A diversificação certa para escapar dos riscos que você nem sabe que existem
Sua carteira deve ter um pouco de tudo, mas nas proporções corretas. Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco

Em fevereiro de 2012, o então Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, enquanto concedia uma coletiva de imprensa, proferiu algumas palavras que, à época, acabaram soando confusas e engraçadas, mas que, na verdade, carregavam grande sabedoria.
Na ocasião, Rumsfeld declarou: “[…] because as we know, there are known knowns; there are things we know we know. We also know there are known unknowns; that is to say we know there are some things we do not know. But there are also unknown unknowns—the ones we don't know we don't know […]”.

Basicamente, traduzindo e resumindo o racional, o secretário elenca três tipos de conhecimento: i) os que sabemos que sabemos; ii) os que sabemos que não sabemos; e iii) os que não sabemos que não sabemos.
Por mais que soe um pouco bizarro, eu mesmo já tive a oportunidade de trazer o terceiro tipo de conhecimento apresentado para esta coluna algumas vezes no passado, fato que já reflete minha admiração pela ideia.
Fui recordado do exemplo pela carta aos cotistas da Squadra, divulgada no último final de semana. Segundo a gestora, ao se referir aos impactos da pandemia em suas diferentes facetas e derivadas de primeira, segunda e terceira ordem, a equipe foi obrigada a revisar sua carteira inteira "dada a gravidade do choque e a probabilidade de surgimento de vários riscos desconhecidos (unknown unknowns')”.
De fato, a amplitude e a profundidade dos novos paradigmas criados pela pandemia alteram a rotina cotidiana e geram novos horizontes sobre temas políticos, econômicos e sociais. Os principais desdobramentos, contudo, só conseguirão ser devidamente observados em horizontes dilatados de tempo, trazendo alterações estruturais nos setores e nas empresas. Tais transformações podem ser vistas como tendo sido proporcionadas por um “unkown unkowns” – a pandemia em si.
Leia Também
A ideia aparece em Taleb também sob a tese dos “cisnes negros”, eventos de alto impacto e imprevisíveis a priori — por sinal, justamente pelo fato de serem imprevisíveis, tais acontecimentos acabam proporcionando grandes alterações nos preços dos ativos, em um movimento de grande nova precificação, como o sell off de fevereiro e março.
Em um ambiente tão incerto, diversificar seus investimentos torna-se imperativo — seguindo o racional não só de Taleb, mas de outros gigantes do mundo dos investimentos, como Ray Dalio, Howard Marks e até a própria carta da Squadra.
Não quero que o leitor aqui entenda a diversificação como algo abstrato e que todo mundo já conhece, até mesmo porque os dados mostram que a maior parte dos investidores, especialmente os mais novos, por mais que conheçam o conceito de diversificação, tendem a concentrar mais do que deveriam suas carteiras.
Aliás, isso é uma das grandes deficiências do investidor de varejo usual. Tendem a diversificar menos suas carteiras do que deveriam, muitas vezes até de maneira profundamente prejudicial. Isso se agrava diante dos famosos “unknown unknowns” ou “cisnes negros”.
Não defendo aqui uma diversificação vazia e infinita, como a teoria talebiana poderia propor por meio do Barbell Strategy, mas, sim, uma pensada e equilibrada. Além disso, não devemos limitar nossa diversificação ao portfólio de ações. A abordagem deve contemplar a carteira completa, de maneira holística. Isto é, pensar em diversificar entre classes de ativos também.
Devemos trabalhar sempre com distribuições de probabilidades, as quais, como a Squadra colocou em sua carta aos cotistas, “[…] embora continuem mais dispersas do que o habitual, não se encontram tão inclinadas para cenários apocalípticos como estiveram há alguns meses. Podem, inclusive, ser mais propensas para o lado positivo no curto e médio prazo, dados possíveis ‘overshoots’ de políticas estimativas."
Ou seja, devemos posicionar nosso portfólio diversificando-o entre classes e levando em consideração a distribuição de probabilidades associadas aos possíveis cenários futuros. No caso, podemos até ponderar uma carteira mais construtiva, ao menos marginalmente, quando comparada com a posição que estruturamos em março ou abril de 2020.
Exemplo prático: a Bolsa dos Estados Unidos está cara?
Há quem argumente que sim. Vale destacar que o movimento de subida dos preços foi acompanhado de uma expansão monetária sem precedentes. Vide abaixo a desenvoltura da Bolsa americana (vermelho) versus a evolução do balanço de ativos do Banco Central americano, o Fed (azul).
Paralelamente, a alta dos preços em função do afrouxamento quantitativo também é acompanhada de um achatamento ainda maior dos yields (retornos) em renda fixa; ou seja, a renda fixa, que já rendia pouco por questões estruturais (demografia e tecnologia), agora rende ainda menos por fatores conjunturais.
Note abaixo o Earnings Yield do S&P 500, um dos principais indicadores de ações nos EUA. O Earnings Yield é o inverso do múltiplo de preço sobre lucro e que costuma ser analisado por meio da subsequente subtração do juro da treasury de 10 anos.
Grosso modo, relativamente à renda fixa (ao risk-free global, mais precisamente), a Bolsa americana ainda não está impeditiva, mesmo que aparente estar cara por outros múltiplos.
Custo de oportunidade é o nome do jogo.
Considerando os ensinamentos de Marks, "o risco é a coisa mais importante”. O melhor gerenciador de risco é a diversificação. E, como diria Taleb, X não é f(X) — X é a realidade e f(X) é sua exposição à tal concretude.
Ter um pouco de Bolsa americana não nos impede de ter proteções clássicas (metais, como ouro e prata, e moedas fortes), um pouquinho de investimentos alternativos (criptomoedas e crédito de carbono), Bolsa brasileira e renda fixa (local e internacional), sem falar dos investimentos imobiliários no Brasil e no mundo (FIIs e REITs).
Sua carteira deve ter um pouco de tudo, mas nas proporções corretas.
Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas.
Na Empiricus, a maior casa de análise independente para o varejo da América Latina, desenvolvemos diversos produtos que ajudam o investidor pessoa física a investir como os profissionais, levando em consideração tudo que falei acima. Parece difícil, mas não é.
Na série best-seller Palavra do Estrategista, Felipe Miranda, nosso estrategista-chefe e sócio fundador, fornece suas melhores ideias de investimento quinzenalmente. Com a assinatura, você conseguirá construir de maneira bastante robusta um portfólio completo e diversificado da maneira correta.
Mesmo investimentos isentos de Imposto de Renda não escapam da Receita: veja por que eles precisam estar na sua declaração
Mesmo isentos de imposto, aplicações como poupança, LCI e dividendos precisam ser informadas à Receita; veja como declarar corretamente e evite cair na malha fina com a ajuda de um guia prático
Trump quer brincar de heterodoxia com Powell — e o Fed que se cuide
Criticar o Fed não vai trazer parceiros à mesa de negociação nem restaurar a credibilidade que Trump, peça por peça, vem corroendo. Se há um plano em andamento, até agora, a execução tem sido tudo, menos coordenada.
Quanto e onde investir para receber uma renda extra de R$ 2.500 por mês? Veja simulação
Simulador gratuito disponibilizado pela EQI calcula o valor necessário para investir e sugere a alocação ideal para o seu perfil investidor; veja como usar
Tem offshore? Veja como declarar recursos e investimentos no exterior como pessoa jurídica no IR 2025
Regras de tributação de empresas constituídas para investir no exterior mudaram no fim de 2023 e novidades entram totalmente em vigor no IR 2025
A coruja do Duolingo na B3: aplicativo de idiomas terá BDRs na bolsa brasileira
O programa permitirá que investidores brasileiros possam investir em ações do grupo sem precisar de conta no exterior
OPA do Carrefour (CRFB3): de ‘virada’, acionistas aprovam saída da empresa da bolsa brasileira
Parecia que ia dar ruim para o Carrefour (CRFB3), mas o jogo virou. Os acionistas presentes na assembleia desta sexta-feira (25) aprovaram a conversão da empresa brasileira em subsidiária integral da matriz francesa, com a consequente saída da B3
JBS (JBSS3) avança rumo à dupla listagem, na B3 e em NY; isso é bom para as ações? Saiba o que significa para a empresa e os acionistas
Próximo passo é votação da dupla listagem em assembleia marcada para 23 de maio; segundo especialistas, dividendos podem ser afetados
Como declarar recursos e investimentos no exterior como pessoa física no imposto de renda 2025
Tem imóvel na Flórida? Investe por meio de uma corretora gringa? Bens e rendimentos no exterior também precisam ser informados na declaração de imposto de renda; veja como
Dólar fraco, desaceleração global e até recessão: cautela leva gestores de fundos brasileiros a rever estratégias — e Brasil entra nas carteiras
Para Absolute, Genoa e Kapitalo, expectativa é de que a tensão comercial entre China e EUA implique em menos comércio internacional, reforçando a ideia de um novo equilíbrio global ainda incerto
É hora de aproveitar a sangria dos mercados para investir na China? Guerra tarifária contra os EUA é um risco, mas torneira de estímulos de Xi pode ir longe
Parceria entre a B3 e bolsas da China pode estreitar o laço entre os investidores do dois países e permitir uma exposição direta às empresas chinesas que nem os EUA conseguem oferecer; veja quais são as opções para os investidores brasileiros investirem hoje no Gigante Asiático
Tarifaço de Trump pode não resultar em mais inflação, diz CIO da Empiricus Gestão; queda de preços e desaceleração global são mais prováveis
No episódio do podcast Touros e Ursos desta semana, João Piccioni, CIO da Empiricus Gestão, fala sobre política do caos de Trump e de como os mercados globais devem reagir à sua guerra tarifária
Dividendos da Petrobras (PETR4) podem cair junto com o preço do petróleo; é hora de trocar as ações pelos títulos de dívida da estatal?
Dívida da empresa emitida no exterior oferece juros na faixa dos 6%, em dólar, com opções que podem ser adquiridas em contas internacionais locais
Senta que lá vem mais tarifa: China retalia (de novo) e mercados reagem, em meio ao fogo cruzado
Por aqui, os investidores devem ficar com um olho no peixe e outro no gato, acompanhando os dados do IPCA e do IBC-Br, considerado a prévia do PIB nacional
Não foi só o Banco Master: entre os CDBs mais rentáveis de março, prefixado do Santander paga 15,72%, e banco chinês oferece 9,4% + IPCA
Levantamento da Quantum Finance traz as emissões com taxas acima da média do mercado; no mês passado, estoque de CDBs no país chegou a R$ 2,57 trilhões, alta de 14,3% na base anual
Renda fixa para abril chega a pagar acima de 9% + IPCA, sem IR; recomendações já incluem prefixados, de olho em juros mais comportados
O Seu Dinheiro compilou as carteiras do BB, Itaú BBA, BTG e XP, que recomendaram os melhores papéis para investir no mês
Guerra comercial abre oportunidade para o Brasil — mas há chance de transformar Trump em cabo eleitoral improvável de Lula?
Impacto da guerra comercial de Trump sobre a economia pode reduzir pressão inflacionária e acelerar uma eventual queda dos juros mais adiante no Brasil (se não acabar em recessão)
Drill, deal or die: o novo xadrez do petróleo sob o fogo cruzado das guerras e das tarifas de Trump
Promessa de Trump de detalhar um tarifaço a partir de amanhã ameaça bagunçar de vez o tabuleiro global
110% do CDI e liquidez imediata — Nubank lança nova Caixinha Turbo para todos os clientes, mas com algumas condições; veja quais
Nubank lança novo investimento acessível a todos os usuários e notificará clientes gradualmente sobre a novidade
Inocentes ou culpados? Governo gasta e Banco Central corre atrás enquanto o mercado olha para o (fim da alta dos juros e trade eleitoral no) horizonte
Iminência do fim do ciclo de alta dos juros e fluxo global favorecem, posicionamento técnico ajuda, mas ruídos fiscais e políticos impõem teto a qualquer eventual rali
Felipe Miranda: Dedo no gatilho
Não dá pra saber exatamente quando vai se dar o movimento. O que temos de informação neste momento é que há uma enorme demanda reprimida por Brasil. E essa talvez seja uma informação suficiente.