologia começam com uma pergunta superobjetiva:
Mas essas ações não estão muito caras?
Faz alguns anos que tenho praticado, mas nunca consigo dar uma resposta diferente de "depende".
Respostas vagas são a maldição dos economistas.
Naturalmente, a tréplica é objetiva: "depende do quê?"
Leia Também
Esfarelando na bolsa: por que a M.Dias Branco (MDIA3) cai mais de 10% depois do lucro 73% maior no 3T25?
Não há mais saída para a Oi (OIBR3): em “estado falimentar irreversível”, ações desabam 35% na bolsa
Dedicarei a coluna de hoje aos fatores que acredito ajudarem a explicar se uma ação está cara ou barata; mais especificamente, se uma ação de tecnologia está cara ou barata.
Modelo financeiro
Por mais abstrato que seja, a ação está vinculada a uma entidade viva. Uma empresa com funcionários, fornecedores, produtos, admiradores e haters.
Não é racional pensar que um restaurante de bairro, tocado pelo professor de wrestling da escola local, possa valer mais de 1 bilhão de dólares.
Existe um fio condutor conectando essas pontas: o preço da ação e as características da empresa subjacente.
Esse fio são os seus fluxos de caixa.
Não os fluxos de caixas passados, afinal, esses já foram embolsados e utilizados, mas sim a sua capacidade de gerar fluxos de caixa no futuro.
Pense num imóvel.
Seu imóvel não pode ser alugado por R$ 2 mil ao mês porque ele vale R$ 450 mil. Na verdade, ele vale R$ 450 mil porque pode ser alugado a R$ 2 mil ao mês.
É a capacidade de gerar fluxos de caixa que determina o valor de um ativo, e não o contrário.
Essa é a essência do "valuation". Geralmente, é o planilhão que nós, analistas, fazemos com base nos demonstrativos financeiros das empresas, tentando estimar quais serão seus fluxos de caixa no futuro.
Esses fluxos de caixa no futuro serão a nossa referência para dizer se a ação está cara ou barata.
Boneca russa
Essa é uma visão geral e genérica sobre o exercício. Mas claro, cada caso é um caso.
A modelagem será tão mais precisa, quanto mais estáveis forem esses fluxos de caixa.
No exemplo do imóvel, é relativamente simples projetar seu fluxo de caixa futuro.
É o aluguel de hoje, corrigido pela inflação, e talvez com um aumento/contração de preços no vencimento do contrato.
Se estivermos falando de uma empresa regulada, como uma transmissora de energia, que têm seus contratos fechados e valores aprovados por um agente regulador, temos também um exercício relativamente simples.
Temos o capex (investimento) estimado para construção da linha, sabemos o indexador e a receita que irá remunerar essa operação; conhecemos relativamente bem o gasto necessário de manutenção, e temos o vencimento do contrato.
Com essas informações podemos estimar um fluxo de caixa bastante digno…
É trabalhoso e braçal, porém simples.
Ambos são exemplos com alta previsibilidade, uma característica típica de empresas maduras, estabelecidas ou reguladas.
Isso é tudo o que uma empresa de tecnologia não é.
Numa empresa de tecnologia, tudo pode mudar em questão de 12 meses.
Um exemplo real
O Méliuz (CASH3) é uma das novas empresas de tecnologia que chegaram à B3.
Seu novo produto, o cartão de crédito, levou um ano e meio para alcançar 1,5 milhão de clientes.
Ao projetar os fluxos de caixa do Méliuz, quanto tempo você imaginaria ser necessário para que eles alcançassem seu próximo 1,5 milhão de cartões?
O mesmo um ano e meio? Um ano? Seis meses?
Na prática, demorou apenas um trimestre.
Com esse exemplo eu quero dizer o seguinte: estimar os fluxos de caixa de uma empresa de tecnologia é ordens de magnitude mais complexo do que de uma empresa tradicional.
Com o tempo, a análise dessas empresas migrou dessa abordagem de tradicional para um modelo de probabilidades e grandes números.
Como assim?
Quando você vê uma notícia como essa: Clubhouse é avaliado em 4 bilhões de dólares em nova captação, você pensa: como uma empresa sem receitas pode valer 4 bilhões de dólares?
Existem duas respostas possíveis: a primeira é "não, não pode valer, isso é completamente irracional, não há premissas que justifiquem".
Ou você pode pensar em termos relativos: "não tenho como saber quando eles começarão a monetizar o produto, mas trata-se de uma rede social, um modelo escalável, com efeitos de rede e muito potencial de viralizar."
Quem é o grande expoente do setor com as características acima?
Resposta: o Facebook.
O Facebook vale US$ 867 bilhões.
De maneira subjacente, ao avaliar o Clubhouse em 4 bilhões de dólares, seus investidores estão assumindo uma probabilidade de ~0,5% (4 bilhões / 867 bilhões) de que, no futuro, o Clubhouse possa se tornar o novo Facebook.
Alguns acharão uma probabilidade muito baixa, que justifica o investimento. Outros acharão uma probabilidade muito alta, e não farão o investimento.
Unit Economics
Claro, o exemplo que eu usei é bastante extremo. Não devemos ficar comparando todo mundo com o Facebook.
Na verdade, tentamos comparar a própria empresa de tecnologia com o que ela pode vir a ser no futuro.
- Qual o problema de negócios que essa empresa resolve?
- Qual o tamanho do mercado em que essa empresa está inserida? E como esse mercado poderá se expandir ou contrair?
- Se ela for bem sucedida, quais margens podem ser obtidas?
- Essas margens podem gerar que tamanho de fluxos de caixa no futuro?
- A que múltiplo deveria negociar uma empresa como essa, na maturidade?
Esse conjunto de perguntas compõem o "depende" que responde à minha pergunta inicial.
No presente, todas as empresas de tecnologia irão parecer ações caras mesmo.
(i) Algumas delas, porém, estão imersas num mercado tão grande, com tantas oportunidades, que seus preços de hoje parecerão pechincha se eles forem bem sucedidos.
(ii) Mas claro, eles podem fracassar. Nesse caso, os preços que hoje parecem caros, de fato são caríssimos.
O grande problema nessa construção é que os resultados — (i) ou (ii) — serão conhecidos apenas no futuro.
Tudo o que podemos fazer a respeito dele no presente é estudar, qualitativamente, e apostar em probabilidades.
Na maioria dos casos, a hipótese (ii) se provará a correta. A maioria das empresas de tecnologia fracassam.
Porém, na minoria dos casos em que a hipótese (i) se provar verdadeira, o retorno será tão grande que vai mais do que justificar todos os demais erros cometidos ao longo do caminho, desde que você tenha sabido dosar suas apostas.
Investir em tecnologia demanda muitas coisas, entre elas, humildade.
Contato
Se você gostou dessa coluna, pode entrar em contato comigo através do e-mail telaazul@empiricus.com.br, com ideias, críticas e sugestões.
Também pode conhecer o fundo de investimentos que implementa as ideias que eu, o Rodolfo Amstalden e Maria Clara Sandrini nos dedicamos semanalmente a produzir.
E claro, siga acompanhando meu trabalho através do Podcast Tela Azul, em que, todas as segundas-feiras, eu e meus amigos André Franco e Vinicius Bazan falamos sobre tecnologia e investimentos.
Aproveite para se inscrever no nosso Telegram; todos os dias, postamos comentários sobre o impacto da tecnologia no mercado financeiro (e no seu bolso).
Um abraço!
Ibovespa desafia a gravidade e tem a melhor performance desde o início do Plano Real. O que esperar agora?
Em Wall Street, as bolsas de Nova York seguiram voando às cegas com relação à divulgação de indicadores econômicos por conta do maior shutdown da história dos EUA, enquanto os valuations esticados de empresas ligadas à IA seguiram como fonte de atenção
Dólar em R$ 5,30 é uma realidade que veio para ficar? Os 3 motivos para a moeda americana não subir tão cedo
A tendência de corte de juros nos EUA não é o único fato que ajuda o dólar a perder força com relação ao real; o UBS WM diz o que pode acontecer com o câmbio na reta final de 2025
Vamos (VAMO3) lidera os ganhos do Ibovespa e Minerva (BEEF3) fica na lanterna; confira o sobe e desce das ações
O principal índice da bolsa brasileira acumulou valorização de 3,02% nos últimos cinco pregões e encerrou a última sessão da semana no nível inédito dos 154 mil pontos
Maior queda do Ibovespa: por que as ações da Cogna (COGN3) desabaram mesmo depois de um “trimestre limpo”?
As ações passaram boa parte do dia na lanterna do Ibovespa depois do balanço do terceiro trimestre, mas analistas consideraram o resultado como positivo
Fred Trajano ‘banca’ decisão que desacelerou vendas: “Magalu nunca foi de crescer dando prejuízo, não tem quem nos salve se der errado”
A companhia divulgou os resultados do segundo trimestre ontem (6), com queda nas vendas puxada pela desaceleração intencional das vendas no marketplace; entenda a estratégia do CEO do Magazine Luiza
Fome no atacado: Fundo TRXF11 compra sete imóveis do Atacadão (CAFR31) por R$ 297 milhões e mantém apetite por crescimento
Com patrimônio de R$ 3,2 bilhões, o fundo imobiliário TRXF11 saltou de 56 para 74 imóveis em apenas dois meses, e agora abocanhou mais sete
A série mais longa em 28 anos: Ibovespa tem a 12ª alta seguida e o 9° recorde; dólar cai a R$ 5,3489
O principal índice da bolsa brasileira atingiu pela primeira vez nesta quinta-feira (6) o nível dos 154 mil pontos. Em mais uma máxima histórica, alcançou 154.352,25 pontos durante a manhã.
A bolsa nas eleições: as ações que devem subir com Lula 4 ou com a centro-direita na Presidência — e a carteira que ganha em qualquer cenário
Felipe Miranda, estrategista-chefe da Empiricus e sócio do BTG Pactual, fala sobre como se posicionar para as eleições de 2026 e indica uma carteira de ações capaz de trazer bons resultados em qualquer cenário
As ações para ‘evitar ser estúpido’ da gestora cujo fundo rende 8 vezes mais que o Ibovespa
Atmos Capital tem 40% da carteira de R$ 14 bilhões alocada em concessionárias de serviços públicos; veja as ações da gestora
Nasdaq bate à porta do Brasil: o que a bolsa dos ‘todo-poderosos’ dos EUA quer com as empresas daqui?
Em evento em São Paulo, representantes da bolsa norte-americana vieram tentar convencer as empresas de que abrir capital lá não é um sonho tão distante
Ibovespa volta a fazer história: sobe 1,72% e supera a marca de 153 mil pontos antes do Copom; dólar cai a R$ 5,3614
Quase toda a carteira teórica avançou nesta quarta-feira (5), com os papéis de primeira linha como carro-chefe
Itaú (ITUB4) continua o “relógio suíço” da bolsa: lucro cresce, ROE segue firme e o mercado pergunta: é hora de comprar?
Lucro em alta, rentabilidade de 23% e gestão previsível mantêm o Itaú no topo dos grandes bancos. Veja o que dizem os analistas sobre o balanço do 3T25
Depois de salto de 50% no lucro líquido no 3T25, CFO da Pague Menos (PGMN3) fala como a rede de farmácias pode mais
O Seu Dinheiro conversou com o CFO da Pague Menos, Luiz Novais, sobre os resultados do terceiro trimestre de 2025 e o que a empresa enxerga para o futuro
FII VGHF11 volta a reduzir dividendos e anuncia o menor pagamento em quase 5 anos; cotas apanham na bolsa
Desde a primeira distribuição, em abril de 2021, os dividendos anunciados neste mês estão entre os menores já pagos pelo FII
Itaú (ITUB4) perde a majestade e seis ações ganham destaque em novembro; confira o ranking das recomendações dos analistas
Após voltar ao topo do pódio da série Ação do Mês em outubro, os papéis do banco foram empurrados para o fundo do baú e, por pouco, não ficaram de fora da disputa
Petrobras (PETR4) perde o trono de empresa mais valiosa da B3. Quem é o banco que ‘roubou’ a liderança?
Pela primeira vez desde 2020, essa companhia listada na B3 assumiu a liderança do ranking de empresas com maior valor de mercado da bolsa brasileira; veja qual é
Fundo imobiliário GARE11 vende 10 imóveis, locados ao Grupo Mateus (GMAT3) e ao Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), por R$ 485 milhões
A venda envolve propriedades locadas ao Grupo Mateus (GMAT3) e ao Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), que pertenciam ao FII Artemis 2022
Ibovespa atinge marca inédita ao fechar acima dos 150 mil pontos; dólar cai a R$ 5,3574
Na expectativa pela decisão do Copom, o principal índice de ações da B3 segue avançando, com potencial de chegar aos 170 mil pontos, segundo a XP
A última dança de Warren Buffett: ‘Oráculo de Omaha’ vai deixar a Berkshire Hathaway com caixa em nível recorde
Lucro operacional da Berkshire Hathaway saltou 34% em relação ao ano anterior; Warren Buffett se absteve de recomprar ações do conglomerado.
Ibovespa alcança o 5º recorde seguido, fecha na marca histórica de 149 mil pontos e acumula ganho de 2,26% no mês; dólar cai a R$ 5,3803
O combo de juros menores nos EUA e bons desempenhos trimestrais das empresas pavimenta o caminho para o principal índice da bolsa brasileira superar os 150 mil pontos até o final do ano, como apontam as previsões