Os segredos da bolsa: ações para ficar de olho em meio ao caos dos mercados
Arábia Saudita e Rússia entraram numa queda de braço a respeito dos níveis de produção de petróleo — e, como resultado, os preços da commodity despencam. Nesse cenário, veja quais ações podem se destacar na bolsa nesta semana
Pois é: o Ibovespa entrou em parafuso nos últimos dias e perdeu o nível dos 100 mil pontos, em meio à tensão global com o coronavírus e às incertezas no cenário doméstico. Mas, mesmo num momento tão negativo para a bolsa, saiba que há ações que merecem atenção especial — enquanto todos entram em pânico, você pode dar uma cartada certeira e sair por cima.
Vamos direto ao assunto: não há perspectiva de melhora para as bolsas neste início de semana. Pelo contrário — ao menos na noite de domingo, as coisas estavam cada vez mais feias para os mercados globais, em meio ao colapso nos preços do petróleo.
Eu não pretendo fazer um exercício de futurologia nesse texto. Se você quer saber quando as ações vão parar de cair, sinto te desapontar: eu não faço ideia. Pode ser que as bolsas se acalmem ainda nesta semana, mas também pode ser que o fluxo de notícias sobre o coronavírus piore ainda mais, empurrando os índices acionários ladeira abaixo.
O que eu vou fazer é apontar algumas ações e fatores específicos que podem passar despercebidos em meio ao caos. Afinal, há o pano de fundo do surto global da doença, mas também há outros pontos que podem influenciar alguns papéis e setores da bolsa brasileira em particular.
Sangue negro
Em destaque, aparece a derrocada nos preços do petróleo — e os eventuais desdobramentos para a Petrobras. Na última sexta-feira (6), a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) se reuniu para tentar chegar num consenso quanto à produção da commodity, em meio às dúvidas em relação a uma possível queda na demanda por causa do coronavírus.
De um lado da mesa, estava a Arábia Saudita, defendendo profundos cortes para se adequar ao momento; do outro, estava a Rússia, contrária à medida. E, com essa queda de braço entre os gigantes, o encontro terminou sem uma decisão formal — o que transmitiu uma enorme insegurança ao mercado e fez o petróleo desabar mais de 10%.
Leia Também
Ibovespa retoma ganhos com Petrobras (PETR4) e sobe 2% na semana; dólar cai a R$ 5,2973

Essa história, contudo, ganhou novos episódios durante o fim de semana. Os sauditas dobraram a aposta e resolveram conceder enormes descontos no petróleo vendido ao exterior, criando uma espécie de "guerra de preços" com a Rússia — a ideia é provocar uma queda maciça no valor do barril da commodity, de modo a afetar a economia russa e forçar uma nova rodada de negociação.
E se a intenção era causar pânico e provocar um colapso no petróleo, então o plano deu certo: no fim do domingo (8), o petróleo Brent para maio desabava impressionantes 25,9%, enquanto o WTI para abril despencava 26,9%, ambos já perto do nível dos US$ 30 o barril.
Dito isso, há alguns desdobramentos a serem analisados. Para a Petrobras, o clima é de tensão extrema: na sexta-feira, quando o petróleo caiu cerca de 10%, as ações da estatal tiveram perdas da mesma magnitude, tanto os papéis ON (PETR3) quanto os PNs (PETR4). Dito isso, é de se esperar que a segunda-feira seja um dia daqueles para a companhia.
Para os mercados, o tom é de enorme aversão ao risco: na Ásia, os principais índices acionários caem pelo menos 3%; nos EUA, os futuros de Nova York desabam perto de 5% — assim, o Ibovespa tende a enfrentar mais uma sessão de fortes perdas nesta segunda-feira.
Mas, para algumas empresas, o colapso do petróleo pode ser um alento. É o caso das companhias aéreas, que tendem a ser bastante beneficiadas pela queda forte nos preços do WTI e do Brent.
Isso porque o valor do combustível de aviação está diretamente relacionado a duas variáveis: o preço do petróleo e a cotação do dólar. Desta maneira, por mais que a moeda americana esteja nas máximas, a commodity mais barata tende a trazer um alívio às empresas aéreas, que já estão sendo afetadas pela menor demanda por viagens por causa da doença.
Assim, se as ações da Petrobras tendem a continuar sob intensa pressão, os papéis da Azul e da Gol podem ter um desempenho positivo, aparecendo como opções interessantes em meio à derrocada dos mercados acionários.
Afinal, em meio à queda de braço entre Arábia Saudita e Rússia, já há quem fale num nível de preço de US$ 20 para o barril de petróleo no curto prazo — em abril do ano passado, a commodity era negociada acima dos US$ 70. Se esses números são preocupantes para a Petrobras, eles soam como música para as aéreas.
Pausa na maratona
Em paralelo à turbulência nas bolsas, também vimos uma forte pressão no mercado de câmbio: o dólar à vista fechou em alta por 12 sessões seguidas até conseguir um respiro na última sexta-feira, encerrando em leve baixa de 0,38%, a R$ 4,6338.
Esse alívio se deve, em alguma dimensão, à atuação mais firme do Banco Central (BC): a autoridade monetária aumentou o poder de fogo na sessão passada, promovendo um leilão extraordinário de swap cambial no montante de US$ 2 bilhões — na quinta, as operações foram mais modestas, de apenas US$ 1 bilhão.
Para essa segunda-feira (9), o BC já anunciou que virá com uma arma ainda mais poderosa: promoverá um leilão no mercado à vista, no montante de US$ 1 bilhão, injetando recursos novos no sistema. Atuações no mercado à vista são mais drásticas e, por isso, mais raras — assim, costumam gerar um alento mais intenso nos momentos de tensão.
Dito isso, tudo levava a crer que o dólar à vista teria um início de semana de despressurização mais intensa, dada a sinalização do BC de que não deixaria a cotação da moeda sair do controle. No entanto, com todo o noticiário referente ao petróleo, esse cenário agora parece pouco provável.
Assim, vale a pena ficar atento às movimentações da autoridade monetária caso o dólar volte a se valorizar com intensidade. Além disso, papéis mais sujeitos às oscilações cambiais tendem a se destacar na bolsa.
Exportadoras como Suzano, Klabin, Embraer, JBS, Marfrig e BRF, entre outras, costumam se dar bem com a valorização do dólar, já que sua geração de receita aumenta com o fortalecimento da moeda americana; já quem tem custos dolarizados — como as companhias aéreas, já citadas acima — geralmente sofrem com os saltos do câmbio.
É claro que, num cenário de pânico generalizado, não é razoável esperar que os papéis das exportadoras descolem do contexto global e registrem altas firmes, como se nada estivesse acontecendo. No entanto, tais ações podem, ao menos, ter oscilações menos intensas caso o dólar volte a buscar as máximas.
Enquanto isso, em Brasília...
Como se a situação global não fosse suficientemente preocupante, aqui dentro também temos focos de preocupação. Em Brasília, segue o embate entre governo e Congresso, com novos movimentos por parte do presidente Jair Bolsonaro durante o fim de semana.
O tema das manifestações do dia 15 de março volta a estremecer a relação entre os poderes. Após divulgar vídeos pelo WhatsApp, o presidente convocou a população para os protestos em sua conta no Twitter.
Bolsonaro diz que os atos não são contra o Congresso, mas isso não foi suficiente para apaziguar os ânimos na capital federal. Na Câmara, as lideranças veem uma tentativa do governo de criar uma "cortina de fumaça" para o desempenho ainda baixo do crescimento econômico.
Em meio aos embates entre governo e Congresso, o mercado teme que a pauta de reformas econômicas fique em segundo plano, o que tende a atrasar ainda mais a recuperação da atividade doméstica — o PIB em 2019 decepcionou e, para 2020, as projeções estão sendo revistas para baixo, em meio à decepção com os indicadores locais e as incertezas com o surto de coronavírus.
O clima pesado por aqui e a falta de expectativa em relação à economia doméstica tem poder para pesar especialmente sobre as ações de empresas mais expostas ao ciclo de atividade local.
Falo das ações de varejistas, como Lojas Renner, Via Varejo, Magazine Luiza e B2W, entre outras; de papéis do setor de construção, com companhias como Cyrela e MRV; e de ativos do segmento de shoppings, como Iguatemi e Multiplan.
Por outro lado, ações companhias que não dependem tanto do ritmo da economia local para crescer despontam como boas opções defensivas no momento de incerteza doméstica. É o caso dos grandes bancos, como Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil e Santander Brasil.
Agenda movimentada
No front da agenda de dados econômicos e eventos, teremos diversas informações com capacidade de mexer com os mercados.
No Brasil, destaque para os números da produção industrial, a serem divulgados na terça-feira (10), e para a inflação medida pelo IPCA, na quarta (11) — ambos os dados são referentes a fevereiro.
Lá fora, atenção para o PIB da zona do euro em 2019, a ser conhecido na terça (10), e para os dados de inflação nos EUA em fevereiro, com divulgação prevista para a quarta-feira (11).
Em termos de eventos, os olhos estarão voltados para a Europa: na quinta-feira (12), o Banco Central Europeu (BCE) divulga sua decisão de política monetária — e, após o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) ter cortado os juros do país em 0,5 ponto na semana passada, há enorme expectativa quanto aos passos a serem tomados pela autoridade do velho continente.
Linha de chegada
No Brasil, a temporada de divulgação dos balanços referentes ao quarto trimestre de 2019 vai chegando perto do fim. Diversas empresas do Ibovespa reportarão seus números nos próximos dias:
- Terça-feira (10): Localiza
- Quarta-feira (11): BR Distribuidora
- Quinta-feira (12): Azul, BR Malls, CVC, Yduqs, Taesa, Qualicorp
Para você ter uma ideia mais sólida do que esperar dos números dessas empresas, meu colega Felipe Saturnino fez uma matéria especial com os principais números e pontos a serem observados nesses balanços. Para saber mais, é só clicar aqui.
A Log (LOGG3) se empolgou demais? Possível corte de payout de dividendos acende alerta, mas analistas não são tão pessimistas
Abrir mão de dividendos hoje para acelerar projetos amanhã faz sentido ou pode custar caro à desenvolvedora de galpões logísticos?
A bolha da IA pode estourar onde ninguém está olhando, alerta Daniel Goldberg: o verdadeiro perigo não está nas ações
Em participação no Fórum de Investimentos da Bradesco Asset, o CIO da Lumina chamou atenção para segmento que está muito exposto aos riscos da IA… mas parece que ninguém está percebendo
A bolsa ainda está barata depois da disparada de 30%? Pesquisa revela o que pensam os “tubarões” do mercado
Empiricus ouviu 29 gestoras de fundos de ações sobre as perspectivas para a bolsa e uma possível bolha em inteligência artificial
De longe, a maior queda do Ibovespa: o que foi tão terrível no balanço da Hapvida (HAPV3) para ações desabarem mais de 40%?
Os papéis HAPV3 acabaram fechando o dia com queda de 42,21%, cotados a R$ 18,89 — a menor cotação e o menor valor de mercado (R$ 9,5 bilhões) desde a entrada da companhia na B3, em 2018
A tormenta do Banco do Brasil (BBAS3): ações caem com balanço fraco, e analistas ainda não veem calmaria no horizonte
O lucro do BB despencou no 3T25 e a rentabilidade caiu ao pior nível em décadas; analistas revelam quando o banco pode começar a sair da tempestade
Seca dos IPOs na bolsa vai continuar mesmo com Regime Fácil da B3; veja riscos e vantagens do novo regulamento
Com Regime Fácil, companhias de menor porte poderão acessar a bolsa, por meio de IPOs ou emissão dívida
Na onda do Minha Casa Minha Vida, Direcional (DIRR3) tem lucro 25% maior no 3T25; confira os destaques
A rentabilidade (ROE) anualizada chegou a 35% no entre julho e setembro, mais um recorde para o indicador, de acordo com a incorporadora
O possível ‘adeus’ do Patria à Smart Fit (SMFT3) anima o JP Morgan: “boa oportunidade de compra”
Conforme publicado com exclusividade pelo Seu Dinheiro na manhã desta quarta-feira (12), o Patria está se preparando para se desfazer da posição na rede de academias, e o banco norte-americano não se surpreende, enxergando uma janela para comprar os papéis
Forte queda no Ibovespa: Cosan (CSAN3) desaba na bolsa depois de companhia captar R$ 1,4 bi para reforçar caixa
A capitalização visa fortalecer a estrutura de capital e melhorar liquidez, mas diluição acionária preocupa investidores
Fundo Verde diminui exposição a ações de risco no Brasil, apesar de recordes na bolsa de valores; é sinal de atenção?
Fundo Verde reduz exposição a ações brasileiras, apesar de recordes na bolsa, e adota cautela diante de incertezas globais e volatilidade em ativos de risco
Exclusivo: Pátria prepara saída da Smart Fit (SMFT3); leilão pode movimentar R$ 2 bilhões, dizem fontes
Venda pode pressionar ações após alta de 53% no ano; Pátria foi investidor histórico e deve zerar participação na rede de academias.
Ibovespa atinge marca histórica ao superar 158 mil pontos após ata do Copom e IPCA; dólar recua a R$ 5,26 na mínima
Em Wall Street, as bolsas andaram de lado com o S&P 500 e o Nasdaq pressionados pela queda das big techs que, na sessão anterior, registraram fortes ganhos
Ação da Isa Energia (ISAE4) está cara, e dividendos não saltam aos olhos, mas endividamento não preocupa, dizem analistas
Mercado reconhece os fundamentos sólidos da empresa, mas resiste em pagar caro por uma ação que entrega mais prudência do que empolgação; veja as projeções
Esfarelando na bolsa: por que a M.Dias Branco (MDIA3) cai mais de 10% depois do lucro 73% maior no 3T25?
O lucro de R$ 216 milhões entre julho e setembro não foi capaz de ofuscar outra linha do balanço, que é para onde os investidores estão olhando: a da rentabilidade
Não há mais saída para a Oi (OIBR3): em “estado falimentar irreversível”, ações desabam 35% na bolsa
Segundo a 7ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, a Oi está em “estado falimentar” e não possui mais condições de cumprir o plano de recuperação ou honrar compromissos com credores e fornecedores
Ibovespa bate mais um recorde: bolsa ultrapassa os 155 mil pontos com fim do shutdown dos EUA no radar; dólar cai a R$ 5,3073
O mercado local também deu uma mãozinha ao principal índice da B3, que ganhou fôlego com a temporada de balanços
Adeus ELET3 e ELET5: veja o que acontece com as ações da Axia Energia, antiga Eletrobras, na bolsa a partir de hoje
Troca de tickers nas bolsas de valores de São Paulo e Nova York coincide com mudança de nome e imagem, feita após 60 anos de empresa
A carteira de ações vencedora seja quem for o novo presidente do Brasil, segundo Felipe Miranda
O estrategista-chefe da Empiricus e sócio do BTG Pactual diz quais papéis conseguem suportar bem os efeitos colaterais que toda votação provoca na bolsa
Ibovespa desafia a gravidade e tem a melhor performance desde o início do Plano Real. O que esperar agora?
Em Wall Street, as bolsas de Nova York seguiram voando às cegas com relação à divulgação de indicadores econômicos por conta do maior shutdown da história dos EUA, enquanto os valuations esticados de empresas ligadas à IA seguiram como fonte de atenção
Dólar em R$ 5,30 é uma realidade que veio para ficar? Os 3 motivos para a moeda americana não subir tão cedo
A tendência de corte de juros nos EUA não é o único fato que ajuda o dólar a perder força com relação ao real; o UBS WM diz o que pode acontecer com o câmbio na reta final de 2025
