Vacinação e risco fiscal derrubam o Ibovespa em dia de festa em NY; dólar também recua
Euforia dos mercados internacionais com o “efeito Biden” foi barrada pelas incertezas domésticas e fez a bolsa brasileira ir na contramão de NY

Existe um novo chefe andando pelos corredores da Casa Branca. Os democratas Joe Biden e Kamala Harris tomaram posse como presidente e vice-presidente dos Estados Unidos nesta tarde e podem finalmente começar os trabalhos do seu governo.
Em seu discurso de posse, feito em um Capitólio esvaziado por questões de segurança (contra a covid-19 e “entusiastas” do antigo presidente), Biden fez um “bingo” na cartela de expectativas do mercado.
O novo presidente voltou a reafirmar o seu compromisso com a democracia e com o combate à pandemia do coronavírus - o que deve incluir mais estímulos fiscais, como a aprovação do pacote de US$ 1,9 trilhão anunciado, e um esforço de ampliação da campanha de vacinação no país que hoje tem o maior número de mortos pela doença.
Ontem, o mercado já havia sentido um gostinho do que pode vir a ser o governo Biden. Janet Yellen, ex-presidente do Federal Reserve,que assumiu o Tesouro americano, discursou ontem no Congresso e também confirmou os acenos para estímulos mais gordos.
Tudo isso pode parecer notícia velha, já que esse discurso foi muito semelhante ao feito no dia que foi declarado presidente-eleito e ao que Biden vem afirmando desde então, mas ainda assim foi catalisador de uma nova onda de entusiasmo no mercado financeiro.
O Nasdaq (com um empurrãozinho da Netflix) e o S&P 500 chegaram a marcar novos recordes intraday, enquanto o Dow Jones flertou com novas máximas. Na Europa, as principais praças também fecharam no azul.
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Mas nós ficamos de fora dessa festa. O clima de tensão no Brasil foi tão intenso que a posse de Biden teve efeito limitado e a bolsa brasileira passou longe de demonstrar algum entusiasmo.
No começo do dia, até parecia que o Ibovespa ia seguir os mercados internacionais. O principal índice da bolsa brasileira chegou a subir 0,67%, na máxima, mas não conseguiu sustentar o sinal positivo por muito tempo.
Ao longo da manhã, as notícias sobre as dificuldades encontradas pela vacinação em larga escala no Brasil foram deteriorando o otimismo e deram lugar à cautela. Ao fim do dia, o Ibovespa registrava uma queda de 0,82%, aos 119.646,40 pontos.
O dólar, no entanto, acompanhou o movimento do exterior e terminou o dia em queda de 0,63%, a R$ 5,3118, influenciado também por um fluxo positivo de entrada de investimento estrangeiro no país que só hoje totalizou R$ 2,26 bilhões. O saldo em janeiro é de R$ 21,11 bilhões.
Na equação dos negócios hoje tivemos também uma cautela pré-Copom. Ainda que a decisão da autoridade monetária, divulgada após o fechamento do mercado, tenha vindo em linha com o esperado, os investidores passaram o dia na expectativa.
Em decisão unânime, o BC manteve a taxa Selic em 2% ao ano, a mínima histórica desde agosto, mas derrubou o “forward guidance”, a prescrição futura que indica os próximos passos da política monetária do país.
Com a pressão sobre o ajuste fiscal brasileiro e no aguardo da decisão, o mercado de juros se manteve mais contido. Confira as taxas de fechamento dos juros futuros:
- Janeiro/2022: de 3,255% para 3,215%
- Janeiro/2023: de 5,025% para 4,93%
- Janeiro/2025: de 6,49% para 6,48%
- Janeiro/2027: de 7,19% para 7,14%
Choque de realidade
Enquanto o mercado internacional comemorava, a bolsa brasileira sucumbia à pressão dos problemas que se acumulam.
O principal deles é o ritmo da vacinação contra a covid-19 em território nacional. As seis milhões de doses disponíveis da Coronavac, feita em parceria com o Instituto Butantan, foram distribuídas entre os estados e a chegada e produção de novas doses está comprometida. Isso porque a China tem dificultado a importação dos insumos necessários para a produção. A Fiocruz adiou para março a entrega das doses prometidas.
Representantes já confirmaram que o entrave tem raiz na postura do governo brasileiro nos últimos anos e nos ataques feitos pelos filhos do presidente ao país.
O governador de São Paulo, João Doria, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, entraram no jogo para tentar resolver a situação.
Durante a manhã, Maia se encontrou com o embaixador chinês no país e disse ter sido um ótimo encontro e que ele trabalhará para reverter a situação. Já o presidente Jair Bolsonaro culpou a embaixada pelo "desentendimento". O secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, disse em entrevista à Rádio Bandeirantes, que o governador pode ir até a China para negociar a liberação dos insumos.
O Instituto Butantan já teria envasado 4,8 milhões de doses, mas está sem insumos para produção desde o fim de semana. Existe também uma dificuldade para o país importar as doses que o governo federal diz ter adquirido da Índia. Ontem, o governo indiano anunciou uma lista com seis países que devem receber as doses, mas o Brasil não era um deles.
Além da falta de vacina, temos também a falta de um cronograma e um plano nacional de vacinação delimitado.
Enquanto isso, a pandemia segue voltando a registrar números expressivos no país e novas medidas de distanciamento para conter o vírus precisam ser tomadas - tanto aqui quanto no exterior. O agravamento da situação fará com que o governo de SP revise pela terceira vez em quinze dias as liberações das regiões do estado. O presidente do Butantan, Dimas Covas , considera inevitável novas bandeiras vermelhas.
A questão da vacinação vai além do campo da saúde. Um fracasso nessa área certamente custará ao governo mais estímulos fiscais e até mesmo uma possível extensão do auxílio emergencial, piorando o cenário das contas públicas.
A questão fiscal fica ainda mais em evidência com a corrida pela presidência da Câmara. Tanto o principal candidato da oposição, Baleia Rossi, quanto o do governo, Arthur Lira, já sinalizaram interesse em voltar a discutir os novos estímulos e benefícios.
A perda do apoio popular do presidente também pesa, já que aumenta as chances do governo deixar de lado o compromisso com o teto de gastos e o equilíbrio fiscal.
Victor Benndorf, analista da Apollo Investimentos, aponta que a reação da bolsa brasileira com os novos entraves se dá por uma antecipação no curto prazo dos resultados da vacina e movimentos como o de hoje são originados de um “choque de realidade”.
A vacina ainda vai demorar, a recuperação econômica será mais lenta, temos problemas políticos e déficit fiscal para monitorar. “O pessoal acabou comprando a chegada de uma nova vacina como se fosse algo salvador no curto prazo. Os antigos problemas não estavam sendo precificados”, conclui.
Sobe e desce
As empresas de e-commerce se destacaram no pregão desta quarta-feira (20). Segundo Marcio Lórega, analista da Ativa Investimentos, a piora no cenário da pandemia leva os investidores de volta para os ativos ligados à "nova economia" e que conseguem se favorecer do cenário de isolamento social. Com a apreensão dos rumos da vacinação no país, esse setor sobe em bloco.
Já Victor Benndorf, analista da Apollo Investimentos, aponta que, puxado pelos bons números da Netflix no quarto trimestre, o setor de tecnologia tem uma boa recuperação no mercado internacional nesta quarta-feira. Com um bom fluxo de entrada de investimentos estrangeiros na B3 hoje, esse setor, que já está preparado para um momento de crise e que teve um desconto recente, ganha a preferência.
A B2W liderou os ganhos do dia, com uma alta de 8,53%. Confira as maiores altas do dia:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VARIAÇÃO |
BTOW3 | B2W ON | R$ 87,50 | 8,53% |
MGLU3 | Magazine Luiza ON | R$ 25,42 | 5,56% |
LAME4 | Lojas Americanas PN | R$ 25,65 | 4,06% |
HGTX3 | Cia Hering ON | R$ 17,01 | 1,80% |
VVAR3 | Via Varejo ON | R$ 14,57 | 1,75% |
Também repercutindo o cenário de vacinação, as companhias aéreas, que sofrem profundamente com o impacto do coronavírus, lideram as quedas do dia durante a maior parte da sessão. Vale lembrar que recentemente elas tiveram uma recuperação, apoiada na esperança com o início da campanha de imunização em solo nacional.
Outro setor que tem peso para o Ibovespa e que teve um dia de queda em bloco foi o setor bancário. Segundo Stefany Oliveira, analista da Toro Investimentos, esse movimento foi intensificado pela queda de 1% na busca por crédito no país em 2020. Vale e Petrobras, também com grande peso para o índice, não escaparam e tiveram um desempenho negativo no dia, recuando respectivamente 1,85% e 1,67%.
A Cemig também foi um dos destaques negativos, após concluir uma oferta secundária que a retirou da base acionária da Light.
Confira abaixo as principais quedas do dia:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VARIAÇÃO |
PRIO3 | PetroRio ON | R$ 70,81 | -3,66% |
EMBR3 | Embraer ON | R$ 9,16 | -3,27% |
SANB11 | Santander Brasil units | R$ 41,87 | -2,56% |
CMIG4 | Cemig PN | R$ 13,84 | -2,40% |
NTCO3 | Natura ON | R$ 50,02 | -2,27% |
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