Por que voltei a investir na bolsa. E vendi tudo em apenas três dias
Sei que esse negócio de feeling é meio conversa fiada, coisa de Morris Albert, mas nem sempre. Resgatei minhas cotas e apliquei em ações. O que eu não esperava era que elas subissem doze por cento em três dias
Em 1992, eu operava apenas ativos de alto risco no mercado internacional. Fazia meus trades de três lugares: mesa de operações do banco Graphus, no Rio de Janeiro; pequena baia na Prudential Securities no quinto andar do prédio 4 do World Trade Center, em Nova York; sala de negócios da Shearson Lehman no prédio da CBoT, em Chicago.
Fora transações que fechava de casa, à noite. Papai e mamãe (comprar e entesourar) não eram comigo.
Entre perdas e ganhos, corretagens e rebates, ganhava em média uns dez mil dólares por mês, equivalentes a US$ 18.000.00 de hoje. Pode até parecer muito, mas eu já era um profissional cascudo com 35 anos de experiência no lombo.
Minha frustração era ser apenas um trader. Trader bem-sucedido, mas nada mais do que um trader. Afinal de contas, já tinha sido dono de corretora (atual Banco Fator) e diretor de banco e outras empresas.
No Graphus, era o cara mais velho da mesa. Por isso, quando os mercados internacionais influenciavam os do Brasil (nos quais eu não operava), os colegas da mesa me consultavam.
Na página 51 de meu livro Armadilha para Mkamba (Editora Rocco, 1998), o mais elogiado pela crítica até hoje, conto como isso funcionava. Na ficção, me retrato na pessoa do personagem Dick Sargent.
Leia Também
Os FIIs mais lucrativos do ano: shoppings e agro lideram altas que chegam a 144%
Gestora aposta em ações 'esquecidas' do Ibovespa — e faz o mesmo com empresas da Argentina
“E o atentado no metrô de Paris, Dick? (perguntou June Ferraro) Foram franceses que morreram.”
“Dois franceses, June. Apenas dois. Quem é que vai comprar ouro só porque um terrorista estúpido mata um par de franceses?”
Numa tarde de domingo de janeiro de 1992, sem que tivesse planejado nada, sentei a uma mesinha na varanda de meu apartamento e comecei a escrever num caderno escolar de minha filha:
“Clarence apertou o botão do subsolo e seu elevador privativo começou a descer, na velocidade vertiginosa de sempre, os 240m que o separavam da garagem, 80 andares abaixo.
Em algumas horas, o mercado financeiro, as bolsas de valores, os mercados futuros e toda a comunidade de negócios começariam a implodir. Nova York, o resto da América e, mais tarde, o Extremo Oriente sofreriam as consequências das ações que Julius Clarence tramara havia alguns anos, executara lenta e cuidadosamente nos últimos meses, semanas e dias e intensificara nas últimas horas.”
Na verdade, confesso, eu nem sabia direito quem era Julius Clarence quando comecei a redigir o texto. Só que a história foi se desenvolvendo e senti necessidade de fazer pesquisas nos lugares onde a ficção ocorria.
No inverno (do hemisfério norte) 1993/1994, viajei para os Estados Unidos. Fui a Davenport, onde Julius nasceu, passou a infância e a adolescência, Chicago, cidade na qual morou mais tarde, e Nova York, onde fundou a Clarence & Associados.
Pesquisei durante várias semanas na biblioteca municipal da Quinta Avenida.
Só que isso foi pouco para as pretensões de minha história.
Um ano mais tarde (inverno 1994/1995), viajei para a Europa. Visitei Londres, Paris, Bruxelas, Lausanne. Comi nos restaurantes que aparecem no livro. Convivi com travestis nas proximidades da estação de King’s Cross e fiz duas viagens no Eurostar, uma entre Londres e Bruxelas, outra de Paris para Londres (quem leu o livro, sabe por quê).
Ao regressar ao Rio, havia me apaixonado totalmente pela história. Continuei especulando nos mercados em minha conta, mas minha atuação como broker tornou-se passiva. Se um cliente ligava, eu cumpria a ordem. Mas não saía a cata de operações, muito menos de novos especuladores.
Nessa época, eu trabalhava nos Mercadores durante a noite e nos fins de semana. Até que dei uma grande tacada no mercado futuro de café na CSCE, em Nova York. Isso me permitia viver durante dois anos, tempo esse no qual acreditava que o livro poderia ser concluído e publicado.
Larguei a profissão de trader/broker e prometi a mim mesmo nunca mais operar nos mercados, não só nos de alto risco como também nas bolsas de valores. Como minhas economias estavam quase todas nos Estados Unidos, adquiri títulos do Tesouro americano.
Tendo trocado os números pelas letras, custei a perceber que meu risco havia aumentado.
“Escritor no Brasil morre de fome”, era o que as pessoas me diziam. “Só quem ganha dinheiro é o Paulo Coelho.”
Foi aí que caí na real. E se não encontrasse quem se interessasse por publicar o livro?
Foi justamente o que aconteceu.
Com Os Mercadores… rejeitado pelas editoras (a maioria nem leu), e meu dinheiro acabando, decidi escrever Rapina.
Como a história se baseava em fatos reais, a maioria testemunhada e vivida por mim, em três meses terminei o livro. Melhor. Levei 48 horas para vê-lo comprado pela editora Record.
Rapina já saiu em primeiro lugar na lista dos mais vendidos, lista essa na qual permaneceu durante cinco meses. Melhor: vendi os direitos de filmagem para um cineasta de São Paulo por uma grana preta.
O filme jamais saiu do roteiro, mas recebi todo meu dinheiro.
Com Rapina na lista, seria fácil publicar, através de uma editora, Os mercadores da noite. Mas preferi vender o livro para a BM&F, que me pagou uma pequena fortuna para fazer uma edição de luxo, capa dura, com apenas mil exemplares numerados e tendo exclusividade por um ano. Mais tarde me pagaria o mesmo valor pela edição em inglês (The Sunday Night Traders).
As boas notícias foram se sucedendo. Meu livro Carga Perigosa repercutiu na TV Globo e fui convidado para ser roteirista da série Carga Pesada. Eles devem ter gostado do meu trabalho pois, após algum tempo, me chamaram para escrever episódios de Linha Direta.
Como se não bastasse, vendi para Hollywood os direitos de filmagem de The Sunday Night Traders por um valor ainda maior, depositado em minha conta nos Estados Unidos. Apliquei o dinheiro em obrigações do Tesouro americano.
A volta com Petrobras
Minha decisão de não me envolver com investimentos de risco continuava inabalável. Isso até que, anos mais tarde, já na era petista, a Petrobras, sob a gestão da presidente Graça Foster, deixou de publicar seu balanço por falta de números confiáveis, tal o volume da gatunagem na empresa.
Em Wall Street, títulos de 10 anos da Petrobras que rendiam 6% a.a. (em dólares, bem entendido), com juros pagos semestralmente, passaram a ser negociados com deságio de até 20%.
Havia, segundo muitos gestores americanos, risco da estatal quebrar.
Macaco velho, ainda mais macaco velho brasileiro, sabia que essa hipótese era nula. Qualquer que fosse o rombo, nosso governo (vale dizer, nós, contribuintes) cobriria.
Vendi meus papéis do Tesouro dos Estados Unidos e me entubei de Petrobras. Só me arrependo de não ter alavancado pois, em valores relativos, foi uma das melhores especulações de minha vida.
Quando Pedro Parente assumiu a empresa, as obrigações subiram acima do par. Liquidei tudo, com um lucro de respeito.
Mais tarde, quando saiu a lei da repatriação, trouxe todo meu dinheiro para o Brasil, pagando imposto de renda e multa. Renovei, in pectore, meus votos de não aplicar nada em renda variável.
Juntei o dinheiro que veio de fora com os recursos que tinha aqui e pus tudo num fundo de renda fixa do banco Itaú que, levando em conta a inflação, o imposto de renda e a taxa de administração, apresentava rentabilidade zero.
Como vivo de direitos autorais, e não preciso descapitalizar, meu dinheiro deveria ficar no tal fundo ad infinitum.
Ganho de 12% em três dias
Mas eis que o valor da cota começou a cair. Ou seja, perdia a inflação e mais alguma coisa.
Isso aconteceu justamente quando o Ibovespa, assolado pelo coronavírus, atingiu suas mínimas.
Sei que esse negócio de feeling é meio conversa fiada, coisa de Morris Albert, mas nem sempre. Resgatei minhas cotas e apliquei em ações.
Não foi nenhum vislumbre de gênio. Comprei Petrobras, Banco do Brasil, JBS e Raia Drogasil.
O que eu não esperava era que elas subissem doze por cento em três dias.
Liquidei tudo. E renovei meus votos de ficar de fora de renda variável.
Cash is king.
Quando operava nos mercados de risco, acompanhava os fundamentos de minhas posições praticamente o dia todo, inclusive nos fins de semana. É exatamente o que faço para escrever meus textos, de modo a não dar mancadas horríveis, embora não consiga evitar que elas eventualmente aconteçam, ainda mais em meio a uma pandemia.
Não podemos nos esquecer que o mundo está rodando em marcha lenta e que isso significará uma bruta recessão, caso não resvale para uma depressão.
Preciso ter um foco único no trabalho de escrever sobre o mercado, assim como já foi o de especular nos ativos mais exóticos, sempre alavancando ao extremo, volta e meia perdendo tudo, em outras horas ficando rico de repente.
Agora, nessa fase derradeira da vida (vou fazer 80 anos no mês que vem), não dá para shortear o S&P500 e, ao mesmo tempo, comentar a última destemperança de Jair Bolsonaro.
Se fizer isso, um lado vai acabar prejudicando o outro. Será um desrespeito aos meus leitores ou um atentado contra o meu próprio bolso.
Ivan Sant'Anna é escritor, especializado no mercado financeiro, cenário que acompanha há mais de 60 anos.
Minha incursão recente na B3 foi um deslize provocado pela raiva de ver a cota de meu fundo cair. Logo eu, que pus o dinheiro lá por puro conservadorismo.
Mas vou confessar uma coisa ao caro amigo leitor: aqueles doze por cento me deram uma alegria imensa.
Confesso outra: se, ao invés de +12% tivessem sido -12%, estaria mais perdido que cego (vá lá, deficiente visual) em tiroteio.
É por isso que, para manter minha lucidez intacta, tenho de ficar de fora. O Ivan porra-louca já morreu.
Cogna (COGN3), C&A (CEAB3), Cury (CURY3): Veja as 20 empresas que mais se valorizaram no Ibovespa neste ano
Companhias de setores como educação, construção civil e bancos fazem parte da lista de ações que mais se valorizaram desde o começo do ano
Com rentabilidade de 100% no ano, Logos reforça time de ações com ex-Itaú e Garde; veja as 3 principais apostas da gestora na bolsa
Gestora independente fez movimentações no alto escalão e destaca teses de empresas que “ficaram para trás” na B3
A Log (LOGG3) se empolgou demais? Possível corte de payout de dividendos acende alerta, mas analistas não são tão pessimistas
Abrir mão de dividendos hoje para acelerar projetos amanhã faz sentido ou pode custar caro à desenvolvedora de galpões logísticos?
A bolha da IA pode estourar onde ninguém está olhando, alerta Daniel Goldberg: o verdadeiro perigo não está nas ações
Em participação no Fórum de Investimentos da Bradesco Asset, o CIO da Lumina chamou atenção para segmento que está muito exposto aos riscos da IA… mas parece que ninguém está percebendo
A bolsa ainda está barata depois da disparada de 30%? Pesquisa revela o que pensam os “tubarões” do mercado
Empiricus ouviu 29 gestoras de fundos de ações sobre as perspectivas para a bolsa e uma possível bolha em inteligência artificial
De longe, a maior queda do Ibovespa: o que foi tão terrível no balanço da Hapvida (HAPV3) para ações desabarem mais de 40%?
Os papéis HAPV3 acabaram fechando o dia com queda de 42,21%, cotados a R$ 18,89 — a menor cotação e o menor valor de mercado (R$ 9,5 bilhões) desde a entrada da companhia na B3, em 2018
A tormenta do Banco do Brasil (BBAS3): ações caem com balanço fraco, e analistas ainda não veem calmaria no horizonte
O lucro do BB despencou no 3T25 e a rentabilidade caiu ao pior nível em décadas; analistas revelam quando o banco pode começar a sair da tempestade
Seca dos IPOs na bolsa vai continuar mesmo com Regime Fácil da B3; veja riscos e vantagens do novo regulamento
Com Regime Fácil, companhias de menor porte poderão acessar a bolsa, por meio de IPOs ou emissão dívida
Na onda do Minha Casa Minha Vida, Direcional (DIRR3) tem lucro 25% maior no 3T25; confira os destaques
A rentabilidade (ROE) anualizada chegou a 35% no entre julho e setembro, mais um recorde para o indicador, de acordo com a incorporadora
O possível ‘adeus’ do Patria à Smart Fit (SMFT3) anima o JP Morgan: “boa oportunidade de compra”
Conforme publicado com exclusividade pelo Seu Dinheiro na manhã desta quarta-feira (12), o Patria está se preparando para se desfazer da posição na rede de academias, e o banco norte-americano não se surpreende, enxergando uma janela para comprar os papéis
Forte queda no Ibovespa: Cosan (CSAN3) desaba na bolsa depois de companhia captar R$ 1,4 bi para reforçar caixa
A capitalização visa fortalecer a estrutura de capital e melhorar liquidez, mas diluição acionária preocupa investidores
Fundo Verde diminui exposição a ações no Brasil, apesar de recordes na bolsa de valores; é sinal de atenção?
Fundo Verde reduz exposição a ações brasileiras, apesar de recordes na bolsa, e adota cautela diante de incertezas globais e volatilidade em ativos de risco
Exclusivo: Pátria prepara saída da Smart Fit (SMFT3); leilão pode movimentar R$ 2 bilhões, dizem fontes
Venda pode pressionar ações após alta de 53% no ano; Pátria foi investidor histórico e deve zerar participação na rede de academias.
Ibovespa atinge marca histórica ao superar 158 mil pontos após ata do Copom e IPCA; dólar recua a R$ 5,26 na mínima
Em Wall Street, as bolsas andaram de lado com o S&P 500 e o Nasdaq pressionados pela queda das big techs que, na sessão anterior, registraram fortes ganhos
Ação da Isa Energia (ISAE4) está cara, e dividendos não saltam aos olhos, mas endividamento não preocupa, dizem analistas
Mercado reconhece os fundamentos sólidos da empresa, mas resiste em pagar caro por uma ação que entrega mais prudência do que empolgação; veja as projeções
Esfarelando na bolsa: por que a M. Dias Branco (MDIA3) cai mais de 10% depois do lucro 73% maior no 3T25?
O lucro de R$ 216 milhões entre julho e setembro não foi capaz de ofuscar outra linha do balanço, que é para onde os investidores estão olhando: a da rentabilidade
Não há mais saída para a Oi (OIBR3): em “estado falimentar irreversível”, ações desabam 35% na bolsa
Segundo a 7ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, a Oi está em “estado falimentar” e não possui mais condições de cumprir o plano de recuperação ou honrar compromissos com credores e fornecedores
Ibovespa bate mais um recorde: bolsa ultrapassa os 155 mil pontos com fim do shutdown dos EUA no radar; dólar cai a R$ 5,3073
O mercado local também deu uma mãozinha ao principal índice da B3, que ganhou fôlego com a temporada de balanços
Adeus ELET3 e ELET5: veja o que acontece com as ações da Axia Energia, antiga Eletrobras, na bolsa a partir de hoje
Troca de tickers nas bolsas de valores de São Paulo e Nova York coincide com mudança de nome e imagem, feita após 60 anos de empresa
A carteira de ações vencedora seja quem for o novo presidente do Brasil, segundo Felipe Miranda
O estrategista-chefe da Empiricus e sócio do BTG Pactual diz quais papéis conseguem suportar bem os efeitos colaterais que toda votação provoca na bolsa